Immortal Star

Destruição máxima - Parte 1/2


Como eu tinha dito antes, essas batalhas da final seriam históricas. Todas elas, sem exceção. Essa última, fez com que as duas assassinas chegassem a um novo patamar delas mesmas. Elas conseguiram se superar, ultrapassar o próprio limite imposto por seus corpos. Mas será que elas sobreviveram pra contar o resto de seus contos?

Os médicos que trabalhavam naquele dia ainda se sentem confusos e perdidos até mesmo hoje. Eles eram profissionais em suas áreas. E acredite, para ser contratado por aquele Coliseu, você precisaria estar no topo dos conhecimentos médicos. Mas mesmo se você é o melhor médico de uma cidade ou vila, ou era o melhor estudante de uma escola de medicina mágica, ou até mesmo o professor dessa mesma escola, você ainda teria perdido muitos dias de sono ao ver alguém ser praticamente ressuscitado bem na sua frente.

No término da segunda luta, aqueles médicos fizeram uma promessa a si mesmo para questionarem como San tinha conseguido aquela façanha. Mas algo terrível ainda estava para acontecer, que acabaria com todas as questões interiores que aqueles profissionais tinham em mente.

Esse "algo terrível" começou na terceira luta.

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Com a falta de gritaria generalizada, ficava muito estranho não se sentir no lugar totalmente errado. Mulkior Musubi ainda estava abraçado em Kula Chikigane, que finalmente tinha parado de derramar lágrimas quando as duas tendas médicas foram fechadas e uma nova leva de recuperação a base de magias foi iniciada.

De alguma forma, San tinha conseguido trazer Mana de volta à vida. Assim como um dos médicos presentes disse, aquilo era "magicamente e logicamente" impossível. Mas então... Como tinha funcionado? A maga de fogo já tinha estudado muito sobre transfusões mágicas, nivelamento de poder e até fluidez de energia. Por isso ela entendia muito bem quando o médico ficou se mordendo em dúvidas.

E por que eles não poderiam acreditar que era um milagre? Kuchi sabia bem o porque. A resposta era "San". Não era a primeira vez que ele aparece pra fazer alguma coisa que mexesse com toda a lógica de um conjunto. E a maga tinha uma certa dúvida se essa seria a última.

Mumu também poderia chegar nesse mesmo pensamento de sua companheira, mas ele só estava tentando relaxar a mente, sabendo que seus dois colegas de guilda estavam são e salvos. Bom... Só salvos. Mas já era alguma coisa. Ele se virou para o lado, vendo os trabalhadores rápidos do Coliseu limpando o ringue para a próxima luta. E tinha mais aquela! Nada havia terminado ainda! O torneio continuaria, mais batalhas sangrentas seriam travadas.

O filho de nobre apertou a mão esquerda com força. Mais uma vez ele imaginou sua amada passando pelas mesmas dificuldades que os outros dois passaram. Um tinha quase morrido e a outra tinha... Bem, tinha de fato morrido mesmo!

Ele ignorou a visão do ringue e olhou para o outro lado, só para encontrar os olhos penetrantes de Kula. Ela parecia ler o que ele estava pensando. E ele não duvidava que ela conseguisse. As únicas expressões que o mago de ferro conseguia fazer desde que aquele dia começou eram de pura preocupação.

Ternamente, a garota levantou sua mão direita e o tocou no rosto, sentindo o calor de seu corpo. Mumu estava quente, quase com febre. Mas ela, como controladora de chamas desde pequena, sabia muito bem que aquilo era devido ao aumento excessivo dos batimentos cardíacos dele. Ela não poderia culpá-lo.

— Eu estou bem. — disse ele, sabendo exatamente qual era a preocupação da amada. Kuchi sorriu para ele, pela primeira vez naquele dia. Só aquilo já era um alívio. Mas não o que ela disse depois.

— Eu vou ser a próxima. — falou ela, ainda olhando fundo nos olhos dele.

— Não! Eu não posso deixar você pisar nesse ringue hoje! Deixe as coisas comigo!

— MUMU! -— disse ela, aumentando só um pouco o tom de voz. Ela tinha feito aquilo para fazê-lo parar e prestar total atenção nas próximas palavras dela. — Eu sei como você está se sentindo. Eu sinto o mesmo. Sei do perigo que nos aguarda. Mas não temos escapatória. Estamos com uma derrota e um empate. Mesmo que você vá agora e vença, eu serei obrigada a subir ao ringue, de uma forma ou de outra.

— Kuchi, não quero que você se machuque. O nível dessas lutas está fora do normal. Até eu admito que se eu estivesse no lugar daqueles dois, eu não sei se aguentaria! — disse ele, apontando para as tendas.

— Sim, isso é verdade. É por isso que San criou toda uma estratégia pra gente. — Kuchi se desvencilhou dos braços do parceiro e olhou para o ringue, que já estava quase que totalmente pronto para o próximo show. — San tinha razão. Se eu tivesse lutado contra aquele cara que ele lutou, eu teria sido derrotada nos primeiros segundos. Minha percepção mágica é a melhor do time, mas minhas habilidades de combate corpo a corpo são as piores.

— E quem nos garante que você não enfrentará outro guerreiro especializado em armas ou em combate com mãos nuas? É muito perigoso!

— Nada nos garante. — disse ela, se virando para ele novamente. Kuchi tentava ao máximo não demonstrar nenhum medo perante o homem que ela amava, e por mais incrível que pudesse parecer, estava conseguindo. — É por isso que eu quero seguir toda a tática inicial do San. Ele disse que você deveria lutar por último, lembra? — Mumu respondeu que "sim", apenas balançando sua cabeça. — Não podemos ignorar as instruções dele depois daquela luta, podemos?

— Eu... Eu não quis dizer isso. Só acho que...

— Está tudo bem. — cortou ela, levando a mão em seu rosto mais uma vez. — Eu entendo sua preocupação, porque eu sinto exatamente o mesmo que você. Não quero chorar por te ver machucado. Mas... — ela respirou fundo. Precisava de forças agora, mais do que ela já precisou antes. — Mas eu quero entrar no mesmo ringue que aqueles dois deram tudo de si para levar nosso nome adiante! E eu sei que você sente o mesmo, e é exatamente isso que me dá forças e coragem para lutar agora. Então preciso que você confie em mim. Consegue?

— Confio em você com cada pedacinho da minha alma. — respondeu ele, sem hesitar.

Kula deu mais um sorriso. Ficou na ponta dos pés e se aproximou do rosto de Mulkior, lhe dando um selinho por fim. Era a primeira vez que ela conseguia fazer algo na frente de tanta gente sem ficar com o rosto na mesma cor de sua vestimenta.

Isso não poderia ser dito de Mulkior. O que ele iria dizer agora? Sua parceira nunca foi fraca. Nunca foi medrosa. Nunca foi de dar as costas para os amigos. Nunca foi e nunca vai ser. Ele tinha certeza absoluta daquilo. Ela nunca lhe faria se arrepender da maior escolha de sua vida. De escolhê-la como sua parceira para a vida toda.

É meus queridos torcedores! — começou Pablo, assim que o último faxineiro terminou de passar uma espécie de vassoura nas bordas do ringue. Ele havia falado bastante sobre o empate da luta passada, mas como o público ainda estava confuso com aquela luta cheia de reviravoltas e não respondendo totalmente aos comentários, ele decidiu se calar por uns momentos. Tinha feito o certo. — Nossa última luta foi cheia de surpresas, mas o Torneio ainda não terminou! Mesmo com o empate, o Time Zero Soldier continua com a vantagem de ter uma vitória. Se eles obterem mais uma vitória nessa luta, o Torneio será encerrado! — finalmente, milhares de pessoas voltaram a gritar o nome de seu time favorito. A agitação voltaria aos poucos. — E já está na hora da nossa terceira luta! Quem será que veremos no ringue, agitando as coisas que já estão fervendo em nossos peitos? Vamos dar continuidade ao Torneio! Próximos lutadores, podem subir ao ringue!

Agora todos decidiram participar da gritaria e da torcida. Os torcedores de ambos os times precisavam aumentar a moral dos lutadores que subiriam ao ringue agora, para que o resultado fosse diferente da luta passada. Precisava haver um vencedor e um perdedor. Era assim que as coisas no Coliseu deveriam ser feitas.

Kula abraçou seu amado fortemente e depois começou a caminhar em direção ao ringue. Sua tremedeira havia desaparecido. Ela precisava ganhar aquela luta. Por San e por Mana. Por Mumu e pelo time. Pela guilda. E por ela mesma. Havia muita coisa em jogo.

Subiu ao ringue e começou a caminhar até o meio do mesmo. Viu seu oponente fazer o mesmo, com um diferencial. Quando a pessoa em questão pisou no ringue, uma onda de aura passou pelas pernas da maga. Kuchi congelou no lugar, sentindo um nível de poder avassalador. Forte demais. Ela se manteve olhando para o oponente, que andava a passos curtos e despreocupadamente.

Dali, a garota vestida de vermelho já podia ver a máscara do sujeito. Era de um material impossível de se descobrir, já que ela estava totalmente pintada de preto, com umas marcas sem sentido em cinza claro. Ela não sabia se aquela aura foi para amedrontá-la ou para demonstrar que aquele ringue não seria palco de algo agradável para se ver. De uma forma ou de outra, ela precisava continuar andando. A maga de fogo deixou sua aura fluir também, combatendo a forte emanação mágica que saia do lutador da Zero Soldier. Os dois ficaram frente a frente no centro do ringue, e o óbvio aconteceu.

— Acho que finalmente eu posso tirar essa máscara sufocante da minha cara. — disse a pessoa. Tinha voz masculina, nem fina e nem grossa. Ele puxou o capuz e depois, com a mesma mão, pegou na máscara negra e a removeu lentamente. O rosto do indivíduo assustou Kula. Na verdade, assustaria qualquer pessoa. Pra começar, ele não tinha cabelo. Seu rosto estava cheia de veias negras que pulsavam compulsivamente e quase brilhavam. Seus olhos eram uma afronta à humanidade. Ele tinha o fundo dos olhos totalmente negros, e a pupila branca, parecendo algum tipo de demônio cego. A aparência daquele homem era tão sinistra, que a maga não soube definir o quão velho ou quão novo era ele. Sua orelha esquerda levava um brinco que a maga reconheceu imediatamente como sendo o símbolo da Universidade Arcana de Judar, uma das mais conhecidas do mundo por ter como alunos os filhos do grandes nobres e até mesmo Reis de várias nações envolta de todo o globo. — Não precisa se assustar, garotinha. Deixe-me apresentar primeiro. Meu nome é Akira Kusherenada. É um prazer conhecer uma maga com um potencial tão alto como você.

