Timidez

Sou uma garota muito envergonhada e o fato de eu ter me mudado recentemente me deixa ainda mais tímida, eu detesto mudanças, mas devido às circunstâncias essa foi inevitável, afinal cheguei na fase da vida adulta, vou estudar e para isso tive que vir morar mais perto da Universidade.

Apesar do ano letivo ter começado a pouco, eu já entrar em uma turma que se conhece está acabando com os meus neurônios de convivência.

Por mim eu não falaria com ninguém, mas é claro que ao entrar na sala serei apresentada para a turma, eu não queria isso, droga!

Bom, quanto mais eu enrolar pior será né? Certo, então lá vou eu.

[...]

Bato na porta e a abro levemente.

— Com licença, posso entrar?

— Está atrasada então não!

Quê? Sério isso professor? Me ajuda aqui droga…

— Mas vou entrar mesmo assim.

Falo e entro e com passos firmes vou direto à mesa do professor e consigo ouvir uns “uoooouuu” junto a uns risinhos bobos, qual é? Eu voltei ao ensino médio e não notei?

— Desculpe por isso professor, mas é que vim transferida e eu demorei a chegar, pois estava no prédio da administração da Universidade, eu não quis me atrasar.

— Ah… aluna transferida! — Ele falou um pouco alto demais e eu pude sentir minhas costas queimarem, decerto que todos estão olhando. — Cadê seu papel de transferência?

— Aqui está.

— Angeline… — Ele me olhou decidindo se ia me atormentar e pelo sorriso que deu já sei o que decidiu. — Queridos, deem as boas-vindas a nova amiguinha de vocês, — ele me olhou — Se apresente para nós querida.

Professor, eu te odeio.

— Me chamo Angeline, vim de Busan, tenho vinte anos e sou nova aqui.

Todos sorriram e disseram um oi para mim que estou nitidamente vermelha, posso sentir meu rosto queimando.

— Interessante, vejo que você vai morar nos alojamentos e pelo que vi, o seu companheiro de quarto é o Hwang, boa sorte com isso, pode ir sentar.

Fui correndo para a cadeira vazia que avistei assim que entrei na sala e todos, todos mesmo ali, me seguiram com o olhar e cochichavam algo que eu não pude entender.

[...]

A aula acabou e agora eu precisava encontrar meu alojamento para enfim fazer minha mudança e enquanto estou andando naquele prédio enorme sinto algo bater no meu ombro.

— Vem comigo.

Eu não pude ver o rosto dele, mas o segui e após andar mais um pouco paramos em frente a porta do alojamento 147 e ele se virou para mim.

— Alojamento 147?

Eu quase engasgo, esse é o Hwang? Meu Deus, eu quero sair correndo daqui, ele é o carinha mais lindo que eu já vi em toda minha vida, eu acho que estou petrificada, mas preciso responder algo se não farei um papel de trouxa ainda maior.

— Sim.

— Então é aqui, vamos morar juntos Angeline, muito prazer Hwang Hyunjin.

Parece que tá rolando um evento importantíssimo aqui na porta do alojamento, tem um monte de aluno parado olhando para nós e eu sinto que morrerei a qualquer momento.

— O prazer é todo meu, Chang Angeline.

Ele sorriu, se virou e entrou no alojamento e eu juro que quero morrer.

— Aqui é bem grande e eu prometo que não vou te incomodar, porém, as camas são uma do lado da outra e por conta dos materiais de pintura acho que deveríamos deixar assim, e por falar nisso cadê suas coisas?

Acho que levei uns cinco segundos olhando para as camas, de fato uma do ladinho da outra, meu Deus eu vou morrer, por que não são um beliche?

— Err… minhas coisas estão em um galpão, eu vou buscá-las agora.

— Entendi… quer ajuda? Posso ir com você…

— Não! — Droga fui assertiva demais. — Quer dizer, não se incomode comigo Hwang, eu nem tenho muita coisa assim.

Ele sorriu, meu Deus, o sorriso dele é lindo… eu pintaria o sorriso dele e guardaria só para mim.

— Não é incomodo boba, vamos lá, eu te ajudo.

Como se ele soubesse onde era o galpão, ele me pegou pela mão e saiu me levando com ele.

[...]

Agora com minhas coisas já no quarto, eu preciso descansar.

— De fato… — ele falou como se fosse um pensamento — Você não tem muitas coisas, mas mudança é mudança e nossa eu estou exausto, imagino que você também esteja, vou sair, tome um banho e descanse.

Ele saiu do quarto e eu tampei meu rosto com as mãos e dei um gritinho abafado.

Meu senhor, eu estou perdida.

[...]

Acho que apaguei depois do banho, acordei agora e tinha uma tigela de mingau de abalone na minha cabeceira e junto a ela um bilhete.

“Eu saí para comprar comida para a gente, mas quando voltei você estava dormindo, então não quis te acordar. Coma tudinho está bem.”

