— Samantha? - Marissa se espantou quando abriu a porta.

Ela arregalou os grandes olhos verdes e se apoiou na porta atordoada, levando a mão livre até o peito. Era como se tivesse vendo um fantasma. Me limitei a lhe dar um sorriso acanhado.

Eu estava ali para pegar o endereço do seu filho. E conversar um pouco.

— Sra. Benson, eu preciso falar com a senhora sobre o Freddie. Poderia me dar o endereço dele? É urgente! - Fui direto ao ponto.

Ela me analisou atentamente e saiu da frente da porta.

— Claro, entre, querida. - Me convidou de bom grado.

Ainda estava surpresa por me ver ali.

— Não sei se a Carly vai gostar que você apareça na casa...

— O assunto é com ele, não com ela. Ela não é dona dele, se eu quero conversar com ele pessoalmente, é porque tenho meus motivos. - Olhei ao redor.

Marissa ainda vivia no mesmo apartamento, a decoração não havia mudado quase nada.

Tudo perfeitamente limpo e arrumado.

— É tão sério assim? - Ficou intrigada.

— A senhora nem imagina. - Respirei fundo e suspirei.

— Quer sentar um pouco? Beber algo? Você parece muito agitada, Samantha. - Ela realmente se preocupava?

Ou era tudo um teatrinho? Marissa nunca me suportou.

— Até hoje me pergunto porque a senhora me mandou aquele convite... - Murmurei.

— Perdão? O que disse? - Indagou confusa.

— Por quê mesmo me convidou para o aniversário do Freddie anos atrás? - Cruzei os braços.

— Achei que seria uma boa ideia, ele sentia a sua falta, queria poder reaproximar vocês... Eram tão amigos quando adolescentes e...

— Corta essa, Sra. Benson. Amigos? Sempre fomos como cão e gato. Qualquer um pode engolir essa sua resposta pronta, mas eu não! A senhora me convidou por outro motivo. Por quê não esclarece agora? - Perguntei já farta daquilo.

— Achei que ele largaria a Carly de uma vez por todas e voltaria com você, eu não suportava vê-los juntos... Meu filho não era feliz com ela naquela época. Carly o sufocava muito! Nós não nos damos bem até agora... Temos atritos. Eu amo a minha netinha, mas... Eu simplesmente não consigo me dar bem com a Carly. Ela já fez o Freddie ficar contra mim, inventando mentiras. Passei quase um mês sem visitá-los. Não sei o que aconteceu com aquela mulher, mas ela não é mais a mesma garota gentil e adorável que era minha vizinha. - Desabafou.

Percebi que ela ficou até aliviada. Foi um desabafo e tanto.

— Sinto muito, eu não imaginava que...

— Como poderia saber? Você foi embora. Freddie ficou arrasado. - Sua voz embargou. - Foi então que eu soube que ele te amava... Vocês deveriam estar juntos até hoje. Se eu não fosse tão intrometida, também me sinto culpada por...

— Calma. A culpa não foi sua, Sra. Benson. A culpa foi dele... Deles. - Lembrar daquilo ainda me deixava triste.

Os peguei aos beijos.

— Por favor, vamos deixar isso pra lá? - Respirei fundo. - Eu realmente preciso falar com ele. - Estava com pressa.

Ela assentiu e me deu o endereço da casa dos Benson, anotei no celular e agradeci pela informação.

— Posso te dar um abraço? - Pediu, estava emotiva.

— Sim. Mas antes preciso te contar uma coisa importante... - Ela precisava saber.

Como avó, também tinha o direito.

— O quê, querida? - Segurou minhas mãos.

Naquele momento, eu soube que ela não tinha mais nada contra mim.

Que havia deixado toda a implicância enterrada no passado.

O receio me abateu, ela poderia me detestar após a minha revelação?

— Fui embora naquele dia grávida... Freddie traiu a Carly comigo no aniversário dele... - Contei.

Suas mãos tremeram segurando as minhas.

— Meu Deus! Oh, querida! - Me puxou para um abraço, chorosa.

— É um menino... Sinto muito por ter escondido isto... - Comecei a chorar.

