Idiot Guy

14 - Uma dica: nunca beba de estomago vazio


Capítulo quatorze

Uma dica: nunca beba de estomago vazio

“Eu quero amar, amar perdidamente. Amar só por amar.”

(Florbela Espanca)

Tremelicando feito uma barata tonta peguei o meu celular rosa, com chaveiro de pato, e bati uma foto desajeitada do beijo dos dois. Pareciam se comer com a boca praticamente, enquanto eu possivelmente nunca recebi um desse tipo.

– Depois da comemoração vou na sua casa. – disse Taylor ao se soltar.

– Mas... – tentou o meu amigo.

– E espero que não fuja, sua bicha. – exclamou.

Olha o machão falando.

Notei o ex da Ally encostando a mão no meio das pernas dele e apertar, fazendo com que Patrick soltasse um gemido, para depois sair pelo outro lado. Com o medo de ser encontrada fui embora o mais rápido que pude, todavia sabendo que ele teria de me dar uma explicação.

Quando abri a porta da casa tive mais vontade de chorar.

– O que aconteceu? – balbuciou minha mãe ao me ver.

Não queria contar. Tinha medo.

– Eu... nada. – sussurrei.

Estava indo para o meu quarto quando ouvi sua voz cortante e fria.

– Ganhou a eleição?

Virei-me de forma lenta e a encarei, tentando não mostrar meu receio. Mentir outra vez não era a solução. Nunca foi ou será.

– Foi a outra equipe a vencedora. – declarei.

– O quê? Como assim filha? Você sempre... – começou.

– Eu sei, porém alguma vez eu tenho de perder não é?

– Se for para falar essas coisas de quem nem sabe competir é melhor parar. - censurou.

Sempre foi daquelas certinhas, que era muito boa em esportes, matérias e era popular. E também quer que sua filha seja da mesma maneira, só que infelizmente não pude fazê-la sentir orgulho de mim em todos os momentos.

– Tudo bem, vou me arrumar para a festa.

– Você não vai! – berrou.

– A Ally comparecerá, por isso irei para ficar com ela. – murmurei.

– Se for por isso pode. – finalizou antes de sair do recinto.

Nem sequer me deu um beijo.

“Amiga, estou indo para a sua casa para nos arrumarmos” – Alisson.

Meu sorriso se alargou um pouco, mas nem tanto. Até porque me fazia lembrar do que presenciei na escola, deixando-me confusa sobre contar ou não sobre o seu ex.

“Okay” – Ellie.

Foi apenas o que consegui responder antes de ouvir a campainha tocar. Ela mal entrou e veio me abraçando, para depois me puxar em direção ao cômodo onde se encontravam minhas roupas.

“Posso me vestir ai?” – Jane.

Sei que uma pessoa não vai gostar, mas ela é do nosso grupo agora. Não podemos ficar excluindo quem faz parte do nosso time desse jeito.

“Claro” – Ellie.

– Quem era? – quis saber.

– A Jane vem aqui. – disse de uma vez.

– Que bom, assim eu posso esfregar na cara de vadia dela a minha beleza. – respondeu.

– Já disse que você não presta? – comentei.

– Sim, mas isso não quer dizer que tenho de ter juízo.

Ficou lendo uma revista de fofocas enquanto eu abria a porta para a outra integrante entrar. Era praticamente a exdo James, e vivia dizendo sobre os garotos. Até sobre um que encontrou pela internet.

Quando ela estava passando o rímel a Ally deu um grito, o que a fez manchar o rosto. Só a vi olhando para a minha amiga com a expressão macabra e o rosto muito vermelho, tanto que parecia o demônio em pessoa.

– Acho que está borrada a maquiagem fofa. – disse com escarnio.

Vaca! Foi tudo culpa sua. – berrou.

