ERAGON observava o castelo em construção. Todos os dias, uma parte das muralhas brancas surgia, erguida com auxilio dos eldunaris e dos vinte elfos que haviam resolvido acompanhá-lo com a criação dos dragões. Logo no dia em que haviam chegado, eles haviam solto os ovos dos dragões selvagens de seu transe, e eles haviam todos eclodido ao mesmo tempo. Nunca houvera naquele mundo um dia mais feliz para os elfos. Eles riam o tempo todo enquanto pegavam cada dragãozinho e sussurravam palavras na língua antiga para eles. Naquele dia o ar vibrava com a energia e o mundo parecia tão vivo que Eragon imaginou que ninguém conseguiria dormir por semanas. não que ele precisasse. desde a transformação em ellésmera, ele não dormia, apenas sonhava acordado. ele sorriu com esse pensamento. transformação. ele deveria se chamar eragon meio - elfo, aniquilador de espectros, matador de rei, vencedor de caracóis. riso. O som da risada dos elfos se misturara com ao dos guinchos alegres dos novos dragões. Eragon imergiu de suas lembranças e , de um salto, subiu no dorso de Saphira, que levantou vôo balançando as árvores em volta. O continente em que estavam ficava a centenas de quilômetros da Alagaësia. Era, de certo modo parecido com Carvahall, e talvez por isso Eragon escolhera aquele lugar. Ficava à sombra de uma cordilheira parecida com a espinha, mas muito mais alta, e tinha um penhasco de frente para o mar, de frente para a Alagaësia. A areia fazia uma curva embaixo do penhasco, formando uma baía, com duas penínsulas bem próximas. Quando Umaroth disse a Eragon que dali a milhares de anos as ondas acabariam por derrubar o penhasco, e o castelo que pretendia construir sobre ele, Eragon , com ajuda de Saphira (e de um pouco de magia) , construíra um dique de pedra entre os dois promontórios, e ali construiu um porto de pedra. A baía agora era uma grande piscina na qual Saphira gostava de se jogar desde o alto do penhasco., espirrando água para todos os lados e produzindo um estrondo audível a quilômetros de distancia. Eragon e os elfos logo se acostumaram logo a estrondos súbitos. Todas as tardes, Eragon voava com Saphira para explorar a terra. Era uma imensa terra, parecida, e ao mesmo tempo diferente, de tudo que ele conhecia. Um mundo novo. Ele vira muitos animais “comuns”: Saphira caçava muitos cervos e javalis. Mas havia também criaturas que ele nunca vira antes, e não sabia se existiam na Alagaësia. Alguns carnívoros negros, de aproximadamente dois metros de comprimento, que de longe Eragon confundiu com homens- gato, e só ao se aproximar viu que eram muito maiores, herbívoros enormes com chifres cuja carne Saphira disse ser deliciosa, e grandes paquidermes de orelhas imensas, presas e tromba. Havia também os seres “mágicos”: um ser voador, parecido com os lethbranka, que caçava disparando um raio de energia pura, que fazia vibrar o ar antes de fazer um buraco na cabeça dos grandes paquidermes. A energia era tanta que o sangue evaporava. Havia também uma criatura humanóide envolta num halo de luz que girava, e onde quer que tocasse, até mesmo no fogo, este congelava. Eragon descobriu o perigo que representavam a quaisquer agressores quando Saphira lançara fogo em um deles uma vez. O fogo congelara, mas continuava queimando. Saphira chegara correndo com as mandíbulas coladas uma na outra por um jato de fogo congelado. Está queimando! – ela lhe dissera. Se não fossem suas proteções, quando quebrou o gelo com o intuito de libertar Saphira, ele teria morrido. Foi lançado longe pela explosão do pedaço de gelo. Eragon recordava-se desses felizes momentos enquanto desfrutava dos prazeres do vôo com Saphira. Ele tentava a cada dia, agora que estabelecera uma rotina, prender a sua tristeza pela despedida. Ele nunca mais poderia conversar normalmente com Roran. Nunca poderia abraçar Ismira. Não poderia mais sussurrar o verdadeiro nome de Arya no seu ouvido. Nunca mais visitaria Farthen Dûr... Ou Ilirea, ou Ellésmera. E... Carvahall. Nunca mais pisarei em Carvahall– pensou Eragon- Nunca mais.

