Terminei de tomar banho e depois de finalmente me arrumar, eu fui na cozinha ver se tinha surgido algum doce na geladeira. Mas não tinha. Olhei em volta e percebi o calendário do lado do relógio e vi a data marcada de vermelho. Amanhã seria meu aniversário, bati palmas pra mim mesma com um sorriso no rosto.

Calcei um sapato qualquer e sai em direção à uma loja perto da minha casa. Lá tem diversas coisas, comprei cartas que podiam servir de convite de aniversário, aproveitei e comprei muitos doces e depois fui pagar. A mulher que ficava no caixa me dava arrepior, mas ela até que era fofa, só os seus olhos todos pretos eram estranhos, e ela sempre estava com um pirulito na mão. Depois que terminei de pagar, voltei pra minha casa e consegui escutar uma música tocando ao longe. Devia ser o sorveteiro, eu adoraria um sorvete agora, mas tenho pouco tempo para distribuir os convites. Cheguei em casa, peguei um prato com biscoitos, me sentei na mesa da sala e comecei a escrever nas cartas, tendo cuidado pra colocar corações nos pingos dos i's.

Convidei todos que eu me lembrei, até o Alphabet Boy, eu tinha que me desculpar com ele. Deixei os convites pra enviar para todos eles e fui dormir, mesmo sendo cedo, amanhã seria um dia cansativo.

Acordei, e sem reclamar eu já estava totalmente pronta com meu vestido rosa bebê e minha decoração com cores pastéis. Fui pro andar de baixo e coloquei uma música pra tocar de fundo, coloquei o bolo na mesa e me sentei no sofá esperando os convidados chegarem. A festa começava 8h, e já eram 7:54, eles já deviam estar chegando.

Eram 8:15, acho que eles devem estar se arrumando pra chegarem bem bonitos pra minha festa.

Eram 8:45, eles devem ter dormido tarde ontem.

Eram 9h, eu cansei de esperar, peguei um tabuleiro de um jogo qualquer e comecei a jogar os dados, andar as casas até me cansar e simplesmente jogar em qualquer canto da casa.

Eram nove e meia e ninguém tinha chegado ainda. Se eles acham que são meus únicos amigos, estão enganados. Fui no meu quarto e peguei meus verdadeiros amigos, os levei pra sala e sentei todos em seus devidos lugares:

— Agora esperem aqui, que eu vou chamar o palhaço.

Subi de novo pro meu quarto e passei uma maquiagem no meu rosto e vesti uma roupa exagerada. Desci novamente e comecei e ficar balançando e fazendo algumas palhaçadas, fazendo esculturas nos balões. Olhei para os meus convidados e então eu pisquei meu olho e larguei o balão no chão:

— POR QUE ELES NÃO VIERAM? POR QUE? POR QUE EU TENHO SEMPRE QUE SER EXCLUÍDA? POR QUE MINHA FESTA DE ANIVERSÁRIO TEM QUE SER COM BICHOS DE PELÚCIA?

Eu encarei todas aquelas pelúcias na minha frente, o urso, o coelho, o leão, e de repente vi meu mundo girando, e vi eles me respondendo.

"Porque você é só uma idiota."

"Que cabelo de drogado é esse, você deve assustar as pessoas quando sai na rua."

"Só sabe afastar as pessoas."

"Só sabe chorar."

"Chora, chora, chora, aí que bebê chorona."

Não aguentei, peguei o primeiro bicho de pelúcia que eu vi, levei ele até minha boca e arrancei sua cabeça fora, fiz isso com todos até ter a certeza de que estavam mortos. Com essa certeza, fui pra cozinha pegar uma caixa de fósforo e acender as velas do bolo, mas a verdade é que eu acendi o fósforo e deixei ele cair perto da cortina, mas eu não percebi isso, olhei pro bolo escrito 'Cry Baby', eu odiava esse nome, arranquei as velas fora e esmaguei todo aquele bolo, até restar só o chantilly espalhado pelo chão.

As cortinas já estavam inteiramente em chamas.

Coloquei as velas novamente no bolo emsagado.

Soprei as velas.

Peguei um cigarro e comecei a fumar.

Feliz aniversário pra mim.