Hunt Angels

Capítulo 05 - Breve vida de estudante


– Um uniforme? - Lilith perguntou, arqueando uma sobrancelha.

– É, significa que você tem que usar todo dia. Então não tome sorvete quando estiver com ele - Naomi respondeu.

– Hmm…

– Sabe, eu entendo que vocês duas estejam empolgadas com toda essa história de arcanjo… - Ryuki falou hesitante - Mas não acham que é um pouco perigoso?

– Perigoso? - Perguntou Naomi, experimentando um jaleco branco com um emblema do instituto.

– Er… quer dizer, é um arcanjo procurado não é? Ele deve ser forte… e vocês vão acabar se metendo em encrenca.

– Encrenca? Por quê?

– Por tudo isso! Além do mais, não importa o quão curta seja a saia, Lilith não se parece nem de longe com uma aluna colegial - Eles viraram a cabeça na direção da garota, que agora dava pulinhos e girava na frente do espelho – Eu nunca daria 15 anos para ela, no máximo uns 10.

– Hum, sério? Eu daria uns 12 anos...

– Não tem muita diferença!

– Tudo bem, ela pode ser daquele tipo, sabe? Uma lolita, existem muitas lolitas hoje em dia.

– Ela nem é japonesa! O que uma garota europeia, lolita ou não, faria aqui no Japão? Não importa a desculpa, não acha que vai chamar atenção demais?

– Ah, larga de ser paranoico. Ninguém vai nem notar esses detalhes - Ela sacudiu a mão na direção dele, um gesto que dizia "Deixa pra lá" - Além do mais, é por isso que você vai com ela, certifique-se de mantê-la longe de confusão e tudo vai dar certo.

– É fácil pra você falar - Ele afundou na poltrona perto da cama, com as mãos no bolso, observando a garotinha se olhar no espelho e vendo o próprio reflexo. O uniforme que ele usava consistia uma calça um pouco frouxa demais, cinza-azulada, um terno azul marinho com o emblema do instituto, uma blusa branca por baixo, uma gravata listrada de azul marinho com cinza e branco. Já o dela era uma saia acima do joelho, pregueada, quadriculada com as mesmas cores, o mesmo terno, porém cintado e meias escuras que iam até o joelho - Mas quando ela mete uma coisa na cabeça não tem quem segure.

Lilith parou de saltitar quando percebeu o olhar de Ryuki e se virou na direção dele.

– Que tal? - perguntou, sorrindo e segurando a saia com a ponta dos dedos.

Kawaii– Respondeu Naomi, se intrometendo.

– O que?

– Significa fofo em japonês. Porque você esta muito fofa - Então ela também se virou para o garoto, o cabelo ruivo sacudindo nas costas - E eu, como estou? Kawaii? - Ela usava uma saia marrom colada com um rasgo no joelho, meia-calça preta, uma blusa social e um jaleco branco.

Ele não respondeu, ignorou - Estava muito mais preocupado com as encrencas que estavam por vir. Naomi e Lilith interpretaram o silencio como um sim.

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Lilith parecia exausta, cansada demais para andar, então se pendurava no braço de Ryuki, ele quase precisava arrastá-la pelo caminho de volta para o loft de Naomi. A cara da garotinha dizia claramente: Odiei a escola! Mesmo que ainda fosse o primeiro dia, não acharam nenhum sinal do arcanjo, também pudera, todos os alunos se amontoaram ao redor de Lilith, enchendo-a de perguntas curiosas que ela não sabia responder, só não suspeitaram de nada porque concluíram que ela não entendia o idioma japonês. Ryuki também não ficou livre dos assédios, e para ele foi bem pior porque teve que inventar desculpas e mais desculpas, que acabou esquecendo e sabia que iria se desmentir em alguma hora.

– Ei, Ryuki, eu não quero mais voltar lá. Humanos fedem!

– Não se importe com o cheiro deles, procure o cheiro do maldito Arcanjo que nós vamos embora!

– Eu sinto o cheiro dele, impregna o lugar inteiro, mas não consigo rastrear aquele maldito!

– Eu disse que ele seria forte, afinal é um arcanjo… Tá a fim de desistir? - Ele já sabia qual seria a resposta, mas tinha esperanças de não precisar voltar para aquele lugar de novo.

– Desistir? - Lilith falou com ar zombeteiro - Ryuki, há quanto tempo nós estamos juntos? Duas semanas?

– Acho que já faz um pouco mais do que duas semanas… Essa deve ser a terceira…

– E ainda não foi o suficiente para me conhecer? Ah, eu vou pegar aquele arcanjo, não vai sobrar nada dele!

– Você tem problemas garota, já disse que não é para matá-lo, seu irmão só vai te devolver sua liberdade se receber o arcanjo vivo.

– Meu irmão não me tiraria daqui mesmo que eu o levasse imaculado.

Ryuki resistiu novamente à vontade de perguntar por que a garota havia sido banida pelo próprio irmão, algo lhe dizia que não devia tocar mais no assunto, que um dia ela iria lhe contar.

– Então por que ainda quer caçá-lo?

– Além do prazer?

– Sim, além das suas necessidades sádicas.

– Para implicar com o meu irmão, óbvio.

Ao ver o sorriso zombeteiro no seu rosto, ele começou a ter uma leve noção do porquê ela fora banida, talvez Lúcifer não a aguentasse mais ao seu lado de tão irritante e infantil que era. Bom, ele não se importava, descobriu que gostava de ficar ao seu lado, isso quando ela não o assustava parecendo um serial killer, óbvio.