Mas o que foi isso?

Olho para a cama dele e ele não está ali, menos mal eu ainda acho que vou morrer se ele olhar para mim de novo.

Agora me diz, como vou evitar que ele me olhe? Céus, estou perdida.

[...]

Alguns meses se passaram, o curso é realmente incrível, e eu estou feliz, mas sem entender os motivos o Hwang gentil e atencioso do meu primeiro dia ficou lá guardado em uma linda lembrança e agora ele mal me olha, mal fala comigo e sinceramente eu não sei o que fiz a ele.

— Angie, vamos?

A voz do Jimmy me tira de meus pensamentos.

— Ah, sim, vamos.

— Amiga, quando é que você vai dar uma chance para o Jimmy? Ele é um gato, tá na sua, só falta lamber o chão que você pisa.

— Não endoida Dani, por favor.

Não sei explicar o porquê, mas parece que o Hwang ouviu esse comentário da Dani, e parece que ele não gostou, ou é coisa da minha cabeça.

— Estou pronta.

— Não espere a gente voltar Dani, vamos pintar no parque e isso pode levar o resto do dia todo.

— Tá vão lá pombinhos… cara como ela tem sorte.

Hyunjin’s POV.

Cara grudento! Não larga a Angeline por nada, que ódio!

— Hyunjin? Você tá bem cara?

— Tô, sim, Seung.

— Não parece não, o que foi? Não conseguiu se declarar para a Angeline ainda?

— Cala a boca cachorrinho.

— Cara, olha só para você… nunca imaginei que você teria dificuldade com essas coisas, mostra seus desenhos para ela, ela vai ver que são todos dela e vai se apaixonar também.

— Seungmin por favor cara…

— Tá bom, parei… Mas você sabe que me arrastou para o parque só para ver se o Jimmy vai tentar algo com ela, né?

— Que seja, mas eu também vim pintar, esqueceu que também tenho o mesmo trabalho para apresentar?

— Sabe Jinnie, dizem que o pior cego…

— Eu juro que vou te bater.

— Parei.

[...]

Tá, eu sabia que o Jimmy estava a fim de mim, eu só estava ignorando, mas porque ele foi me chamar para sair? E o pior? Na frente da sala toda, meu Deus, eu vou morrer.

— E então o que me diz?

— Jimmy eu… — O Hwang tá me olhando… cara, o que eu faço? — Eu não posso sair com você, estamos em época de prova e eu preciso estudar, sinto muito.

Eu corri, minha timidez ainda vai me matar.

Meu Deus, por que eu sou assim?

— Angie, volta aqui! Eu vou esperar por você!

— Se eu fosse você não esperava.

— Por que Hwang? Vai me dizer que ela está gostando de outro?

— Só não espere, você pode cansar.

[...]

As provas de fato chegaram e eu estou tranquila, só o que tenho feito é estudar que nem louca, como agora, por exemplo, o dia lá fora está lindo, e eu?

Eu tô enfurnada no quarto para não encontrar o Jimmy.

Ai que vida.

— Estou saindo, quer algo da rua?

— Não, obrigada.

O Hwang saiu e a porta bateu atrás dele, deixando aqui dentro apenas o cheiro delicioso do perfume dele.

Estou pensando em me mudar de alojamento, está cada dia mais difícil dividir esse com ele, eu me apaixonei pelo Hwang e ele não dá a mínima para mim, mas é claro que ele não daria, olha para mim?

Deitada na cama percebo que ele deixou sua pasta cair quando saiu, então vou até ela para pegar e colocar na cabeceira dele.

O que será que ele tanto desenha?

Me sentei na cama e dei uma de curiosa, sei que isso não se faz, e que a pasta de um pintor é como a sua alma, um segredo que só o dono pode escolher se vai o revelar ou não, eu mesma tenho a minha e se o Hwang visse, ele saberia na hora que eu o amo.

Vou olhar, ele nunca vai saber que olhei né?

Abro a pasta e me deparo com algo que sinceramente eu não esperava.

— Mas o quê?

Começo a olhar os desenhos dele com atenção.

— Sou eu?

Sim, são pedaços de mim como mãos, boca, olhos, meus cabelos ao vento, minha silhueta…

Meu rosto.

Vários desenhos do meu rosto, meu sorriso, meu semblante triste, eu sentindo a brisa do vento…

Confesso que esse último me pegou, quando que ele me viu assim? Ele mal me olha…

E vários desenhos meus dormindo.

— Ele me desenha enquanto eu durmo?

Mas por que isso Hwang?

Escuto o barulho das chaves dele na porta, fecho com tudo a pasta dele e a coloco em sua cabeceira.

— Você viu minha pasta Angie?

É a primeira vez que ele me chama assim…

— Você deixou cair na porta, eu a peguei e a coloquei na sua cabeceira.

— Ah… — Ele pareceu congelar — Obrigado.

— Não por isso.