O "Ditador Negro"! — disse Bart, em seu microfone. Ainda não tinha falado nada desde que ele se arranhou ao ver Mana imóvel no chão. Pablo tinha tentado conversar com ele na pausa entre as duas lutas, mas Bart estava com a mente vagando em outro mundo. Queria ter saído voando dali e ir lá embaixo ajudar aquela mulher que tinha acordado seu coração. Ele sabia que a situação dela era séria o suficiente para perder a vida, e isso o incomodou ao ponto de quase mandar tudo para os ares. Mas quando ela mexeu o braço depois de San ter lhe passado sua energia vital, ele se sentou na cadeira novamente, tentando se acalmar. Se desculpou com Pablo, que decidiu aceitar tudo aquilo sem fazer perguntas.

Mais um guerreiro com um Título Único aparece diante nós, senhoras e senhores! — continuou Pablo. Ele já tinha sacado a jogada de Bart, tentando apresentar o Lutador B. Pablo conhecia muito bem quem era aquela pessoa, mesmo não acreditando. — O ex líder da Guilda Night Beasts se revela finalmente! Bart, o que tem a nos dizer dessa revelação?

É realmente espantoso ver Akira aqui. — respondeu o Soldado Comentarista. Para falar a verdade, ele estava REALMENTE impressionado de ver aquela pessoa no ringue, e estava preste a explicar o porquê. — A Guilda Night Beasts foi completamente destruída na Guerra dos Dez Dias que aconteceu em Partâmicus, há dois anos atrás, e seu líder tinha sido vítima de um ritual mágico especial que o deixou em coma. Muitos achavam que ele nunca mais acordaria de seu sono forçado... Parece que estavam enganados.

— Não se deixe assustar pelos comentários deles, minha companheira das Artes Arcanas. — disse Akira, sem tirar os olhos da oponente. — Por mais que tudo o que eles tenham dito seja pura verdade, eu lhe garanto que nada em minha vida foi tão assustador assim.

— Quem você está tentando enganar? — disse Kuchi, por fim. — Eu posso não ter conhecido você, mas sei muito bem de sua Guilda e do porque ela foi destruída! Sei que vocês eram uma Guilda que só pegava trabalhos sujos e que lhe rendiam muito dinheiro. Eu fui muito avisada para ficar longe de vocês. Quando soube que vocês haviam sido aniquilados por um exército que procurava vingança e não conquista, eu descobri o porquê.

— Ahahahah. — a risada do homem foi estranha, pois não condizia com seu atual tom de voz. — Eu estava errado sobre você. Achei que era mais calma e prestativa. Vejo que tudo muda quando você está no campo de batalha. Bom... Devo admitir que pelo menos nisso, temos algo em comum.

Lutadores ao seus postos! — gritou o Apresentador, criando a já conhecida expectativa nos corações de cada um dos torcedores. Kula fechou a expressão, olhando fixadamente para seu oponente. Recuou dois passos, deixando as mãos preparadas para o primeiro ataque. Akira retirou o sorriso descontraído do rosto, mas não recuou. A luta iria começar logo, e ele já estava pronto para mostrar para todo mundo o que um Líder de Guilda poderia fazer. — COMECEM!!!

PILAR DE FOGO!

Foi um início de combate totalmente diferente daqueles que muitos esperavam. Só Mulkior sabia e esperava aquele movimento, e fechou o punho em torcida quando viu que tinha sido um início excelente.

Kula não tinha perdido tempo mesmo. Ela se abaixou rápido, mandando toda a energia mágica que concentrou na hora do recuo diretamente para o chão quando bateu com as duas palmas das mãos no piso a sua frente. Akira nem teve tempo para reagir. Debaixo dele, um círculo mágico avermelhado surgiu e tudo o que ele fez, foi ver as chamas surgirem e o consumirem dos pés à cabeça.

O movimento foi tão impressionante, que fez os torcedores da Immortal Star voltarem a ter toda a energia em seus gritos, clamando pelo nome da maga. Kuchi deu um salto para trás, quase sorrindo. Tinha funcionado! Nem ela acreditava!

" — Kula, você é uma maga excelente e tem uma quantidade absurda de energia mágica, mas sua reação e táticas durante o combate são duvidosas e muitas vezes perigosas. Pra começar, você sempre inicia um combate com sua magia de Bola de Fogo. Eu entendo o porquê. Ela é sua magia que consome menos energia mágica, então ela é fácil de ser concentrada e atirada quase que imediatamente. Isso faz você testar a velocidade de reação do oponente, tal como revelar seu potencial mágico ou físico. É uma boa estratégia... MAS! Ela já é conhecida por todo mundo nesse Coliseu. Além disso, você sempre pula pra trás antes de usar essa magia, o que torna tudo ainda mais óbvio. Escute o que eu digo: se você fizer isso nas finais, vai morrer. Nossos oponentes já estudaram cada passo nosso, e estão preparados pra nos derrotar da maneira mais rápida possível. Então se você quiser vencer, vai precisar criar uma nova estratégia. Vai ter que tirar as ideias do seu oponente sobre seus recuos. Atingi-lo com magias que ele não está preparado para enfrentar. E principalmente, partir para cima sempre que for usar uma magia, não dando espaço pro inimigo agir vantajosamente. Outra coisa: só use uma magia nova, que você nunca usou no Torneio, quando ter certeza absoluta que ela não pode ser defendida. Não dê espaço para o aprendizado do seu oponente. Ataque com tudo. Agora vamos rever essas suas magias especiais aí..."

Tinham sido as palavras de San, naquela manhã onde ele passou novas táticas para cada um dos membros do time. Essas palavras ficaram ecoando em sua mente por muitas horas, até ela memorizar cada letra. Kula nunca viu alguém raciocinar tão rápido sobre combate e magias que ele nunca viu. San, além de dar comandos específicos para ela, ainda deu muitas dicas de como ela poderia melhorar suas magias como Elementarista. Hoje ela tinha orgulho de poder entrar naquele ringue com três magias novas e prontas para serem usadas, se fossem necessárias. Claro, existia o problema delas não terem sido treinadas ainda...

— Ah... Lá se vai meu manto.

A garota ficou paralisada ao ouvir a voz inalterada de seu oponente. As chamas que consumiam Akira sumiram de repente, revelando um homem sem nenhuma queimadura. Aquele roupão que ele usava tinha sido extinguido, dando vista para uma outra roupa esquisita por baixo.

Akira vestia uma calça extremamente longa e aberta, digna de ser parte de um kimono tradicional masculino (uma roupa muito comum nas terras distantes do Leste). No corpo, vestia uma camisa sem mangas bem apertada, exibindo uma certa falta de musculatura. Em seus braços, haviam luvas compridas que subiam até depois de seus cotovelos. Não usava nenhum outro acessório e andava descalço. Ah sim, todo seu conjunto de roupas era negro. E para finalizar, em sua mão direita havia uma bola grande, cristalina. Essa bola pulsava e jorrava energia mágica pelo redor de seu corpo, parecendo protegê-lo.

Pouco importava como o oponente estaria vestido! O problema aqui era que ele havia saído ileso do primeiro golpe dela!

— Belo início. — disse ele, sem perder a pose. — Não esperava que você me atacasse com tanta ferocidade logo de início. — a bola em sua mão começou a pulsar ainda mais e concentrar um tanto de energia. Isso fez Kula sair do seu mini transe e tomar uma posição defensiva. — Deixe-me recompensá-la! ESPINHOS DAS TREVAS!

A bola brilhou por um segundo e Kuchiki percebeu uma rápida concentração de energia mágica vindo debaixo dela. Pulou para trás bem a tempo de se esquivar de oito pilares finos enegrecidos e cheios de energia maligna. A velocidade que esses espinhos apareceram foi impressionante e principalmente, efetivo.

Mesmo a maga de fogo achando que tinha se livrado do golpe, ela notou que teve cortes no braço esquerdo e na perna direita. Eram ferimentos leves, mas que se ela não tomasse cuidado, acabariam por ser fatais ao longo da batalha.

— Boa reação, Kula. — disse Akira, sem sair do lugar. — Sua percepção mágica é realmente assustadora.

— Magia de Trevas! Você é um Mago Manipulador de Magia Negra! — gritava a maga, ficando de pé.

— Prefiro ser chamado de "Darkmancer", obrigado. LÂMINAS DA PERDIÇÃO!

Akira provou duas coisas nessa hora. A primeira delas, é que sua velocidade de concentração de energia mágica era extremamente alta. Kuchi era muito boa em pressentir tais acúmulos de energia, mesmo que eles fossem pequenos. E nesse momento, ela teve que admitir que ficou impressionada com a rápida aparição de uma aura negra ao redor de seu corpo, que começou a criar ondulações no ar.

A maga pulou mais uma vez para atrás bem a tempo de ver as tais ondulações ganharem forma, se transformando em pequenas foices com lâminas negras e sedentas de sangue. O que prova a segunda coisa: o total controle singular de magia que Akira tinha. Assim que foram criadas, as dezenas de foices de energia começaram a girar sob seu eixo, até ganharem velocidade o suficiente para cortarem o vento em dois.

As foices negras começaram a se movimentar em mais de vinte direções diferentes, e logo que Kula terminou seu salto, todas as lâminas curvadas foram disparadas em sua direção. A situação foi realmente perigosa, mas a maga de fogo manteve sua concentração intacta e não deixou o medo consumir seus pensamentos.

