Idiot Guy

18 - Diga fim ao reinado


Capítulo dezoito

Diga fim ao reinado

“Quem quiser vencer na vida deve fazer como os seus sábios: mesmo com a alma partida, ter um sorriso nos lábios.”

(Dinamor)

Nesses meses muitas coisas aconteceram. Como o Ben ter realmente mentindo para mim, mas no final acabei o perdoando ao me dar um colar maravilhoso, mesmo sendo de brechó – que uso hoje. Não teria como ficar braba, até porque dificilmente falo a verdade.

Já o James começou a falar comigo aos poucos, mas não como antes, e também o assunto do beijo não foi pronunciado por ele. E estamos no começo de novembro, o mês do meu aniversário.

A Jane e o Evan estão muito bem, obrigada.

Isso se aplica ao Vincent e a Valentina, e ao Taylor e o Patrick também.

Com a Ally e o Juan não ocorreu nada, nem um beijo naquele dia fatídico.

Em relação aos machucados adquiridos com a porrada eu tive de aguentar piadas dos meus amigos. E quando fui em uma festa muitos comentários foram feitos ao meu respeito, como, por exemplo, uma garota de 1,90 me bateu porque eu dei em cima do namorado dela. Ou que apanhei de um garoto na cama.

A maior mentira!

– Ellie. – berrou alguém quando estava no meio do caminho para ir à escola.

– Ben? O que está fazendo aqui? – quis saber.

– Vim te acompanhar como ontem. Não posso?

– Disse que queria ir sozinha. – revidei.

– Por quê? É ruim para uma garota linda como você andar sem ninguém a essa hora.

– Às sete da manhã? – olhei-o com descrença.

– Com uma beleza como a tua todo o horário é perigoso.

Estou tão acostumada a me elogiarem que nem sem graça fiquei.

Por que será que não consigo me apaixonar por ele?

– Não sabia que era tão galanteador assim. – continuei ao colocar a mão em seu ombro.

– Até eu me surpreendo quando se trata de ti. – explicou.

– Você me ama mesmo? – questionei.

Ele mirou-me e demorou um pouco até balbuciar algo.

– Claro.

– O que sente então quando me vê?

Quem sabe eu o amo e não tinha a certeza.

– Fico nervoso, meu coração palpita e parece que nunca conseguirei falar contigo. Sem falar do quanto fico feliz por causa desses meses da nossa aproximação. – sussurrou.

É... realmente não gosto dele além de amizade por enquanto.

– A tá. – foi só o que murmurei.

– Só isso que irá falar depois de tudo que eu disse?

– Nem sei o que responder. – fui sincera.

– Para você deve ser normal não é? Por isso nem liga para os meus sentimentos. – esbravejou.

– Se for ficar reclamando vou ir na frente.

Não estava braba com ele, porém era sentia raiva de mim por saber que falava a verdade. E o quanto ouvir isso doeu, me feriu e estraçalhou-me.

– Fico quieto a partir de agora, prometo. – declarou.

Depois disso pegou um mangá e ficou lendo. Era um do one piece, pelo jeito o volume 2. Suas facetas enquanto passava as folhas era hilariante, e estava tão concentrada que várias vezes tive de puxá-lo para que não fosse atropelado ou batesse em um poste.

Como uma criança pequena.

Ellie Davis, da 301, favor se dirigir a diretoria.

Tinha acabado de passar pela porta do colégio e já estavam me chamando? Pelo jeito sou mais centro de atenções do que devia. Mas não me importo, até porque ia falar com ele para que escrevesse uma carta de recomendação.

Passei pelo corredor sem nem olhar para o lado.

– Pode se sentar. – parecia nervoso.

– Posso propor um favor antes de me dizer o que queria de mim?

– Claro. – um sorriso carinho no rosto.

Ai tem algo do tamanho de um elefante em cima de um hipopotomo.

– É que eu queria que escrevesse sobre o que fiz pela escola, para que eu mandasse para as faculdades que desejo estudar. – enquanto piscava.

– Tudo bem, venha buscar amanhã. – declarou.

Nenhum questionário? Nada?

– E o que ia dizer? – quis saber.

– Já viu o que colaram pelos corredores?

– Não. – respondi com desconfiança.

– Então é melhor verificar com seus próprios olhos. Está liberada querida. – finalizou.

E ainda gentil? Com certeza isso é suspeito.

Praticamente corri e sai da sala às pressas, para enfim observar o que estava escrito naqueles. E tal minha surpresa e irritação ao notar que eram fotos minhas lendo mangás, vendo animes e várias escritas sobre eu gostar de Pokémon.

Tinha uma que me chamou a atenção:

“A popular, rainha da escola de tantos anos, ex presidente do comitê estudantil. Que nesse ano teve sua reputação diminuída por perder a eleição para a Valentina, e também por ser conhecida como fura-olho e arrasa corações. Ela na verdade é uma vadia que no fundo é uma nerd, que quando está em casa só fica lendo livros e vendo desenhos mais infantis que ela mesma.

