ENTÃO CUBRA MEUS LÁBIOS.

Faço aulas de canto já a alguns meses e meu professor é o Kim Seungmin.

Ele é o homem mais lindo que eu já vi, mas sem esconder de ninguém ele leva consigo uma timidez tremenda, e eu sou completamente incapaz de entender o porquê dele se esconder tanto.

Hoje ele mandou mensagem perguntando se a aula poderia ser na minha casa, porque o lugar que ele aluga para dar suas aulas estava com problemas de infiltração e ele teve que sair de lá.

Nossas aulas só não foram suspensas por que eu disse que não queria parar agora, mas eu só disse isso por que não quero deixar de vê-lo, então respondi que tudo bem ser em casa, moro sozinha há um ano já, meus pais não quiseram a mudança de cidade, mas eu precisava por conta do trabalho.

Já estou em casa, sai do meu banho e me vesti como se eu tivesse indo à aula mesmo, não quero que ele pense que por a aula ser aqui vou recebê-lo de qualquer jeito ou levarei menos a sério sua aula.

Estou terminando de secar meu cabelo quando meu celular vibra e eu o pego para olhar.

“Professor Kim:

Oi, Lysa, queria saber se está tudo certo para a nossa aula daqui a pouco.”

Dei um sorriso bobo, sempre fico imaginando a carinha tímida dele.

“Eu:

Está tudo certo, sim, professor Kim, estou a sua espera já, pode chegar a hora que quiser.”

Não demora muito ele me responde.

“Professor Kim:

Tudo bem, estou a caminho.”

“Eu:

Okay, quando chegar me avise e eu desço para recebê-lo.”

“Professor Kim:

Está bem, até logo.”

“Eu:

Até.”

Termino de secar meu cabelo e vou escovar meus dentes me certificando que não tem nada neles que possa me envergonhar na frente do professor e depois de alguns minutos ele me avisa que chegou.

[...]

— Olá, professor Kim, por favor entre.

— Oi, Lysa, com licença.

Ele entrou todo educadinho, parecia que ele estava pisando em ovos, mas sinceramente? Eu o achei ainda mais fofo hoje.

Ele vestia uma calça jeans folgada e um blusão de moletom, aparentemente ele estava à vontade e eu gostei.

— Bom, como disse, eu moro sozinha aqui então por favor fique à vontade, — falei sinalizando para ele se sentar no sofá da sala. — Quer uma água? Um suco? Um café?

— Uau, quantas opções…

Ele falou em meio a um sorriso e lá estava a mão dele cobrindo sua boca, eu não consigo entender por que ele faz isso, para mim ele tem o sorriso mais lindo que eu já vi e agora que ele retirou o aparelho que ele usava ele não devia mais cobrir sua boca.

— Pois é, e você escolhe, tem refri também, se quiser.

— Vou aceitar a água apenas e muito obrigado.

— Está bem, vou pegar só um minuto.

Enquanto eu pegava a água para ele vi de canto ele tamborilando seus dedos em sua perna, ele estava nervoso? Mas ele já me conhece bem, até tomamos café às vezes depois das aulas.

— Prontinho, aqui está.

Dou o copo para ele e a parte de sua mão que encosta na minha está gelada o que me causou um choquinho leve.

— Obrigada Lysa.

— Você está com frio professor Kim? Quer que eu ligue o aquecedor?

Ele termina de tomar sua água.

— Não, não, na verdade, estou com um pouco de calor.

— Hum… tire a blusa então, como disse, fique à vontade.

— Está bem, obrigado. — Ele sorriu levemente enquanto tirava seu blusão e me encarou — Está pronta? Podemos começar?

— Claro! — falo sorrindo para ele que desviou o olhar do meu. — Vamos aquecer primeiro?

— Exatamente, vamos lá.

Ficamos de pé e começamos a fazer os aquecimentos vocais, e notei que hoje será mais difícil para mim me concentrar, pois diferente da aula na sala alugada aqui estamos bem mais próximos um do outro e o biquinho que fazemos para executar os exercícios deixa o professor Kim ainda mais bonito.

“Brrrr… Brrrr… Brrrr…”

Mesmo eu sabendo que é sério, não consigo evitar um sorriso mínimo e ele pareceu notar, pois sorriu também.

— Se concentre Lysa.

— Desculpe professor.

Continuamos.

“Mimimimimimimi. Mimimimimimimi.”

Enquanto fazemos nos olhamos nos olhos como se compactuássemos algo importante.

