UM DIA DE CHUVA.

Todos os dias sigo o mesmo trajeto que se resume em “de casa para o trabalho, do trabalho para a casa” e só às vezes na hora da volta desvirtuo minha rota para passar no mercado, padaria ou farmácia, enfim, meu caminho vai depender muito do que o meu dia pede.

Com o tempo eu me acostumei com a rotina e sinceramente isso me deixa confortável.

Mas tem um tempo que tudo isso que relatei a pouco ganhou um toque interessante…

E ele chegará no ponto de ônibus em três, dois, um…

— Bom dia. — Ele sempre me cumprimenta com um sorriso lindo no rosto.

— Bom dia. — Sorrio de volta, não tem como não sorrir para ele.

E é isso, ficamos os dois esperando o mesmo ônibus todos os dias, ele coloca seus fones de ouvido e é nítido como ele viaja nas melodias que escuta, eu o sigo colocando os meus próprios e sentindo o embalo das minhas canções prediletas e ficamos ali, ambos imersos em seus pensamentos como se o mundo não existisse.

Isso acontece todas as manhãs a mais ou menos o quê? Uns três meses? Acho que sim, e nós nunca trocamos muito mais do que um bom dia, ou quando um de nós chega ao ponto todo esbaforido por ter acordado atrasado um: “ainda não passou?” e o outro responde o óbvio sorrindo para o conforto de quem pergunta.

Dito isso, tenho uma confissão a fazer: quando é ele quem se atrasa, eu deixo o nosso ônibus ir e espero o próximo, só para poder vê-lo.

O que posso fazer, se os meus dias ficam mais bonitos quando ele sorri para mim?

[...]

Uns dias se passaram e a minha vida anda um caos, parece que tudo está desandando e em uma dessas minhas manhãs de conforto ele me observou, eu o senti me olhando e quando nossos olhos se cruzaram ele sorriu sem jeito e isso aqueceu meu coração, e hoje por não aguentar mais toda a porcaria que estou vivendo aproveito que ele ainda não está aqui e deixo as lágrimas cumprirem seu papel de lavar o meu rosto aliviando um pouco a minha alma.

— Bom dia. — Dessa vez ele me olha com mais atenção.

— Bom dia. — Respondo sem o encarar de fato, tentando limpar minhas lágrimas.

O ônibus chega e tem exatamente dois lugares para sentar, não no mesmo banco, mas ambos no corredor um ao lado do outro, sentamos um em cada banco e seguimos viagem, o tempo passa e eu nem percebo e quando dou por mim sinto uma mão em meu ombro.

— Para você, tenha um bom dia.

Ele me entrega algo que não consigo olhar de imediato, pois bem agora estou encarando o sorriso mais lindo que ele já me deu.

— Obrigada!

Falo um pouco sem jeito e ele desce do ônibus, olho o que tenho na mão, um papel escrito:

“Em dias de chuva se abrigue em um sorriso sincero, e se não conseguir sorrir, eu lhe darei o meu sorriso.”

Encaro o papel e sem que eu perceba estou sorrindo par a bela letra escrita nele, desço no meu ponto e depois de tanto tempo finalmente consigo ter um dia bom.

[...]

Assim como minhas emoções o clima está mudando, e assim como minhas lágrimas caíam dias atrás hoje a chuva veio nos molhar, eu definitivamente não gosto de dias chuvosos, sejam eles as gotas do céu ou as lágrimas em meu rosto, e o fato de eu ter esquecido meu guarda-chuva está me deixando ainda mais desgostosa nesta manhã cinza.

Estou sozinha no ponto hoje, será que ele não vem? Será que está bem?

Uma sombra se desenha fraca no chão e meu coração acelera.

— Bom dia. — Ele para ao meu lado colocando o seu guarda-chuva para me cobrir também.

— Bom dia. — Eu o encaro um pouco mais tímida devida à proximidade inevitável.

— Yang Jeongin. — Ele me fala seu nome com aquele sorriso que alegra minhas manhãs.

— Cha Eun-ji. — Tento devolver a ele o meu melhor sorriso e ele me olha com doçura.

— Finalmente sei o seu nome Eun-ji, é um prazer conhecê-la.

Mal sabe ele que estou igualmente feliz, por finalmente saber o nome dele.

— O prazer é meu Jeongin, e obrigada por compartilhar comigo a proteção do seu guarda-chuva.

— Não me agradeça, na verdade, fiquei feliz que você não tinha um, pois assim pude ficar mais pertinho de você.

Não falo nada, mas os dois sorriem tímidos.

O ônibus chegou e nós entramos, para minha sorte hoje tinham dois lugares vagos no mesmo banco.

Me sentei e ele em seguida e nós fomos conversando até a hora dele descer.

— Aqui, este é o meu número, dê um toque no meu celular para a gente continuar conversando está bem?

Peguei o papel de sua mão e sorri para ele que já sorria para mim.

— Está bem.

— Tenha um bom dia Eun-ji.

— Você também Jeongin.

Ele desce e me encara lá de fora fazendo um sinal para que eu dê um toque no celular dele, eu me sinto eletrizar, estamos mais próximos agora e eu estou muito feliz por isso e com o ônibus novamente em movimento, faço o que ele me pediu e dou um toque no seu celular, mas não deixei que ele atendesse, pois provavelmente ele já estaria trabalhando e eu não quero o atrapalhar.

