P.O.V Do Freddie

Um filho.

Samantha Puckett foi embora carregando no ventre um filho meu.

Como ela foi capaz de fazer isso comigo?

Eu teria largado absolutamente tudo para viver com ela e ao lado dessa criança.

Poderia ter sido tudo diferente, e eu jamais teria feito a burrice de ter casado com a Carly.

Eu podia ter tido uma família feliz com a Sam. Eu deixaria Seattle para ir viver com ela em Los Angeles, eu teria sido um ótimo pai para esse garotinho.

Meu filho... Nosso filho.

Por quê ela tinha que escondê-lo de mim?

Meu maior erro foi ter casado com a Shay. Eu não a amo... Talvez eu nunca tenha a amado... E sebalgum dia a amei, hoje não resta mais nenhum vestígio.

Só não me arrependo mais por causa da minha filha.

Minha princesinha. Meu anjinho precioso.

Ao menos Carly me deu essa felicidade. Quando eu soube que seria pai, foi o dia mais feliz da minha vida. Eu quase pirei de tanta alegria.

Amei a nossa bebê antes mesmo de ver o seu rostinho. E quando a peguei no colo pela primeira vez, simplesmente me apaixonei por nossa garotinha de olhar tão meigo.

Belinda é o meu mundo cor de rosa.

Amo minha filha mais que tudo. É um amor tão grande que não existe palavras para descrevê-lo.

Após Sam ter ido embora porque mandei, chorei de raiva e pura indignação encostado na minha BMW. Perdi anos da vida do meu filho. Ela nos privou de todo o amor paterno que eu teria dado para ele. Sabe Deus o que ela inventou para ele explicando sobre minha ausência.

Eu quis gritar até romper minhas cordas vocais. Senti vontade de socar o meu carro até machucar os meus punhos. Eu só precisava extravazar tudo aquilo... Meu peito doía e quanto mais eu chorava sentindo um misto de emoções, mais dor eu sentia.

Ela não tinha o direito de fazer aquela merda comigo.

Não sei por quanto tempo permaneci ali do lado de fora, ao lado do meu carro, mas quando lembrei que teria que comprar o que Carly havia pedido, eu entrei na BMW e dirigi feito louco sem ao menos colocar a cinto de segurança.

Eu devia estar um caos, com o rosto vermelho e os olhos inchados. Minha garganta se encontrava seca, minhas mãos tremiam.

Fui até a farmácia mais próxima, dei uma checada na lista que minha esposa fez. Nossa filha precisava de fraldas, pomada, lenços umedecidos e um remédio via nasal, passamos uma noite em claro porque Bel chorou a madrugada toda agoniada com coriza.

Ela estava resfriada e enjoadinha até para comer.

Nossa filha acabou de completar 1 ano e 2 meses.

Peguei uma cesta para colocar as compras e verifiquei a lista de novo.

Absorvente com abas. Acetona. Cotonetes. Base para unhas.

Sei muito bem o tipo de absorvente que ela usa. Da mesma forma que sei que Sam só usa sem abas...

Merda! Por quê isso agora?

Sam tinha que voltar para bagunçar meus sentimentos?

Agora não consigo parar de pensar nela e no nosso filho. Quero muito conhecê-lo.

Peguei tudo que estava na lista, fui passar as compras, aproveitei para pegar uma caixinha de Tic Tac e dois Mentos sabor tradicional.

Lembrei que o iogurte da Bel estava acabando. Antes do embalador ensacar minhas compras, fui até o refrigerador que tinha na farmácia, peguei duas garrafas de iogurte sabor morango e uma Coca de 500ml para mim.

Carly não tomava mais refrigerante, seguia uma dieta chata, apenas suco natural.

Paguei com o cartão.

Voltei para casa ainda pensando na notícia que Sam havia me dado.

Ainda parecia surreal... Eu era pai de um garotinho?

[...]

Papa! Papa! Papa! - Belinda bagunçou o meu topete.

— O que foi, meu amor? - Tirei suas mãozinhas do meu cabelo e beijei ambas.

Ela sorriu exibindo os poucos dentinhos.

— Me dá ela aqui, já está na hora do banho. - Carly apareceu na sala com a toalha infantil pendurada no ombro.

A bebê choramingou quando a mãe pegou ela.

Minha esposa era uma boa mãe, cuidadosa, carinhosa e muito dedicada. Também era uma ótima dona de casa, muito esforçada e organizada. Só não era tão boa na cozinha, meu cunhado cozinhava melhor que ela.

Carly foi muito gentil e solidária quando Griffin precisou de ajuda, meu amigo enfrentou uma barra, foi despejado, ficou sem emprego e o acolhemos em casa.

Em nenhum momento minha mulher reclamou. Era meu amigo e abrimos a porta de casa para ele, Griffin ficou quase 5 meses morando com a gente, ainda não tínhamos a Belinda na época.

Quando eu estava na empresa que eu trabalhava, o Peterson fazia companhia para a Carly, eles se tornaram bons amigos e ele até mesmo ajudava ela em casa, consertando algo, aparando a grama do jardim e fazendo algum reparo que eu não tinha tempo de fazer já eu trabalhava muito.

Ele era mesmo bom com trabalho braçal.