E depois de toda a rotina feita, nós relaxamos.

— Respire fundo, você está melhorando bem.

— É sério?

— É sim, já no aquecimento consigo sentir seu timbre mais constante e suas notas mais lineares e limpas.

— Legal!

— É, bem legal mesmo.

— Hoje vamos treinar algumas técnicas legais, treinaremos voz de peito, voz mista e voz de cabeça e como você é mezzo soprano será bem interessante.

— Está bem, e qual será a música?

— Escolhi “Cover Me” par a aula de hoje, te vi ouvindo ela semana passada e acho que ela se encaixa bem no exercício de hoje.

Cover Me é uma música e tanto, eu a adoro, pois acho que é cheia de sentimentos e de fato, como o professor Kim disse, ela é bem desafiadora, pois tem graves fortíssimos e agudos bem presentes.

Será que dou conta?

Me pego pensando e o professor começa a estalar os dedos na frente do meu rosto.

— O que foi? Não gostou da música escolhida? Podemos trocar se quiser. — Ele falou com a voz doce e um semblante amável.

— Não, por favor, não precisamos mudar a música, só não sei se vou dar conta.

— Claro que vai, e não se preocupe muito com isso, é uma aula e estamos só nós dois, então tudo bem se desafinar um pouco.

O fato de estarmos só nós dois pareceu bem mais presente agora que ele falou então me sinto ruborizar e levo minhas mãos a minhas bochechas e ele completamente alheio a minha timidez segue colocando o instrumental da música.

— Prontinho Lysa podemos começar, e só revisando, ela começa com grave indo para voz de peito, depois voz mista e finalizando com voz de cabeça, um agudo mais sustentado — ele me olhava com atenção — Não se cobre demais, vá apenas até onde se sentir confortável e eu sigo cantando com você.

— Está bem.

Não repassamos os conceitos de vozes, pois ele já havia os ensinado na aula anterior, agora eu teria que colocar em prática o que aprendi, então vamos lá.

Começo cantando e ele logo expressa um semblante orgulhoso o que me faz crer que estou indo bem.

“Nas noites em que a Lua brilha tão intensamente

dari ireoke nunbusineun bamen”

“Por que me sinto tão solitário nesta noite?

Why do I feel so lonely in this night?

Será que o vento da madrugada é mágico?

saebyeokbarameun mabeobilkka?

A noite estrelada pendurada na janela

changmune geollyeo inneun starry night

Enquanto me viro na claridade, o dia amanhece

jeo balgeun biche dwicheogida nari saenda”

Toda a primeira estrofe em um grave mais suave e eu o executo até que bem arrancando um sorriso genuíno do professor Kim, e então ele para o instrumental.

— Isso foi muito bom Lysa, muito mesmo, vamos mais uma vez?

— Vamos.

Falo em um sorriso enorme e enquanto ele faz algumas anotações eu o observo.

Fomos do início e avançamos para a parte que treinaríamos minha voz mista.

“Eu não sei

I don't know

O que devo fazer

mwol haeya haljido

Mesmo que eu sorria forçadamente

eokjiro useo bwado

Noites em que a Lua brilha tão intensamente

dari ireoke nunbusineun bamen

Grito para alguém cobrir aquela luz

nuga jeo bicheul garyeojugil oechyeo

Quando a noite, sem perceber, se torna dia

bami eoneusae kkeuchi naneun najen

Receba o caloroso brilho que é derramado

ttaseuhan bicheul naerijjoeneun bicheul badajwo”

Mais uma vez ele para o instrumental, e me olha com um belo sorriso, porém ele cobre sua boca e aquilo começa a me injuriar.

— Lysa sua voz é tão linda, você deveria mesmo se especializar, mas não como apenas um hobby ou terapia como diz que faz, mas para algo mais profissional.

— E você não deveria tampar o seu sorriso.

Falei sem pensar, tinha uma expressão injuriada estampada no meu rosto e ele me encarou.

— Isso a incomoda?

— Muito.

Ele sorriu, mas voltou a ficar sério em seguida.

— Tenho uma boca feia, e o meu sorriso é mais feio ainda, por isso eu o tampo sempre que sorrio.

— Não, você não tem um sorriso feio, professor Kim, desculpe me atrever assim, mas você tem o sorriso mais belo que já vi, seus lábios são lindos e...

Sinto que me excedi, e o rubor no rosto dele apenas me confirma isso.

— Me desculpe, não foi a minha intenção te constranger.