Não fique triste, pequenino, disse Saphira. Foi por uma boa causa. Eragon deixou escapar um suspiro. Isso não torna mais fácil. Saphira mordeu o ar, fechando as mandíbulas com um estalo, para afastar um pássaro. Não tem que ser fácil. Eragon sabia que isso não era uma atitude sábia. Mas, mesmo depois de um ano, Eragon sentia o vazio imenso em seu peito aumentar, não diminuir, que era o que tinha esperado.Ele falava pouco com Arya, que era a pessoa que mais queria ver, porque ela marcava as conversas estando muito ocupada com a liderança dos elfos e, não querendo interromper sua privacidade, Eragon não usava o espelho entre as conversas marcadas a não ser que fosse urgente. Fazia um ano que não se falavam. Com Roran, ele conversava mais, e com Orik e Nasuada, quando possível. Nasuada continuava a tentar convencer os magos a se unirem na sociedade que ela estava tentando criar. Numa das conversas que tiveram pelo espelho, Nasuada contou que tanto Ângela, a herbolária, quanto o mestre dela, um velho chamado Tenga, haviam desdenhado seus apelos e desaparecido. A herbolária sumira de uma hora para outra, como se tivesse feito um feitiço ou tomado uma poção de desaparecimento. O eremita, no entanto, fugira de sua torre depois de matar os soldados que Nasuada mandara para escoltá-lo até Ilírea, fato constatado por Arya quando visitara o local. Eragon estranhara quando Nasuada lhe dissera isso. Mas respondera o que sempre dissera: os magos não gostariam de ser submetidos a quaisquer leis, tanto por acharem-se acima delas, por se julgarem especiais, quanto por precisarem, às vezes infringir uma ou outra lei. Já fazia dois meses, no entanto, que Eragon não falava com nenhum de seus amigos na Alagaësia. Da última vez que vira Roran e Katrina, esta esperava um bebê, o esperado herdeiro de lorde Roran Garrowson, conde Roran martelo de ferro. A esta altura, já devia ter dado a luz. Eragon começava a ficar preocupado com esse silêncio vindo do outro lado do mar. A cada três meses, porem, com a ajuda de Saphira e de alguns eldunarís, ele mandava uma pequena remessa de fairths do lugar onde se encontrava e do castelo incompleto para cada um dos seus amigos na Alagaësia. Ele descobrira um passatempo no qual se aperfeiçoava a cada dia. Pensando nisso, Eragon tirou de um dos alforjes uma placa de ardósia já tratada com os pigmentos que fixariam a imagem no pedaço de pedra. Ele se virou. E olhou para baixo, fixando aquela imagem na mente com toda a concentração que podia obter sobre a sela de um dragão em meio a uma corrente de ar. O resultado foi uma espécie de mapa, só que muito mais definido e colorido. Enquanto olhava para a nova fairth que havia feito, sentiu uma consciência tocar a sua. Instintivamente, ele concentrou a mente inteiramente na fairth, examinando cada detalhe da pintura enquanto erguia as barreiras em torno da sua mente. Sentiu a consciência deslizar por baixo delas quando olhou um pouco para o lado e o sol se refletiu fortemente numa das escamas de Saphira, cegando- lhe por um instante e quebrando sua concentração. Eragon juntou sua consciência e preparava-se para atacar a outra mente, quando percebeu que pertencia a Glaedr, o eldunarí dourado. Eragon abriu sua mente para ouvi-lo.

Esforço inútil, mas apesar de tudo tens bons reflexos, Eragon.

Eragon lembrava demasiado bem das lições que o eldunari lhe dera sobre proteção da mente para discordar. O que tens para me falar,ebrithil? Eragon achou muito estranho que Glaedr falasse assim com ele, de improviso.

Uma pessoa muito importante deseja falar-lhe. Por favor, vá recebê-la em seu espelho. Eragon estranhou. Quem, ebrithil? Perguntou.Uma argetlam. A mente de Eragon se alvoroçou. Arya! Saphira fungou, enchendo o ar de fumaça. Fírnen! Saphira imediatamente deu a volta, voando a toda velocidade para o castelo.a construção era de obsidiana em baixo, negra perto do chão, e de mármore tão branco que feria a vista, em cima. Saphira chegou rapidamente, pousando solidamente sobre a laje negra, e Eragon entrou no salão principal do castelo , onde estavam reunidos onze dos vinte elfos, e onde ficava o maior espelho do castelo. O rosto de Arya cobria toda a área do espelho. Ela tinha acabado de dizer alguma coisa que dera sorrisos aos elfos quando Eragon chegou. Arya ficou séria no momento em que o viu. Eragon, tocando com os dois dedos os lábios, disse:

– Atra Esterni ono thelduin, Arya Dröttningu.

Arya também tocou os lábios e disse em resposta:

– Mor'ranr Lifa unin hjarta onr, Eragon Shur'tugal.

– Como vai, Arya?

– Bem... Eu estou ótima.-ela disse isso na língua antiga, por isso não poderia ser mentira, mas o rosto dela falava o oposto- eu tenho uma notícia que irá lhe trazer muita preocupação... Logo.

Eragon tentou soar despreocupado, mas não conseguiu:

– Que notícia?-Arya fez uma cara aflita, como se estivesse procurando suavizar a informação-

– Os ovos eclodiram!

Eragon congelou, enquanto processava a informação.

– Os... Os dois?

– Sim! Arya sorriu e Eragon tentou guardar aquele rosto para sempre- o ovo dado aos Urgals eclodiu há 14 meses, e o dado aos anões eclodiu há 10 meses.