A primeira leva de foices veio pela direita. Três daquelas lâminas iriam passar por ela, querendo lhe arrancar o braço. Kuchi calculou a velocidade de movimento delas e esperou o momento certo para girar o corpo, fazendo as foices acertarem o nada. A garota logo teve que dar um pulo para frente, se esquivando de mais duas foices que tentaram acertar suas costas. Viu que iria ficar cercada se continuasse parada ali, então começou uma corrida. Deu passos largos, olhando para trás. As lâminas começaram a segui-la, como se tivessem olhos. Quantas eram? Vinte? Talvez um pouco mais.

Duas que estavam mais embaixo aceleraram, fazendo a garota ser obrigada a se jogar para o lado. Uma outra foice que ela não tinha visto passou raspando seu braço esquerdo, causando o primeiro dano mediano em seu corpo na luta. Não era nada grave, mas isso não significaria que ela pudesse continuar levando aqueles cortes sem se preocupar.

Cinco lâminas negras sobrevoaram sua cabeça, subindo alto e depois descendo em uma rasante única e mortal. Mais uma vez, a maga de fogo calculou a trajetória da magia e esperou o momento exato para rolar pelo chão, fazendo aquelas cinco foices baterem com tudo no piso branco e limpo do ringue, desaparecendo logo em seguida. O problema viria agora.

Akira tinha começado a se movimentar, em um plano para pegá-la desprevenida. Ele ordenou que as foices começassem a atacar de frente, deixando as costas dela totalmente livres para um novo ataque. Ele viu a garota se esquivando de uma das investidas de suas lâminas, mas não deu bola por ela conseguir se movimentar tão bem. Magos não lutavam com suas crenças em uma só magia. Era necessário atacar o inimigo com um misto de feitiços e uma boa maneira de se utilizar as próprias magias. A coisa mais normal que se via nas aulas da Universidade Arcana eram magos com menos poder mágico ganhar dos que tinham muita energia mágica, porque usaram uma boa estratégia de ataque e defesa.

ESFERA DAS TREVAS!

Akira se aproximou o suficiente para sua estratégia surtir efeito. Fez sua bola de cristal brilhar novamente, adicionando uma certa quantidade de energia mágica em sua mão esquerda. Ele levantou essa mão até a altura do queixo e começou a manipular sua aura, transformando a emanação de energia em uma esfera mágica cheia de uma coisa parecida com chamas negras.

Logo quando Kuchiki se esquivou mais uma vez de três investidas ao mesmo tempo vindo de lugares diferentes, Akira atirou sua nova magia nas costas da maga. Kuchi já estava esperando por algo assim. Ela não precisava enxergar os movimentos dele para saber o que ele planejava.

No exato momento, ela conseguia ver que todas as lâminas que restaram giraram no mesmo lugar, a mirando. Elas dispararam na mesma velocidade que a esfera negra que se aproximava das costas da garota. Kula deixou sua energia mágica fluir rapidamente, concentrando ao redor de seu corpo. Ela não seria pega desprevenida assim, tão fácil.

ONDA DE FOGO EXPLOSIVA!

Kula se abaixou batendo com a mão direita no chão. Isso fez toda sua energia reagir de uma única vez, criando uma explosão de fogo em volta de seu corpo. As chamas que voaram em todas as direções queimaram tanto as foices sobressalentes quanto a esfera negra que vinha voando rápido em sua direção. Uma defesa perfeita. Ou quase.

COMETA NEGRO!

A verdadeira estratégia de Akira não era atacar sua oponente por dois lados opostos ao mesmo tempo. Essa estratégia era fadada e muito manjada. Não... O que ele queria era algo muito mais bolado. Quando ele atirou sua esfera negra, ele só queria esconder sua nova concentração de energia.

A real magia era aquela. Akira levantou a bola de cristal para cima, fazendo-a brilhar ainda mais intensamente do que nas magias anteriores. Quando as chamas da explosão cessaram, ele baixou o braço em um movimento rápido, enviando toda sua energia para frente e para o alto. A energia se juntou exatamente encima de Kuchi, que não viu quando uma gigantesca bola com a tonalidade mais escura que o preto consegue alcançar, começou a cair sob sua cabeça.

A maga só foi perceber no último momento, quando tentou ficar de pé, olhando para cima. Não deu tempo para se esquivar dessa vez. Ela levantou os dois braços e concentrou sua aura ali. O cometa enfim caiu sobre ela, sendo segurado pela garota. É claro, se aquilo fosse um cometa de verdade, Kula teria sido esmagada pelo simples peso do objeto interestelar. Mas aquilo era magia. E era com magia que ela estava se mantendo ainda inteira.

De fato, ela sentia um peso contra o braços. Era uma grande quantidade de energia mágica sendo empurrada para baixo, a fim de esmagá-la e terminar com a luta logo ali. Além disso, havia um tipo de calor saindo daquele cometa, que estava começando a corroer a pele dos dedos da coitada.

Kula não poderia deixar aquilo assim. Ela sentia a preocupação de Mulkior, que estava agarrado na borda do ringue, mordendo o lábio inferior. Também dava pra sentir o contentamento de Akira, que estava sorrindo e esperando um esmagamento óbvio. Não ia ficar assim.

A maga de fogo começou a concentrar uma alta quantidade de energia pelo corpo. Estava na hora de mostrar as presas. Ela precisava lutar com tudo logo de início. San tinha avisado ela que talvez isso acontecesse. Ele tinha dito para Mana não usar todo seu poder no início do combate afim de analisar o oponente e conservar energia, mas para ela, para o membro que possuía a maior quantidade de energia mágica do time, ele tinha dito que se era pra ela ter uma luta perigosa, então que atacasse com tudo logo de cara.

Kula esbanjou sua energia mágica que criou uma onda de aura tão poderosa, que chegou a sair do ringue e bater contra os pilares de proteção, muitos metros de distância dela. Foi a primeira vez que Akira recuou, por puro impressionismo. Kuchi estava com tanto poder, que ela conseguiu empurrar o cometa que tentava lhe tirar a vida. Não, ela fez algo MAIS impressionante do que exibir que poderia empurrar aquilo: ela o segurou com uma mão só.

Muita gente não conseguiu ver isso pois o próprio cometa bloqueava a visão das pessoas que estavam um pouco mais em cima, nas arquibancadas. Mas Akira viu aquilo. Kuchi segurou toda aquela bola cheia de energia das trevas só com a mão esquerda. Puxou a mão direita para baixo, concentrando mais energia ainda. O show só estava começando.

TORPEDO DA DESTRUIÇÃO!

A maga fechou o punho direito, fazendo o entrar em combustão. As chamas eram intensas, criando aquela visão distorcida do ar em volta de seu corpo. Kula não precisou nem mirar direito. Levantou o braço com tudo, dando um soco no cometa negro. Daquele ponto de impacto, uma labareda de chamas surgiu, tomando uma forma retangular e repleta de energia mágica.

A reação foi estranha e até um pouco ilógica. Foi como um foguete empurrando um meteoro. A magia de Kuchi começou a empurrar o cometa para cima, saindo finalmente das mãos da maga e ganhando altitude. Não voou muito. Mais ou menos uns cinco metros para cima. E então explodiu. Explodiu como nada naquele torneio tinha explodido antes.

As magias de trevas e de fogo unidas e depois se separando no ar criou uma visão rara, como fogos de artifício vistos bem de perto. A explosão criou uma vibração que fez até mesmo a barreira mágica que protegia os espectadores tremer. As pessoas mais impressionadas com o ato foram Raziel e Athena, que até agora não esperavam que aquela luta pudesse chegar a um nível daqueles tão rapidamente.

E claro, estava faltando comentar que a torcida foi a loucura. Era aquilo que eles mais esperavam. Uma partida cheia de efeitos especiais, duas forças iguais se digladiando até uma delas não poder mais. Naquela primeira troca de magias, muitos dos torcedores já estavam com a cabeça feita, achando que aquela seria a luta mais divertida de se assistir.

Os dois combatentes ignoravam a gritaria já costumeira e os rápidos e inteligentes comentários de Pablo. Não ouviram Bart soltar uma letra, e mesmo que ele tivesse dito algo, os dois magos não teriam tempo de prestar atenção.

Kula estava andando muito lentamente na direção de Akira. Ela não conseguia disfarçar sua rápida respiração. Era normal aquilo acontecer. Usar magias com uma alta concentração de energia poderia esgotar o fôlego dos magos mais novos. E mesmo os bem treinados, como os dois naquele campo, ainda poderiam ter um rápido cansaço depois de uma variação distinta de magias ou uma alta concentração de energia mágica de uma só vez. Akira não se amedrontou quando sua oponente levantou o braço direito contra ele, concentrando mais energia enquanto continuava caminhando.

CÍRCULO DE FOGO!

Estava na hora dela usar suas próprias estratégias em combate. Hora de ver se as ideias de San iriam dar certo. Estava na hora de testar as novas possibilidades.

Depois da quantidade exata de energia mágica ser concentrada em sua mão, Kula fez um movimento circular em frente do corpo, mandando toda a energia para o redor de Akira. As chamas logo se levantaram, prendendo o mago das trevas. O calor aumentou de um segundo para o outro, o fazendo suar. Ele não foi pego pela surpresa porque sabia muito bem o que era aquilo. Um tipo de magia de aprisionamento, muito comum de magos elementares. Até ele mesmo tinha uma magia daquelas.

Era exatamente por esse motivo que ele não seria burro o suficiente para tentar escapar por cima ou tentar andar para frente, querendo ignorar as chamas intensas que queimariam até mesmo seus últimos átomos. Não. Ele precisava combater magia com magia.

Antes mesmo de pensar em concentrar mais energia para combater aquele aprisionamento, ele sentiu. Sua oponente não iria esperar quieta até ele sair daquela roda de fogo. Kuchi já estava concentrando mais energia mágica e já estava pronta para atacar. Por Akira ter uma percepção muito boa, ele não seria atingido assim, de frente, mesmo que as chamas ao seu redor atrapalhassem sua visão.

Em vez de criar uma magia nova, ele se concentrou em expandir sua aura perceptiva, criando um grande campo de energia sob seus pés. Ele não sabia de onde viria a magia nova de Kula, mas assim que a tal magia encostasse em sua "rede de aura", ele saberia como se defender a tempo.

