ERAGON estremeceu. Solan desaparecido. Ótimo. Por que não?
–vocês não conseguiram encontrá-lo nem com magia?- perguntou.
–bem, creio que você devia tentar, já que sabe o nome secreto dele... - respondeu a elfa. Eragon quase bateu na própria testa, Mas conteve-se a tempo. Sorriu amarelo de compôs um encanto rastreador usando as três palavras do nome secreto de Solan, que descobrira durante sua corrida a pé pela alagaësia. Depois de proferir as palavras, sentiu a sua reserva de energia diminuir gradualmente enquanto o encanto procurava o talhante. De repente, a falha na reserva de energia de Eragon aumentou bruscamente, e o feitiço passou a consumir a força vital dele rapidamente. Eragon lutou contra o desespero. A sua energia continuava a diminuir assustadoramente. Eragon tentou encerrar o feitiço, mas descobriu que este fora feito com pressa e Eragon usara um absoluto. Esquecera da primeira regra da magia, que Oromis havia lhe ensinado: nunca use absolutos. Os dois únicos resultados da magia que Eragon lançara eram a sua concretização ou a morte de quem a lançou. Eragon entrara em desespero, tentando descobrir qualquer palavra que tivesse dito que pudesse ter um duplo significado, qualquer coisa que ajudasse... Não havia nada. Eragon começava a sentir-se fraco. Então se lembrou do nome da língua antiga. Balbuciando um encanto que não permitiria que os elfos o ouvissem, pronunciou o nome dos nomes e desdisse o encantamento. Esse último esforço quase o fez desmaiar. Usara a sua energia para combater o encanto que a drenava. Era paradoxal.
–Não o encontrei-disse.- ou Solan morreu ou mudou seu nome.
Arya olhou- o com uma expressão de reprovação.
– esqueceu dos absolutos?- Eragon assentiu fracamente.- bem, sobreviveu. Não devo repreender o senhor dos cavaleiros.
Eragon deixou o salão depois de se despedir de Arya. Mais essa, agora ele pensou . Saphira inclinou-se e o tocou na testa com a ponta do focinho. Você veio para longe e se preocupa mais do que se estivesse perto. Aprendi que os tesouros que nos são mais caros devem ser levados conosco aonde quer que formos. Não suporto vê-los onde estão longe de minha ajuda. Eragon escalou a perna de Saphira e ela partiu para substituir o elfo que cuidava dos dragões selvagens nascidos há alguns meses. Saphira ascendeu, voando em círculos até atingir a altura ideal e disparou em direção à fenda entre duas montanhas, para o vale em que estavam sendo criados os dragões. Eragon sentia cada corrente de ar que passava sob Saphira e as respectivas mudanças que fazia na posição das asas e cauda para manter o equilíbrio. Um fiapo de nuvem passou na frente de Saphira, muito mais baixa que as nuvens geralmente ficavam. Saphira não teve tempo de desviar. A pressão do ar baixou, e ela caiu alguns metros antes de se estabilizar. E as lições sobre correntes de ar que Glaedr ensinou? Eragon se arrependeu de não ter amarrado as correias da sela em suas pernas e agarrou o espinho na sua frente. Eu estava distraída. Saphira mergulhou entre as duas montanhas baixas e entrou planando no vale. Logo que ela se aproximou do fim do estreito, Eragon sentiu a consciência dos dragões, mandando imagens, sons e sensações para sua mente instantaneamente. Saphira rugiu com alegria, e soltou uma língua de chamas com treze metros de comprimento. Os dragõezinhos voavam, olhando tudo com os olhos incrivelmente grandes para o rosto, o que lhes dava uma aparência inofensiva e criançola. Eragon riu e desceu de Saphira quando ela pousou sobre uma rocha no fim do vale , escavando sulcos na pedra com as garras de marfim. Assim que desceu e olhou para a campina abaixo, uma dezena de dragões do tamanho de touros cercou Eragon. Eram dragões coloridos, divertidos e faziam cabriolagens enquanto corriam em direção a Saphira, passando lhe uma miríade de sensações das mais diversas. Do meio de alguns pinheiros retorcidos ao lado, saiu um elfo, Narÿen, que Eragon saudou com o cumprimento tradicional dos elfos. Quando Narÿen respondeu com a paz viva em seu coração parecia ter levado uma facada. Eragon não fazia caso das normas de cortesia dos elfos, com essas variações de status que tinham. Achava que as constantes variações da própria posição social lhe haviam ensinado a ver todos como pessoas importantes. Eragon achava que estava começando a entender alguns elfos. Eram basicamente como todas as outras raças da alagaësia: tinham uma predisposição natural para crerem que eram a única pessoa do mundo. Sorriu ao lembrar do que Oromis dissera: isso, acima de tudo, irá ajudá-lo a entender o que move as pessoas. E compreensão gera solidariedade e compaixão, mesmo que seja pelo mendigo mais pobre da cidade mais pobre da Alagaësia. Fico pensando o que Oromis faria se me visse agora, comentou com Saphira.
