Idiot Guy
15 - O dia em que descobri que ele também gosta de Pokémon
Capítulo quinze
O dia em que descobri que ele também gosta de Pokémon
O amor é difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas, os vencedores no amor são os fortes.
Os que sabem o que querem e querem o que têm!
Sonhar um sonho a dois,
e nunca desistir da busca de ser feliz, é para poucos!
(Ercília Ferraz de Arruda Pollice)
Se eu dissesse que consegui adormecer por muito tempo seria mentira. O fato é que a música estava tão alta, reconhecendo ser pop, que eu acordei sem saber onde estava. Ainda me sentia com vontade de vomitar, e foi por conta disso que peguei o celular para me distrair e ver se o enjoo passava.
“O James não está mais aqui. Procure alguém para te levar, se não achar durma ai. Já falei com o meu amigo sobre isso” – Vincent.
Então a casa era daquele garoto que sempre anda com ele? Apesar de ser do grêmio contrário é melhor assim. Não queria ter de acordar em um local de alguém que eu nem sequer cumprimentei um dia.
“Só não conta para ninguém que gosto de Pokémon, mangás, animes e livros, por favor.” – Ellie.
Tentei novamente dormir ao colocar a cabeça no travesseiro, mas o toque do aparelho me atrapalhou.
“De livros, mangás e animes também? Bom saber Lie.” – Vincent.
Que droga! Por que eu fui falar sobre isso justo com ele?
“Agradeço se parar de teclar e me deixar dormir seu idiota. Boa noite” – Ellie.
Não estou nada bem.
Quando fui me deitar senti-me mais mal e deixei aquilo sair da minha garganta, que não era praticamente nada. Isso significa que saiu sangue junto, e tudo isso por apenas comer uma maçã no dia e me embebedar de batida alcoólica depois.
A falta de ar me ocorreu, fazendo-me ligar um ventilador que tinha ali por perto, colocando praticamente no meu rosto para recuperar o folego, e finalmente conseguir dormir.
☼
Sábado – dia de aula extra
O sol passou pela cortina e acertou justamente os olhos, fazendo com que parece estar queimando ao abri-los. Era como se eu realmente estivesse no inferno, e por um tempo pensei que estivesse ali. Até me lembrar da última noite e realmente desejar ter morrido.
– Que sereia maravilhosa eu encontrei nesse quarto. Obrigado meu pai! – exclamou alguém.
Agora mesmo que eu queria ter falecido.
– Vai dormir seu tarado. – esbravejei.
E isso fez com que minha dor de cabeça aumentasse. Comparando-se a dois elefantes tocando tambor e pulando ao meu lado.
– Contigo? Só se for agora, até perderia aula por sua causa. – reconheci ser o amigo do Vincent.
– Não estou nada bem para ficar aturando as suas brincadeiras. – o repreendi.
Simplesmente o ignorei dali por diante e olhei para o relógio, notando ser 6h5. E isso significava ir para a casa neste momento ou chegar atrasada, e eu não ia querer perder a primeira aula, principalmente porque é para repor os dias que foram destinados a campanha e a eleição, mesmo que para isso eu tenha de implorar para o ser a minha frente.
– Tem uma carona para mim?
– Claro, só espera... – cortei-o rapidamente.
– Preciso nesse instante. – murmurei.
Embarcamos no carro, com o irmão dele de motorista, e começaram a cantar uma música. Só que não era nada como alguma que estava nas paradas, todavia igual àquela que cantam em ônibus escolares e infantis.
– Eu sou um bolinho de arroz... – cantarolaram juntos.
Quero morrer! Alguém me tira daqui, por favor.
– Os bracinhos vieram bem depois. – continuaram.
Socorro.
– Minhas perninhas ainda estão por vir.
Sorte a minha é que chegaram na minha casa nesse momento, fazendo-me abrir a porta e ir para dentro sem nem ao menos me despedir. E na mente a certeza de que não ia pegar carona com eles tão cedo.