MANIPULAÇÃO DAS CHAMAS - AZUL MODIFICADOR!

Bem a tempo de se defender poderia ter sido considerado como uma verdadeira piada. Kuchiki estava levando a sério as dicas de San. "É óbvio demais atirar alguma magia contra seu oponente que já está dentro do aprisionamento.", foram as palavras dele. Ele até tinha razão, mas todas as vezes que ela tinha usado essa estratégia, tinha surtido um efeito diferente.

Mas essa era a final do torneio. A maga precisava levar em consideração de que seu oponente, seja lá quem fosse, já entraria no ringue sabendo de quase tudo o que ela seria capaz. A outra dica, que era usar uma magia nova só quando ela tivesse certeza que ela seria efetiva, estava sendo colocada em prática aqui também.

Akira levantou sua mão direita, preparando uma manobra defensiva e aumentando sua aura de energia. Mas ele não sentiu nenhuma magia vindo até ele. Isso porque ela JÁ estava ali. De repente, as chamas que o rodeavam começaram a ficar mais claras e mais quentes ao mesmo tempo. Era até um pouco controverso, na verdade.

O fogo saiu do vermelho pro laranja, e do laranja para um azul claro. Foi tudo bem rápido, diferente. Além disso, as chamas estavam ondulando, parecendo que se tornavam algo realmente difuso. As ondulações viraram uma corrente, e a intensidade do círculo de fogo foi aumentado drasticamente. As chamas se elevaram para cima, e a corrente finalmente ganhou poder o suficiente para se tornar um tornado. De Círculo de Fogo para Ciclone de Fogo.

O calor foi intenso e a magia foi se fechando em questões de segundos, engolindo completamente o mago das trevas. Akira gritou sentindo seu corpo sendo queimado por uma chama de outro mundo, caindo no chão e rolando logo em seguida.

A torcida finalmente tinha virado única. Somente os espectadores que rezavam pela vitória do time Immortal Star estavam gritando naquele momento. Muitos já eram fãs específicos de Kuchi, e levantaram suas bandeiras e cartazes o mais alto que podiam. A garota sempre surpreendia o povo, mesmo utilizando uma magia elemental, que era teoricamente fácil de se encontrar nos dias de hoje.

Mulkior, ainda grudado na borda do ringue, soltou uma arfada do peito, que ele estava segurando desde que sua parceira começou a concentrar energia. Será que ele tinha se preocupado demais? Ele não podia esquecer que mesmo parecendo frágil e gentil demais, Kula tinha um Título Único. Era uma guerreira reconhecida mundialmente por seus feitos e poderes que excedem os níveis normais e costumeiros.

Mumu sentiu um orgulho de ter se aproximado tanto de alguém como ela, e logo em seguida, sentiu seu coração bater forte por se encontrar pensando que a maior honra era, de fato, a garota estar retribuindo seu carinho e seu amor. Aquele momento também lhe rendeu uma certa surpresa. Quando as chamas azuis começaram a se extinguir, mostrando Akira ainda caído e imóvel no ringue, Kuchi deu uma olhada para trás, encontrando os olhos do amado fixos nos dela. Ela sorriu, e ele foi pego como um raio. Parecia que ela tinha sentido seus pensamentos. Sentido e depois lido tudo. Ele retribuiu o sorriso, finalmente se sentindo mais aliviado.

Ele não precisaria ter medo nenhum. A determinação dela era tão grande quanto a dele. Ela não iria decepcionar ninguém, principalmente agora que ela se sentia com o peso das duas lutas passadas. Vai dar tudo certo. É claro que vai.

BARBATANA DO MAR MORTO!

Uma das piores sensações do mundo é quando comemoramos cedo demais. Kula, logo depois de ver seu parceiro retribuindo um sorriso meigo e encantador que só ele conseguia fazê-la se perder em pensamentos, sentiu um movimento à sua frente. Ela se virou rápido e viu que Akira tinha voltado a se mexer. Pior. Muito pior! Ele estava com muita energia concentrada naquela maldita bola de cristal, que pulsava e mandava ondas negras ao redor de seu corpo.

Akira encostou a esfera no chão e mandou toda a energia concentrada de uma única vez, mirando exatamente no ponto que queria. E esse ponto era exatamente embaixo da maga controladora de chamas. Kuchi sentiu a concentração de energia em seus pés e fez o que tinha que fazer. Forçou as pernas e deu um pulo para trás. Isso lhe salvou a vida. Mas não da dor.

Um círculo negro tinha se formado debaixo da garota, e desse círculo, saindo como se fosse das águas profundas do oceano, surgiu algo grande, parecendo um triângulo, mas com uma parte encurvada para dentro e outra para fora. Parecia a lâmina de uma cimitarra. Ou a barbatana de um tubarão. Um negro, assassino.

A barbatana tinha uma lâmina afiada como uma espada que acabou de passar por um afinamento de um profissional das artes de ferraria. A ideia era empalar a maga de uma só vez, acabando com a luta e com a vida dela. Kuchi escapou desse destino cruel. Pulou para trás, vendo aquele pilar afiado enegrecido lhe cortar desde a perna até o ombro. Profundo, doloroso e mortal.

Mumu viu sua parceira caindo de costas lentamente, como se estivesse em um mundo desacelerado. Voltou a ficar colado no ringue, de boca aberta. Quando ela finalmente tocou o chão, espalhando seu líquido da vida por todos os lados, ele não segurou e gritou por seu nome. O grito dele foi ouvido antes de virem os milhares de vivas dos torcedores da Zero Soldier.

Pablo também não tinha perdido tempo, falando animadamente sobre o contra ataque inesperado. Isso só instigou os torcedores ainda mais e muito barulho tomou conta do Coliseu novamente. Nenhuma novidade.

— Heheheh... Me pegou de surpresa. — dizia Akira, se levantando lentamente. Ele olhou rapidamente para a própria pele, vendo-a chamuscada. Assoprou o braço direito, sentindo uma ardência chata. Ainda sim, sorriu. — Uma modificação de padronização mágica em tempo real. Nunca vi algo tão bem feito assim. Essa luta vai me ensinar diversas coisas sobre o meu próprio mundo da magia! LEVANTE KULA! — gritou ele, batendo o pé no chão. — Nossa luta está longe de acabar! Levante-se e lute! Use mais suas magias! Me ensine mais! VAMOS!!!

A maga de fogo teve rápidos espasmos ainda no chão, juntando suas forças para tentar se levantar. Ela tinha ouvido cada palavra de seu oponente, e isso tinha a deixado totalmente nervosa, quase descontrolada. Por um breve momento, ela achou que estava enfrentando um oponente maluco, louco varrido. Ninguém a culparia por pensar isso. Alguém que quer "aprender" enquanto luta uma final de um dos mais importantes torneios do mundo? Isso ERA loucura!

Mas aí, ela se lembrou de uma coisa muito básica sobre magos e magia. Isso estava escrito em todos os livros de magia que ela já tinha lido, e em alguns, era levado absurdamente a sério. E isso era o fato de que um mago poderoso nascia e morria curioso.

No mundo da magia, a curiosidade deve ser levada ao extremo. Ela precisa ser forçada, exagerada e em muitas vezes, perigosa. Só assim os aprendizes de magia conseguiam elevar seus conhecimentos ao topo, se tornando ainda mais fortes e habilidosos. Em um dos livros de seu avô, Kuchi leu algo como "Procure por novos conhecimentos mesmo nas piores situações possíveis.". Quando leu, ela não tinha entendido muito bem o que aquilo significava, mas vendo a determinação de aprendizado do homem à sua frente, ela estava começando a entender. Não era loucura. Aquilo era um mago com sede de conhecimento. E aquilo era perigoso.

A garota se virou ainda deitada e usou os braços para ficar de joelhos, sentindo a dor ilimitada em seu peito. Ela sangrava sem parar, e suas forças estavam sendo drenadas a cada segundo que passava. Concentrou energia na ponta dos dois dedos maiores na mão direita. Não poderia continuar derramando seu sangue ou a luta não duraria mais nem um minuto.

MANIPULAÇÃO DAS CHAMAS - BRANCO CICATRIZANTE!

Uma chama branca se acendeu nos dedos da garota e ela levou a mão até o ferimento no corpo. Começou a passar o fogo mágico pelo corte, o fechando como se fosse um zíper. A dor foi passando um pouco, mas não totalmente. Ela sabia que precisaria lutar aguentando aquele machucado até o final da luta. E também sabia que quanto mais demorasse, pior ficaria.

Forçou para ficar em pé, encarando Akira mais uma vez. Ele estava machucado, queimado. Mas ainda não tinha sofrido danos o suficiente para sequer demonstrar cansaço. Ele estava na vantagem, mas não dava pra calcular quão distante os dois estavam nesse quesito.

Kuchi apertou as duas mãos, bolando uma nova estratégia de ataque. Precisaria pensar em algo para acabar com aquela bola de cristal na mão dele. A maga sabia bem que aquilo era um dos maiores diferenciais dessa luta. A bola de cristal era um Gema de Energia imensa. Aquilo não só dava energia mágica extra para Akira, como fortalecia suas magias e duplicava a sua velocidade de concentração.

Pelas regras, qualquer combatente poderia utilizar equipamentos mágicos de qualquer gênero. Mas encontrar algum mago com a pose de uma Gema de Energia daquele tamanho e poder era tão raro quanto... Encontrar uma pessoa com um dos Tesouros do Olimpo. Que engraçado... Só nesse Torneio tinham dois, e eles estavam em seu time.

A maga deixou o pensamento engraçado de lado quando viu que Akira tinha sumido com seu próprio sorriso. Ele voltou a encará-la como um oponente a ser derrotado. Ela não poderia e não iria abaixar mais a guarda.

ESFERA DAS TREVAS!

ESFERA DE FOGO!

Akira fez sua mão esquerda se encher de energia negra, e logo em seguida atirou uma bola de escuridão contra Kuchi. A maga, que já estava lendo os movimentos do oponente junto com sua concentração mágica, apontou a mão direita para frente e disparou uma de suas bolas de fogo. As duas esferas mágicas voaram uma contra a outra, se encontrando no meio do caminho, criando uma explosão potente.