Ajudei o nosso amigo a arrumar emprego, ele conseguiu alugar um novo apartamento, e nos agradeceu bastante por todo o suporte e ajuda que demos a ele.

Carly e eu fizemos de coração.

Griffin ganhou uma boa oferta e acabou indo embora de Seattle, nessa época Carly já estava grávida, agora mantemos pouco contato, temos vidas corridas, ele trabalha numa empresa de energia elétrica numa cidade vizinha.

Só apareceu para nos visitar quando Belinda nasceu.

E quando nossa filha completou 1 ano, o Peterson mandou um lindo presente para ela, nossa bebê adora brincar com o grande urso de pelúcia que seu tio Griffin deu.

Uma pena que ele não pôde ser o padrinho da nossa filha.

Foi Spencer e a esposa que batizaram a bebê.

— Você pode ficar com ela? Eu tenho uma hora marcada no salão. - Carly colocou Bel no meu colo.

Ela largou o trabalho para se dedicar a cuidar da casa e de nossa filha.

— Claro. Pode ir tranquila. - Falei.

— Não vou demorar muito. - Me deu um rápido selinho.

— Tchau. - Fiz Bel acenar e a morena nos soprou beijos.

Ela saiu toda arrumada e cheirosa, usando uma blusa nova e uma calça jeans casual, e sandálias de salto.

Seus cabelos estavam curtos e repicados nas pontas.

— Quer ver a Dora, boneca? - Coloquei Bel sentadinha ao meu lado.

Dola! — Bateu palminhas.

Liguei a TV e procurei o canal de desenhos.

Meu celular vibrou em meu bolso.

Peguei o aparelho... Era uma mensagem do Gibson.

"Sam me contou que foi procurar você. E parabéns, papai! Eu não sabia que você era o pai do Alex. Mas o garoto é a tua cara, apenas desconfiei... Só não te ligo porque estou meio ocupado. Mas vou te passar o número dela. Ela pediu esse favor, caso queira entrar em contato."

Gibby enviou o número da Puckett.

"Valeu, cara!"

Foi tudo que consegui digitar.

Salvei o número da loira.

Minha filha se ajeitou deitando no sofá, repousando a cabecinha sobre minhas pernas.

Estava assistindo seu desenho favorito.

Acariciei seus cabelos lisos, eram castanhos.

Ela herdou os olhos da mãe.

Guardei o celular no bolso.

Capotei no sofá.

Será que foi apenas um cochilo?

A TV estava ligada e Bel não estava mais na sala.

Levantei bocejando, ainda atordoado e sonolento, fui procurar minha filha.

— Bel! - Chamei. - BELINDA? - Nem sinal dela.

Ela sempre vinha ao ser chamada. A casa estava silenciosa demais.

A danadinha devia estar aprontando alguma.

— Cadê você, bebê? - Comecei a me preocupar.

Ela não estava na cozinha. Os quartos estavam com as portas fechadas.

Eu corri para a lavanderia.

— Filha! - Senti o forte cheiro de desinfetante.

O chão estava molhado.

E a bebê estava ali no cantinho, caída no chão.

A garrafa de desinfetante estava aberta, o líquido derramado.

Minha filha tomou aquilo...

Olhei para a portinha aberta do armário embutido na pia.

Os produtos de limpeza ficavam ali embaixo trancados.

Por Deus... Eu quis morrer.

Minha mulher iria me matar.

Peguei a Bel no colo. Estava desmaiada.

Exalava puro desinfetante.

Fiquei completamente desesperado.

Abri sua boca, sua respiração estava fraca, vi que sua língua estava ficando sem cor.

Não. Não. Não.

Sacudi o seu corpo mole numa vão tentativa de fazê-la recobrar a consciência.

Eu tinha que levá-la ao pronto-socorro.

Liguei para a Carly.

Eu chorava com nossa filha em meus braços.

Tocou até cair na caixa postal.

Por quê ela não me atende?

Como eu ia conseguir dirigir em pânico?

Eu precisava da Carly.

Ligar para minha mãe estava fora de cogitação.

Só iria fazer ela passar mal. Minha mãe era muito nervosa.

Foi então que... Eu disquei o contato da Sam.

Ela atendeu no terceiro toque.

— Alô? - Ouvi sua voz inconfundível.

— Preciso de ajuda. Tô sozinho em casa com a minha filha... Por um descuido meu, ela tomou desinfetante... Não consigo dirigir até o pronto-socorro...

— Chego em 5 minutos. Ambulância só vai demorar... Tô indo buscar vocês. Só tenta... Droga, já tô indo, Benson! - Desligou na minha cara.

Ela tinha razão... Quando os vizinhos precisaram de uma ambulância, os paramédicos demoraram mais de meia-hora.

Sam não devia estar tão longe, ela chegou tão rápido, eu já aguardava na calçada. Tinha uma bolsa com as coisas da bebê, meus documentos e os dela.

Ela estava de moto. Uma moto novinha.

— Rápido, sobe aí! - Me entregou um capacete. - Chegaremos mais rápido. - Montei na garupa com cuidado.

Bel estava presa no Sling ao meu corpo.

Sam pilotou em alta velocidade pegando um atalho.

No pronto-socorro eu tentaria ligar de novo para a minha esposa.