— Tudo bem, não se preocupe comigo, vou colocar a música do começo, vamos repassar e subir para a voz de cabeça está bem?

— Okay, está bem.

Tomo um gole d’água e o observo, o rubor em seu rosto não diminuiu, mas ele seguia completamente profissional.

Passamos a música e ele foi fazendo a segunda voz para mim, estávamos cantando juntos e com isso pude me sentir ainda mais conectada com ele.

“Não aguento mais, o que devo fazer?

I can't take it anymore, what should I do?

(O que devo fazer? O que devo fazer?)

(What should I do? What should I do?)

Finja que não sabe hoje e feche os olhos

oneureun moreun cheok nun-gama jwo”

Estava chegando a hora de subir o tom, para mim seria a parte mais difícil, então ele me olhou e levou seu indicador em direção a cabeça, o sinal para subirmos a nota.

Respirei, o encarei nos olhos, quero e preciso que ele me enxergue, e tem que ser agora.

“Então, me cubra agora

So, cover me now

Me cubra agora

Cover me now”

Ele cantou junto a mim e sem desviar o olhar do meu, o que me deu forças para conseguir levar a nota o mais alto que consegui e o professor Kim estava nitidamente orgulhoso em me ver assim.

Nós não paramos dessa vez, cantamos a música até o fim e estávamos entregues, sinto que essa foi a primeira vez que eu me conectei de verdade com ele e o sentir assim como se ele tocasse em minha alma só testificou em mim algo que eu já sabia há meses.

Eu estava apaixonada pelo meu professor.

E para o meu azar, acho que esse meu sentimento não é reciproco.

“Noites em que a Lua brilha tão intensamente (ah)

dari ireoke nunbusineun bamen (oh)

Grito para alguém cobrir aquela luz

nuga jeo bicheul garyeojugil oechyeo

Quando a noite, sem perceber, se torna dia (oh, não, não)

bami eoneusae kkeuchi naneun najen (oh, no, no)

O caloroso brilho que é derramado

ttaseuhan bicheul naerijjoeneun bicheul”

A música acabou e nós dois nos encontrávamos ofegantes, de pé no meio da minha sala e não muito longe um do outro, eu o olhava e ele sorriu para mim, aquele sorriso lindo que iluminava tudo ao redor seguido do gesto costumeiro de levar a mão para cobrir aquela bela imagem, mas dessa vez eu não deixarei que ele faça isso.

Decidida, dou poucos passos em sua direção e seguro em seu braço.

Ele me olha assustado, acho que foi a primeira vez que toquei nele de forma tão invasiva, geralmente quase não tocamos um no outro e quando acontece é algo corriqueiro e nada relevante.

— O que você está fazendo, Lysa?

Não sei o que responder, a reprodução automática do aparelho do professor Kim agora tocava a música que acabamos de cantar em sua forma original e a ouvindo ao fundo, eu fechei meus olhos por um momento.

Eu estava uma bagunça de sentimentos, mas também não poderia deixá-lo sem resposta.

O encarei depois de um tempo e resolvi falar.

— Não vou deixar que cubra seu sorriso quando estiver perto de mim, professor Kim, não é justo você me privar desta bela imagem, e-eu… eu quero poder te ver sorrir.

Ele não sabia o que dizer, pelo seu semblante eu tentava decifrar se ele estava muito aborrecido comigo, mas não fui capaz de chegar a nenhuma conclusão, então fiquei aguardando pela bronca que certamente eu levaria.

— Acho que você é a única no mundo a gostar do meu sorriso, Lysa.

Ele falou em um tom mais baixo, não parecia irritado, e eu seguia imóvel segurando em seu braço, eu queria soltar, mas não conseguia.

— Não é verdade, não seja tolo, eu aposto como tem muitas pessoas por aí completamente apaixonados pelo seu sorriso professor Kim.

— Apaixonados pelo meu sorriso? — Ele repetiu baixinho depois de falar — Apaixonados?

Ele me encarou nos olhos, abaixando um pouco sua cabeça e ficando ainda mais próximo a mim.

— Te garanto que não há ninguém apaixonado por mim, Lysa, nem por mim, muito menos pelo meu sorriso desajeitado.

Senti meu corpo vibrar, meu sangue ferver e ao fundo a música seguia com seus versos que falavam exatamente o que eu estava sentindo agora.

“Não aguento mais, o que devo fazer?

I can't take it anymore, what should I do?

(O que devo fazer? O que devo fazer?)

(What should I do? What should I do?)”.