Fumaça foi criada bem no meio do ringue, mas não tinha sido grande o suficiente para esconder o corpo dos dois lutadores. Por isso, todos conseguiam ver a maga de fogo correndo contra Akira, concentrando ainda mais energia em sua mão direita, que estava jogada para trás.

Akira se deliciou ao ver a aproximação da oponente. Fez sua aura aumentar de tamanho, imitando a concentração de energia em volta do seu corpo. Ele também imitou o movimento inicial dela, ficando com a mão esquerda para trás do corpo e fazendo a bola de cristal em sua mão direita brilhar intensamente. Kuchiki pulou antes de chegar próxima o bastante para um combate corporal. E ainda no ar, ela deixou sua energia fluir, atacando mais uma vez:

MÍSSIL DE FOGO!

TIRO DAS TREVAS!

Kula apontou a mão direita aberta contra a cabeça de Akira e fez sua energia chamejante criar uma espécie de retângulo com ponta na frente da mão. Depois de entrar em combustão, o míssil de fogo foi disparado rapidamente. Mas não voou por muito tempo.

O Darkmancer, que era como ele gostava de ser chamado, apontou a mão esquerda para cima e para frente. Três de seus dedos estavam fechados, menos o indicador que estava reto, apontando o míssil e o polegar, que estava para cima, criando a típica imagem de um revólver imaginário.

Essa arma efetuou um disparo único, criando um projétil concentrado de energia das trevas que entrou dentro do míssil e o fez explodir assim que saiu da mão da garota de vermelho. A explosão criou uma onda de ar que jogou a maga para trás, mas não chegou a machucá-la.

Kuchi caiu de joelhos, sem perder o foco. Ela precisava aproveitar aquela adrenalina acumulada em seu corpo e continuar atacando. Agora ela estava bem próxima do cara careca estranho. Akira não era burro e não entraria em um combate corporal. Assim como ela também não, já que suas habilidades físicas não eram lá grande coisa.

Foi aí que a ideia surgiu. É claro! Se é uma coisa que os dois são ruins, é normal um achar que o outro não será tolo o bastante para tentar sequer iniciar um combate assim! É isso! Enganar o inimigo é o primeiro passo para a vitória!

CORPO DE CHAMAS!

O Anjo de Fogo elevou sua aura e fez sua energia mágica correr por volta de seu corpo inteiro. Um segundo depois, toda aquela energia se transformou em chamas vivas, fazendo parecer que a garota estava pegando fogo. Isso não preocupou Akira. Agora... O fato dela correr para cima dele sem mais nem menos, sim.

Kuchi atacou com um soco mirando o estômago dele. Era uma coisa que nem ele e nem os espectadores esperavam ver. Akira girou o corpo para o lado, se esquivando do avanço inicial de sua oponente. Kula não deu chance para ele se afastar e nem se concentrou. Girou o corpo e foi atrás dele, atacando novamente com um soco reto, rápido. Akira aparou o soco com sua mão esquerda, e logo percebeu o erro daquele movimento. A garota não tinha força nenhuma para lhe machucar com um soco, mas o fogo em seu corpo queimava tudo que tocava.

O mago sentiu a ardência de suas queimaduras se elevarem. Ele deu um pulo para trás, tentando ganhar espaço. E lá foi ela atrás. A garota, além de não ter força física, também não era dotada de grande velocidade de locomoção. Mas por sorte, ela estava enfrentando alguém com o mesmo nível de habilidade física do que ela. O que significava que ela conseguia acompanhar os passos do oponente.

Kuchi atingiu Akira com um chute em sua perna direita, fazendo o corpo do mago dobrar e o deixar de joelhos. Novamente, o problema não tinha sido o impacto e sim as chamas.

Ainda empolgada com o movimento certeiro, a maga tomou impulso e tentou acertar outro chute, dessa vez na cabeça. Akira se abaixou, deixando a perna dela passar sob sua cabeça. Nervoso, o mago apontou a mão esquerda para Kuchi, concentrando energia mágica. Mas a garota segurou aquele braço com sua mão direita, queimando o pulso de Akira. Sem soltar nenhum grito de dor, o mago puxou seu braço para si, fazendo a garota perder um pouco de equilíbrio. Sem sair do lugar, ele fez a bola de cristal lhe encher de energia e ele atirou uma nova magia:

IMPACTO OBSCURO!

Tudo que Akira precisou foi virar um pouco seu corpo e puxar seu braço para baixo, até sua cintura, com o punho fechado. Mandou a energia concentrada para aquele punho. Olhou para a garota, que já reganhava seu equilíbrio e se preparava para pular em cima dele de novo. A coragem dela de atacar sem parar era esplêndida. Tinha lhe pego de surpresa novamente. Ataques físicos? Quem diria! Era hilariante. Ou seria, se não tivesse surtido um certo efeito.

Akira deu um soco para frente, abrindo o punho no final do movimento. Não precisava encostar na oponente. Kula cruzou os braços na frente do corpo, sabendo que não teria tempo para se esquivar, seja lá do que fosse. Assim que a mão do mago foi aberta, uma onda singular explodiu na frente da garota, como um impacto de um martelo gigantesco.

A maga sentiu a dor intensa nos braços, mas usou toda sua força de vontade para aguentar. Seu corpo não foi jogado tão longe porque ela tinha mantido o Corpo de Chamas afim de se defender da magia, o que no fim, ajudou um pouco a diminuir o dano. Kuchi caiu no chão arrastando seu pé. Parou e impulsionou o corpo para frente mais uma vez. Correu contra o oponente, o deixando paralisado de surpresa.

Akira não acreditava que sua oponente poderia fazer um avanço tão imediato logo depois de receber uma magia de impacto no corpo. Ele queria ter utilizado outra magia, mas a garota já estava muito à queima-roupa.

Kuchi pulou contra Akira, acertando-lhe um golpe com o ombro em seu peito. Mais uma vez, a força não era o problema, e sim o fogo. Akira cambaleou para trás, dando passos desgovernados e quase indo ao chão. Ele perdeu Kuchi de vista, mas naquele momento, tudo o que lhe interessava era retirar a chama que estava começando a incendiar sua roupa.

Ele começou a bater no peito com a mão que estava vazia, conseguindo apagar o fogo antes que lhe começasse a consumir sua pele por inteiro. Já não bastava as queimaduras que ele tinha ganhado mais cedo, agora aquilo. Ele precisava tomar cuidado naquela luta. Fogo é um elemento mágico totalmente de ataque. As magias podem causar danos por mera explosão de energia ou por queimaduras reais... Ou os dois, na maioria dos casos.

Ele fixou as pernas e voltou a ficar em posição de combate. Agora... Onde estava sua oponente?

MANIPULAÇÃO DAS CHAMAS - NEGRO DESTRUIDOR!

Kuchi estava quase totalmente atrás de Akira, em um ângulo fora da visão do mago. Isso não queria dizer que ela estava "invisível" pra ele, já que ele poderia senti-la pela sua aura ou até mesmo pelo calor que emanava do seu corpo. Mas dessa vez, esse foi um ataque surpresa.

Primeiro, porque a maga "desligou" tanto sua magia que lhe incendiava o corpo quanto sua aura de defesa, diminuindo a velocidade de percepção de seu oponente. Segundo, porque mesmo que ela não tivesse feito isso, Akira tinha perdido totalmente a atenção na luta por um mortal segundo, por causa do fogo em sua roupa.

Isso deu tempo o suficiente para a garota preparar uma nova magia, que era derivado de um fogo de cor preta que exalava um certo teor de maldade. Mas não era do mesmo nível que as magias de Akira, por exemplo. Kuchi fechou a mão e seu punho se tornou da mesma cor da chama. Mirou bem onde queria. Não iria errar daquela distância.

O alvo? "A cabeça dele!!". Foi o que gente como Shiro e Jimmy pensaram naquela hora. Mas não. O alvo de Kuchi era a bola de cristal que seu oponente segurava firmemente em sua mão direita. O soco energizado atingiu o objeto mágico, quebrando ele em migalhas. O barulho de vidro quebrando encheu o Coliseu, retirando muitos "WOW"s das pessoas.

Essa magia de Kula era parecida com sua outra que consumia magias. Essa cor lhe dava o poder de destruição de coisas físicas. Não importava o quão duro poderia ser ou de que material. Tudo dependia de quanta energia mágica o usuário utilizava em sua concentração. Kuchiki tinha utilizado uma boa quantidade nessa magia, pois sabia que aquela bola estava repleta de energia, e com certeza teria algum tipo de aura defensiva a protegendo. Ela fez o certo.

Na hora da destruição, vários fragmentos cristalinos voaram para todas as direções, fazendo Akira levar a mão no rosto afim de proteger os olhos. Outro erro que lhe custaria muito caro.

A maga de fogo aproveitou o impulso e elevou sua energia mágica mais uma vez. Dessa vez atacaria para machucar Akira. Iria tirá-lo de batalha naquele momento. Passou toda a energia para sua mão direita, em uma velocidade que até mesmo ela ficaria surpresa se estivesse vendo a batalha. Akira estava sem defesas. Era o momento mais perfeito para atacar com tudo.

TORPEDO DA DESTRUIÇÃO!

Foi um golpe e tanto. A mão da maga voou rápido e atingiu o estômago de Akira, que ficou sem ar no momento do impacto. E isso foi só o início. Kula liberou toda a energia de uma só vez, criando novamente seu torpedo concentrado de fogo. O objeto mágico empurrou o mago como se ele fosse feito de papel, jogando-o para fora do ringue até bater em um dos pilares de proteção, para só depois explodir.

Os vivas que seguiram foram intensos. Os torcedores da Immortal Star estavam gostando muito mais dessa luta do que das outras, pois pela primeira vez, o seu time favorito parecia estar na vantagem. Mumu também comemorava os bons movimentos de sua parceira. Ela estava lutando com tudo que tinha, não dando chance nenhuma para seu oponente contra-atacar.

A estratégia da garota de não se manter em uma batalha de magos tinha surtido um efeito muito melhor do que ela sequer tinha imaginado. Provavelmente Akira não esperaria uma batalha corpo a corpo, e foi isso que tinha criado uma brecha enorme para que Kuchiki conseguisse atacar tanto e tão certeiramente.

