Hurt You

Capítulo 1 - Três anos antes...


Capítulo 01 – TRÊS ANOS ANTES...

Las Vegas. O céu estava nublado, a noite estava muito chuvosa e tudo estava completamente triste. Brendon estava triste, porque apesar de tudo naquele povoado de onde ele veio ser pequeno, sem graça e chato, lá era o único lugar que estava a pessoa mais importante de sua vida.

Spencer segurava com cuidado a mão de Brendon que parecia uma criança pela grande e imponente Las Vegas. Brendon nunca tinha visto uma cidade tão grande, tão cheia de gente aonde ninguém se importava com a vida de ninguém. E a segunda parte era o que mais lhe atraía – além claro, das luzes, das músicas altas e da libertinagem que tinha pelas ruas onde passavam – até que Brendon e Spencer, juntos, com as mãos dadas chegaram ao carro de Jon. Entraram no mesmo e Jonathan conduziu até onde Brendon iria morar.

Jonathan parou o carro em frente a um condomínio fechado. Pediu para o porteiro interfonar para quem ia cuidar dele até conseguir um lugar decente – porque ia ser muito difícil Urie começar morando na própria cobertura de um condomínio de prédios luxuosos – como a pessoa que ia lhe dar abrigo. Brendon ainda encarava os prédios com certo deslumbre e o porteiro deixou os meninos entrar, porque o dono da casa era muito amigo deles. Dos três, apesar da falta de contato com Brendon, eram amigos por isso ele ia receber e cuidar dele.

Tocaram a campainha do número indicado no papel que Brendon segurava e ele saiu. Os colocou para dentro de sua incrível cobertura. Urie ainda olhava tudo pasmo. Las Vegas era grande. Seu amigo de infância era bem rico e vivia em um local muito bem posicionado na cidade. Brendon parecia querer memorizar cada detalhe da decoração da sala de Ryan Ross, o homem que lhe abrira as portas para ajudá-lo. Boas ações, às vezes, faziam parte da vida do psicólogo.

- Brendon! – Ryan o abraçou, saudoso. Havia tanto tempo que não se viam que quase não se reconheceram. – Quanto tempo, caralho.

- Eu não sabia que você era tão rico assim. – Ryan apenas riu, baixinho acompanhado dos outros dois. Eles se sentaram e começaram a conversar. Brendon ainda tinha o olhar ferido, mas mesmo assim, ria das tolices ditas pelos três.

Demorou uma hora inteira para deixarem Brendon e Ryan completamente sozinhos. Brendon deu pequenos suspiros ao perceber o silêncio entre ele e o psicólogo. Eles tinham bastante afinidade, mas o tempo sem se ver tinha separado bastante os dois.

- Brendon... Quer comer alguma coisa? - Perguntou, apontando a direção da cozinha e não que tivesse muita coisa saudável por lá, mas comida sempre é guardada na cozinha e acaba tornando-se hábito.– Você não comeu nada desde que chegou aqui.

- Não tenho fome. – Brendon respondeu, sorrindo triste. – Obrigado pela hospitalidade.

- Tudo bem. – Sorriu pequeno e se levantou do sofá. – Acho que eu vou dormir. Amanhã Jully chega de Nova Iorque e eu tenho que estar, no mínimo, apresentável.

- Jully? – Brendon perguntou e Ry estendeu a mão até aparador ao lado do sofá. Um móvel feito de pura madeira que chegava a reluzir de tão bem cuidado. – Eu não quero atrapalhar, Ryan. – O maior entregou ao outro o porta-retrato e sorriu, ternamente.

- Não vai. É só não se incomodar com os gemidos de Jully amanhã e estamos combinados.

- Ainda não me respondeu. – Murmurou Brendon, encarando a foto do porta-retrato; uma loira, alta, com um corpo bastante atraente. Mordeu o lábio ao encarar o quadro, notando que seus dedos tocavam os olhos do dono da casa. Eles se beijavam na foto. – Sua namorada?

- É.– Assentiu – Minha garota e uma das melhores amigas do Spencer.

Depois de falar aquilo, ambos se calaram. Brendon encarava a foto e depois Ryan até que o último tomou para si o quadro e o pôs no lugar. Ambos queriam falar, mas a voz não saía de jeito nenhum. Eles já tinham vivido muita coisa juntos. Os quatro: Spencer, Jon, Ryan e Brendon. Sonhos que foram desfeitos cada qual com sua história, mas todos juntos.

- Eu... Acho que é melhor eu ir dormir. – Ryan disse, indo até mais próximo de Brendon. – Quando quiser dormir, é só ir naquela porta ali. Fique a vontade, okay? Caso fique com fome, tem uma Starbucks do outro lado da rua...