Ora, isso não é nenhum segredo. Ele juntaria a ponta dos dedos sobre a mesa e diria que estava orgulhoso do seu progresso.
É uma pena que Murthag não o tenha conhecido,Eragon suspirou.
Ele o viu uma vez.
Você entendeu o que eu quis dizer.
Onde será que Murthag está?
Não sei. Eragon de repente estacou, com o elfo ainda olhando para ele com os olhos brilhantes. Tive uma ideia. Eragon ficou frustrado por não ter lembrado disso antes, mas nenhum dos elfos, e nem Arya, haviam lembrado dessa opção. Feitiços de rastreamento eram mais complicados que esse outro método. Decerto estavam ocupados se preocupando com sua quase morte por causa de um absoluto idiota, resmungou Saphira.
Eragon não respondeu.
–Narÿen, Saphira e eu gostaríamos de cuidar dos dragões por algumas horas. Se quiser nos fazer companhia...
O elfo pareceu voltar à realidade e declinou o convite com cortesia, mas dando uma desculpa que os dois sabiam ser esfarrapada.
– ah não, Matador de Rei. Seria um grande prazer, é claro, mas acho que irei voltar à minha casa, eu estava...
–tudo bem, Narÿen. -Eragon quase riu. Era um elfo jovem, Narÿen. Eles tinham uma tendência a se distanciar dele. Mesmo assim, Eragon gostava de Narÿen. Era o elfo mais parecido com um humano que ele já vira. - que a paz viva em seu coração.
–que as estrelas zelem pelo seu caminho.- disse Narÿen, confuso por Eragon ter alterado a ordem das frases.torcendo a mão diante do esterno, no gesto de lealdade dos elfos, ele foi-se caminhando sobre a grama.
Assim que o elfo saiu de seu campo de visão, a uns dois quilômetros de distancia, Eragon dirigiu-se a um canto da rocha que tinha uma pequena concavidade. Murmurando um feitiço, ele convocou a umidade da terra para encher a bacia de pedra. Depois que a água encheu a bacia e começou a derramar-se só para ser carregada novamente pelo feitiço, Eragon cortou o fluxo de energia.
–draumr kópa -disse ele, concentrando- se na imagem de Solan. O açougueiro apareceu imediatamente sobre a superfície lisa da água. Ele está vivo! Ele bradou com a mente. Eu disse que arrancaria sua cabeça e me banquetearia com seu cadáver.-respondeu Saphira- Essa teria sido a opção mais fácil. A paisagem em volta de Solan estava negra. Eragon achou que era porque nunca a vira antes, mas então ele vislumbrou luz. Solan carregava uma tocha invisível para Eragon, mas a luz dela batia sobre a relva., num círculo em que ele via algumas partes do chão. Que lugar é esse? O cavaleiro ouvia o som de água. Então uma explicação para a escuridão veio á sua mente, quando a lua apareceu sobre o deserto de Haadrac. A água é o Az Ragni! Ele está perto das Montanhas Beor! Agora que já havia descoberto onde estava Solan, Eragon viu, além do corpo macilento do açougueiro, o contorno de uma montanha solitária. Aquela é Moldün, a orgulhosa! Eragon passara de barco por ali, por isso podia ver o lugar. Era próximo ao acampamento em que um dos anões de Ternag mostrara-lhe os seus punhos de aço. E agora, o que vai fazer, pequenino? Eragon pegou papel e tinta nos alforjes (os elfos não usavam pergaminho).
Ora, escrever-lhe! Não posso deixar que ele seja visto por alguém de Carvahall , muito menos por Roran ou Katrina.
Começou a escrever. Fazia tempo que não usava essas runas, já que usara mais a língua antiga, e, conseqüentemente, o Liduen kvaedhí, o roteiro poético, aquele ano. Quase esquecera algumas letras. Pensando um pouco em desespero, resolveu escrever uma advertência.
Solan, ao lado do Az Ragni, entre o deserto de Haadrac e as Montanhas Beor, saudações. Parabéns por ter escapado da detenção em Ellésmera. Eu sei onde está e por que está aí. Porém, não o livrei dos encantamentos que lancei aos animais à sua volta, pelo que percebo. Eragon pensou mais um pouco. Vou ter que ameaçá-lo. Saphira bufou. Não gosto de blefes.
É uma meia-verdade, respondeu ele. Eu não o livrei dos encantamentos.
creio que, agora que está livre, queira ver Katrina. Devo pedir que não tente, se preza pela sua vida. Se tentar chegar perto dela, meus encantos o matarão, e se Katrina passar pelo seu cadáver, não o verá. Além disso, se ela o visse, ficaria louca, e acho que saber que você causou a loucura de Katrina deve ser um destino pior do que saber que ela está feliz com, o conde Roran martelo de ferro, senhor de Carvahall. Não sou, porém, totalmente desprovido de coração, como você deve pensar. Para provar minha boa-fé, lhe mandarei um retrato mágico de Katrina. Cuide bem dele. - Eragon, Matador de Espectros, ruína dos Ra-zac, e Regicida.
