P.O.V Da Sam

— Mãe, eu realmente tive que me controlar naquele momento. Fiquei com uma imensa vontade de bater na Carly. A cretina ainda colocou a culpa no Freddie, o coitado já estava bastante abalado. Ela não culpou apenas ele, nos acusou de estarmos juntos. - Falei ainda indignada.

— Tentaram ao menos conversar com ela? - Perguntou me ajudando com o jantar.

— Não dá para conversar numa boa com alguém surtando. Ela não quis nos ouvir. Estava nervosa demais. Dei carona para o Benson porque ela o mandou embora dali, Carly queria ver a filha... E como mãe, sei que ela estava completamente desesperada, muito preocupada mesmo. - Expliquei.

— Filha, você não fez nada de errado. - Me entregou as verduras cortadas.

Coloquei tudo na panela com a água fervendo.

— Mas não é o que a Carly pensa. Agora ela sabe que sou mãe também. Fiz questão de contar enquanto jogava umas coisas na cara dela. O Benson pode ser idiota, mas eu não. Acho que ela estava em algum lugar antes de ir para o salão. Ele ligou várias vezes e só caía na caixa postal. - Coloquei sal, remexi e tampei a panela.

— Você acha que ela tem um amante? - Mamãe me olhou, ela também parecia intrigada.

— Se tiver não é problema nosso, né? O que me deixou puta foi ela dando vexame lá no hospital, fazendo o coitado passar vergonha. Ela gritava e me ofendia, eu fiquei na minha, evitando uma briga. A senhora sabe como sou. - Nós duas rimos. - Não sei como o Freddie aguenta ela, até hoje não entendo porque a Carly se tornou esse ser tão insuportável. - Fui até a geladeira.

Íamos fazer uma salada de verduras com molho branco como acompanhamento, peguei a vasilha contendo o frango temperado. Meu filho queria comer frango assado de forno com batata recheada.

— Quando o Benson vai conhecer o Alex? - Pam mudou de assunto.

— Vamos combinar o dia. Ele ainda está abalado com o incidente com a bebê. E também precisa conversar com a Carly antes. Ela não sabe sobre o Alex. Carly com certeza vai me odiar ainda mais. - Coloquei os pedaços de frango na assadeira untada com manteiga.

— Será que ele contou a ela que passou aquela noite com você? - Era uma boa pergunta.

— Não sei, mãe. Talvez sim. - Liguei o forno, mamãe foi ver se as batatas já estavam no ponto.

Continuamos fazendo o jantar enquanto conversávamos.

O jantar ficou pronto em menos de 2 horas.

— Agora lave as mãos. - Pedi para o Alex.

— Tá, mamãe. - Ele foi até à pia.

Terminamos de postar a mesa.

É um garotinho obediente. Mas acabou herdando um pouco do meu gênio, quando se zanga, se torna uma pequena cópia masculina minha quando fica emburrado.

Servi o jantar do meu pequeno.

Alex também herdou o meu apetite. Sempre foi um bebê comilão.

Mamãe sorriu olhando para o neto, Melanie ainda não tem filhos, só está curtindo o maridão por enquanto.

Fomos para o casamento, Alex tinha 4 anos na época.

Minha irmã casou com um australiano. Ela se mudou para a cidade onde conheceu o meu cunhado, Mel se formou em medicina pediátrica.

Só conversamos por chamadas de vídeo e ela sempre manda muitos mimos para o sobrinho. É uma perfeita tia muito babona.

Comemos, meu pequeno raspou o prato.

— Quer ajuda com o dever, filho? - Perguntei.

— Já fiz tudo sozinho, mamãe. - Respondeu lavando as mãos.

Claro que puxou ao pai, Alexander aprendeu a ler com 3 anos.

— Depois dou uma olhada, meu amor. - Observei ele secar as mãozinhas.

— Na idade dele, você mal sabia ler. - Mamãe lembrou.

Alex só tinha 6 anos e sabia a tabuada de multiplicação de cor.

— Ainda bem que ele é inteligente como o Cabeçudo do Benson. - Fiz ela rir.

— Meu pai é cabeçudo, mamãe? - Alex sabia que o pai se chamava Freddie Benson.