O corpo do mago estava no chão de terra agora, e como já esperado, o Telão Informativo fez seu trabalho, junto com Pablo, o Apresentador. Era uma batalha de magos que ninguém poderia esperar, e por causa dos ataques físicos da garota, tudo estava se tornando ainda mais interessante.

O único que permanecia calado e não parecia estar fazendo seu trabalho corretamente era Bart. Ele estava quieto. Já fazia um tempo que ele tinha ficado totalmente como observador, e ele expressava uma cara de curiosidade. Talvez porque ele sabia que aquela luta estava estranha demais.

Bart conhecia a fama de Akira. Ele era um mago de posto elevado até mesmo na Universidade que tinha saído. E além disso, ele era um Líder de Guilda! Os erros que ele tinha cometido ali no ringue... Aquilo não fazia nenhum sentido. Alguém que já participou de várias guerras e assassinatos não cometeria tais erros e nem se surpreenderia da mesma maneira que Akira. Havia algo de errado.

Quando o próprio ex líder de Guilda começou a se levantar na contagem de "6", Bart mudou a expressão novamente. Kuchi viu que ele tinha se levantado até rápido demais. Ele estava muito machucado e não deveria ter conseguido ficar de pé em tão pouco tempo! Ela tinha acertado o meio do estômago dele! Era pra ele estar vomitando sangue e tentando recobrar o ar dos pulmões! Mas não.

Ele estava em pé e andava de volta para o ringue. Quando o Telão marcou "3", ele deu um pulo curto, subindo novamente à plataforma onde acontecia as batalhas. Seus torcedores gritaram por seu nome, se animando novamente. Agora ele estava mais próximo e Kuchi conseguiu concluir: ele ESTAVA machucado sim. Sua camisa havia sumido, dando vista para um corpo chamuscado e com ferimentos que cuspiam sangue. Então por que ele mantinha aquele sorriso maléfico no rosto?

— Ahhhhhhh... Quanto tempo faz? — disse ele, olhando para cima. Sua voz não tinha mudado, dando mais uma clara sensação de desconforto para a maga. Isso significava que ele não estava alterado por causa dos danos em seu corpo. — Eu não me lembro da última vez que eu fui jogado tão longe por uma magia. Foi esplêndido, Kula! — disse, e então começou a bater palmas, aumentando ainda mais a característica "sinistra" daquela cena.

— O que você é?! — perguntou a maga, em voz alta. — Como você pode estar bem depois de levar aquele ataque em cheio?

— Ah, eu não te disse? Eu não sinto dor. — muitas pessoas ouviram esse comentário, e todos que também tinha ouvido, fizeram a mesma careta de Kuchi. — Meu corpo está meio morto, meio vivo. Eu não consegui me livrar totalmente da maldição eterna que colocaram em mim, mas por mais engraçado que pareça, isso só me ajudou ainda mais a ganhar poder! Você pode tentar tirar meu fôlego, me rasgar, me perfurar... Seja criativa! Faça o que você achar melhor! Mas nada vai me machucar de verdade. Eu sinto irritações, mas nada comparado às dores que você sente. Esse corpo já não conhece mais limites, e por isso que você nunca teve chances de me vencer.

— Você está mentindo! Nenhum ser humano pode sobreviver com "meia maldição" no corpo!

— Acredite no que quiser. Não vou forçar minhas explicações em você. Eu estou aqui para "aprender", e não "ensinar". Mas eu te digo uma coisa, Senhoria Maga: o nosso mundo é FEITO de coisas impossíveis! — Akira afastou os dois braços, começando a concentrar energia mágica em volta de seu corpo. A quantidade era assustadora, porque era muito mais do que ele tinha concentrado antes. — Bom, eu já brinquei o bastante. Está na hora de lutar a sério. Agora eu vou te fazer entender o porque eu prefiro ser chamado de "Darkmancer". PÂNTANO DO SUBMUNDO!

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Akira desceu seu corpo, se agachando. Bateu com a palma das duas mãos no chão, mandando toda sua energia para o ringue. Depois, tudo ocorreu muito rápido. Os pisos brancos e bonitos do ringue se tornaram negros. Kuchi foi pega em um choque de energia, sentindo uma grande quantidade disso sendo espalhada por todo o campo de batalha. Mas isso não foi tudo o que ela sentiu.

Em primeiro lugar, é importante resaltar que ela sabia bem que aquilo era um tipo de Campo Mágico, assim como era aquele que Himi tinha utilizado na luta passada. Em segundo lugar, também era importante avisar que esse tipo era diferente daquele que a assassina utilizava. O propósito era totalmente diferente. A maga sabia que seja lá qual fosse aquele campo, era algo desvantajoso pra ela.

Olhando de cima, os espectadores conseguiam ver que era impossível enxergar as divisões de lajotas brancas no ringue. O Campo Mágico estava se tornando mais denso e substancial.

Kula precisava agir. Mais uma vez ela reforçou sua aura no intuito de se defender. Mas foi aí que ela se viu afundando. Sim, afundando. Kuchi olhou para baixo e viu seus pés afundando no piso enegrecido pela magia do seu oponente. Era como pisar na lama funda. Ela não via mais os pés e ela continuava afundando. Tentou não entrar em desespero. Ao invés disso, tentou andar. Queria sair dali. Não conseguiu andar sequer um passo. Daí sim que veio o desespero.

Como ela tinha se trancado ali? Levou as duas mãos na perna direita, vendo aquela lama negra chegar quase até seu joelho. Tentou puxar sua perna para cima. Não obteve nenhum sucesso. Aquilo não parecia mais lama. Parecia areia movediça! Se fosse isso mesmo, ela não iria parar de afundar até desaparecer totalmente.

Mas outra coisa lhe chamou a atenção naquele momento: a risada chata de seu oponente. Akira ria e concentrava mais energia mágica ainda. Isso só aumentou o fervor de Kuchi, que começou a lutar com todas as forças para sair daquele aprisionamento.

— Você quer saber mesmo qual é a diferença entre um "mago que controla magia de trevas" e um "darkmancer", Kula? — perguntava Akira, se aproximando passo a passo. A voz do garoto fez a maga olhar naquela direção, e ela percebeu que Akira andava livre das garras mágicas daquele pântano do inferno. Isso era o mínimo que se esperava, já que o usuário precisaria se livrar da própria magia. — A diferença é que os magos, independente de qual elemento eles controlam, eles só "transformam" energia mágica. Tudo no mundo dos magos é feito com base da transformação. — Kuchi não queria ouvir e tentava se livrar daquele lugar. Ela sabia que Akira estava certo, e que aquilo era uma coisa básica, que provavelmente se aprendia no primeiro dia de aula. — Nós, os darkmancers não transformamos nada. Nós "criamos"! Nossa magia é de criação, uma base muito mais fundamentada e poderosa do que a sua. — ele olhou para a oponente, que agora lhe encarava com uma expressão de pura confusão. — Vejo que você precisará de um exemplo. Que tal sentir na pele? PIRANHAS CARNICEIRAS!

Akira se abaixou de novo e enfiou a mão direita naquela lama negra que cobria o ringue. Mandou uma certa quantidade de energia mágica para lá, que logo foi sentida por Kula. O desespero dela aumentou. Não importava o que estava pra vir. Seria ruim e seria perigoso. E o pior de tudo é que ela VIU o que estava vindo.

A lama envolta da mão de Akira começou a se mover e criar pequenas bolhas que explodiam quando chegavam na "superfície". Aquelas bolhas aumentaram de quantidade em uma velocidade recorde, como água fervente. Depois, ela viu que as bolhas estavam se locomovendo. Se aproximando dela. E então, quando estavam no meio do caminho entre ela e o seu oponente, as bolhas se transformaram em peixes dentuços e horrorosos, negros e o pior de tudo, famintos.

Eles não emitiam nenhum som, mas parecia que a aproximação deles criava um barulho de água corrente. Ainda sem poder fazer nada, Kuchi começou a concentrar energia mágica para se defender. Mas o que faria naquela situação? Que magia poderia lhe defender de algo vindo por um campo mágico? "Meu Corpo de Chamas!".

— AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!

O grito aterrorizante da maga de fogo foi alto o suficiente para acordar uma certa pessoa do seu túmulo em vida. Mas quem gritou um sonoro "NÃO" tinha sido o mago de ferro. Ele gritou aquilo sem nem entender o que diabos acontecia naquele ringue.

O que aconteceu foi que Kuchi, por mais que tinha tido uma ideia ótima para se defender, não tinha tido tempo o suficiente para utilizar a magia em si. Ela começou a sentir mordidas nas pernas, e a dor foi incompreensível. Talvez eram dez piranhas que tinham sido soltas naquelas águas sujas, mas para a maga, eram milhões.

Suas duas pernas e pés foram dilacerados por dentadas, fazendo o sangue se misturar por aquela areia movediça que a puxava para o fim da vida. A maga caiu de costas no chão, que não era mais chão. Ainda gritava e lutava para sair dali. Sentiu o corpo afundar também, muito lentamente. Não queria aquilo! Se sentia suja, machucada, indefesa. De uma hora para outra, o jogo tinha se virado contra ela de um jeito tão instantâneo, que ela não pode deixar de criar medo em seu coração. Agora queria viver, queria sair dali, queria voltar para o lado de Mulkior.

E foi exatamente a voz dele que ela ouviu, mesmo naquele momento desesperador. Ela se virou para os lados, mas não o enxergava. Ela já estava começando a se sentir funda demais. Não dava para vê-lo, mas ela ainda o ouvia. A voz dele não era ofuscada pela quantidade absurda de gritos e vivas dos torcedores. Kuchi nunca iria se confundir com a voz da pessoa que amava. Ele sempre alcançaria seu corpo e alma, não importava o quão profundo ou longe ela estivesse. Por isso as palavras dele soaram como música para seus ouvidos, e só os seus.

— KUCHI, ACORDE! — gritava ele. — O Campo Mágico é uma mistura de ilusão com emanação de energia mágica! Você não vai afundar se combater essa magia com outra magia que envolve seu corpo!

