Quando acordei na manhã seguinte, ao desligar meu despertador, vi algumas mensagens de Takanori. Nós ficamos conversando até tarde, combinando os últimos detalhes de nossa fraude.

Fiz toda a minha rotina matinal e desci para o café. Saí com a minha irmã, quando Kouyou chegou, mas não entrei no carro.

— Eu vou de carona pra faculdade — disse, sem querer contar tudo.

— Com quem? — minha irmã estranhou.

— Matsumoto-senpai — disse, esperando que Kouyou não estivesse prestando tanta atenção.

— Takanori? — ele perguntou, na mesma hora e eu senti meu rosto esquentar. — É verdade, ele também estuda na sua faculdade.

— Tem certeza disso? — minha irmã olhou do namorado pra mim.

Antes que eu pudesse responder, Takanori parou o carro atrás do deles.

— Bom dia pra vocês! — corri até lá e entrei, sem me permitir pensar duas vezes. O rapaz ao meu lado no carro acenou para o amigo e meu cunhado riu e buzinou.

— Bom dia, princesa — ele sorriu, enquanto eu prendia o cinto de segurança.

— “Princesa” também é um não! — fiz uma careta e ele riu. Percebi que ele se inclinava na minha direção e o impedi. — Nada de beijos também!

— Como assim? Você é minha namorada e eu não tenho permissão de te dar um beijo? — ele não pareceu realmente surpreso com a minha postura. — Ok! Na bochecha pode? — eu ponderei.

— Pode — ele deixou um beijinho em meu rosto e se endireitou no banco do motorista, ligando o carro. O rádio também ligou, numa música alta, de rock alternativo.

— É “hide with Spread Beaver” — ele me disse, empolgado.

— Eu sei — cruzei os braços, revirando os olhos e ele me encarou, espantado.

— Você conhece? — sua surpresa era um pouco ofensiva. — Achei que você era meio… Fã de Taylor Swift — eu o encarei, desgostosa.

— Eu posso gostar dos dois, sabia? — ele ergueu as sobrancelhas. — Não que você seja o primeiro babaca que julga meu gosto musical precipitadamente…

— Desculpe. Eu estou, na verdade, muito contente! Minha namorada é muito legal! — eu não consegui conter uma risada. — Qual é sua música preferida do hide?

— Sempre muda… Mas a que eu mais tenho escutado… — ponderei. — Não, eu devo ter uma que é minha preferida de todas… Misery! Com certeza, é Misery! Eu sabia que tinha uma, e estava com “Hurry go round” na cabeça, mas, se eu fosse tatuar uma parte de música, seria de Misery!

— Sério? — ele estava encantado e eu assenti, sorrindo.

— Eu sempre quis fazer uma tatuagem aqui no pulso, como linhas de caderno e escrever naquela letra de máquina de escrever “stay free, my misery”... — contei, sonhadora e, quando meus olhos encontraram os dele, percebi pelo jeito como ele me encarava, que eu tinha falado demais. — Mas, tenho medo de agulhas…

— Ok! Por essa, eu realmente não estava esperando — ele sorriu e eu não pude conter o pensamento de que ele era muito lindo sorrindo!

Abaixei o rosto, encabulada e o vi mudando de música; sorri quando Misery começou a tocar.

Nós chegamos rápido ao estacionamento da faculdade e ele passou o braço por minha cintura e pegou meu material, para entrarmos no prédio.

— Preciso de um favor — ele disse, me fazendo encará-lo. — Preciso que me prometa que não vai fugir correndo no final das aulas — eu dei risada. Como era possível que ele soubesse que eu estava considerando essa possibilidade?

— Eu prometo. Estamos juntos nessa — ergui meu mindinho direito e ele entrelaçou seu mindinho ao meu.

— Juntos nessa! E eu ainda preciso pensar em como te chamar, docinho! — fiz uma careta.

— Docinho também é um não!

— Vou achar alguma coisa que você aceite — ele deu um beijinho em meu rosto e só aí eu percebi que já estávamos em frente a minha sala. — Eu te vejo no intervalo.

— Está bem — respondi e minha voz saiu como num suspiro, sem que eu pudesse controlar.

Sentei na minha cadeira, ainda um pouco atordoada e uma garota alta, de cabelos cheios de cores vibrantes, se sentou ao meu lado. Isa.

— Oi, Carol! — ela me cumprimentou alegremente. — Aquele gato que te trouxe aqui na sala é o seu namorado? — eu achava engraçado como as pessoas, mesmo sem se conhecerem há mais do que um dia, queriam se conectar umas com as outras com pedaços íntimos de informação. Era interessante perceber laços sendo estabelecidos.

— É sim — respondi, rindo e olhei sonhadora para a porta e, mesmo que ele não estivesse mais lá, eu conseguia rever a cena, várias e várias vezes, como num filme.

— Ele também estuda aqui? — ela perguntou, interessada e eu assenti, me virando para ela.

— Sim. Está no penúltimo ano de design! — contei e ela pareceu ainda mais encantada.

Nós duas ficamos conversando até a aula começar, comentando sobre as aulas que tivemos e os professores que já tínhamos conhecido. Ela me contou seus motivos para ter entrada naquela faculdade e porque escolhera Psicologia, ou melhor porque Psicologia tinha escolhido ela. Também me escutou contando sobre meus motivos e, como todas as pessoas a minha volta, achou que eu estava no lugar certo!

Eu queria acreditar, com todas as minhas forças, que eu estava mesmo no lugar certo, queria acreditar que ter me metido numa trama de relacionamento de mentira com um dos amigos do namorado da minha irmã não era um mau karma pra minha vida profissional… Mas sentia meu coração pesado cada vez que pensava a respeito…

Por que as coisas não podiam ser só normais comigo?