E também sabia que tinha uma irmãzinha.

— Não, meu amor, é brincadeira da mamãe... - Fiz esforço pra não rir.

Freddie era cabeçudo sim.

— Agora vamos escovar os dentes e colocar o pijama. - O conduzi para fora da cozinha.

— Quando o meu pai vai me conhecer? A senhora disse que ele não mora longe daqui. - Lembrou quando falei aquilo no avião.

— Seu pai está ocupado...

— Ele não quer me conhecer. Ele tem família. Papai só gosta da família dele... Não minta pra mim, mamãe. - Ficou triste.

— Alexander, olhe pra mim. - Me abaixei.

— A senhora diz que eu também tenho pai igual os coleguinhas, mas nunca vi ele... Mentirosa! - Começou a chorar.

— Filho, não fale assim comigo. Não sou mentirosa...

— É MENTIROSA SIM! - Bateu os pés.

E lá estava o meu pequeno genioso com raiva.

— O que está acontecendo aqui? - Mamãe apareceu na sala.

— Vovó a mamãe mente para mim, eu não tenho pai! - Ele correu para o colo dela chorando.

Levantei frustrada.

— Você tem pai sim, Alex. Ele mora aqui em Seattle. Sam, liga para o Freddie e coloca o menino para falar com ele. - Ela não pediu, ordenou.

— Mãe, o dia foi longo. Ele deve estar deitado... - Eu não queria incomodar o Benson.

Após ela insistir mais uma vez, eu liguei para o Freddie.

Alex estava no colo da avó, fungando e me olhando com aquele olhar choroso.

Começou a tocar, no entanto, acabou caindo na caixa postal.

— Ele não atende, mãe. Desisto. - Falei já frustrada.

— Ele não quer falar comigo... - Meu pequeno esfregou os olhinhos.

— Não é isso, minha vida, seu pai deve estar dormindo. - Tentei explicar.

Alex não quis saber, minha mãe o colocou no chão, ele correu para o quarto dele.

— Vá atrás dele. - Pam estava com pena do pequeno.

— Melhor não, mãe. Vamos deixar ele em paz. - Também estava triste por vê-lo daquele jeito.

[...]

P.O.V Do Freddie

Deixei meu celular carregando e fui tomar banho. Precisava relaxar, liguei para Carly antes de colocar para carregar, queria ter notícias da nossa filha. Minha esposa não me atendeu. Ela estava com raiva, me culpava. Por isso fiquei pior ainda, eu deveria ter sido mais cuidadoso com a nossa filha.

Após o banho, fui esquentar algo para comer. Eu queria avisar para a minha mãe sobre a Bel, porém, achei melhor não preocupá-la. Só iria tirar o sono dela saber que a netinha estava no hospital. Sentei ali mesmo na banqueta da cozinha, comendo na bancada sem realmente sentir o sabor das sobras do almoço.

Lavei a louça, Carly sempre reclamava quando via algo sobre a pia. Assim como a minha mãe, minha esposa zelava pela limpeza da casa, sobre isso minha mãe não tinha do que reclamar.

Fui deitar, estava mesmo muito cansado.

Acordei na manhã seguinte com o celular tocando, era a Carly. Tirei o aparelho da tomada.

— Vamos para casa daqui à pouco, a Bel teve alta, vou dar banho nela agora. - Avisou.

Nunca me senti tão aliviado.

— Vou preparar o café-da-manhã para receber vocês. Que bom, estou feliz por saber que a nossa filha...

— Freddie, já são quase 13h da tarde. Não acredito que ainda está na cama. - Me interrompeu.

Estava tão tarde assim?

Acabei dormindo muito.

— Nos falamos quando eu chegar em casa. Tchau. - Desligou.

Bocejei, eu já ia ligar para o meu sócio quando vi 5 chamadas perdidas da Sam.

Logo me preocupei.

Será que aconteceu algo com o nosso filho?

Retornei suas ligações.

— Oi, Benson. - Só de ouvir sua voz, eu já ficava atento e até mesmo arrepiado.

— Me ligou ontem à noite. Agora que vi. Está tudo bem? - Perguntei.