- Starbucks? – Perguntou com os olhos completamente voltados para a porta castanha que Ross apontava. O último deu um tapinha divertido em sua testa e sorriu para o menor, abrindo apenas um dos olhos.

- Ah, desculpe, Brendon. – Falou o maior – Eu sou tão acostumado com Las Vegas que esqueço que no povoado não tem Starbucks.

O menor apenas deu os ombros, voltando seu olhar que ainda estava fixo na porta para o maior que o chamou com uma das mãos. Levantou-se a contra-gosto e foi ver o que Ryan tinha a lhe mostrar. Manteve suas mãos dentro dos bolsos do jeans e seguiu até a grande janela da cobertura;

- Ta vendo aquele lugar cheio de carros e com um enorme copo de café no teto? – Brendon assentiu, ajeitando os óculos vermelhos em seu rosto – Ótimo. Aquela é a Starbucks, Brendon.

- Você não tem comida em casa? – O menor perguntou, encarando a loja que Ryan apontava e em seguida voltou seus olhos para o luxuoso apartamento – É que eu ainda tenho medo de me perder aqui ainda.

- C’mon. – Ryan rolou os olhos – É do outro lado da rua, Brendon. Não dá pra se perder. E com o corre-corre que é minha vida normalmente, não tenho tempo nem para vir para casa comer.

- Sério? O que você faz, Ryro? – Arriscou chamá-lo pelo apelido de criança. Ryan chegou a sentir o coração parar quando ouviu aquele apelido de novo. Era completamente estranho e nostálgico. Chegava a ser patético e deprimente sentir aquilo, mas não conseguia fazer mais que se repreender mentalmente por trazer a tona essas lembranças.

- Sou psicólogo e estou pós-graduando em Psicanálise. –Deu de ombros – Quando eu não estou no consultório, estou em alguma biblioteca.

- Posso falar o que eu acho disso? – Brendon arqueou a sobrancelha, com receio de depois daquela resposta, viesse uma repreensão mais tensa ou qualquer coisa do tipo. O maior por sua vez apenas assentiu. – Acho que você precisa de um pouco de diversão sem compromisso. Diversão sem a Jully.

- E eu achando que você era um tímido provinciano. – Ross riu baixinho, girando os olhos. – De que tipo de diversão estamos falando?

- Vá dormir, Ross. – Ordenou, rindo baixinho para deixar claro que estava brincando. Era uma questão de tempo para Brendon e Ryan entrarem na sintonia ideal. As brincadeiras voltariam, os abraços, o apoio. Era questão de tempo para tudo voltar ao normal. – Sua namorada chega amanhã e você tem que estar apresentável para ela.

- HAHA, muito engraçado. – Girou os olhos e deu um beijo no topo da cabeça do outro, de uma forma carinhosa e protetora. – Pode ligar a TV se quiser. É a cabo, mas ninguém realmente pára para ver. Até amanhã, Brendon e... Divirta-se.

- Boa noite, Ryan. – Sorriu, doce – Até amanhã e... Obrigado.

Ryan Ross apenas deu de ombros e se retirou. Desacreditado que o maior não tinha mesmo comida em casa - e depois de ligar a TV e passar seu pacote inteiro, parando na HBO para assistir Entourage -, Brendon foi à cozinha. Ele estava completamente desacostumado com a vida corrida que Ryan vivia, abriu a geladeira e não encontrou nada de saudável ou comível ali. Só tinha: cervejas, verduras completamente murchas – que fizeram o menor soltar um ‘blerg, que nojo’ -, comida chinesa pela metade, pães embolorados e frango xadrez de longa data.

Sem muitas opções, Urie pegou uma cerveja e foi aos armários. Descobriu os milhares de macarrões instantâneos e coisas solúveis – como café, chá e leite. Ficou feliz quando achou marshmallows. Desistiu da cerveja, a voltando para a geladeira e derreteu bastante marshmallows no microondas enquanto esquentava água para seu café. Adorava fazer aquilo porque lhe lembrava boas coisas que passara no povoado com uma [i]certa pessoa[/i] que não ia esquecer tão cedo. Ele não tinha motivos suficientes para isso, não ainda.

Assistiu o episódio do seriado com atenção, enquanto brincava com o doce derretido em seus grossos e macios lábios. Quando o episódio acabou, decidiu ir para a cama, já que Vincent Chase tinha mesmo caído numa fossa amorosa por causa da Mandy Moore de novo. A mesma fossa de cinco anos atrás por ela, na série. Desligou a TV e foi para seu quarto.

Organizou-o na medida do possível, após decorar cada cantinho da decoração: tinha uma pequena suíte no canto esquerdo do quarto, com uma porta pintada de branco contrastando bem com a parede em gelo. A cama era Box de solteiro, coberta com um edredom macio de coloração avermelhada e listras azuladas; havia também uma pequena escrivaninha, um guarda-roupa também pequeno e dois criados-mudos castanhos ao lado da cama. Em cima de um deles, um abajur. Sorriu para si mesmo quando percebeu que aquele quarto tinha muito dele. Colocou o café com a vasilha com o doce em cima do criado-mudo e se afundou na cama.