O que devo fazer? Eu só consigo pensar em como deve ser poder beijá-lo, eu deveria me declarar e tentar?

Acho que se eu não fizer isso agora morrerei de arrependimentos depois.

— Não garanta sobre algo que não sabe Kim Seungmin.

Falei sério o encarando com firmeza e ele mais uma vez se mostrou completamente surpreso.

— Está me dizendo que você gosta de mim, Lysa?

— Sim, Kim, e gosto de você a um tempo já, sinto muito em me declarar assim eu…

Ele segurou a minha mão que ainda o segurava firme e a desceu, ficando assim com seu corpo rente ao meu.

— Pensei que você nunca iria assumir isso…

Péra, então ele já sabia? Agora quem tinha um olhar surpreso era eu…

— E agora, o que eu faço?

— Se gosta mesmo de mim, então cubra os meus lábios com os seus.

Eu sem pensar duas vezes fui até ele e coincidindo com o ponto alto da canção, nós nos beijamos.

“Então, me cubra agora

So, cover me now

Me cubra agora

Cover me now”

Ele me envolveu em seus braços e eu me entreguei a ele, todo o sentimento que eu estava guardando, escondendo por todos esses meses, foi revelado a ele com uma facilidade que eu nem sei o que pensar, mas enquanto tenho os meus lábios no dele só consigo pensar no fato de que meus sentimentos eram sim recíprocos, afinal do jeito que ele está me beijando acredito que ele queria isso tanto quanto eu.

Seus lábios são do jeitinho que imaginei, macios, e o toque dele na minha pele me faz sentir um formigamento gostoso nas maçãs do rosto, é a primeira vez que me sinto assim, e meu professor parece estar gostando do nosso beijo tanto quanto eu.

Soltamos uns estalos baixinhos enquanto nos beijamos e a língua dele brinca solta pela minha boca, se eu soubesse que era tão bom assim o beijo dele acho que teria o confrontado bem antes.

— Sua voz é doce…

Ele fala em meio ao nosso beijo.

— O seu beijo é doce…

Ele continua enquanto roça seus lábios nos meus seguindo com uma mordida firme no meu lábio inferior, o que me faz derreter em seus braços.

— Você é doce, Lysa, e eu acho que estou perdido.

Sua última declaração me fez rir, então aquilo foi real? Nós nos beijamos mesmo? Estou pisando em nuvens então não consigo acreditar, eu estava apenas o ouvindo e o sentindo, mas seguia de olhos fechados e ele com aqueles lábios que tanto amo ia os passando com carinho pelo meu rosto, minha boca, deixou uma leve mordida no meu queixo e aquilo me fez delirar, em seguida ele selou novamente nossos lábios.

— Olhe para mim, Lysa.

Fiz como ele pediu, a boca dele inchada pelo beijo recente e seu rosto ruborizado me fazendo me apaixonar ainda mais pelo homem em minha frente.

— Isso foi real? — foi o que consegui perguntar.

— E você tem alguma dúvida? — Ele me respondeu sorrindo.

— Sei lá, na minha cabeça você me rejeitaria se eu me declarasse, mas não foi o que aconteceu, não é? Devo estar sonhando não estou?

— Não, você não está sonhando, e se estiver eu também estou, então posso dizer que esse foi o sonho mais lindo que já tive.

Eu o abracei, não sabia muito bem o que dizer, apesar de eu estar feliz, aquilo era novo para mim.

— Eu cantei bem? Você gostou?

— Lysa você parecia um anjo, e agora ouso dizer, que era o meu anjo cantando apenas para mim.

— E isso quer dizer?…

— Que eu também gosto de você a meses, eu já não sabia mais como esconder.

— Então, sim, eu serei o seu anjo.

— Só minha?

— Apenas sua.

— Estou tão feliz que poderia sair cantando por aí. — Ele falou dando mais uns selares nos meus lábios que sorriam bobos por ele.

— E que tal sairmos mesmo, para comer algo? Estou com fome e nossa aula por hoje acabou não é?

— Acabamos sim… — Ele falou me olhando com carinho — Então minha anjinha está com fome?

— Estou sim…

— Então vou te alimentar.

— Eba!

Nos encaramos e sorrimos, o sorriso do Kim era ainda mais bonito de perto e a partir de agora eu irei garantir que a única coisa que cubra os lábios dele, sejam os meus.

Música que inspirou o capítulo: Cover Me - Stray Kids

https://www.youtube.com/watch?v=gfhhFsG-oms