Ele veio até a sua cabeceira e pegou sua pasta, se virou para sair, mas eu em um movimento involuntário segurei a manga da sua jaqueta.

— Oi?

Respiro fundo, fecho meus olhos e balanço de leve minha cabeça.

— Nada… não é nada, me desculpe por isso.

Me levanto desajeitadamente e acabo tropeçando no meu próprio pé, o que me fez desequilibrar de leve me fazendo cair sentada na cama de novo.

Se eu pudesse abriria um buraco e me enterraria agora mesmo.

Ele se abaixou na minha frente.

— Você olhou minha pasta, não foi?

Não dá para negar, deve estar estampado no meu rosto.

— Sim, olhei… me perdoa Hyunjin, por favor.

Ele fechou seus olhos e apertou seus lábios em um movimento costumeiro que ele tem, e que amo com devoção quando ele faz.

— Não devia ter olhado, mas também não se desculpe, está tudo bem.

Ele nada mais disse e antes que ele se levantasse, eu peguei a minha pasta de desenhos e a entreguei a ele.

— Pode olhar, nada mais justo.

Falei, peguei minha chave, minha jaqueta e saí do quarto, deixando-o lá sozinho.

[...]

Hyunjin’s POV.

— Sou eu? Ela também me desenha?

Eu segui olhando os meus traços registrados por ela no papel.

Tinha ali na pasta dela, minha silhueta, meu perfil, minhas mãos, meu cabelo jogado no rosto, meus olhos, meu sorriso, meu semblante triste e ciumento, e meus lábios, muitos desenhos dos meus lábios e em todos tinham notas como “seria um sonho poder beijá-los”.

— Então ela também gosta de mim?

Falo deixando um sorriso escapar e corro dali para encontrá-la e se eu a conheço bem, já sei onde ela deve estar.

[...]

Corri sem rumo e vim parar no meu lugar favorito do campus, embaixo da cerejeira.

É longe de tudo, é calmo e tranquilo e aqui consigo colocar meus pensamentos no lugar.

O que acabei de fazer? Eu me declarei para o Hwang Hyunjin! Sou tão patética assim?

É claro que ele me desenhou pelos estudos, mas eu? Se ele leu minhas notas, eu estou ferrada, terei que me mudar de alojamento para ontem.

Com esses pensamentos me tomando, me deito no chão e começo a me debater sobre a grama verde.

— Sua boba! Aaaarrrggh por que você fez isso Chang Angeline?

Sinto uma sombra me cobrir, abro meus olhos molhados pelo choro recente e ele está em pé diante de mim.

— Você está bem Angie?

— Não… Hyunjin eu sinto muito, vou pedir transferência de alojamento e prometo que de hoje em diante você me verá o mínimo possível.

Ele se sentou ao meu lado e eu me arrumei assustada.

— É isso que você quer fazer?

— É o que preciso fazer, não é?

— Não acho.

Ele jogou seus cabelos para trás e eu me senti hipnotizada.

— E então?

Ele me olhou e sorriu.

— Primeiro…

Ele veio em minha direção e selou seus lábios aos meus e por um instante eu senti o mundo parar, era como se só nós dois estivéssemos em movimento, e então depois de um tempo nesse selinho ele se afastou rindo um pouco.

— O quê? Por quê?

— Eu gosto de você, Angie, me apaixonei por você assim que você entrou na sala no seu primeiro dia, não sei explicar o que houve, eu só… te amei.

Eu quase não pude acreditar, suas palavras ecoavam na minha mente, ele gosta mesmo de mim?

— Me amou? Mas por que me evitou todo esse tempo?

— Por medo… e-eu… — Ele se virou ficando de frente para mim — Achei que você não gostava de mim, tive medo de me declarar e você querer sair do nosso alojamento, eu não quero que você saia de lá, não quero ficar longe de você.

Eu não podia dizer nada, o que eu falaria? Mas minha boca foi mais rápida que meus pensamentos.

— Eu me apaixonei por você no momento que você sorriu por eu ter dito para o professor que eu ia entrar, sim, mesmo ele dizendo que não.

Os olhos dele se arregalaram e eu desviei meu olhar.

— Jura? Você me viu sorrindo?

— Uhum… E eu achei fofo.

— Nossa… eu não fazia ideia.

— Eu também não fazia ideia que você gostava de mim, nem mesmo olhando seus desenhos eu consegui acreditar.

Ele pegou em minhas mãos e novamente selou nossos lábios, dessa vez se demorando mais ali e o calor que senti é algo que eu jamais saberei explicar.

— Namora comigo Angie?

— Sim Hyunjinnie.

Ele colou nossas testas e sorriu.

— Eu amo sua timidez, amo tudo em você.

— Eu também te amo.

[...]

Daquele dia em diante os nossos desenhos ganharam as nossas cores, ganharam vida e estamos vivendo a mais bela história de amor que jamais imaginei poder viver.

O Hyunjin é o meu anjo.

E a Angie é a minha musa.