Capítulo III - Hello, angel. Where are you?

Gerard estava na ponta dos pés, derrubando dezenas de objetos que estavam em cima de seu guarda-roupa. "Onde eu guardei essa merda?" Derrubou mais alguns livros e gibis antigos, até que viu uma enorme tábua de madeira reluzente. "Certo." Tirou o objeto empoeirado do local e o jogou em cima da cama. "Como é que se usa isso mesmo?"

(Flashback)

"Vem, Mikes. Deixa de frescura. É só um jogo idiota. Você me obrigou a comprar isso, e agora você vai ter que fazer." Mikey ofegava, enquanto Gerard o puxava pelo braço. Ambos sentaram em cima da cama surrada de Gerard, com a tábua entre eles.

"Como isso funciona?" Gerard notou o nervosismo do irmão.

"Bom... A mulher disse que temos que colocar os dedos em cima dessa setinha aqui... E precisamos de concentração. E depois é só a gente falar nossos nomes verdadeiros." Os irmãos colocaram os dedos em cima da seta. Mikey estava gelado, Gerard bufou. "Okay. Concentração." Mikey respirou profundamente, como se estivesse prestes a pular de uma ponte. "Meu nome é Gerard. Gerard Arthur Way." Mikey permaneceu em silêncio, até que sentiu a pressão dos dedos de Gerard nos seus.

"Meu.. meu nome é Michael.. J-James Way." Os dedos finos de Mikey tremiam, Gerard os pressionou ainda mais contra a seta.

"Quem está aí?" Gerard sussurrou. Perguntou mais uma, duas, três vezes. Nada aconteceu. Ficaram em silêncio por alguns minutos, até que Gerard se cansou. Sem que Mikey percebesse, ele pressionou os dedos contra a seta e a moveu um pouquinho para a direita. "Mikey! MIKES!" Os olhos de Mikey estavam arregalados. "Está se mexendo, olha!" Gerard moveu a seta mais um pouco, tentando segurar o riso.

"Gee! Gerard! Não!" Mikey tirou os dedos da seta e saiu correndo do quarto. Gerard riu.

Estava prestes a tirar os dedos da seta, quando sentiu algo quente sob sua pele. Tentou retirar sua mão, mas algo o tocou levemente na pontinha de seus dedos, como um pequeno choque. Gerard arfou e tirou sua mão rapidamente da seta, jogando a tábua embaixo da cama em seguida. "Até parece, é coisa da minha cabeça" Sussurrou para si mesmo.

(/Flashback)

Gerard encarava o objeto seriamente. Reparou nos pequenos desenhos nas extremidades da tábua. Um sol com um sorriso cínico, uma meia-lua com um ar sério, uma mulher negra com uma enorme bola de cristal nas mãos, o rosto de uma criança com detalhes felinos. Passou a ponta dos dedos delicadamente sobre os desenhos, deslizando lentamente até as letras, os números, e o enorme "ADEUS" que ficava logo abaixo do alfabeto. Suspirou. Retirou a pequena seta de uma caixinha e colocou sobre a tábua. Fechou os olhos. Tentou superar a agitação no estômago. Colocou os dedos delicados em cima da seta.

"Meu nome é Gerard Arthur Way." Pressionou os dedos fortemente contra a seta, até deixar suas pontas esbranquiçadas. Não recebeu nenhum retorno. "Meu nome é Gerard Arthur Way." Gerard mergulhou em si mesmo. "Meu nome é... Gerard Arthur Way." Sentiu um leve tremor embaixo do objeto, não ousou abrir os olhos. "Meu nome é Gerard Arthur Way. Você pode conversar comigo?" A seta começou a esquentar, Gerard sentiu seus dedos formigarem, com uma leve pontada de dor. Não parou. "Quem está aí?" A seta começou a se mover vagarosamente. Gerard abriu os olhos. "P." a seta continuou a se mover. "O. R." Gerard sentia solavancos na ponta de seu estômago, tremia de medo, mas não conseguia, não podia parar. "F." A seta ia de um lado para outro, por todo alfabeto. "A. V. O. R." Gerard juntou as letras. "Por favor? O quê? Por favor o quê? O que você quer?" A seta continuou a se mover, dessa vez mais rápido. Gerard precisou se esforçar para acompanhar e juntar as letras. "P. O. R. F. A. V. O. R. P. O. R. F. A. V. O. R." Gerard estava entrando em desespero. "O QUÊ? O QUE VOCÊ QUER?" Sentiu sua cabeça pesar, como se milhares de formigas o estivessem esmagando. Fechou os olhos e continuou a sentir as letras, dentro de si. Por favor. Por favor. Por favor. "O que você quer?" Gerard sussurrava. Me ajude. Por favor. Eu preciso de você. "Quem é você? O que você quer?" Lágrimas brotavam nos cantos dos olhos de Gerard. "O que você quer?" Abriu os olhos. A seta pulava embaixo de seus dedos, ia de um lado para o outro. "Quem é você?" A seta se moveu para o enorme "NÃO" escrito numa das extremidades. "O quê?" Não. Não. Não. A seta correu até os cantos da tábua, até parar em cima do "ADEUS". Os dedos de Gerard ferviam. "ONDE ESTÁ VOCÊ? QUEM É VOCÊ? O QUE VOCÊ QUER?" A seta não se moveu. "Merda. Merda, merda, merda."