Fírnen voava como um estorninho enlouquecido. Não. Ele voava como um falcão em perseguição. Mas não parecia rápido o suficiente para Arya. Mais depressa!- Arya o instigou. Ele continuou em silêncio, se esforçando ao máximo para voar cada vez mais rapidamente sobre a planície. A formação rochosa apareceu, recortada contra a noite por um brilho repentino de chamas. Provavelmente Thorn.

Fírnen mergulhou, com seu corpo volumoso pousando pesadamente sobre a rocha. Imediatamente, Arya sacou Tramelín e saltou das costas de Fírnen, que se abaixou para ajudar Nasuada a descer. Por um momento, a rainha do império parecia ter esquecido os problemas.

–entendo agora por que vocês gostam tanto de voar.- ela disse, com um sorriso no rosto.

–já voaste uma vez. – Arya replicou, virando-se para o local onde Thorn estava escondido pelo relevo do terreno. Nasuada desembainhou a sua espada de cavalaria.

–eu estava inconsciente da última vez.

Thorn rugiu, um som quase ensurdecedor. Arya deu um salto, parando atrás de uma pedra para observar a grande depressão à frente. O dragão vermelho-sangue estava agachado num canto, rugindo de dor e raiva. Murtagh estava ao meio, e lutava... ele lutava com um espectro. Os golpes eram borrões de velocidade, e das duas lâminas saíam faíscas. Arya perguntou-se quanto tempo Murtagh aguentaria, já que o espectro era, de longe, mais rápido e mais forte.

Imediatamente, a elfa saltou da rocha onde estava, com Tramelín irradiando um brilho esverdeado em sua mão, e correu na direção de Murtagh. É claro que o espectro não ficou parado esperando. Ele saltou sobre Murtagh e golpeou Arya com a espada clara, cor de ferrugem, que brilhava levemente. Arya defendeu o golpe, e estocou o joelho do espectro depois de enganá-lo com uma finta que havia criado ao duelar com Eragon.

O espectro se virou e congelou Arya com um feitiço, coisa que deveria ser impossível devido ás suas proteções, mas não era surpresa para espectros. Mas ele não contava com Nasuada. A rainha humana atingiu as proteções do espectro, quebrando sua espada em milhares de pedaços, afiados como agulhas. Porém, isso não foi suficiente ara pará-la. De alguma forma, as proteções do espectro não pararam a rainha, que colidiu com ele devido ao impulso do golpe, nem o toco restante da espada, com o qual Nasuada tentou golpear o coração do espectro por trás. Este saltou novamente, indo cair encima de uma rocha ali perto.

–vocês não podem ferir Shaag!- ele gritou.

Arya teve a impressão de que ele dizia isso com frequência.

– mas já o ferimos, não?- replicou a elfa.

O espectro rugiu, e atacou. Quando ainda estava no ar, foi interceptado por um dragão roxo. Ugralov se juntou à luta, cheio de ódio, provavelmente lembrando-se de Durza.

A espada dele faiscava, com raios de energia a percorrer toda a extensão da lâmina e do cabo. O espectro simplesmente lançou o dragão e cavaleiro para longe com magia. Therihoth entrou em cena, girando a hüthvírn, e, torcendo o cabo, separou em duas lâminas. Arya não sabia que isso era possível. Quando ele se chocou contra a barreira invisível que circundava o espectro, as lâminas se cobriram de gelo, que explodiu numa nevasca em miniatura, juntamente com uma chuva de espinhos de gelo. Gelo. Que nome para uma espada... a de Eragon era fogo. A de Therihoth gelo. A de Ugralov raio... Arya distraiu-se por alguns segundos cruciais. Foi quando a mente do espectro cercou a sua. Ela era antiga, negra e agitada como a própria noite. Era imensa, e separada em inúmeros pedacinhos.

Arya se protegeu, concentrando sua mente nos poucos versos que havia criado anos atrás para esse fim. Sua mente treinada repeliu a consciência do espectro como se fossem pedrinhas batendo contra um muro de ferro.

Ela pensava sem pensar, num diálogo de intenções consigo mesma. Ela caminhou lentamente em direção ao espectro, quando ele jogou Therihoth sobre Thorn. No segundo seguinte, Shaag saltou sobre Nasuada. O que aconteceu depois arrancou toda a concentração de Arya.