Eragon ficou extasiado e com raiva ao mesmo tempo.

– Por que...-começou ele, mas se calou. Arya entendeu a meia pergunta dele.

– Queríamos fazer uma surpresa.

– Quem?

– Eu , Roran, Nasuada... Todo o pessoal.- Eragon arquejou. Por isso Roran estava tão estranho nas vezes que nos falamos. Ele não sabe mentir. Bem, sabe mentir muito bem. Só não tinha mentido para mim até agora. Arya saiu da frente do espelho e se afastou alguns passos. Eragon reconheceu a paisagem atrás dela. Era Ilírea. Os elfos gargalhavam da ingenuidade de Eragon, enquanto um grupo de pessoas aparecia disputando espaço numa sacada. No canto , à esquerda, estava Katrina, ao lado de Roran, segurando um bebê envolto em panos. Roran segurava Ismira na outra mão, abraçada nas suas pernas. Eragon riu de sua própria tolice.

– É o herdeiro tão esperado?

Katrina sorriu.

– O nome dele é Brom. Eragon continuou a correr os olhos pela sacada, cumprimentando um por um de seus amigos, por ordem ao lado de Roran estava Nar Gzavog , o líder dos Kull, com o braço apoiado num garoto de quase dois metros- devia ser Kull também.

– Esse é ... Começou Eragon

– Ugralov, disse o urgal com orgulho. Eragon sorriu.

– Olá Ugralov. Serei o seu mestre logo. Mas acho que terás mais a aprender com os outros por aqui, já que sou bem... Jovem para os padrões dos cavaleiros.

Ao lado de Nar Gzavog estava Nasuada, que após os cumprimentos formais apenas disse que ainda não conseguira cuidar do problema dos magos na alagaësia, e que tinha outra novidade, que contaria mais tarde. Ao lado de Nasuada um contrariado Orrin, que só olhou rabugentamente para Eragon e pôs-se a examinar um frasco. Ao lado dele, também contrariado, estava Orik, o Grimstnzborith anão, também com a mão sobre o ombro de um anão adulto, que Eragon reconheceu como um dos sacerdotes do Dürgrimst Quan, clã dos deuses anões, que era presidido por Nado, um sujeito não muito agradável. Porém iria realmente causar problemas, por causa das crenças... Os elfos teriam trabalho com ele. Pior que isso, apenas um anão do clã Az Sweldn rak Anhüin, comentou Eragon com Saphira. Ele estava negligenciando seus deveres como anão. Você tambem já fez preces a Günthera, ralhou Saphira. Até acreditou nele duas vezes.

Arya, depois de terminadas as apresentações, voltou a falar com Eragon. -E estes -disse ela, apontando um ponto sobre a mureta- são Ongrulug e Günterik. Dois dragões apareceram, batendo as asas para pairar no ar sobre a mureta. Eragon soube imediatamente qual era de quem. Um dragão prateado, que brilhava como aço polido, tinha a cara de um dragão de anão. O outro, arroxeado, com o meio das escamas violeta e as bordas cor de vinho, tinha chifres compridos e grossos, e uma cabeçorra que lembrava um urgal.

– Eles estarão prontos para viajar até o ponto de encontro daqui a dois meses. Precisam ver Rhünon. Não acharam nenhuma espada que os servisse.

– Rhünon não vai gostar disso. Ela jurou...

– Existe um jeito de contorná-lo.

– Mas Therihoth...

– Rhünon agora tem um aprendiz.

– Quanta coisa importante eu perdi! Quem é ele?

– Um elfo chamado Ferlÿn.

Eles continuaram a conversar por horas, com os assuntos cada vez menos importantes, até que Orrin pediu licença e se retirou. Nasuada foi logo atrás, seguida por Nar Gzavog. Orik despediu-se afetuosamente, e saiu, seguido por Therihoth. Roran e Katrina ainda demoraram mais alguns minutos, e depois de muitas despedidas, foram, embora. Arya colocou-se novamente na frente do espelho. Eragon, querendo prolongar a conversa, que ele julgou que ia acabar, perguntou:

– A propósito, qual era a novidade que Nasuada falou? Eu acho que ela esqueceu-se...

–Ah- Arya fez uma expressão cômica- Nasuada continua hábil em debates e em ocultar informações. Ela não mentiu, mas também não queria que você soubesse... Nasuada está noiva.

– De quem?

– Acho que ela pensou que era o melhor para o reino. Ela vai desposar Orrin. Irá anunciar o noivado mês que vem.

– Orrin?

– Também não acho que combinem. Mas fazer o que?- o rosto de Arya ficou novamente sério. Ela começou a falar, hesitando.

– Tenho mais uma notícia...

– E ...

– Eu tinha que esperar Roran e Katrina saírem, mas eles foram os últimos...

– O que foi, Arya?-Eragon sentia que a aflição dela agora era real.

Arya fez uma careta.

– Solan sumiu.