Quando vi já estavam se brigando, e apostava que se tivesse lama vários garotos estariam aqui para ver. E não sabia o porquê eles gostavam tanto de ver duas meninas se estapeando, porém eu não ia ficar as observando enquanto se machucavam.

– Parem vocês duas, temos uma festa para ir. – gritei ao tentar separá-las.

Até parece que eu sou a mãe do grupo.

Felizmente deu certo e as duas se soltaram, para depois terminarem de se emperiquitar e entraram no carro depois de se brigar para ver quem ia na frente. Coloquei a Jane na frente e fiquei com a Alisson atrás. Deixá-las uma do lado da outra seria pedir por “guerra”.

Quando chegamos notei que todos me olhavam, mas não agora com olhares de admiração. Muitos dos meninos me miravam com a esperança de que pudessem me consolar, como um pedido mudo para que eu permitisse que algum deles chegasse perto – e isso significava beijos e outras coisas também.

– Ellie, está magnifica! – exclamou uma que estava perto de nós.

– Obrigada, digo o mesmo a você.

Depois disso a garota que nunca tinha visto plantou um sorriso no rosto e começou a dançar no meio da pista. Parecendo a pessoa mais feliz do mundo, tanto que ficou da mesma maneira quando quase tropeçou.

É, a força de um elogio dado por mim.

– Vai querer algo? – quis saber.

Até que o garoto tinha voz grossa, porém a beleza não é de Deus grego.

– Não, mesmo assim agradeço.

Uma maçã é o bastante para me sustentar, e nada mais. Repetia em minha mente.

Minha sorte foi que não tentou me agarrar e foi embora, deixando-me sozinha. A música soava no ambiente de forma e animadora, tanto que eu não consegui ficar parada e comecei a dançar. Antes só o pé, depois o quadril, para que no final eu percebesse que já estava praticamente rebolando no meio da pista.

– Arrasa amiga. – gritou a Ally em meu ouvido.

Tentei fazer mais algo, só que senti-me tonta e um pouco fraca. Sabia que era fome, e tinha de ser. Só tinha me alimentado de uma fruta há horas.

– Vou lá pegar algo. – sussurrei.

Olhou-me de maneira confusa, provavelmente não tinha me escutado. Só que não tinha nem forças para gritar. E fiquei completamente desesperada ao perceber que nem tinha uma comida, apenas bebidas alcoólicas.

Peguei uma batida de morango e comecei a tomar, pedindo para que ele me desse mais a cada vez que via que o copo estava vazio e ainda me sentia mal. Com umas sete eu já me sentia diferente, com vontade de rir e ficar falando bobagens.

Quem em sã consciência se sentia bêbada com essa quantidade? Só eu mesmo.

Deitei minha cabeça no balcão e escondi meu rosto. Não queria que alguém me visse desse jeito. E nesse momento, do jeito que estava, sentia-me arrependida por ter tido a ideia de me embebedar para tentar passar a fome. Até porque notei estar pior do que se não o tivesse feito.

– Me passa o seu Twitter? O meu pai disse que eu devo seguir o meu sonho.

Sussurrou um ser em meu ouvido.

– Sai daqui! – exclamei, ainda sem olhá-lo.

– Em cima da colina passa boi passa boiada, só saio da sua frente quando for minha namorada. – passou-me outra cantada.

– Onde você decora essas coisas? – finalmente o fitei sem vontade.

– Me chama de previsão do tempo e diz que tá rolando um clima. – continuou.

Rolei os olhos por não ter me respondido.

– Vai incomodar outra garota vai. – murmurei.

Sabia que nunca ia me deixar tão cedo, então o empurrei e fui em outra direção. Sentia-me mais tonta e com uma vontade imensa de vomitar. Cheguei perto do banheiro e me escorei na parede, escorregando e tentando me recuperar.

Por favor, que eu não pague um King Kong!

Fiquei sentada no calcanhar e respirei fundo enquanto segurava a minha bolsa com força ao sentir alguma pessoa me pegando pelo braço, atrás de mim. E como pensei ser aquele garoto das cantadas nem me virei.