— Liguei sim. É que o Alex queria falar com você. Ele queria confirmar sobre a sua existência, teimou comigo e como você não atendeu, o pobrezinho foi dormir chateado achando que sou uma mentirosa. - Contou.

— Meu Deus... Tadinho. Posso conversar com ele agora? - Fiquei ansioso.

Queria poder ouvir a voz do meu filho.

— Agora não. Ele saiu com a minha mãe. Foram ao mercado. - Explicou. - E como está a bebê? Teve notícias dela? - Sam se importava.

— Carly ligou, nossa filha já teve alta. Elas vão chegar à qualquer momento. - Respondi.

— Graças a Deus. Eu estava preocupada com a neném. - Meu coração se aquecia só de ouví-la dizendo aquilo.

— Quando Carly estiver mais calma, irei conversar com ela. Contarei sobre o Alex. - Falei.

— Ela com certeza vai surtar...

— Ela sabe que eu passei a noite com você no meu aniversário. E perdoou a minha traição. Não se preocupe enquanto a isso, ela vai ter que compreender. É meu filho e eu quero ser próximo dele. - Eu disse decidido.

— Ok, como quiser... - Concordou.

— Se der, mais tarde podemos combinar algo. Posso levar o Alex para tomar sorvete? - Perguntei.

— Poder, você até pode, mas acontece que eu acho melhor você passar a tarde com a sua família. Sua esposa e filha precisam de você. - Ela tinha razão.

— Mas e o Alex? Você disse que ele foi dormir chateado e...

— É sério, não se preocupe com isso. Fique com a sua família hoje. Você pode levar ele para tomar sorvete outro dia. - Sam estava sendo compreensível demais.

— Está bem. - Acabei concordando.

— Vou me ocupar agora... - Nos despedimos e encerramos a ligação.

[...]

— Minha princesinha. - Peguei Belinda no colo.

Ela estava tão quietinha, abraçou meu pescoço.

— Não aperta ela, o médico falou que ela sentirá náuseas e azia pelos próximos dias. - Ela colocou o remédio de gotinhas na água dentro de um copo plástico.

Meu coração se apertou dolorosamente, ainda bem que o pior havia passado.

— Vem aqui, meu amor, toma um pouco de água. - Carly fez nossa filha tomar o remédio. - Mais tarde teremos uma conversa séria sobre aquela mulher... - Avisou.

— Aquela mulher tem nome, Carly. Se chama Sam. - Falei sério.

— A Samantha voltou assim do nada? Daí encontro vocês juntinhos no hospital, eu não sou otária, Freddie! - Pegou a Bel.

— Ela fechou negócio com o Gibson. São sócios agora. Sam voltou para Seattle para ficar. - Não menti.

— E ela ainda tem um filho? Logo ela que nunca gostou de crianças? Parece até piada... Só tenho pena desse menino. A Puckett nem...

— As pessoas mudam. Qual o problema dela ser mãe? Além do mais não é da sua conta. Se a Sam voltou, não é problema seu. Como te falei, ela fechou negócio com o Gibby. A Puckett me ajudou a levar a nossa filha para o hospital. - A lembrei.

— E desde quando você tem o número dela? - Estava desconfiada.

— Você não ia colocar a Bel para dormir? - Percebi que a bebê estava sonolenta.

— Não mude de assunto. - Seu olhar foi duro.

— Primeiro coloque a nossa filha no berço, depois conversamos com calma. - Sugeri.

— Você fica defendendo aquela mulher e agora está aí todo estranho. - Acusou.

— É porque você precisa saber de uma coisa... E tem a ver com a Sam. Sou o pai do filho dela. - Contei.

Uma hora ela iria saber mesmo.

— O quê? - Me encarou chocada.

— Ela engravidou naquela noite...

— Me poupe dos detalhes. Foi por isso que a cretina voltou? Veio esfregar na minha cara que tem um filho com você? Era só o que me faltava! - Ficou irritada.

— Não é nada disso. Agora você só pensa o pior das pessoas? - Fiquei descrente.

— Só vou logo deixar bem claro pra você. Eu não quero esse menino na nossa casa! - Carly estava mesmo furiosa.

— Tá legal, que seja. Eu também não quero o meu filho perto de você! - Rebati.

Ela foi colocar a Bel no berço. E não tocamos mais no assunto.