O dia passou e digamos que toda a chuva da manhã se transformou em raios de sol dentro do meu coração.

Recebo as mensagens dele e fico tão feliz que mal consigo disfarçar…

Jeongin:

“Fico Feliz que tenha me permitido ter o seu número Eun-ji.

Desculpe só te mandar mensagem agora, mas é que a manhã aqui foi corrida.”

Eu:

“Não me agradeça, eu adorei que você passou o seu número para mim

Inclusive obrigada por me proteger da chuva essa manhã

Se não fosse você eu teria ficado encharcada”

O respondi e aguardei sua resposta.

Jeongin:

“Não por isso Eun-jinah foi um prazer para mim poder te proteger

Quero poder estar ao seu lado sempre que você precisar de mim”

Eu mal pude acreditar nas palavras que lia e relia sem parar, todo o clima da minha vida começou a mudar e tudo por que o Jeongin estava ali presente.

Eu:

“Isso foi fofo Jeongin ”

Jeongin:

“E você gostou de saber disso?

Quero dizer.. posso continuar te falando sobre o que sinto?”

Eu:

“Sim, eu gostei de saber…

E sim, você pode continuar me dizendo como se sente, vou adorar saber.”

Jeongin:

“Legal…

Você vai fazer alguma coisa esse fim de semana?”

Eu:

“Não tenho nenhum plano…”

Jeongin:

“Sai comigo?”

Eu:

“E para onde vamos?”

Jeongin:

“Cinema? Tá passando um filme que eu queria muito ver e você poderia ir comigo que tal?”

Eu:

“Eu topo!”

Jeongin:

“Que bom! Agora eu preciso voltar, nos falamos mais tarde está bem?”

Eu:

“Está sim…”

Jeongin:

“Até mais então… ”

Eu:

“Até ”

E mais uma vez o Jeongin trouxe raios de sol para o meu dia nublado.

Nos falamos mais durante o dia, a noite nos falamos por chamada de vídeo e combinamos o horário no ponto, agora sabíamos com certeza que nos encontraríamos pela manhã o que fez meu estomago vibrar com a ansiedade que senti em vê-lo.

[...]

A semana passou e bem agora estou me arrumando para ir ao cinema com ele, mal posso acreditar que vamos sair juntos, depois de tanto tempo apenas sendo estranhos em um ponto de ônibus que se cumprimentavam cordialmente.

— Eun-jinah você está linda.

Por mais que eu tenha lá minhas dúvidas, os olhos dele brilhando em minha direção me dizem que o que ele diz é a completa verdade do que sente.

— Você também está lindo Jeonginnnie.

E realmente ele estava, todo de preto o que o deixou ele ainda mais belo, e como a noite estava fria ele usava uma jaqueta linda por cima de sua blusa de lã e o contraste do preto em sua pele clara o deixou ainda mais atraente.

— Isso é para você.

Ele me entrega uma rosa-vermelha e eu adoro o gesto carinhoso dele.

— Que linda Jeongin oppa. — Isso saiu sem que eu percebesse, mas o sorriso dele dobrou de tamanho fechando seus olhinhos por completo e a timidez começou a tomar conta da minha feição, me senti quente e ele me olhava com carinho.

— Por favor, não fique tímida e principalmente não pare de me chamar assim.

Ele estendeu sua mão para mim.

— Vamos jagiya?

Sorri tímida pela forma como ele me chamou, mas em meu mais íntimo eu amei ouvi-lo me chamar assim então, segurei em sua mão e tenho certeza que estou ainda mais ruborizada.

— Vamos oppa.

[...]

Durante o filme ele passou o braço pelo meu ombro e sem pensar demais me aconcheguei nele, foi uma sensação incrível e volta e meia ele me acarinhava e eu apenas aproveitei seus carinhos desejando que aquilo nunca acabasse.

Na saída resolvemos caminhar um pouco.

— Você gostou do filme Eun-jinah?

— Adorei, obrigada por me chamar para vê-lo com você.

— Eu também gostei do filme, mas confesso que a companhia me encantou muito mais.

Ele novamente segurou em minha mão e continuamos andando, vimos uma barraquinha de tteokbokki e paramos para comer, conversamos um pouco mais e continuamos a caminhada e nos pegando completamente de surpresa a noite derramou sobre nós a sua chuva.

Corremos de mãos dadas sorrindo, pois já estávamos encharcados e antes de encontrarmos um abrigo ele parou de correr me encarando.

Ele sorriu para mim, e seus olhos diziam muito mais do que qualquer palavra poderia dizer.

As gotas caiam sobre o rosto dele e confesso que o achei ainda mais belo assim.

Ele fez um leve carinho em meu rosto e fechei meus olhos brevemente sentindo seus dígitos frios sobre a minha pele ainda quente.

— Você sempre poderá se proteger no meu sorriso.

Ele me diz e me lembro do primeiro bilhete que ele me deu então abro meus olhos e sorrio para ele de volta.

— Jamais imaginei que eu passaria a gostar de um dia de chuva.

Sem mais nada dizer ele se aproximou de mim e selou seus lábios nos meus, e o nosso beijo foi tão bom quanto em um sonho, a diferença é que eu o podia sentir em minha realidade que agora também pertencia a ele.

Senti-lo daquela forma fez todo o meu mudo sorrir e o nosso primeiro beijo na chuva ficará guardado para sempre em meu coração.