Arya deu dois passos indecisos na direção dos seis guardas. Não porquê estava com medo deles. Longe disso. As notícias que iria transmitir é que a incomodavam. Os seis Falcões da noite, sendo eles dois urgals e quatro humanos, encaravam- na com uma expressão de falsa indiferença.

–preciso falar com Nasuada- ela disse, com a voz firme e com o olhar frio.- não me façam esperar.

O urgal lhe deu u olhar que dizia “vou fazê-la esperar o quanto eu quiser”. Ela não ficou ofendida nem nervosa. Sabia que esse era seu protocolo, intimidar, ou fingir que intimidavam, quem quer que pare na frente da porta de Nasuada. Um dos urgals se moveu, girando a cabeça e pronunciando em alto e bom som:

–Rainha Arya solicita uma audiência com lady caçadora noturna!

A voz cansada de Nasuada ouviu-se abafada no interior do aposento.

–audiência concedida.

Arya passou por entre os guardas e abriu a porta. Nasuada estava numa posição idêntica à que costumava ficar ao receber os relatórios de espiões varden durante a guerra. Ela levantou os olhos das enormes pilhas de papéis espalhadas pela mesa simples. A sala mais parecia um escritório de copista do que a sala de uma rainha. Espartana ao extremo. Bem ao estilo de Nasuada. Os únicos luxos no escritório, se é que poderiam ser classificados como luxos, eram duas fairths e uma armadura vermelha e negra, forjada por anões, que era seu traje para cerimônias militares e encontros oficiais. Os anões haviam feito a armadura para que fosse o perfeito traje de amazona, leve e resistente, e também pudesse ser camuflado sob um vestido leve, não tendo curvas ou adornos que revelassem a armadura por baixo. Uma esplêndida e necessária peça do vestuário de Nasuada. Mesmo cinco anos após a morte do rei tirano, fiéis ao partido de Galbatorix ainda tentavam mata-la algumas vezes por ano. As fairths eram obras tanto de Eragon, a imagem de sua partida, como de Arya, uma fairth da coroação de Nasuada.

–olá Arya- disse Nasuada, repetindo depois os cumprimentos formais dos elfos. Arya respondeu adequadamente, apenas por tradição. O relacionamento entre elas havia se tornado informal depois de um pouco tempo. Nasuada sentou-se ereta na cadeira e indicou uma poltrona para Arya.

–sente-se, por favor.

Arya sentou-se, inclinando o corpo na direção de Nasuada.

–bem, Nasuada, você deve saber porquê estou aqui, não? Você sempre sabe, mesmo.

O rosto escuro de Nasuada se fechou.

–é Murtagh, não é?

Arya não perguntou como a rainha humana sabia daquilo. Já convivera o bastante com Nasuada para saber que ela geralmente acertava os palpites que fazia.

–sim. -disse Arya.- senti a presença de um poderoso dragão na direção do lugar em que os varden estavam acampados antes do cerco de Ûru baean.

–o que será que ele quer? –perguntou Nasuada, e Arya sabia que ela estava pensando alto, um hábito que só mostrava quando estava nervosa ou desesperada. Ela estava rija na cadeira de espaldar alto. Ela está tensa como acorda de um arco. O pescoço de Nasuada estalou audivelmente quando ela ergueu a cabeça para olhar nos olhos da elfa. Ou de uma catapulta.

– talvez queira falar com você.- Arya conjecturou- ou esteja só de passagem. Em todo caso, é melhor que alguém vá verificar.

Nasuada suspirou, tentando se livrar da tensão, provavelmente.

– eu não acredito muito em paz eterna mesmo...

Arya ficou tensa novamente. A mente do dragão havia mudado. Thorn não fazia qualquer esforço para bloquear sua mente, mas por um momento ela achou que ele a havia notado. Depois percebeu o que era a mudança na mente de Thorn.

–talvez... - ela escolheu as palavras com cuidado- talvez ele esteja com problemas.

–como?

–a mente de Thorn está com muita dor.

–dor de que tipo?

–do tipo que faz você querer estar morto para pará-la. Eles nem sequer sentiram meu toque.

–bem, -disse Nasuada, levantando.- temos que mandar alguém lá. O ideal seria Eragon, mas isso não vai acontecer então...

–você quer dizer eu? Thorn com certeza é maior que Fírnen, e apesar de eu ser mais aprofundada na magia do que Murtagh...

–eu quis dizer eu.- ela andou determinada até a armadura- ele não me ferirá.

–tem razão. -Arya ajudou-a a vestir a elegante armadura- perdoe-me majestade.

Ouviu-se um rugido de dor e fúria, um terrível bramido que pôde ser ouvido por toda Ilírea.

Nasuada e Arya se entreolharam. E correram. A sala ficava perto de um terraço espaçoso, onde Fírnen havia pousado. Nasuada nunca voara num dragão antes, Arya observou. Consideraria um abuso pedir para voar em Saphira e desnecessário durante os seus anos de comando. Arya ajudou-a a montar na sela e ia saltar para as costas de Fírnen quando notou uma coisa muito importante.

Desde que tinham voltado de Ellésmera, Arya havia deixado Therihoth e Ugralov andarem livremente na cidade, mas havia insistido em dar um anel a cada um, com um feitiço rastreador, para que ela soubesse onde estavam quando eles se metiam em encrenca, -o que acontecia aproximadamente a cada cinco minutos- não faziam dois dias, Ongrulug havia ficado entalado em uma porta, e derrubara a parede inteira em seus esforços para se libertar, ferindo três soldados e uma criada no processo.

Arya sentiu um comichão e uma sensação ,gelada no anel que tinha no dedo, o que indicava que os dois estavam em perigo. Ao girá-lo ao redor do dedo, soube imediatamente onde estavam.

Arya não costumava xingar, nem perder o controle das suas emoções.

Naquele momento fez as duas coisas.

–o que foi? -Disse Nasuada, quando ela subiu na sela e se ajeitou. Fírnen bufou na sua mente, resmungando algo sobre cavaleiros que gostam de se meter em encrencas sempre consegui-las em dobro.

Arya não olhou para trás quando Fírnen levantou voo da sacada, deixando sulcos na pedra com suas garras. Ela não pensava em nada além dos dois cavaleiros imprudentes e jovens. Demorou alguns segundos para responder a pergunta de Nasuada.

–Ugralov e Therihoth estão indo direto para Murtagh.