Eu mesma fiz minhas escolhas naquela época.

Mas tudo poderia ter sido diferente.

Nós duas choramos abraçadas.

Ela ficou feliz por saber que era avó de um garotinho.

E por fim, Marissa entendeu porque mantive o Alex em segredo.

[...]

Cheguei ao endereço, era uma casa linda, tinha a cerca baixa e um jardim bem cuidado. Era mesmo a cara da Carly. Uma casa num tom rosado, com a cerca branca. Plantas decorando a varanda.

Era a casa dos Benson. Tão diferente da minha.

Segundo Marissa, Freddie estava de folga.

Na verdade, ele era dono do próprio negócio. Em sociedade com um amigo, montou uma empresa. Eles desenvolviam aplicativos de ponta.

Um nerd é sempre nerd.

A garagem ficava ao lado da casa, foi então que vi o portão levantando.

Alguém estava de saída. Seria ele?

Carly?

Uma bela BMW prata surgiu.

Era mesmo o Benson.

Ele foi parando o automóvel quando me viu ali plantada diante do portãozinho de madeira.

Rapidamente saiu do carro e eu senti meu coração disparar.

O tempo só o deixou mais atraente. Como podia ser possível?

Com as pernas bambas, fui até ele.

— O que diabos faz aqui, Puckett? - Sua pergunta soou rude demais.

Seu topete estava menor, no entanto, bem alinhado.

Usava a barba por fazer. O que o deixava tão sexy.

Engoli em seco, minhas mãos tremiam e eu estava ficando cada vez mais nervosa.

— Anda, tô com pressa! - Se encostou na BMW cruzando os braços.

As mangas da camisa preta estavam dobradas, seus músculos flexionavam.

— Tenho algo para te contar... - Minha voz saiu baixa.

— Estou ouvindo. O que há de errado com você? Pelo menos olhe nos meus olhos, Samantha! - Estava impaciente.

Ergui a cabeça, o encarei.

Não podia deixar o meu nervosismo me derrubar diante dele.

— Voltei para Seattle. E desta vez vim para ficar. O que tenho que te contar é sobre aquela noite... Fui embora grávida... Você têm um filho e ele se chama Alexander. - Revelei de uma vez para não ficar enrolando.

Foi como tirar todo o peso do mundo de cima das minhas costas.

Só Deus sabia como eu me sentia...

— Que diabos de brincadeira é essa, Puckett? - Indagou incrédulo.

Ele até riu na minha cara. Descrente.

Aquilo tudo estava sendo mais complicado do que eu imaginava.

— Você tem todo o direito de vê-lo...

— Espera! Você só pode tá de sacanagem com a minha cara, porra! - Se irritou.

— Não, eu não estou! Fui embora grávida e nunca te contei porque achei que seria melhor, você escolheu ficar com a Carly e...

— COMO PÔDE FAZER ISSO COMIGO, SAMANTHA? - Gritou indignado.

— Calma, Freddie...

— Calma o caralho! É meu filho. Você me privou de conhecê-lo... Você é uma... Uma egoísta de merda! - Estava furioso.

— Mas eu tive os meus motivos! - Retruquei nervosa.

— Puta merda! Como pôde fazer isso? - Ele se virou e se abaixou, apoiando as mãos no carro.

Tremia. Soltou vários palavrões.

Se curvou ali.

— Nunca imaginei... Nunca imaginei que você fosse tão... Droga, Puckett! Vai embora! Eu preciso esfriar a cabeça... Não quero brigar com você... - Sua voz saiu muito rouca e embargada.

— Mas, Freddie...

— Só vai embora! A Carly vai surtar se te pegar aqui! - Evitou me olhar.

— Sinto muito... Se quiser me encontrar, o Gibby vai te informar... - Me afastei depressa.

Chamei um carro por aplicativo. Minha mãe havia me dado o número de um conhecido.

Ao menos contei a verdade e não amarelei.

Freddie precisava saber sobre o nosso filho.

Era o direito dele. Continuar escondendo só seria pior.

Fiz a coisa certa.