Hunt Angels

Capítulo 04 - O Arcanjo Caído


O Loft de Naomi era um pouco grande de mais para uma pessoa só. Tinha um mezanino pintado de branco com divisórias de vidro, abaixo ficavam a cozinha e sala, os móveis tinham uma aparência realmente cara. As escadas também eram de vidro, um terror para pessoas com acrofobia, o corrimão de aço inoxidável refletia todo o ambiente de forma destorcida. No mezanino ficava a suíte.

Naomi entrou e se dirigiu para a cozinha, os longos cabelos ruivos balançavam nas costas, ela gesticulou para o sofá de aparência extremamente cara.

- Sentem, podem ficar a vontade. Querem alguma coisa pra beber?

Lilith se largou no sofá, afundando; as perninhas curtas balançando no ar.

- Uau! Você mora aqui? Ah, eu quero qualquer coisa gelada.

A ruiva balançou a cabeça afirmativamente, e olhou para um Ryuki ainda parado na porta, boquiaberto

- E você quer alguma coisa, primo? - O garoto se engasgou antes de falar, com a voz rouca

- Você mora aqui?

- Já disse que sim.

- AQUI? - Ele elevou a voz, apontando para o chão, abismado.

- Ser a clinica geral de um hospital é um bom negócio, sabia? - Ela disse com um suspiro - Pare de fazer cena e se senta aí. Vai querer alguma coisa?

Agora era Ryuki que parecia um mongol, olhava para todos os cantos com o queixo quase arrastando no chão.

- A-água.

Naomi foi para a cozinha, dava para vê-la claramente no lugar sem paredes. Ryuki e Lilith admiravam o lugar, ele ainda estava atordoado, enquanto ela observava tudo com um sorriso no rosto, encantada. As perninhas ainda balançavam infantilmente, Naomi voltou com uma bandeja com três taças de sorvete e um copo de água. Ryuki estendeu o braço e pegou a água antes que ela pousasse a bandeja na mesa, bebendo tudo num gole só.

- O que é isso? - perguntou Lilith pegando uma das taças ente as mãos.

- Sorvete. Prove, você vai gostar, tenho certeza. - a garotinha inclinou a cabeça e olhou para a coisa branca disforme, desconfiada. - É gelado, e doce. - acrescentou.

- É doce… ? - A garotinha mordeu a bola de sorvete, expondo presas afiadas e brilhantes, ignorando a colher - Ei, isso é bom! É super gelado e é gostoso! E é doce!

Naomi apenas sorriu provando do próprio sorvete, usando a colher. Ryuki também pegou uma taça.

- O que você tinha de tão importante pra contar, que só poderia falar aqui, mas que pode esperar por um lanchinho? - Ele perguntou, quando acabou de tomar o doce gelado.

- Não é tão importante, quer disser, depende do ponto de vista, se …

- Tem mais? - Lilith interrompeu, estendendo a taça vazia na direção de Naomi, as roupas e o rosto todo sujo de sorvete.

- Vou pegar - ela respondeu se levantando e indo em direção a geladeira.

Ryuki revirou os olhos na direção da pequena Shinigami e pegou um guardanapo que estava na bandeja.

- Pô, Lilith você ta toda suja - disse, começando a limpar o rosto dela com o guardanapo. - Na próxima vez usa uma colher.

- Colher?

- Sim, isso. - Ele pegou a colher na bandeja, a que ela deveria ter usado, e balançou no ar. Como ela o olhou com uma expressão que dizia claramente: Como diabos se usa isso? Ele começou a fazer gestos no ar, como se pegasse alguma coisa no vento com a colher e jogasse na boca. - assim, entendeu?

Naomi apareceu com um pote de sorvete e o deu destampado para Lilith, ela pegou a colher da mão de Ryuki e começou a comer como ele lhe ensinara.

- Assim? - perguntou com a boca cheia de sorvete

- É, mas não adianta, você vai precisar de uma blusa nova…

Naomi pigarreou.

- Como eu ia falando, é importante…

- Você disse que não era importante. - interrompeu o garoto.

- Só escuta, ta? Depois você decide se é importante ou não... - Ela suspirou - Um anjo caiu.

- Anjos caem. É normal, ser um anjo é um saco, não é a toa que eles desistam aos montes…

- Eu falei pra só escutar! Não foi um anjo qualquer que caiu, foi um arcanjo.

Lilith parou de comer e começou a escutar.

- Arcanjos não caem - disse, séria.

Quando ela falava assim, Ryuki não conseguia enxergá-la como uma criança, mesmo que estivesse toda suja de sorvete.

- Foi o que eu ouvi, um arcanjo se rebelou e caiu. E boatos surgiram…

- Que boatos? - perguntaram juntos.

- Será que dá pra me deixar falar? - Os dois se calaram e a ficaram observando, atentos - Os boatos dizem que o arcanjo caiu aqui, no Japão. Talvez alguém tenha sentido o cheiro…

- Anjos caídos não cheiram como anjos - Ela Interrompeu mais uma vez, não conseguia ficar calada.

- Mas que droga! Vocês vão me deixar falar ou não? - Naomi se exasperou, jogando as mãos para o alto.

Ryuki tampou a boca de Lilith com a mão direita, sentia o gelado do sorvete mas não se importou

- Fale - disse. Puxando com a mão livre a cabeça dela escorando-a no seu ombro, ela o olhou feio mas não resistiu.

- O que importa é que um arcanjo caiu no Japão.