Magia só pode ser combatida com magia também era outro ensinamento que os professores de escolas e universidades arcanas passavam para seus estudantes no primeiro dia de aula. Mumu tinha dito muitas coisas ao mesmo tempo, mas a percepção auditiva da maga só tinha captado aquelas frases. Foi mais que o suficiente.

Ela não precisou entender o que ele quis dizer com "ilusão misturada com emanação". Ela deve ter perdido alguma parte dos gritos dele. Mas não importava. Ela precisava fazer tudo o que estava ao seu alcance para não ser engolida. Ilusão ou não, se aquele pântano lhe tomasse seu ar, seria uma morte certa.

Ela forçou para ignorar a dor das mordidas. Infelizmente, isso era impossível. Os machucados em seus pés não eram ilusórios. O sangue era real. Então ela precisou se concentrar mesmo com a dor. Isso era difícil de se fazer, mas também não era como se fosse sua primeira vez tentando fazer algo assim. Refez sua aura ao redor do corpo, fazendo mais energia mágica emanar para o ar.

Akira parou de rir quando viu que sua oponente ainda não tinha se dado por vencida. O que pra ele, era ótimo. Pela primeira vez, ele queria ver o que ela seria capaz de fazer para se livrar de sua magia. Ele deu dois passos para trás e ficou observando. Kuchi fechou os olhos para melhorar a concentração, e por fim, fez sua energia explodir de uma só vez, em uma magia única.

MANIPULAÇÃO DAS CHAMAS - ROXO PROTETOR!

Cinco chamas roxas surgiram no ar, criadas a partir da pura energia da maga. Desceram e começaram a rodear seu corpo, espalhando aquela lama podre que a engolia.

A ideia de Kuchi tinha sido geniosa. Ela usou uma magia que lhe protegia de outras magias, mas o efeito ali tinha sido um pouco diferente, como ela mesma havia imaginado. Quando o fogo começou a circular seu corpo, ela sentiu que conseguia se mexer novamente. Ficou de pé o mais rápido possível, trazendo um pouco do peso daquela coisa nojenta que o Campo Mágico criava. Mas tinha dado certo!

Sua magia de proteção estava "diminuindo" o efeito do pântano, mas não o cancelando totalmente. Ou seja, ela ainda estava com as pernas um pouco afundadas naquilo, mas agora conseguia se mexer. Por um triz, ela não se viu derrotada por uma simples combinação de magias.

Ela mesmo sabia que a ideia poderia ter falhado e nisso, ter só piorado ainda mais a situação. Mas isso não vinha mais ao caso. Em toda batalha havia riscos. Como uma veterana, ela estava ciente dos perigos de usar qualquer magia com incerteza. Mas talvez sua força de vontade para continuar lutando tenha superado até mesmo a lógica da magia.

— Estou impressionado em ver que você consegue continuar de pé. — disse Akira, dando dois passos para frente. — Mas sabe que, seja lá o que essa sua magia faça, você não escapará do meu pântano da morte!

— Você está se superestimando! — respondeu a garota, ficando em posição de ataque. — Eu ainda não usei tudo o que tenho!

— Ahhhh!! Mas isso é maravilhoso!! Então vamos ver esse "tudo" que você fala! BARBATANA DO MAR MORTO!

Akira concentrou a energia mágica que o rodeava, passando para sua mão direita. Com essa mesma mão, ele se abaixa e a coloca dentro daquela água negra mais uma vez, mandando uma nova magia para atacar Kuchi.

A maga de fogo, já reconhecendo a aura emanada por aquela magia, sabia o que estava por vir. Assim que sentiu um certo borbulhar em seus pés machucados, ela jogou o corpo para o lado, caindo um pouco sobre aquela lama pegajosa que não cessava. O muro fino e cortante da magia de Akira apareceu bem onde ela estava há um segundo atrás, mas acertou só o vento.

Mas aquilo tinha sido só um aviso. E a garota tinha entendido muito bem. Mesmo que ela conseguisse parar de afundar naquele Campo Mágico, sua mobilidade ainda estava, no mínimo, um terço reduzida. Esquivar de magias rápidas não seria mais uma opção. Ela tinha que dar um jeito de escapar daquilo ali, ou derrotar seu oponente de uma vez. "Falar é fácil.", pensou ela.

Akira não estava exibindo nenhuma abertura e pelo jeito, iria tentar manter o máximo de distância possível. Aquele pântano era perfeito para que Kuchi não conseguisse atacá-lo fisicamente de novo, então aquela estratégia tinha ido por água abaixo.

TIRO DAS TREVAS!

Akira não era bondoso o suficiente para deixar sua oponente se reerguer e muito menos dar tempo para ela pensar em uma outra boa forma para atacá-lo. Não era nem questão de bondade e sim, estupidez. Ao ver que a maga estava se levantando ainda que de modo escorregadio, ele apontou a mão direita para frente, mandou energia mágica para os dedos indicador e médio, e logo em seguida efetuou um disparo único e rápido.

Mesmo atenta, Kula não conseguiu se defender dessa magia, a levando no braço esquerdo. A dor veio com o grito. Ela lutou para se manter de pé, girando um pouco o corpo e mandando o peso para a perna direita. Olhou para o braço e o viu sangrando por causa de um furo que parecia ter sido feito com um florete grosso. Agora estava difícil de mexer o braço atingido e ela ainda estava sem ideias para lutar.

Sua situação estava ficando verdadeiramente desesperadora, e seu oponente já estava pronto para atacar novamente. Akira não iria parar de disparar magias enquanto ela não se desse por vencida... Ou pior.

A desvantagem da maga era tamanha que até mesmo Leon conseguia ver o beco sem saída onde ela estava metida. Leon comentou isso com seu amigo ao lado, recebendo uma afirmação.

Raziel tinha se mantido quieto a luta quase inteira, mas isso é porque ele tinha a atenção voltada para as arquibancadas. Ele procurava certas pessoas lá, sentadas e misturadas entre os torcedores. Pessoas que tinham outros objetivos ali. Não traziam bandeiras e nem cartazes. Traziam folhas e penas com tinta. Escreviam, observavam. Analisavam. Teve uma hora que ele trocou uma olhadela rápida com Athena, que também estava procurando essas pessoas. Parecia que o plano estava indo conforme o combinado e nada estava saindo fora dos eixos.

Akira se agachou um pouco e colocou os dois braços para trás, concentrando mais energia mágica ainda. Agora a coisa seria grande. Kuchiki voltou a se manter virada para o oponente, e começou a imitá-lo. Ela não tinha escolha ali. Precisava criar uma abertura e atacá-lo com toda a força. Ela realmente tinha algumas magias que ainda não tinha utilizado, mas muitas delas seriam inúteis ali. O campo mágico também atrapalhava qualquer tática nova que ela pudesse ter em mente.

A vantagem estava toda com Akira, e ele estava aproveitando cada segundo. Junto com seus fãs, claro. Para ele, aquela luta era um misto de diversão com aprendizado. Ele sabia que se ele tivesse lutado com os outros dois adversários passados, teria certos problemas. Akira era o mais observador daquele time, e ele tinha analisado todos os quatro membros da Immortal Star. Como eles não sabiam como a luta final seria, ele precisou criar estratégias para os quatro, o que não tinha sido muito difícil.

Mas ainda sim, ele queria lutar era com Kula. PRECISAVA. Só ela poderia retirar toda sua força, de uma maneira mais lenta e mais prazerosa. Os outros três membros do time dela não o deixariam nem esticar os braços. Talvez Mulkior, que era um combatente mais cauteloso, o enfrentasse com uma luta de magos com magias de longa distância. Agora os outros dois... San tinha um avanço absurdamente rápido e percepção grande o suficiente para acompanhar Chang. Mana atacava com técnicas mortais e não dava chance para nenhum oponente se manter preparado, e sua luta contra Himi provou a ele que não seria fácil derrubar a garota com magias simples.

Mas como ele bem imaginou logo depois de acordar de seu longo sono, "A Deusa da Sorte decidiu fazer um pacto comigo.". Tinha perdido muito tempo de vida por causa da maldição colocada nele por um maldito soldado do Planetarium, com a qual ele declarou vingança eterna. Ele não sabia o nome da pessoa, mas reconhecia muito bem seu rosto. Iria atrás daquele maldito, até o Inferno se precisasse.

Além disso, ele precisava resolver um outro mistério: seu salvador. Ele não sabe quem foi que lhe retirou de seu longo sono, já que quando acordou em uma igreja abandonada, dentro de um caixão aberto, não havia ninguém por perto. A igreja também ficava em uma vila abandonada, destruída pelo fogo da guerra ou da fome. Ele não sabia dizer, mas as casas e fazendas estavam ou queimadas, ou demolidas. Teve que andarilhar muito até encontrar informações para se localizar.

Por incrível que pareça, ele não se chocou com a notícia de que sua Guilda havia sido extinta. Sinceramente, ele já esperava tal coisa. Decidiu continuar ganhando forças e seguindo em frente ao invés de ficar em um canto se lamentando. Com o passar do tempo, ele ficou destreinado, e precisou entrar em uma série de treinos rigorosos, criados por ele mesmo, para voltar a ter a força que tinha antes.

Foi no meio desse treino que ele conheceu as pessoas de seu time, que estavam procurando por um último membro para participar de um certo Torneio. Para Akira, aquilo era excelente, pois poderia reformar totalmente suas magias e se tornar ainda mais forte. Agora, imagine a felicidade dele ao saber que o time campeão teria uma chance de entrar para a Planetarium? Isso era sorte demais! Sua vingança estava mais próxima do que ele poderia imaginar!

Por isso ele tinha que usar todo o tempo que tinha ali, usando todos os requícios que tinha. Não se importava em fazer um luta longa. Muito pelo contrário. Isso só lhe beneficiaria ainda mais. Mas precisava vencer. Disso, ele não abriria mão. Seu time já estava em vantagens nos pontos. Se ele vencesse ali, o torneio chegaria ao fim. Ele sorriu. A vitória nunca foi tão doce. Hora de saborear!

ONDA DA MORTE!

