Vincent não me fez apenas adormecer,ele me colocou num estado de hibernação praticamente, num sono tão profundo que dormi a viagem toda.

Saí dessa dormência quando Vincent me acordou, como se nada tivesse acontecido, dizendo que estávamos quase chegando. Ao me sentar, me senti tonta e fraca, levei uns minutos até que conseguisse mexer a cabeça sem que tudo parecesse rodar. A minha barriga doía tanto que parecia que me fez perceber que eu nunca realmente soube o que era passar fome.

-Desculpe por te fazer dormir a viagem toda – Vincent pediu se sentando do meu lado.

-Vincent – comecei, mas ele me atrapalhou.

-Mas eu não poderia ficar pegando comida de humano, então foi o único jeito de te fazer sobreviver todo esse tempo sem comida – ele explicou –queria falar algo?

-Queria, obrigada por me deixar – ironizei rolando os olhos – Vincent – eu parei por um tempo. O que exatamente tenho de perguntar? E como iria falar? Oh! Sim, já sei – porque voc~e me beijou?

Antes que eu terminasse de falar três batidas fortes e ritmadas na porta indicaram que já chegamos e era hora de desembarcar.

-Outra hora – ele falou me lançando um sorriso sacana e fez um sinal com a cabeça indicando a porta.

Levantei-me e arrumei minha roupa que estava amarrotada, fui até a porta e a abri.

Enquanto ele saía lancei-lhe um olhar que deixava claro que eu não ia desistir sem obter uma resposta e saí andando logo atrás dele.

Descemos no porto e Vincent se despediu de Julian. Já era finald e tarde e estava anoitecendo. Mal chegamos na rua e um gol vermelho de vidros escuros parou na nossa frente.

Olhei para Vincent e ele piscou os olhos dizendo que era seguro, abri a porta de trás para ele e a fechei, entrei na porta da frente e me sentei do lado de um dos gêmeos que, assim que eu fechei a porta, enquanto fazia o carro andar me passou um lanche tamanho gigante e apontou para uma coca média que estava encaixada no porta copos a frente do câmbio.

-Obrigada – agradeci e comecei a comer com gosto, como eu estava com fome. E por maior que o lanche fosse terminei logo e ainda estava com fome.

-Roy, vamos para Madrid – Vincent ordenou – Lisboa é território do meu irmão – ele me explicou quando lancei-lhe um olhar interrogativo. Roy, com apenas um aceno afirmativo com a cabeça pegou o caminho que levava a Madrid.

-Não vamos parar nem para comer? – perguntei depois de tomar um bom gole de coca – ou você espera que só aquele lanchinho me sustente?

-Roy, daqui duas horas entre na cidade mais próxima e entre no primeiro drive-thru que achar.

-Vincent!

-Belle, não podemos ficar muito tempo em território do meu irmão. E Portugal é praticamente inteiro dele.

-Por que é um problema tão grande? Eu morri mesmo –dei de ombros e ouvi minha barriga roncar.

-Acontece que, se tem alguém que pode não ter caído nesse golpe, este alguém é meu irmão – ele explicou irritado-pode não parecer, mas ele é inconvenientemente inteligente – ele parou por alguns segundos e eu pude praticamente ouvir os pensamentos se formando na mente dele – algumas vezes, pelo menos.

-Duas palavras – eu me virei para o encarar melhor – terapia familiar.

-Para quem?

-A sua família inteira – eu peguei a coca e terminei de bebê-la, colocando o copo novamente no porta copos.

-Belle, depois de se vingar o que você vai fazer?

Essa pergunta me pegou desprevenida, eu não tinha pensado seriamente nisso, até agora. Só pensei em três planos bons para realizar minha vingança – eu acho que vou morar commeus avós.

-Você tem noção que você pode acabar sendo caçada tanto por vampiros quanto por caçadores? – ele parou e me encarou – a menos que você saiba muito bem disso e já tenha algo em mente.

-Claro que tenho – dei um sorriso de lado- planos existem para quê? – deixei esse sorriso com um ar mais misterioso antes de começar a rir – mas nenhum de meus planos envolvem o que vou fazer depois que eu acabar com o Conselho.

Ele riu junto comigo – tem um plano, você não era adepta do “Faça primeiro, pense depois”? – lançou-me seu sorriso cínico favorito.

-Acontece, que comecei a aprender que para se dar verdadeiramente bem tem de ser adepto do “planeje antes, faça tudo direito até o final e irrite seus companheiros antes, durante e depois” – retruquei devo0lvendo o sorriso.

Ele começou a rir – essa foi muito boa – me deu uma piscadela – vamos considerar a vitória dessa discussão sua, o que acha?

-Ótimo.

-Mas e quanto esse seu plano? – eu pude ver que eles estava muito curioso.

-Calma, mais para frente lhe contarei, fique sabendo apenas que se der certo eu poderei até voltar para a Associação.