A primeira semana passou mais depressa do que eu esperava, pra minha sorte. E Takanori conseguiu me acalmar quanto ao mau karma que eu temia.

— Eu já fui chamado de muitas coisas, mas “mau karma” é a primeira vez — ele riu e eu ri também. Ele conseguia me fazer rir com muita facilidade e eu gostava disso.

Fugi o quanto pude ao longo da semana das perguntas da minha irmã e do meu cunhado sobre a “natureza” de meu relacionamento com Takanori e nossa súbita proximidade, mas, quando o fim de semana chegou, e ele cobrou que eu fosse com ele a uma festa, minha resposta de sermos “amigos se conhecendo” perdeu a credibilidade totalmente.

Eu não queria ir a festa nenhuma, lógico! Principalmente porque Takanori seria o único que eu conheceria lá. Mas ele me garantiu que não sairia do meu lado e nós só ficaríamos ali o necessário pras pessoas se lembrarem na segunda-feira que tínhamos passado lá. Eu temia que esse tempo fosse maior do que eu desejava.

Ele me mandou mensagem quando chegou na frente da minha casa e eu saí o mais rápido possível, antes que alguém tivesse a ideia de fazê-lo entrar.

— Você está bonita — ele elogiou e eu o encarei, sem jeito.

— Obrigada. Você também está muito bem — ele sorriu.

— Muito obrigado, fofinha! — eu dei risada.

Fofinha não!

— Eu imaginei que seria um não na mesma hora em que eu me ouvi dizendo — ele deu risada e deixou um beijo em meu rosto.

— Você sabe que não precisa fazer isso quando não tem ninguém por perto, não sabe? — eu comentei e Takanori deu de ombros.

— Eu preciso criar o hábito, se quiser que pareça natural na frente dos outros — ele respondeu com simplicidade, ligando o carro e começando a dirigir.

Nós ficamos em silêncio por um tempo, eu tentava me acalmar com toda a situação que se enroscou em minha vida por causa daquela “mentirinha”, para passar por tudo com a maior tranquilidade que eu conseguisse atingir.

— Eu preciso te pedir uma coisa — ele quebrou o silêncio e minha paz interior se foi com sua hesitação.

— O quê? Que eu finja ser sua namorada? — brinquei e ele inspirou profundamente.

— Bom, é. Eu sei que você não quer que eu te beije, mas… Nós realmente precisamos parecer juntos e apaixonados, então…

— Eu não vou ficar me agarrando com você — cortei e ele encolheu os ombros. Talvez, eu tivesse soado mais grosseira do que desejava. — Desculpe. É que… Eu vou ficar completamente sem graça e não sei se conseguiria na frente de tantas pessoas.

— Eu entendo — ele respondeu, calmamente.

— Mas eu posso ser mais… Intensa e carinhosa hoje — negociei.

— Pode? — ele tentou não abrir um sorriso convencido, eu percebi isso, mas falhou miseravelmente. Pela tentativa dele, no entanto, deixei passar.

— Posso!

Nós entramos na festa e eu fiquei agradecida por ele não sair do meu lado, alguma coisa na quantidade de pessoas e na música alta me deixava apavorada.

— Olha só, quem diria! — um rapaz um pouco mais alto do que Takanori, de cabelo bem preto e estiloso, se aproximou, sorridente. — Eu não achei que viesse mesmo, Taka-chan!

— Eu disse que vinha, Yuu — Takanori bufou, revirando os olhos.

— E trouxe uma amiga! — o moreno se virou para mim, com um olhar quase predatório. — Muito prazer! Eu sou Yuu!

— Sou Carolina! — respondi, apertando sua mão e ele me puxou pra perto, me prendendo num abraço.

— Já chega, Yuu! Pode largar minha namorada, por favor? — o outro pareceu realmente enciumado e eu tive que me lembrar que hoje nós dois estávamos ali pra jogar mais sério do que nunca.

— Tudo bem, tudo bem — o moreno me soltou, rindo. — Fiquem à vontade!

Takanori passou o braço de novo pela minha cintura e me puxou para perto dele. Percebi que ele estava bem nervoso.

— O que você acha da gente pegar alguma coisa pra beber e arranjar um lugar confortável pra sentar? — falei perto de seu ouvido pra que ele me escutasse, apesar da música e da gritaria.

— É uma ótima ideia, querida — ele sorriu e nós fomos até a mesa de bebidas.

Até que tinha uma grande variedade de sucos e refrigerantes, o que me deixou mais confortável. Tinha alguns salgadinhos e lanches que nós dois pegamos também e fomos nos sentar num dos sofás com outro amigo dele, que estava com a namorada. Apesar de estar bastante nervosa por conhecer os amigos dele e nós termos de parecer verdadeiramente apaixonados para um novo grupo de pessoas que, por conhecê-lo, seria mais difícil de enganar, eu estava muito feliz que minha irmã e Kouyou não apareceriam por ali. Eu podia lidar com todo mundo naquela situação, menos com eles dois!

Takanori parecia uma pessoa mais extrovertida com seus amigos, mas, talvez porque estivéssemos numa “trama” maior de mentiras juntos, eu conseguia ver que ele também encenava aquela imagem pública que eu tentava ajudá-lo a manter. Ou talvez, aquele fosse ele de verdade e sozinho comigo fosse atuação… Eu não sabia dizer… Mas seus amigos me aceitaram fácil como namorada dele, sem fazer muitas perguntas, o que foi ótimo!

Eu conheci Akira e Ana e Yutaka e Mari e todos foram muito amáveis. Eram muito engraçados e eu fiquei com a barriga e as bochechas doendo de tanto rir; nem vi o tempo passar e me diverti de verdade!

Só na hora em que nos despedimos para ir embora é que me bateu o sentimento de culpa por estar mentindo para todos eles e, mesmo que Takanori estivesse muito agradecido pela noite e por meu desempenho perfeito como sua namorada, ele não conseguiu me fazer me sentir bem comigo mesma. Nós não estávamos machucando ninguém, por que então eu me sentia tão mal?