Não há títulos demais nessa carta? Perguntou Saphira, com ar de riso.
Quero que Solan pense que se pude matar Galbatorix, matá-lo pode ser bem mais fácil. Saphira desempoleirou alguns dragões de cima de sua asa ao mudar de posição, soltando uma nuvem de fumaça. E o retrato mágico? Eragon cocou as escamas duras sob o pescoço de Saphira. Ei, Eu não podia escrever fairth. Ele não entenderia. Mas mesmo não sabendo mais o seu nome secreto, ainda o conheço melhor do que a maioria das pessoas. Sei o que o abala.
Sabe, conjecturou Saphira, se Elva soubesse o suficiente da língua antiga, poderia descobrir o nome secreto de todos ao seu redor. Não precisaria de toda a personalidade da pessoa. O sofrimento é o que nos define. Murthag disse algo parecido na Campina Ardente.
Ele estava falando da raiva. Mesmo assim, Eragon estremeceu por causa da menção à Elva. Sempre que pensava em Elva, arrependia de tê-la abençoado. Ou amaldiçoado. Ele vasculhou a mente em busca de uma imagem de Katrina para dar a Solan. Pensava em uma imagem feliz. Então soube exatamente que imagem daria a Solan. Concentrou-se na memória do jantar que Nasuada dera com os aldeões de Carvahall. Katrina estava em primeiro plano, rindo e olhando para Roran com um olhar tão apaixonado que as orelhas de Eragon ficaram quentes. Atrás do casal, um boneco modelado em casca de pão dançava sobre a mesa, à frente de Ângela., e perto dela estavam Horst, Elain, Brigit, Nofravell, e outros de Carvahall. Ao fundo estava Saphira, com crianças subindo por seus espinhos e brincando com suas antenas. Eragon concentrou o máximo que podia na lembrança e murmurou o encanto para gravar a imagem na ardósia já tratada com os pigmentos necessários. Eragon lançou um encantamento para impedir que a fairth quebrasse, impregnando a ardósia com energia. Depois amarrou sua carta na placa de pedra. Ele relembrou o feitiço que Oromis o havia ensinado, para transportar os objetos através do espaço. Sua memória havia falhado em alguns pontos, mas depois de substituir algumas palavras por sinônimos, ele teve de usar um pouco das reservas de Saphira para transportar seu presente a Solan.
Observando através da poça de água que havia criado, ele viu Solan aproximar-se da cratera fumegante e tirar de lá um papel com as pontas enegrecidas, amarrado a uma fairth. Solan leu a missiva de Eragon e bradou para o alto.
–mentiroso! Você é um ninho de larvas, filho de um cão! Um demônio! -o açougueiro macilento parou para ouvir algo -não, é Eragon, o maldito cavaleiro! -disse ele para o ar.
–e ainda tem coragem de assinar como regicida!
Será que ele enlouqueceu? Eragon perguntou-se. Olhe com atenção -disse Saphira. Eragon então notou uma forma negra ao lado de Solan. Um vazio na forma humana. Ele está acompanhado de alguém que nunca vimos antes. Eragon deixou a imagem se desvanecer. De repente, Saphira saltou e ergueu-se, agitando a cauda, pronta para atacar. O que foi? Sinto cheiro de intruso. Não é humano, nem elfo, nem anão. Então o que é? Não sei. Tenho a impressão de já ter sentido esse cheiro... Eragon saltou para cima de Saphira, e ela alçou vôo. Guiando-se pelo cheiro, Saphira chegou a um riacho onde uma figura estava parada na frente de um dragão. Era um dragão alaranjado, com so meio das escamas avermelhado. Eragon desembainhou Brisingr e saltou no ar. Caía, ainda quando o desconhecido tocou o dragão selvagem no focinho com a mão. Eragon foi lançado para trás pela violenta explosão. O dragão e o estranho continuaram parados, ilesos, mas um círculo de dois metros de diâmetro fora queimado na grama. Eragon levantou-se e perguntou na língua antiga:
–quem é você, e o que está fazendo aqui?- o estranho respondeu na mesma língua, com uma pronúncia excelente, facilmente melhor que a de Oromis.
–um peregrino nesta terra e um cavaleiro de dragão.
Eragon, tomado por um pressentimento, virou-se para o dragão. As escamas alaranjadas haviam ganhado bordas pretas. O dragão selvagem havia se tornado um dragão juramentado.na mão do estranho que parecia um homem, mas não era decididamente humano, apareceu uma gawdey Ignasia. O toque de um desconhecido havia criado um cavaleiro de dragão. Eragon havia ganhado um aluno, e era facilmente o último aluno que Eragon queria ter.