Nós chegamos na casa dele e Takanori praticamente me rebocou pra dentro, porque eu estava aérea demais pra perceber que já tínhamos chegado.

— Você quer alguma coisa? Quer almoçar? — ele perguntou docemente, enquanto trancava a porta e eu só respondi “não” com a cabeça.

Koron estava correndo em volta das nossas pernas, mas até ele pareceu perceber meu estado de espírito.

— Vem cá — ele me puxou lentamente e fomos para o quarto dele. Takanori me puxou pra deitar na cama e me abraçou bem apertado, eu me permiti desfrutar um pouquinho daquele conforto.

Nós ficamos em silêncio, não sei nem por quanto tempo, mas foi muito bom, ele não ficou me fazendo perguntas e me deu tempo pra me acalmar.

— A gente precisa conversar — eu finalmente tomei coragem e busquei seus olhos.

— Ok — ele pareceu um pouco preocupado, mas só nos ajeitou melhor deitados para podermos nos ver.

— Ok — eu respirei profundamente. — Eu não devia… — era tão difícil começar aquela conversa, mas a cada segundo que eu ficava em silêncio, ele parecia mais aflito. — Eu estraguei tudo!

— O quê? Claro que não, Carol! Você não estragou nada — ele segurou meu rosto entre suas mãos, cheio de cuidado.

— Estraguei sim! — afundei o rosto em seu peito e seu perfume só me desconcertou mais. — Eu devia te ajudar e eu…

— Querida, querida… Não se preocupe sobre isso — ele beijou minha testa e eu choraria, se já não tivesse esgotado minhas lágrimas. — Se você não quiser continuar com isso, eu vou entender, só não quero que você faça nada que a deixe triste!

— Não, você não entendeu, Taka! Você me fez muito feliz nesses últimos meses, muito mesmo! Mais do que eu imaginava… Por isso, eu estraguei tudo! Eu estou apaixonada por você! De verdade!

Achei que ele teria outro tipo de reação, me soltaria, gaguejaria, me olharia estranho e me rejeitaria. Mas Takanori deu risada. Não uma gargalhada maldosa, ele parecia extremamente aliviado.

— Eu pensei que ia me falar que ainda gostava daquele babaca! — ele me apertou novamente dentro de seu abraço.

— Mas eu estraguei nosso namoro de mentira me apaixonando de verdade! — repeti, pensando que ele talvez não tivesse entendido da primeira vez e ele me deu um beijo na testa.

— Bom, se isso de se apaixonar de verdade é “estragar”, então, eu acho que estraguei tudo primeiro — ele deu risada e eu o olhei, surpresa.

— O quê?

— Eu amo você, Carolina! E eu achei que ficaria surpreso quando me apaixonasse de verdade por alguém, mas foi tão natural me apaixonar por você que eu fico muito feliz por termos começado com essa história maluca de namoro de mentira!

— Desde quando você não estava mais fingindo? — eu perguntei, encantada e ele acariciou meu rosto com as costas da mão.

— Desde quando disse que “Misery” era sua música preferida do hide! — eu estava com a cara mais boba apaixonada que alguém podia fazer, tinha certeza! — Foi naquele dia que eu percebi que tinha a garota certa do meu lado e faria de tudo por ela!

Passei meus braços por seus ombros, aproximando ligeiramente nossos rostos e pude ver os olhos dele se voltando brevemente para minha boca, antes de voltarem para os meus olhos. Seus braços estreitaram mais minha cintura.

— Você é a pessoa mais incrível que eu já conheci, Carol! E nada me fez mais feliz do que ser seu namorado nos últimos meses! Até meus amigos perceberam que eu estava diferente por sua causa!

Toquei seus lábios com os meus brevemente, ainda sorrindo e ele fechou os olhos e buscou por minha boca novamente quando eu nos separei, pedindo por mais. Ainda nos mantendo separados, esperei pra ver o que ele faria e Takanori abriu os olhos, soltando o ar pela boca, que ele tinha puxado por expectativa.

Seus dedos deslizaram suavemente por meu rosto e eu fechei meus olhos, apreciando seu carinho. Eu estava tão feliz por ele sentir o mesmo por mim, por não ter perdido aquele pedaço novo de liberdade, do qual agora eu dependia tanto pra vencer o mundo lá fora!

Estava perdida em meus pensamentos, quando ele me puxou de novo e selou nossos lábios, me beijando com vontade, como eu acreditava que ele queria ter me beijado desde o começo de nossa farsa! E era tão bom que eu queria me bater por ter demorado tanto pra perceber que tinha sido a única a “acreditar” que era tudo mentirinha… Olhando agora, tudo sempre foi tão real entre nós.

— Eu não estava sendo capaz de fazer nada direito — ele disse, depois de quebrar nosso beijo, ainda de olhos fechados — sonhando acordado com o seu beijo! — deixei mais um beijinho em seus lábios.

— Eu queria não ter medo de agulhas, pra tatuar essa frase fofa que você disse! — segurei seu rosto entre minhas mãos, apertando ligeiramente suas bochechas, que ficaram um pouco vermelhas pelo que eu disse, me fazendo rir.

— Ah! Isso me faz lembrar de uma coisa! — ele disse, de repente, se levantando e procurando alguma coisa atrás de seu armário. — A ideia é muito boa pra ser desperdiçada e, como você não vai tatuá-la de qualquer forma… — ele retirou um embrulho retangular de papelão, escrito “frágil”.

Eu me levantei, curiosa e ele me deixou abrir. Era um quadro de moldura um pouco rústica, com uma frase escrita direto no vidro: Stay free, my Misery, em letras de máquina de escrever, sobre linhas que imitavam caderno, exatamente como eu queria.

— Eu conhecia um cara… — ele deu de ombros, sem jeito pelo meu assombro. — É realmente uma boa ideia e eu achei que você fosse gostar…

— Eu amei! — minha voz quase não saiu de emoção e ele sorriu, lindamente.

— Coloquei num quadro, porque você poderia querer levar pra sua casa… — ele explicou. — Se você quiser…

— Qual seria minha outra opção? — deixei o quadro apoiado de maneira segura contra sua cama e me aproximei de Takanori, passando meus braços por sua cintura e ele me abraçou também.

— Você podia deixar aqui — ele respondeu, timidamente. — Podia ser uma parte sua aqui, pra que aqui seja… Sua casa também!

Eu segurei seu rosto entre minhas mãos e o beijei novamente.

— Aqui é meu pedaço de liberdade!