– Já disse para se afastar de mim. – tentei dar um grito.

– Você só comeu a maçã de novo não é? – esbravejou um homem em meu ouvido.

Sabia quem era, nada menos que Vincent Mitchell.

Nem precisei me dar o trabalho de o fitar, já que o integrante do meu grupo mesmo o fez ao me colocar de frente para ele.

– Nem vai me responder? – quis saber.

Simplesmente me abaixei, para depois ver o estrago que tinha feito. Simplesmente vomitei no sapato dele. Que pelo jeito era novo. E ao tentar falar senti minha garganta queimando. Só conseguindo depois que voltou do banheiro masculino, possivelmente foi para limpar a sujeira do calçado.

– Você tem uma namorada para cuidar agora, não? – com aspereza.

– Essa dieta tem de acabar. Não vê que seu corpo é perfeito? – questionou.

– Sabia que era a fim de mim Vince. – balbuciei.

E eu nem havia me desculpado ainda. Mas que se dane, já tinha estragado tudo mesmo!

– Nunca fez meu tipo Lie. – respondeu.

Essa doeu.

– Então sai daqui e volta para aquela quatro olhos. – berrei.

– Só eu sei o que faz, se não ir comigo irá desmaiar e todos saberão da verdade.

– Pode me levar se será assim. – declarou.

Pegou-me no colo com rapidez, fazendo-me ficar mais enjoada.

– Com calma. – sussurrei.

Pareceu nem me ouvir e me levou até o quarto mais próximo, jogando-me na cama. Trancou e ficou ao meu lado. Virei-me de costas para ele e mirei o celular e senti lágrimas escorrendo ao ver a foto que bati mais cedo.

Bêbada é fogo! Chora por qualquer coisa.

– Que foi Ellie? – notei preocupação em seu tom de voz.

– Tadinha da Alisson. – comecei.

– O que houve? – disse.

– Você com a Tina-nada-estilosa, e o Patrick estava beijando o Taylor hoje.

Nem o olhar conseguia.

– O ex dela? – parecia transtornado.

Virei de frente para o Mitchell e tentei interpretar sua reação.

– Sim. E... você gosta da Ally? – quis saber.

– Não. – respondeu com agilidade.

Pensei, pensei muitas vezes, enquanto me aproximava dele. Senti-o ficar nervoso, e mais ainda ao tocá-lo em seu cabelo e apoiar minha cabeça em seu pescoço, para depois dar um beijo de leve ali. Praticamente sorri ao perceber que se arrepiou com meu ato.

– Depois diz que não faço seu tipo. – sussurrei enquanto colocava minha mão embaixo da sua camiseta.

– Reagiria assim com qualquer pessoa. – ao engolir em seco.

Soltei uma gargalhada neste instante.

– É por mim que está apaixonado não?

Que se dane! Estou alterada mesmo.

– Entenda uma coisa: eu tenho uma namorada, e ela se chama Valentina! – exclamou.

Empurrou-me antes de sentar e tentar se levantar, mas fui mais rápida e o abracei pela cintura. Sua respiração ficou descompassada e tentou se soltar, mas desistiu ao ver que não conseguiria escapar.

– Não, fica comigo.

– Ligarei para o James te levar.

– Por favor, não me deixe. – implorei.

– Você parece uma vadia quando bêbada, e é sério. Também prefiro ir porque não quero boatos sobre nós amanhã. – declarou.

– Nós?

– Eu e você, Ellie, e só.

Soltei-o automaticamente e o deixei sair, só escutando a porta bater. O quarto estava escuro e eu me sentia solitária, e por conta disso eu segurei o travesseiro depois de guardar meu celular. Querendo dormir a qualquer custo e nunca mais saber do que ocorreu nessa noite ou precisar não se preocupar com nada.

E foi isso que eu fiz.