Ryuki resistiu ao impulso de disser "Você já disse isso". Lilith resmungou alguma coisa initendivel, as palavras abafadas pela mão dele. Naomi ignorou o resmungo e continuou:

- O interessante é que todos estão procurando por ele: Lúcifer e os Anjos. - ela fez uma pausa dramática. Ryuki mordeu a língua para não falar nada. Olhou para baixo e percebeu que a Pequena Shinigami estava petrificada, prestando renovada atenção pela menção do nome do irmão. - O que eu ouvi foi que vão perdoar aquele que encontrar o arcanjo, o banimento acabará e o demônio poderá voltar pra a Hell. Mas ninguém tem a menor pista. O Japão pode ser um lugar pequeno, mas é um arcanjo, e está bem escondido. Também deve ser poderoso, já que a Heaven o quer de volta e Lúcifer o deseja vivo. E quando eu fui para o hospital ontem de manhã senti uma presença angelical, durou menos de um segundo mas foi uma presença forte. Não acham que é muita coincidência?

A mão de Ryuki havia escorregado da boca de Lilith, mas a cabeça dela ainda estava escorada no seu ombro, ela disse:

- Não acredito em coincidências.

- Quer saber? Nem eu. - Disse Naomi.

- O que estamos fazendo aqui? - Ela desescorou a cabeça do ombro do garoto e se levantou - Alguém precisa pegar esse arcanjo antes dos anjos do Heaven.

- Lilith, não se empolgue. Lúcifer o quer vivo. - Ryuki falou, a voz seca, sem emoção.

Ela riu.

- Tanto faz, não ligo para os planos idiotas do meu irmão. Se eu pegar aquele maldito arcanjo, saio desse maldito lugar.

- Mesmo assim, para sair daqui o anjo precisa estar vivo.

- Que seja. Vamos - ela se virou e já ia dar a volta no sofá em direção a porta quando Naomi falou:

- Espera aí. O lugar onde eu senti o anjo era um instituto, um colégio. Se ele está realmente se escondendo entre os humanos e frequentando a escola você só vai encontrá-lo amanha de manha. No horário das aulas.

Ela se virou novamente, confusa.

- O que?

Ryuki se levantou e pousou a mão no topo da cabeça de Lilith, ela olhou para ele.

- Se acalme, Lilith. Nós precisamos de um plano. É um arcanjo, e deve ser forte. Vamos lá amanhã de manhã, não se preocupe.

- Como assim um plano?

- Precisamos investigar, entrar lá como humanos para não levantar suspeitas e pegar o arcanjo desprevenido.

- Não é tão fácil entrar numa escola - Naomi disse também se levantando.

Eles pararam para se olhar por alguns segundos, foi Naomi quem interrompeu o silencio.

- Tenho um plano, vai demorar um pouco, Lilith tenha paciência. Nós vamos pegar esse arcanjo.

\"\"

- Mas que droga. Cade ele? - Lilith disse impaciente.

Lá estavam eles, novamente vigiando os humanos que entravam e saiam, dessa vez do instituto.

- Lilith, para com isso! Ta me deixando nervoso!

- O que? Ah! - Ela soltou uma exclamação apontando para um homem qualquer que saia do lugar - Naomi é aquele ali?

- Não, não é! Dá pra ficar quieta, por favor?

A garotinha vibrava, a voz estava ansiosa e ela especionava cada pessoa que saia do lugar.

- Será que o arcanjo está entre eles? - Murmurou baixinho para que só Ryuki ouvisse.

- Provavelmente…

- AI, que saco! Não quero ficar aqui parada esperando! Ele pode ir embora, sabia? Pode fujir.

- Ele não vai embora! Se acalma, Lilith.

- Aaaarght - Ela fez um gesto estranho, como se quisesse estrangular algo entre as mãos vazias. - O arcanjo tá tão perto…

- Lilith que droga! Já falei pra não se empolgar você não pode matar esse arcanjo! E ele deve ser forte…

- Porque não posso? - Ela interrompeu

- Porque se você mata-lo, ele vai se tornar inútil para o seu irmão e nós não vamos conseguir sair daqui. E como eu ia dizendo ele deve ser forte, então…

- Ali, ali. É ele! - Naomi interrompeu, apontando para um homem magro de barba mal feita e usando terno, que saia da escola.

- O arcanjo? - Lilith perguntou empolgada, um pouco alto de mais.

- Não, sua cabeçuda! O enfermeiro! - O garoto disse, dando um cascudo na cabeça dela.

- Ah, é.

- Esperem aqui - Naomi disse, saindo de fininho.

Ela voltou algum tempo mais tarde. De longe dava pra ouvir a conversa dos dois, mas talvez fosse porque seus ouvidos eram apurados de mais.

- Ehh, então quer dizer que você não vê problemas em matar? - Ryuki perguntou, estava sentado no meio-fio da calçada com Lilith no seu lado.

Ela deu uma risadinha.

- Depende do que se mata - O canto dos lábios dela se contorceram em um meio sorriso - por exemplo: Quem se sente culpado por matar uma formiga?

- Não estamos falando de formigas, são anjos e arcanjos - Lembrou Ryuki.

Ela levantou a cabeça para o olhar nos olhos.

- Qual a diferença? É a mesma coisa, no meu ponto de vista.

Ele bufou

- Maldita sádica.

Ela sorriu, como uma criança.

- Sério? Meu irmão sempre disse que eu tenho o coração mole…

- Psiu, parem de falar dessas coisas aqui! - Naomi interrompeu, nervosa, alguém podia escutar. Ou pior, o arcanjo podia escutar.

Ryuki se levantou em um pulo.

- E então? - perguntou

- Tudo certo. Agora só precisamos esperar até eles anunciarem o cargo vago para enfermeira. Enquanto isso, vamos matricular vocês.