Eu estava no sofá de Takanori, brincando com Koron, enquanto meu namorado se aprontava. Era o dia da formatura dele e eu não podia estar mais orgulhosa.

Nós já estávamos juntos há dois anos e ainda ríamos de como tinha sido esquisito nosso começo de relacionamento! Nunca tínhamos contado a ninguém sobre nossa farsa, era uma coisa só nossa, como uma piada interna.

— Taka, nós vamos nos atrasar! — chamei por ele mais uma vez e meu namorado apareceu na porta do quarto, quase pronto.

— Acha que eu vou com ou sem gravata? — ele me perguntou, parecendo em pânico, aproximando e afastando a peça de seu pescoço, pra que eu tivesse uma visão melhor antes de lhe responder.

— Sem. Você vai estar de beca, sua roupa nem vai aparecer, querido! — tentei não dar risada de seu nervosismo, porque não ajudaria em nada e, quando chegasse a minha vez, eu sabia que estaria tão nervosa quanto ele.

— É, mas nós vamos sair com todo mundo pra comemorar depois — ele pontuou.

— Ainda assim, fica melhor sem — respondi e ele concordou, voltando pro quarto.

Ele se demorou pelo menos mais quinze minutos até estar pronto para sair. Quando entramos finalmente em seu carro, parecia que estávamos indo pra guerra.

— Por que você está tão nervoso, Taka? — perguntei, tentando fazê-lo se focar em mim. — Não é nenhum bicho de sete cabeças, pelo que eu ouvi dizer — ele deu uma risadinha tímida.

— Eu não sei — sua mão buscou pela minha e eu a apertei, carinhosamente. — Acho que as coisas vão ser assustadoramente reais depois de hoje… — eu assenti, entendendo o que ele estava sentindo. — Eu vou receber um papel que diz que eu estou completamente apto para um trabalho e eu não sei se é assim mesmo que eu me sinto!

— Eu entendo, meu bem — acariciei sua pele com meu polegar, lentamente. — Não tem como te dizer que vai ficar tudo bem, mas eu conheço você e sei que sempre vai dar o seu melhor e acho que é isso mesmo que você tem de fazer! Nós nunca teremos todas as respostas, mas, de um jeito ou de outro, a vida acaba se encaixando como deveria! Veja só nós dois! — ele riu.

— Você está certa! — ele beijou minha mão, parecendo um pouco melhor.

— Como sempre? — eu brinquei.

— Como sempre — Takanori concordou, ligando o carro e guiando para a faculdade.

Nossos amigos e famílias já estavam lá, esperando por nós quando chegamos e Taka foi colocar a beca. Eu entendia muito bem a angústia que ele estava sentindo naquele momento. Acho que não tinha ninguém na turma dele que não a estivesse sentindo e era um misto confuso de emoções, de felicidade, orgulho, alívio, medo e preocupação que era admirável que ninguém ali entrasse em combustão espontânea.

A cerimônia foi muito bonita, os discursos, as músicas, as homenagens, a entrega dos diplomas. Na hora em que ele foi chamado, eu estava tão emocionada que não consegui conter minhas lágrimas, mesmo que não soubesse direito porque estava chorando.

Talvez, fosse mais do que por orgulho pela conquista dele, pelo término daquela parte de sua jornada! Eu sentia tanta alegria por ele dividi-la comigo todos os dias, desde que começamos a namorar, que eu me sentia parte daquele triunfo, como fazia muito tempo que não me sentia parte de algo! Eu tinha visto ele passando pelas semanas de provas e noites sem dormir, as pesquisas e correções intermináveis do TCC, todas as vezes que ele quis desistir, arrumar nossas coisas e fugir dali.

E também vi o quanto ele ficava satisfeito consigo mesmo quando alguma coisa dava certo, quando ele conseguia o resultado esperado ou apenas quando eu o abraçava forte e ele se sentia realmente acolhido e tranquilo pra encontrar seu motivo pra continuar em frente!

Eu entendia o que ele estava sentindo porque era exatamente o que eu sentia, mesmo que ainda faltasse dois anos pra terminar a faculdade! O medo, a angústia, a vontade de desistir de tudo e fugir. O prazer de poder correr pra ele e recarregar as minhas forças, quando já não tinha mais nenhuma em mim!

Ele era quem conseguia entender quando eu duvidava de mim, mesmo quando eu fazia as coisas certas e me escutava pacientemente em minhas piores crises.

Nós dois, no fim, tivemos de inventar toda aquela loucura de “relacionamento falso” pra descobrir o que realmente era estar num relacionamento! E eu não me arrependia nem um pouquinho, porque Taka me fazia mais feliz do que eu jamais tinha sido capaz de acreditar que algum dia eu seria!

Suichiro e eu não tínhamos voltado a nos falar exatamente, mas não fugíamos mais um do outro, como no começo; nos cumprimentávamos e, aos poucos, voltávamos a ter uma convivência cordial. Não acreditava que algum dia nós seríamos amigos como já fomos, mas eu me lembraria sempre com muito carinho dos bons momentos, coisa que eu não conseguia fazer antes, e do fato de que seu retorno a minha vida tinha causado uma das melhores coisas que eu tinha hoje!

Quando Taka se aproximou, lhe dei tempo com sua família, para que ele recebesse o abraço de sua mãe, de seu pai e de seu irmão, cheios de orgulho. Seus amigos também estavam todos lá, já cobrando pra onde íamos pra comemorar!

— E agora? O que eu vou fazer? — brinquei, quando finalmente foi minha vez de prendê-lo em meus braços. — Eu gostei dessa coisa de ser “rainha da faculdade”, sem você lá, como vou manter minha posição, meu reinado e minha coroa? — fingi teatral e exageradamente desmaiar, sendo bem segura por seu abraço.

— Há, há, há! Você é tão engraçada, Chi-chan…

— O que eu devo fazer? Conseguir aliados? Montar uma nova guarda? Arranjar um sucessor pra quando eu me for? Preciso de um conselheiro — continuei e ele revirou os olhos pra mim.

— Contanto que não busque por outro rei… — ele sussurrou em meu ouvido e eu sorri, fazendo carinho em sua nuca. — Acho que isso me mataria! — deixei um selinho rápido em seus lábios, tentando não chamar atenção de ninguém por perto para nós dois.

— Como você é bobo, bebê! — disse, bem baixinho em seu ouvido, só pra que ele pudesse ouvir e, mesmo assim, ele ficou vermelho como um pimentão, como se eu tivesse gritado e atraído todos os olhares do salão para nós dois. — Você é o único rei pra mim!

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.