As pessoas que se encontravam no corredor do colégio me olhavam de uma maneira irritada, e alguns até com pena. Eu não sabia nem o que havia acontecido. Será que estou fedendo? Ou o meu cabelo está revirado?
No entanto soube que era pior quando um resolveu fazer uma piada.
– Olha se não é a Ellie Da-pro-vis! – comentou.
Como meu sobrenome é Davis, resolveram unir ao boato de que eu tinha feito algo com o Mitchell. Assim dizendo que eu dei para o Vincent com essa chacota.
– Isso é por que eu te rejeitei? Mesmo implorando ou querendo me pagar para que eu te beijasse? – rebati.
Pensei que iam bater palma, mas nada ocorreu.
– Essa vadia, além de pegar o namorado dos outros ainda fica humilhando o guri na frente de todos. – sussurrou a garota.
Só que infelizmente eu ouvi.
Corri para a sala e sentei-me em meu devido lugar, tentando me esconder a todo custo para que ninguém me vise. Só que já tinha alguém nessa sala. Resolvi por ignorá-la e ver o que tinham deixado em minha mesa.
“Oi Lie. Como está?
– Ben S.”
Será que não sabe o que ocorreu? Ou sabe?
“Tudo, e contigo?
– Ellie D.”
Menti mesmo assim.
Ao acha-lo fui em sua direção, e tal meu espanto ao notar que seu lápis continha desenhos do Pikachu. E me perguntar como não tinha reparado nisso antes.
– Qual foi sua resposta? – murmurou.
– Que estou bem. E você? – questionei.
O sorriso não saia do meu rosto. Até porque, caraca, outra pessoa gosta de Pokémon.
– Está? Apesar daqueles boatos sem fundamento sobre ontem? – rebateu.
– Você não acredita neles?
– Esse pessoal vive de ficar fazendo fofoca. E eu nem te vi com ele. – explicou.
– Ainda bem que alguém desse colégio tem juízo. – resolvi.
– Se quiser pode ir comigo no intervalo, estarei na biblioteca. – comentou.
Sentei-me na cadeira, abrindo o meu caderno com estampas feitas por mim – o que me fez quase quebrar a unha de novo. E o melhor era que era único.
– De novo essa coisa de te chamarem de fura-olho e vadia?
Esse foi o Patrick.
– É. – dei um sorriso amarelo.
Droga! Não consigo ser natural com ele depois de saber daquilo.
– Que houve? – parecia um pouco nervoso.
– Outro dia ou depois te conto. – sussurrei.
– Assim ficarei curioso diva. – fez um beicinho.
– Acredite, se soubesse o que é o assunto não ia querer que eu te dissesse agora. – finalizei.
– Isso me deixa mais ansioso ainda. – reclamou.
Dei de ombros e fiquei vendo o resto entrar. Arrependi-me por ter ido a aula, todavia isso acabou ao chegar o intervalo e poder correr para um lugar onde poderia ficar mais sossegada. Cercada de livros e cadeiras almofadadas.
– Então resolveu aceitar meu convite? – começou o Sullivan.
– Com certeza. – declarei.
Ficamos em silêncio e o vi com uns livros em mesa, sendo que estava lendo um deles. Conhecia o que estava em suas mãos, fazendo minha garganta praticamente coçar para comentar algo sobre isso. Só que ao notar um colorido fiquei perplexa, era, com toda a certeza, um mangá.
Peguei-o em silêncio e ia virar do lado contrário, todavia percebi de última hora que não podia escancarar meu gosto por esse tipo de leitura.
– É ao contrário Ellie. – riu-se ao me fitar.
Gargalhei de maneira fraca e soltei na mesa de novo.
– Pensei que era revista. – menti.
– É muito melhor que isso. – revidou.
Tem razão!
– Duvido. – murmurei.
A palavra falsa quase não saiu.
Só sei que ficamos conversando de tempos em tempos até o sinal bater. O que me fez realmente sair correndo para anotar o nome do mangá no meu caderno para poder ver depois. Até porque sabia que nunca tinha lido.