Aquela magia mexeu com os sentimentos de muita gente no Coliseu. Fisicamente falando também. A concentração de energia de Akira era tão densa, que o chão estava reagindo conforme mais e mais energia era juntada nas suas duas mãos. Elas estavam criando dois círculos negros que trocavam raios também negros entre eles.

Kuchi estava sendo puxada por aquela sucção, parecendo que seu oponente lhe absorvia a energia de seu corpo. Ela teve que lutar contra a dor que sentia nas pernas enquanto mantinha uma posição fixa e concentrava energia ao mesmo tempo. Se ela não se defendesse bem o suficiente daquilo, seja lá o que fosse, ela estaria condenada. E então veio.

Akira jogou os dois braços para frente ao mesmo tempo, fazendo os dois círculos mágicos se juntarem e expandirem. Aquilo cresceu ao ponto de tocar o Campo Mágico, e foi onde tudo pareceu mais perturbador. Aquele círculo começou a criar ainda mais energia, que foi ganhando uma forma mais física. O que estava acontecendo exatamente era que aquela "matéria negra" que estava sendo criada parecia muito com as grandes ondas que vemos nas praias mais perigosas. Não estava criando uma coisa que tinha uma extensão de dois ou três metros. Não! Aquilo tinha dez ou onze metros de comprimento, além de ter uns quatro de altura!

Kuchi se viu, por um mini segundo, encarando a fúria da natureza. Um oceano enegrecido, com raiva, querendo lhe engolir. E foi isso mesmo que aconteceu. Aquela onda de energia negra partiu para cima dela, criando um medo em seu coração que ela nunca mais esqueceria. Aquilo estava vindo rápido demais, mesmo que para ela parecia vir lenta e calmamente. Era engraçado aquilo. Essa diferença de ponto de vista.

Mumu estava tendo a mesma sensação que sua parceira, mesmo estando fora daquele ringue negro. Ele olhou para ela, querendo adivinhar o que ela faria naquela situação. A garota permanecia parada, olhando para frente e para cima. Mas não estava congelada pelo medo.

Ela continuava juntando energia, o que era um bom sinal. Mas o que ela faria naquela situação? Uma barreira em volta de seu corpo lhe daria chances de sobreviver, mas ele sabia que Kuchi não tinha nada parecido com isso. Que aliás, a única "barreira" que ela tinha já estava ativada. Havia quatro chamas roxas que ainda rodeavam seu corpo. Mas ele também imaginava que mesmo aquilo não seria o suficiente para aguentar o impacto e os danos que essa onda da morte poderia causar.

Ela, por outro lado, queria dizer para o amado não se preocupar. Que ela tinha algo que iria usar ali, para sobreviver. Nem ela sabia se sairia ilesa daquilo, mas iria lutar do mesmo jeito que seu oponente. Iria usar fogo contra fogo. Ou onda contra onda.

MAREMOTO VERMELHO!

Concentrou o máximo de energia mágica que podia naquele curto período de tempo e depois desenhou um arco horizontal na sua frente usando a mão direita. Isso fez sua energia se espalhar e incendiar o ar em volta, além de criar uma grande quantidade de chamas vivas que iluminaram aquele cenário negro. Não foi necessário outro comando por movimento vindo de sua parte. A magia de Kuchi também se transformou em uma onda de fogo, que partiu para cima da magia do inimigo.

Onda contra onda. A garota estava orgulhosa de sua própria magia. O Maremoto Vermelho lhe consumia uma grande quantidade de energia mágica e necessitava um certo tempo para ser concentrada. Kuchi tinha conseguido diminuir um pouco desses dois aspectos. Precisou reduzir a energia gasta e usar em menos tempo. Deu certo. Claro que deu. A magia saiu certinho. Talvez não tão forte quanto as outras vezes, claro.

Mas era EXATAMENTE isso que tinha criado o problema ali. As duas ondas se chocaram, criando uma cena pouca vista na história da magia. Foi como se duas ondas de dois mares diferentes se chocassem, um querendo engolir a água do outro. Faíscas negras e vermelhas, que eram um tipo de fagulha mágica, voaram para todas as direções, batendo contra a barreira de proteção na frente dos espectadores. Era como ver um show de luzes. O efeito seria ainda mais impressionante e mais duradouro se as duas magias estivessem exatamente no mesmo nível. Mas não estavam.

Infelizmente para Kuchiki. A onda de energia negra era claramente maior e mais poderosa. Ela começou a empurrar as chamas de volta para a direção da maga, enquanto as engolia como água. O luminoso começou a se tornar escuro. O fogo não deu conta de queimar todo aquele mal.

E Kula não tinha pra onde correr. Pensou em se virar, mas do que adiantaria? Ela estava cansada e machucada. Não tinha como fugir. Cruzou os braços e recebeu o resto da onda em cima do corpo, fazendo-a desaparecer dos olhos de todos. Kuchiki tinha sido engolida totalmente, deixando nem rastro de onde estava. A onda foi tão intensa que sua energia esparramou por todo o lado sul do Coliseu, manchando o chão de terra daquele local.

O mais importante era o resultado. Akira estava lá em cima do ringue ainda, com os braços abaixados e respirando rapidamente. Mas ele sorria. Tinha conseguido usar uma magia magnífica, bela e poderosa. Ah sim, e efetiva também. Nem por um segundo ele se amedrontou com a onda de fogo de sua oponente.

Que aliás, ele também amou ver. Era uma surpresa ver que ela queria combater sua magia usando uma outra do mesmo tipo. As batalhas dos magos sempre eram decididos desse jeito. Mas por mais que fosse clichê, não deixava de ser lindo de se ver.

Agora, para Mulkior, isso não era nem um pouco importante. O que ele queria saber era: onde estava a mulher que tinha feito ele se apaixonar? Ela não estava mais no ringue. Olhando para o piso do ringue de batalha, era possível ver que mesmo depois de usar a onda, o Campo Mágico de Akira não havia desaparecido, mas havia diminuído de intensidade, principalmente na parte onde as chamas da onda de fogo da maga tinham passado. Será que ainda havia "fundo" o suficiente para que Kuchi tivesse sido engolida pelo pântano também?

Não! Não, não, não! Ele não iria acreditar naquilo! Pensou em gritar pelo nome dela, mas aí ele ouviu um barulho característico, que já tinha se acostumado em seu cérebro. Era o barulho do Telão Informativo mudando suas imagens magicamente e exibindo os tão tenebrosos números do fim. A contagem regressiva tinha começado.

Junto com os gritos dos torcedores das Zero Soldier. Mais uma vez, eles se viam na esperança de verem seu time favorito sair dali campeão, pois mereciam tamanha glória. Depois de ver a face de três dos integrantes e saberem que todos eram grandes guerreiros, mais e mais pessoas começaram a adotar esse time como seu favorito. Não era possível contar, mas desde que a final começou, alguns dos torcedores tinham "mudado" de time, por assim dizer. Alguns que torceram por San na primeira luta, torceram por Himi na segunda. Aquilo era esperado e nenhum dos combatentes dava bola. Mas isso aumentava um pouco o nervosismo de quem estava no ringue, pois cada vez mais os gritos para os oponentes pareciam maiores.

Kula cuspiu sangue, saliva e seja lá o que tinha saído junto disso. Se virou para baixo e começou a tossir sem parar, com falta de ar e tentando se manter acordada. Havia muita tontura e seu estômago estava tão embrulhado, que ela tinha a leve sensação de ter acabado de tomar um suco com água de esgoto. Só essa ideia fez ela vomitar mais um tanto do líquido misturado. Ela provavelmente tinha ingerido um pouco da energia mágica negra daquela onda, e isso a afetou por dentro.

O que foi por sorte, na verdade. Ela tinha recebido a onda diretamente, pois sua magia não conseguiu deter aquilo à tempo. Mas como ela ainda estava com sua magia de proteção ativa, o dano exterior que ela tinha sofrido não foi tão grave assim. Ela tentava pensar sobre isso enquanto se levantava. Os sons começaram a ficar mais nítidos e sua cabeça estava parando de girar. Ela ouviu os gritos dos espectadores em uma torcida organizada, gritando pelo nome do time de seu oponente.

Ela olhou para os lados e daí sim que percebeu que não estava mais no ringue. Se assustou quando olhou para cima e viu o Telão Informativo mostrar o número "5". Ela tentou não se desesperar mais do que já estava. As ideias explodiram em sua mente, gritando coisas como "VOLTA JÁ PRO RINGUE!".

No momento que ela deu os primeiros passos para frente, ela viu Mumu correndo do outro lado, dando a volta pelo ringue para chegar até ela. O rosto dele passava preocupação e medo, e isso a fez perder um pouco do pique que estava. Vê-lo sem aquele sorriso encantador sempre era difícil.

Assim que ela subiu ao ringue, com três segundos faltando para seu tempo acabar, ele chegou. Ela quase não conseguiu vê-lo nos olhos, porque já estava sentindo o efeito do Campo Mágico lhe puxar para baixo novamente. Ela não teria tempo para nada e agora estava sem sua proteção. Ela também percebeu que o efeito do campo havia diminuído, e provavelmente tinha sido por causa do choque das duas magias, que espalhou toda a aura do lugar para todos os lados. Mas isso seria temporário.

— Kuchi! Você está bem? Se machucou muito? — disse o mago, com a voz um pouco tremida. Ele também respirava rápido por ter corrido desesperado até ali.

— Sim, estou bem. Não se preocupe. — ela respondeu, e logo se sentiu em um loop de conversa. Ela já tinha falado isso pra ele há uns minutos atrás e não queria ter falado de novo. — Ele é mais forte do que aparenta e essa luta está se prolongando demais. — disse e olhou para baixo. Sabia que não poderia perder mais nenhum segundo parada ali, mas ao mesmo tempo, não queria deixar de ouvir a voz da pessoa que tanto amava. — Preciso dar um jeito de... JÁ SEI!

Mulkior se surpreendeu, quase em um susto, com a elevação instantânea de voz da garota. Kula tinha tido uma ideia muito geniosa. Sorriu sem perceber, o que fez o seu parceiro, que continuava imóvel ali atrás dela, estranhar e ficar curioso sobre a próxima ação dela.

(Continua...)