Rosa tinha que admitir. Ter mais alguém com quem ela pudesse confiar era ótimo. Espinela a divertia e divertia Pérola, que também parecia ser mais livre no jardim em que brincavam semanalmente.

Mas não estava satisfeita. Ela queria uma colônia. Afinal, ela era a única Diamante sem colônias para governar. Se sentia excluída por suas próprias irmãs. Sentia que elas subestimavam sua autoridade, que por mesmo sendo a mais nova, ela ainda detinha poder sobre todas as outras gems.

Rosa e Pérola mantiveram-se em silêncio enquanto caminhavam em direção a sala de Branco. Enquanto o instinto de Pérola insistia em sair correndo pela direção oposta, o de Diamante Rosa parecia pronto para falar com sua irmã mais velha – e mais temida.

Era sua última jogada. Se Branco não autorizasse que ela tivesse uma colônia, ela não fazia ideia do que poderia fazer.

Pérola tentou disfarçar o tremor que se espalhava em seu corpo enquanto abria a porta que levava aos aposentos de Diamante Branco. Antes mesmo que a porta se abrisse por completo, Rosa entrou pisando fundo e Pérola a seguiu, relutante e de cabeça baixa.

Diamante Branco estava no centro de seus aposentos, na mesma posição de sempre, com os braços estendidos para os lados e levemente flexionados, com um brilho que poderia facilmente cegá-las se olhassem por muito tempo para ela.

— Oh, olá Rosa, o que posso fazer por você? Achei que estivesse brincando com a gem que criei – recepcionou Branco, falando rapidamente.

— Branco eu... - Rosa começou, mas foi interrompida.

— Você quer uma colônia, não é? Azul e Amarelo me contaram sobre sua aspiração de ter uma. Rosa, você ainda é muito nova para ter tamanha responsabilidade de controlar um planeta inteiro – Branco explicou com pressa – Quem sabe mais tarde, o que acha? Eu acho uma ótima ideia.

Rosa cerrou os punhos. Odiava ser subestimada, e suas irmãs insistiam em acreditar que ela não era responsável o suficiente.

— Eu não me importo com o que você acha. - Rosa murmurou e Pérola engoliu em seco.

“Isso não vai terminar bem.”

— O que disse Rosa? Pare de resmungar, sabe que odeio quando resmunga.

— Eu disse... Que eu não me importo com o que VOCÊ ACHA! - Rosa foi aumentando o tom de sua voz até gritar fortemente, fazendo Pérola cair para trás e a flor em seu cabelo virar pó, rachando as paredes, o chão, e o teto de todo o cômodo e até fazendo Branco abaixar os braços.

Pérola se levantou, com seus ouvidos zumbindo.

— Rosa, o que acha que está fazendo? - Branco perguntou entre dentes.

- Eu cansei de vocês acharem que eu sou imatura, que não mereço. Você tem dezenas de colônias assim como Azul e Amarelo. Eu quero ter uma também! E eu vou ter uma! Eu sou tão importante quanto você! – Rosa rebateu.

— Você não pode fazer nada sem minha permissão, estrelinha – Branco esclareceu – E eu digo: Você não está pronta para liderar, e a cada chilique que der, só demonstrará como eu estou certa em tomar essa decisão - Ela voltou a sua posição estática e com os braços flexionados.

Era o cúmulo. Rosa não aguentava mais. Não aguentava mais ser tachada como irresponsável, imatura, infantil. Ela podia muito bem demonstrar a suas irmãs como estavam erradas, como ela seria uma Diamante melhor do que todas elas.

— Eu... Eu ODEIO VOCÊ! - gritou, fazendo todo o palácio tremer - Pérola, vamos – Rosa deu as costas e se encaminhou para a saída, mas percebeu de relance que Pérola não a seguia - Pérola, eu disse para...

Pérola tremia. Sentia as pernas bambas, como se bastasse um sopro para cair e se estilhaçar de vez. Ela mantinha as mãos sobre o olho esquerdo, sentindo uma dor aguda ali e fazendo sua cabeça latejar. Ela se forçou a dar um passo à frente, mas caiu de joelhos, forçando-a a usar as duas mãos para que não caísse totalmente.

Ela se ergueu com dificuldade e recompôs a postura, por mais que seu corpo físico implorasse que se mantivesse sentada.

— S-sim, Minha Diamante – ela ergueu o rosto e Rosa sentiu seu mundo desmoronar.

Pérola notou a expressão de terror no rosto de sua Diamante e quis perguntar o que a havia feito reagir assim. Ela só estava com uma dor de cabeça forte, não tinha como isso afetar em sua aparência, tinha?

Os olhos de Rosa marejaram e ela correu para fora do salão.

— Minha Diamante, espere! - Pérola tentou movimentar seu corpo, mas é como se ele não obedecesse.

— Ah não, pequena Pérola, você não vai segui-la, vai? - Branco perguntou, persuasiva - Você não correria atrás de alguém que fez isso com você - Pronunciou o pronome demonstrativo como se a enojasse – Olhe por si mesma. - Ela estalou os dedos e todo o quarto se consertou de repente. O piso voltou a ser tão limpo que refletia em quem o pisasse, e assim Pérola olhou para baixo.

Ela suspirou de surpresa misturada com desespero. Só então percebera que sua visão estava limitada.

Seu olho esquerdo não estava mais lá. E no lugar dele, uma rachadura marcava o limite de seu globo ocular e mais algumas fissuras iam para além dele.

— Olhe o que ela fez com você. Você não mereceu isso. Felizmente, posso te fazer perfeita de novo – Branco enunciou com um sorriso no rosto.

E antes que Pérola pudesse falar algo, um clarão tomou conta de sua visão e logo desmaiou.