S: Diga fim ao seu reinado.

S.2: Linda ela jogando videogame não?”

Sim, isso mesmo, colocaram uma foto disso também. Além de me chamar de vagabunda só faltava derramar palavrões nesse papel em relação a minha pessoa. Justo eu que sempre tentei melhorar essa escola com os meus projetos e beleza?

Será que eu mereço? Só pode ter sido uma invejosa que fez isso. Quando me virei com lágrimas no canto do meu olho elas desceram pela minha face ao perceberem que me fitavam com nojo e irritação. Fiquei na sala e não recebi nem um “bom dia” dos meus amigos, apenas uma expressão de chateação e repreensão.

– Já viram essas notícias? Então para quem está desinformado tem mais para vocês. – exclamou na cantina quando o intervalo se iniciou.

Pâmela, é claro. Mas da onde ela conseguiu essa informação?

Só uma pessoa sabe meu segredo, e é o Vincent.

Confesso que não deu para pará-la, porque quando estava no meio jogou várias folhas para o pessoal. Que ao perceberem o que tinha riram mais ainda, e ficavam cochichando entre si.

Vou confessar: odeio pessoas fofoqueiras.

– Para com isso! – exclamei.

– Pode vir aqui, só faltava a nossa estrela chegar para isso aqui ficar completo mesmo. – com uma alegria na feição.

Então alguém me empurrou para a mesa onde estava e ela me abraçou para que eu não saísse.

– Tem algo a dizer quanto a isso?

– Me deixa sair. – rebati.

– Então quer dizer que realmente gosta de Pokémon? – questionei.

– Já disse para se afastar. – gritei.

Quando vi que não ia fazer nada a empurrei sem nem pensar e a vi se estatelar no chão. E ao notar que não conseguia levantar me desesperei. Será que a machuquei mesmo? Mas quem manda ficar falando mal de mim para todos?

– Viram? Ela está todo nervosinha e foi violenta porque é verdade. – escancarou.

Simplesmente sai de lá e fui a passos largos para o banheiro em meio a vaias, do que antes só eram aplausos. Olhei-me no espelho, as duas mãos apoiadas na pia, e respirei fundo para que não chorasse. Peguei a bolsa e coloquei uma base, corretivo onde estava vermelho, rímel e pó.

Depois disso era honra não estragar a maquiagem por conta do que ocorreu. Eu tinha de mostrar que era forte e que não me importava com isso, mesmo sendo mentira. Até porque fingir é comigo.

– Ben? O que... – fui interrompida por ele.

– Está bem? – parecia afobado.

– O que acha? – revidei.

– Vim para te contar algo. – sussurrou.

– Pode continuar.

Mordia meu lábio para que não me atrevesse a derramar uma lágrima sequer.

– Vi o Vincent anteontem falar com a Pamela sobre o que você gostava. Como ela disse que ia dizer para todos resolvi ir contigo para a escola, para que estivesse contigo no momento.

– E por que não me avisou antes? Eu poderia tê-la detido.

– Não queria deixa-la triste.

– Mas agora estou pior! – exclamei.

Simplesmente sai de lá e nem olhei para trás enquanto me chamava desesperadamente. Queria era achar aquele miserável do Mitchell-não-cumpridor-de-promessa. Bem capaz dele ter feito isso por causa da Valentina, ou porquê me odiava mesmo.

Detestar? Como ele podia ser tão cara de pau de ficar indo na minha casa se ia fazer isso no final? É inadmissível, terrível, coisa de alguém tirano, insensível e cruel.

– Aqui está você. – disse ao encontra-los.

Só que não me ouviram ao estarem se beijando.

Quando minha raiva aumentou por não se soltarem simplesmente peguei no braço dele e os afastei sem nem me importar com seus protestos. O que fiz ao ver seu rosto me fitar com preocupação e me lembrar de tudo que passamos foi dar um tapa forte em sua face, tanto que chegou a virar.

– Está louca? – gritou a Tina.

Aproveitei a situação e taquei a mão na sua cara também.

– Essa é por ser... você mesma. – respondi antes de sair de cena.

Eu que não ia apanhar de novo que nem nas férias. Só que falta!

Agora ia era procurar a Alisson e implorar por ser perdão.

– James? – gritei ao vê-lo no pátio.

– Que foi? – parecia um pouco irritado.

– Onde está a Ally? – quis saber.

– Não deveria falar, mas ela foi para a ponte daqui de perto. – sussurrou.

– Obrigada. – declarei.

Quando passei pelo pátio em direção ao portão de saída muita gente me parou para falar sobre o que ocorreu, alguns me xingando, outros perguntando o que faria a partir de hoje.