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Já estavam no quinto dia de aula e, graças ao incidente durante o intervalo do segundo dia, mais nenhum aluno perturbava Lilith. O que aconteceu foi que ela se aborreceu e quase rasgou a garganta de uma menina que tentava fazer tranças nos seus cabelos, a sorte foi que Ryuki se intrometeu a tempo de impedi-la. Sem ninguém para atrapalhar, os dois andaram por toda a instituição procurando alguma ponta solta no cheiro para conseguir segui-lo. Como não encontraram nada, foram até a enfermaria conversar com Naomi. Encontraram-na sentada tomando chá com bolachas.

– Naomi! - gritou Ryuki.

Depois de ter um sobressalto e quase derramar o chá, Naomi se recompôs, mas antes de responder qualquer coisa ele continuou falando, irritado – Por que você está ai parada sem fazer nada? Se tem tempo livre, deveria caçar o Arcanjo!

– Eu estou procurando! Não vê? - ela gaguejou atrapalhada - Só estou fazendo uma pausa para o lanche…

Passaram o resto do intervalo conversando com Naomi e roubando seus biscoitos. Lilith pareceu especialmente encantada com a enfermaria, inspecionava e perguntava sobre todos os objetos. Ryuki estava ficando de saco cheio até que finalmente o sinal tocou e eles voltaram para a sala. Sem o menor interesse pela aula ele caiu no sono e só acordou novamente quando o último sinal tocou.

Agora era a melhor hora do dia: hora da saída. No meio do pátio, aliviado pelo dia já estar acabando e quase chegando ao portão principal, Ryuki, de repente, se deu conta de que Lilith não estava no seu lado. Olhou ao redor, a multidão de alunos o cercava, mas não avistava a garotinha em lugar algum. Voltou correndo até a sala de aula, estava vazia. Procurou pelos corredores, desceu e subiu as escadas principais e não a viu. Então decidiu correr até a enfermaria. Naomi estava cuidando de uma aluna que tinha caído nas escadas e se machucado um pouco. A breve visão do sangue manchando no joelho da garota lhe excitou um pouco, mas estava tão preocupado com o sumiço de Lilith que não ligou muito.

– Naomi! Naomi, cadê a Lilith? Você a viu? Não tô achando ela em lugar algum!

– Não… só a ví na hora do intervalo e estava com você… - Naomi respondeu pensativa.

– Lilith? - perguntou a garota machucada timidamente com as faces pálidas - A novata estrangeira? Eu a vi…

– Onde? - Interrompeu Ryuki afobado

– Bom, quando descia as escadas que dão para o terraço, eu a encontrei, ela estava subindo. Tentei dar um oi e pedir pra ela não me dedurar, mas não sei bem o que aconteceu, ela me assustou. Tinha alguma coisa, um clima estranho, então sai correndo e acabei caindo nas escadas. - contou chorosa.

– Aaam? O que você estava fazendo no terraço, garotinha? Como assim te dedurar? Tava matando aula, né… - Ryuki ouviu a voz da prima se afastar enquanto corria em direção ao terraço. Lilith era perigosa, ele precisava vigiá-la, ficar por perto pra evitar que fizesse besteira… Será que era isso mesmo? Ele precisava ficar por perto para vigiá-la ou queria ficar por perto porque gostava da sua presença?

Tentando não pensar nisso, ele ia correndo. Chegando perto das escadas algo o fez parar abruptamente. Sentiu uma aura, uma presença demoníaca, forte, maligna, parecia desafiá-lo, zombava da sua cara, mostrava nitidamente que era superior. Ele cambaleou e precisou se apoiar na parede para não cair de joelhos. Era ela, era a Lilith. Estava mandando uma mensagem para o Arcanjo, procurando briga. Tomou fôlego e continuou correndo.

Quase sem fôlego, Ryuki chegou ao terraço. Não que o esforço de correr pela escola inteira desesperadamente, feito um louco, fosse o suficiente para cansá-lo, mas aquela aura, aquela hostilidade toda que Lilith emanava o esmagava, era como correr contra uma ventania.

– LILITH! O que você tá fazendo? Ficou maluca?

Ela se virou até ficar na direção dele. Com a distância em que se encontravam, ela podia encará-lo sem precisar erguer a cabeça.

– Achei o Arcanjo. - disse simplesmente.

– Que bom, porque se não o tivesse achado ele te acharia agora! Pare já com isso!

– Não percebeu? Enquanto aquele humano estava discursando – ela se referia ao professor da turma, que ensinava a matéria enquanto Ryuki dormia – o arcanjo entrou na sala e não fez questão de esconder quem era, estava zombando de mim. – ela franziu as sobrancelhas e cerrou o punho, irritada – Eu não pude reagir na hora, mas aqui está a minha resposta!

– É o QUE? - Ryuki estava incrédulo, nada disso fazia sentido. Lilith não era do tipo que esperaria. Por que não reagiu na hora? POR QUE fazia isso com ele? Por que não conseguia ficar longe de confusão?

– Ele vai vir, não demorará muito... Afinal, eu o estou chamando.

Como que para confirmar suas palavras, um vento começou a soprar de lugar nenhum, era um ar quente, sufocante. Ryuki se sentiu engasgado, um cheiro doce ardia nas suas narinas, era o mesmo cheiro que tentou seguir durante esses últimos seis dias, o cheiro do arcanjo. Porém agora estava insuportável, era doce demais. Suas forças se esgotaram e ele se deixou cair de joelhos. Fez um esforço para conseguir abrir os olhos, mas no mesmo instante desejou tê-los deixado fechados.

O Arcanjo estava lá, frente a frente com Lilith.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.