Nasuada gritou.

–Reisa!

Umas pedra do tamanho de um punho atingiu o espectro na cabeça. Shaag o espectro caiu sobre Nasuada, que devia ter erguido o braço para proteger o rosto. O braçal que ela usava não foi suficiente para protege-la da mordida do espectro. Ela gritou, um som que não era totalmente humano.

O espectro levantou, com sangue escorrendo entre seus dentes negros, com a espada em posição para golpear Nasuada no peito. Arya paralisou-se. Ela nunca chegaria a tempo. Mesmo assim, saltou na direção do espectro. Quando estava no ar, ergueu Tramelín e preparou-se para o impacto. Ela caiu a dois metros da cena, no exato momento em que a espada cor de ferrugem do espectro começou a descer, Murtagh surgiu de lugar nenhum, com Zar’roc em posição...

E golpeou o espectro no coração.

Shaag correu um arranhão por toda a extensão das costas de Murtagh e soltou a espada, que se cravou no chão. Todos se encolheram quando a pele do espectro tornou-se transparente, revelado os espíritos marrom-escuro, cor de sangue antigo, que a romperam e voaram para a escuridão.

Arya caminhou em direção á rainha, e ajoelhou-se a seu lado. Therihoth e Ugralov se aproximaram. Murtagh parecia paralisado.

– o espectro...- ele disse- ele... ela...

–eu vou curá-la – Arya disse , mesmo não sabendo se era capaz. Ela pronunciou um encantamento para desinfetar a ferida no braço de Nasuada, e depois uma série de complicados feitiços para detectar qualquer tipo de infecção mágica. Não encontrou nenhuma, por isso fechou o ferimento com um encantamento, cantando na língua antiga. Murtagh ajoelhou-se ao seu lado, com uma careta de dor.

Arya imediatamente pediu permissão e lançou um feitiço amarrando todos os que lançara sobre Nasuada, para procurar ameaças mágicas. Mas havia apenas um arranhão, que Murtagh curou.

Nasuada estava inconsciente, respirando regular e metodicamente, como se até desacordada seguisse seus rituais com extremo rigor. Arya deixou- a dormir, pois o sono faria parte da cura, e levantou-se devagar.

Nesse momento, com uma explosão azul que deixou um buraco de três metros de diâmetro no chão, vei uma onda de choque que derrubou Arya no chão.

No centro do buraco causado pela explosão, estava um homem agachado, completamente imóvel. Arya ficou paralisada, pensando em quem poderia tê-lo transportado. Então, vindo de lugar nenhum, uma canção na língua antiga encheu o ar, quase rápida demais para se ouvir e compreender.

Quando Arya descobriu o que estava acontecendo, saltou sobre o homem e tentou golpeá-lo com sua espada, porém foi impedida por grandes barreiras mágicas. Gritou para que os outros viessem ajuda-la, e os quatro começaram a golpear a barreira ao mesmo tempo. Os dragões também se jogaram sobre as muralhas invisíveis e começaram a golpear loucamente com suas garras.

Então os espíritos vieram. Primeiro os furiosos espíritos que acabavam de sair de Shaag. Depois mais, milhares de outros mais, surgiram de todos os lados. No exato momento em que Arya sentiu a barreira ceder sob sua espada, os espíritos tocaram a pele do homem agachado no chão. Uma explosão lançou todos a cerca de cinco metros de distância. Quando sua visão clareou, Arya assistiu, com desespero, o corpo do espectro modificar-se por algum feitiço.

Ele cresceu, e seu corpo modificou-se até que tivesse cerca de dez metros de altura.

Isso é loucura. Quando atingiu essa altura absurda, os últimos dedos de cada mão se alongaram, e entre eles cresceu uma membrana coriácea. Em alguns segundos os braços do espectro foram transformados em asas com dedos. Uma grande espada colorida como o arco íris apareceu à sua frente, com uma mistura de todas as cores e iridescente como um dragão.

Isso, de alguma forma deixava o espectro com uma aparência ainda mais cruel. Os dentes afiados e desordenados rebrilharam, num sorriso parecido com o de Shaag, embora branco. Os cabelos esverdeados moveram-se quando ele encarou Arya.

–nós somos Shaagrin, filho de Shaag. Ninguém pode nos deter!

O espectro abriu as asas e levantou voo rumo á Ilírea.