– Vai se matar? Ou só cortar o pulso que nem a sua amiga? – envenenou.

Ally? Ponte? Isso não vai dar certo.

– Vai se tratar querida. – mandei.

Quando consegui escapar desse antro de cobras fui para o lugar onde a minha parceira desde de sempre se encontrava. O que falaria? Será que ficarei sozinha ou ela me perdoaria?

Quando a vi perto da ponta praticamente voei em sua direção e a abracei, neste momento já estava chorando escandalosamente por conta da culpa que sentia.

– Perdoe-me, por favor. – murmurei.

– Não sei o que farei agora. – balbuciou.

As lágrimas descendo por sua face.

Não era para estar assim. Eu não merecia sua tristeza.

– Como assim?

– Primeiro o Vincent terminou comigo para ficar com aquela sem-sal, aquela vaca da Jane chegou para me atazanar nos treinos, o Patrick resolveu furar meu olho e pegar o Taylor, e nessa manhã descubro que minha ex amiga não é como pensei. Acho que se eu ainda estiver viva outra coisa pior ocorrerá.

Neste momento se sentou e ficou balançando a perna.

– Ex? – só foi isso que chamou mais minha atenção.

– Como saberei se você é verdadeira? Que sempre foi como mostrou? Capaz de nem gostar de nós e só estar fazendo isso para que não se sentisse carente. – olhou-me tão intensamente que fiquei horrorizada.

Como pode achar isso?

– Isso é mentira!

– Uma pessoa que esconde algo assim da sua melhor amiga não é confiável.

– Ally, eu... – cortou-me.

– Não tem mais direito de usar meu apelido. Como tem coragem disso? – revidou.

Percebi que nada ia adiantar conversar com ela agora.

– Só saia daí, por favor. – sussurrei.

Vi-a se afastar e ir para outro lugar sem nem me fitar.

Realmente percebi que ia ficar solitária por um tempo. Sem amigos – talvez com o Ben, se ele quiser ainda andar com a pessoa que realmente sou. Resolvi nem voltar para a escola ou ir para a cara, simplesmente fui para a praça da qual frequentava desde criança.

– Você por aqui ruiva? – alguém disse ao sentar do meu lado.

Quando percebi que era aquele macumbeiro cheio de tatuagens dei um sorriso fraco.

– Sim. – sussurrei.

– Veio se consultar de novo? – parecia interessado no que dizia.

– Não, só passeando por aqui. E tu? Ganhando com a inocência das pessoas?

– Como assim? – parecia horrorizado.

– Sei que ouviu minha conversa com aquele idiota.

– Brigou com o seu namorado? É por isso que está aqui?

– Ele não era nada meu, nem sei se foi algum dia. – sussurrei.

– Dor de cotovelo. – murmurou.

Levantei-me nesse momento pela raiva.

– Não, ele só é a pessoa mais enganadora que eu já vi. Até mais que você. – revidei.

– Considerarei isso como um elogio. – brincou.

Quando acalmei-me o quarto integrante do nosso antigo grupo, o James, correu para onde eu estava e se sentou entre nós. Só que antes de sequer balbuciar algo fitou o garoto de maneira irritada.

– Que foi? – notei estar confuso.

– Preciso falar com ela, a sós. – respondeu sem paciência.

– OK, eu saio. – caminhando com lerdeza para longe.

Possivelmente vai ficar ouvindo, do jeito que é.

– Como me descobriu aqui?

– Lembrei-me que sempre vinha aqui quando criança, principalmente quando estava triste. - comentou.

– A tá, para ser sincera se for para me xingar escolhe outro dia, porque a cota acabou por agora. – murmurei.

– Não, na verdade é sobre o beijo.

– Agora vai falar?

– Estava ensaiando o que diria, só que demorei mais do que devia. Percebi que de hoje não poderia passar. Ellie, o que aconteceu foi um erro. É claro que você ser bonita e maravilhosa de todas as formas atrai qualquer homem, porém agi por impulso. Não sabia o que fazer para que não voltasse a chorar. Você acima de tudo é minha amiga desde a infância, e seria terrível que parássemos de nos falar por algo que não nos é importante. – jogou tudo de uma vez.

Só diz nesse momento que foi um erro? Beijar não é algo tão comum.

– Diz isso por que agora não sou mais popular? – esbravejei.

– Nunca, é só que você deveria saber. Esse assunto se estendeu mais do que devia. Então... ainda amigos? - sussurrou.

– Com certeza. – é, hoje é o dia de chorar.

Então depois disso nos abraçamos e conversamos sobre outras coisas. Nem sobre o que ocorreu pela manhã. Simplesmente ficamos olhando as estrelas ou com o guru sem noção que fica plantando naquele local o dia todo.

Quem sabe tudo pode ser restaurado um dia não?

Depois dessa conversa um fio de esperança cresceu em mim.