Novamente ele chorava por não querer ir, mas ter. Novamente ele passaria por aquela situação mesquinha e ridícula, se sentindo impotente e incapaz de continuar lutando. Talvez não em Las Vegas, mas isso só seria descoberto com o tempo. Suas forças tinham se esgotado completamente. Ao chegar ao aeroporto, um desespero lhe bateu e a vontade de permanecer com seus amigos na cidade da jogatina lhe invadiu de uma forma que ele quase não pôde controlar; porém ele sabia que se não fosse agora, não tiraria o outro da cabeça e não se fortificaria.

Spencer Smith apressou-se e comprou a passagem para o amigo. Comprou porque sabia que ele ia precisar daquele dinheiro para se manter, porque Brendon não teria ninguém por si naquele lugar. Não teria ninguém mesmo que lhe oferecesse a mão. Ia ser completamente sozinho e começar do nada. Brendon abriu a boca para recusar aquele dinheiro, mas Spencer passou na frente e disse:

- Vai precisar das suas economias para sobreviver, Brendon. – E entregou o pedaço de papel.

- Obrigado. – Sorriu, segurando o que lhe foi entregue. – Eu não sei o que seria da minha vida sem sua amizade.

Spencer e Jonathan permaneceram com Brendon até o vôo sair e levá-lo a cidade que era vizinha ao povoado de onde Brendon – supostamente – nunca deveria ter saído. Quando essa hora chegou, Urie abraçou Spencer e sem nenhuma palavra se despediu. Tinha uma fila relativamente grande no portão de embarque, então, Jon ficou parado na fila com o maior e disse:

- Só não te levo lá porque eu preciso cuidar do Spencer. – Suspirou, entregando ao maior um copo de café da Starbucks. – Spence nunca foi bom com perdas e despedidas.

- Spenny é um cara forte. Sabe bem como enfrentar os problemas. – Forçou o sorriso, mesmo estando murmurando. Desviou seu olhar para o loiro que continuava a focar seus olhos ao chão. Estava frágil e estava transparecendo isso.

- Ele não é um garoto tão forte quanto aparenta. – Suspirou – Um hora ele desaba e precisa de alguém para suportar tudo ao seu lado.

E se calaram por um momento. Eles viraram-se para frente e esperaram. A fila estava mesmo lerda e o papo parecia não querer render. Brendon prendia o grosso lábio, queria perguntar, mas lhe faltava coragem. Jon tomava o seu descafeinado com os pensamentos longe dali, pensava em como ia ajudar Spencer Smith a se recuperar da perda do amigo. Aquele povoado era um lugar de difícil acesso. Celulares não pegavam bem e internet ou telefone fixo eram lentos ou/e fora de área. Era aquilo, para nunca mais.

- Jon... – Boyd pôs a mão no ombro dele – O que você faria se estivesse em meu lugar?

- Se acontecesse tudo o que aconteceu com vocês, comigo, eu iria embora. – Falou de forma sábia e Brendon assentiu. – Só que eu estaria por perto para quando ele quisesse me ouvir.

Antes que Brendon pudesse responder, a comissária jovem e ruiva pediu a Brendon sua passagem. Sorrindo de forma forçada ele a entregou e foi então que Spencer se aproximou para a despedida final. De perto, pôde ver o quanto ele estava chateado pelo garoto ir embora, o quanto não lidava bem com perdas.

- Não chora, Spenny. – Disse, acariciando com cuidado o rosto do amigo, o melhor que ele poderia querer por perto e estava perdendo. Seu coração se despedaçava em vários pedaços ao vê-lo naquele estado lamentável. – Eu amo você e jamais vou esquecer nenhuma das coisas incríveis que fez por mim quando eu mais precisei.

- Não precisa agradecer. – Sorriu forçado e Jonathan sorriu também ao ver aquela cena. Brendon continuava com as duas mãos no rosto de Spencer, o segurando com certa firmeza. Aquela troca de olhares intensos deixou Jonathan um pouco preocupado, porque Spencer conhecia aquilo, mas não falou absolutamente nada. – Um dia eu vou ver todo o meu dinheiro investido em você render, Brenny. Vou ouvir falar do pequeno grande Brenny Bear.

E se abraçaram por uns minutos. Brendon erguia infantilmente os pés nesse feito e Spencer escondia o rosto triste na curva de seu pescoço. Brendon murmurou, quase de forma inaudível, no ouvido de Spencer algo que ele jamais esqueceria. Primeiro um pedido ‘Não me esqueça, loirinho.’ E a segunda coisa era ‘conte ao Jon. Ele merece saber de tudo.’, Brendon nunca tinha sido tão sábio quanto naquele dia.

Deixou um beijo no topo da cabeça de Jonathan ao se soltar de Smith e seguiu pelo longo e escuro portão de embarque. Enquanto andava, fez nas mãos uma forma de coração e isso emocionou os três. O fim da linha para Brendon. De volta de onde jamais deveria ter saído.