Quando a aula acabou e a Ally se despediu de nós eu barrei o Patrick. Eu não poderia ficar escondendo ou o ignorando, tinha de falar de qualquer maneira.
– Não tem algo para me contar – comecei.
Sentamo-nos em um lugar afastado neste momento.
– O quê? – parecia nervoso.
– Foi realmente feio o que fez. – continuei.
– Se gritar dessa maneira vou enfartar de curiosidade. – rebateu.
– É melhor mesmo, até porque não é bonito ficar escondendo da sua amiga que está pegando o Taylor! – berrei.
– Fale baixo diva, alguém ainda pode estar pelo colégio. – devolveu.
Minha cabeça estava nos dois praticamente transando agora.
– Não quero saber, você tinha que ter de me falado. – choraminguei.
– Por acaso ia nos aceitar?
– Não.
– Então está explicado. – tentou finalizar.
– Só que não ficará assim, você tem de contar para a Ally. – contrapus.
– Ela nunca mais vai querer me ver.
– Se não dizer eu que nem vou mais sequer olhar para a sua cara.
– Por favor, não me deixe só. – balbuciou ao tentar me abraçar.
Tentou, mas nem chegou perto.
– Quem manda ficar com o ex dela? – gritei novamente.
– Tudo bem, um dia eu conto.
– Já é um começo. – terminei a conversa ali mesmo.
O resto foi sobre a festa, da qual só ele comentou, e o que aconteceu pela manhã, o que me fez lembrar de algo ao ir para a casa. E na volta eu consegui uma carona, e felizmente foi com um garoto civilizado.
“Vincent, eu vou te matar! Por que não me disse que aquele seu amigo e o irmão dele eram fãs da música do “arroz”?” – Ellie.
Ao olhar para a janela vi os dois praticamente se beijando, deitados na cama. O pior foi que ela estava de short e a celulite dava de ver de longe, o que realmente me faria ter pesadelos pelo resto da semana.
Ops! Acabei de interrompê-los com minha mensagem.
Levantou-se rapidamente e começou a digitar, só que nada era melhor do que ver a cara de quem chupou limão da Valentina.
“Quem mandou ficar bêbada. Aliás, dá próxima vez eu não irei cuidar de você não” – Vincent.
O que eu fiz? Não me lembro de nada.
“Por quê? Capaz que não gostou de cuidar de mim” – Ellie.
A outra praticamente se levantou neste instante, enquanto eu ao vê-la praticamente desanimada me deu vontade de rir.
“Quer saber mesmo o motivo?” – Vincent.
Rolei os olhos nesse momento.
“Com certeza” – Ellie.
“Tá bom. Primeiro dançou feito uma louca no meio da pista, depois ficou perto do banheiro e ficou sentando. Quando cheguei perto de mim fez o quê? Se pensou me cumprimentou está errada, você vomitou no meu sapato. Quer que eu continue?” – Vincent.
Fiz coisa pior? Se alguém manchasse meu vestido ou salto alto eu esgoelava o ser.
“Para uma pessoa comprometida está me vigiando demais não acha? E a resposta é positiva.” – Ellie.
“Te levei no quarto e tu choraste feito uma criança e começou a contar sobre o Patrick e o Taylor. Depois ficaste perguntando se eu gostava da Ally, sem falar que ficaste me agarrando e questionando se eu era apaixonado por ti. Tive de te empurrar para parar de ficar me tocando e abraçando.” – Vincent.
Não preciso mais de nada para me suicidar.
Nada de cortar os pulsos, é motivo para pular na frente de um trem mesmo.
“Pode parar, já está ótimo por hoje!” – Ellie.
Ele me respondeu, mas nem sequer fui ver o que era. Simplesmente fiquei escondida e tentava os observar por entre a janela. Vendo os dois dando selinhos ou fazendo cosquinha, sendo que nem chegava perto de algo considerado quente.
É... típico de um relacionamento que envolve a Tina. Daquele que chove e nem molha.
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