Meia hora depois, Ryan acordou por causa dos soluços e pequenos gemidinhos falhos vindos do quarto que Bden estava ocupando. Colocou seu roupão em seda azul com pequenas bolinhas pretas e foi ao quarto do menor. Não estava gostando nada daqueles barulhos, porque Brendon era importante em sua vida, por mais que ele negasse às vezes.

Segurou a maçaneta da porta e empurrou a mesma bem lentamente, chegando a achar que estava sendo muito lerdo ou a porta estava pesada demais e a segunda opção soara-lhe mais plausível. Encontrou Urie encolhido, coberto até a cabeça e os soluços vinham dele, agora um pouco mais altos. Sentiu um aperto no peito ao ouvir e ter certeza absoluta de que Brendon não estava em Las Vegas porque queria e aquilo lhe fez ter uma nostalgia tremenda. E doeu. Começou a perceber que dar abrigo a Brendon não era uma coisa muito boa a ser feita.

- Brendon... – Chamou tão baixinho que o menor não lhe ouviu. Suspirou resignado e mordeu o lábio fino. – Eu não sei o que há contigo, pouco me importa se não quiser me contar, mas pára de chorar, poxa. Isso passa.

Em resposta, Brendon apenas se mexeu e deu uma resmungadinha duvidosa. As coisas que ele sentia naquele momento não o deixariam tão cedo, a dor, o medo, mas Ryan estava certo. Passaria. Receoso, Ryan pôs as mãos nos cabelos do menor e começou a afagar-lhe o local. Com cuidado e medo. Inclinou-se até o menor e começou a cantar murmurando:

- Hey, Jude, don’t make bad, take a sad song and make it better. Remember to let her into your heart, than you can start to make it better

Brendon sentiu as lágrimas quentes caírem, mas agora se faziam em silêncio profundo. Deitou sua cabeça no colo magro do maior e escondeu o rosto no abdome dele. Silêncio. Em silêncio absoluto e a música murmurada dos lábios finos de Ryan Ross.

- Hey, Jude, don’t be afraid. You were made to go out and get her. The minute your let her under your skin, then to begin to make it better.

Eram apenas murmúrios fora do ritmo. Uma música completamente especial para Ryan Ross. Desde muito pequeno ele aprendeu a amar as letras de Lennon. Seu pai era um grande fã. Conhecia todas as letras de cor assim como o pequeno Ryan que tinha aprendido tudo para agradar o pai psicólogo que trabalhava em Las Vegas e só voltava ao povoado para vê-lo duas vezes por mês.

Todas as vezes que o pai de Ryan tinha que ir, ele o fazia dormir cantando a música ‘Hey, Jude’. Porque amanhã sempre era um novo dia e as coisas sempre pareciam melhores. Foi para esquecer as coisas que passava – a falta do amor do Brendon, a falta de compreensão de si mesmo com aquele sentimento novo, a sua falta de direito de tomá-lo do namorado que amava -, que Ryan Ross deixou o povoado e veio viver com seu pai em Las Vegas. E foi nessa cidade que Ryan fez fortuna junto com seu pai.

- And don’t you know that is just you? Hey, Jude, you’ll do. The movement is on your shoulder.

- Na, na… Na, na, na, na, na… Hey, Jude.– Brendon cantarolou baixinho que sequer Ryan podia ouvir, porém os lábios grossos e sedosos de Brendon estavam muito próximos ao pijama azul de bolinhas pretas de Ryan. – Obrigado, Ryro. Não sabe o quanto é importante pra mim saber que alguém me apóia e está comigo e que me ama acima de tudo.

- Ainda somos amigos, Brendon. – Falou bem baixinho, mesmo que aquilo já estivesse muito óbvio no momento. Brendon Urie olhou os olhos esverdeados de Ryan Ross e sorriu de leve. – É impossível não amar um amigo como você.

E os olhos de Brendon começaram a se fechar e Brendon foi dormindo graças à carícia preguiçosa que Ryan deixava em seus cabelos escuros. Ross novamente cantou outra música dos Beatles, totalmente curvado aos ouvidos do menor. Ryan fazia aquilo como se quisesse proteger Brendon de qualquer mal com sua melodia.

Ambos dormiram daquela forma: Ryan sentado na cama, com as mãos sobre o cabelo do menor, enroscadas e completamente paradas, e Brendon com o rosto escondido no abdome quentinho, seguro e magro do outro. Sem medo, só um protegendo o outro de perigos inexistentes até o momento.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.