Hey, Jude

Seria eu, gay?


Capítulo dois

Seria eu gay?

"A vida do homem divide-se em cinco períodos: infância, adolescência, mocidade, virilidade e velhice. No primeiro período o homem ama a mulher como mãe; no segundo, como irmã; no terceiro, como amante; no quarto, como esposa; no quinto, como filha."

(Pierre Proudhon)

27 de abril de 2009,

Estava na idade em que os nervos estavam a flor da pele. O assunto que era mais comentado eram as festas de quinze anos ou as baladas em que os mesmos iam. Algumas meninas afirmavam que não eram virgens, outras nem ao menos haviam beijando. Eu me inclua no segundo grupo, assim como algumas eu não tive a sorte de ter alguém para chamar de meu. Eu não tinha escolha, parecia que o destino conspirava contra a minha felicidade.

— Hey, Jude. — chamou, Sam. — Você vai para a balada neste fim de semana?

— Não, isto são para pessoas que podem ter alguém para curtir. — comentei com desânimo.

— Pare com essas besteiras, Jude. — iniciou, seu semblante se mostrava irritado em cada palavra pronunciada. Passou as mãos pelo meu ombro e após suspirar, completou — Eu sei que assim como ocorreu com algumas, a sua hora irá chegar.

Entristeci ao saber que isto não passava de palavras ilusórias para mim, mas mesmo eu afirmando para ele que isto era bobagem o mesmo tentava me animar.

"Ele é tão lindo!" Pensei ao ver seu sorriso que mostrava seus dentes esbranquiçados e retos. Sua íris era de um verde fraco e seu corpo já mostrava os efeitos da puberdade. Ele era o sonho de muitas meninas do ensino fundamental, mas ao contrário delas eu sabia sobre a sua opção sexual.

Ao passar pelas pessoas, notava que as crianças me olhavam com ódio. Algumas delas vinham me perguntar sobre seus gostos preferidos, mas as que tentavam algo com ele sempre fracassavam. Eu tinha pena da maioria que tentava algo como ele, mas ria das meninas que se achavam as melhores e pensavam que o mesmo cairia aos seus pés.

— Está maravilhosa. — começou minha mãe ao ver o modo como eu estava vestida.

— Obrigada, mas foi o Sam que escolheu as roupas. — disse para tentar isentar a vergonha que estava sentindo.

— Sim, eu sei. — Ela se mostrava cansada por ouvir a mesma frase que saia de meus lábios ao ser elogiada.

Samuel chegou, levando-me à porta de entrada. Seus olhos demonstravam orgulho ao perceber que eu estava vestindo a roupa que escolheu.

— Milady — disse ao abrir a porta do carro para mim.

Era um completo cavalheiro. Sabia como respeitar as mulheres, esse era o principal motivo que fazia com que as crianças se apaixonassem por ele. Sentou ao meu lado no banco traseiro, era seu irmão que dirigia.

— Obrigada, Raibow* — respondi.

— Você deveria se divertir mais, Jude. — começou ao ver minha expressão angustiada.

— Por que não entende como me sinto neste momento, Sam? Sabe mais do que ninguém que eu acabarei machucada, se me apaixonar por alguém está noite. — respondi com desgosto.

— Você não irá se apaixonar por alguém está noite, Jude, eu prometo. — finalizou de modo pensativo.

Havia várias pessoas bêbadas cambaleando pela balada. Avistei algumas conhecidas, rindo ao me ver neste local. Disfarçadamente, cheguei mais próximo dos meninos que não perceberem a minha presença.

— Se ela não é lésbica, provavelmente é assexuada. — começou, Tobias, aos risos. — Não vejo outro motivo, senão esse. — completou.

— Mas quem seria o louco que iria querer alguém como a Jude? — Neste momento tive vontade de arrancar os cabelos dele. Quem ele é para me chamar de feia?

Corri para o banheiro de modo apressado. Lágrimas denunciavam sair de meus olhos, mas eu não me permitia soltá-las. Olhei-me no espelho e me senti horrível."Quem iria gostar de uma menina ruiva com várias sardas no rosto?" Pensei ao ver que meus olhos estavam avermelhados e que minha íris estava verde por causa disto.

Encostei na parede e escorreguei até sentar no chão e cai ao encostar a cabeça em meu joelho. De repente alguém se aproximou a passos lentos e se posicionou na minha frente. Levantou-me rapidamente, sem que eu pudesse pensar em seu ato. Em segundos eu estava na parede e olhava diretamente para a menina que me empurrou. Ela parecia a Susi** com seus olhos azuis e o cabelo loiro amarrado. Olhou para mim de maneira penetrante, antes que eu pudesse me soltar ela me encaixou em seus braços.

— Susie, prazer. Você se lembra de mim? — perguntou ao me afastar dela de maneira suave.

— Lembro. Eu sempre quis saber o porquê de você me olhar daquele jeito. — estava gaguejando, por me lembrar de seu olhar mortífero que sempre ia de encontro ao meu no intervalo.

— Eu não podia admitir naquele tempo, mas hoje sei o quanto eu te amo, Jude. — respondeu antes de chocar seus lábios contra os meus.

Demorei para perceber que estava sendo beijada por estar em choque com a declaração. Fechei os olhos de maneira lenta. Seu gesto era calmo e doce ao tocar em meus lábios, era como se eu fosse de porcelana e pudesse me quebrar a qualquer momento. Ao me penetrar com sua língua, suas ações se tornaram desesperadas. Parecia que ela tinha receio de me perder ou que eu pudesse lhe repudiar, mas se acalmou ao notar que eu correspondia.

— Você é muito linda, Jude. — respondeu com esforço ao parar o contato, por fim acariciando a minha face.

Eu não sabia o que falar. Tinha dado o meu primeiro beijo em uma garota. "Se ela não é lésbica, provavelmente é assexual." Pensei ao me afastar de seus braços. Talvez eles tivessem toda a razão, eu era lésbica e só agora eu teria se dado conta deste detalhe.

— Eu ouvi o que os meninos disseram sobre você. — Disse Susie com as mãos em forma de punho, mostrava-se irritada. — Se você for lésbica ou assexuada, aceite-se do jeito que é. Mas se você não for, deveria mostrar o quanto estão errados. — completou ao limpar as últimas lágrimas que estavam quase secas em meu rosto.

Afastou-se após me dar um último selinho. Senti que meu corpo e mente estavam mais leves ao sair do banheiro. Descobri que está noite não tinha lugar para o amor em meu coração, está afirmação me deixou mais contente do que anteriormente. Fui para a pista pensando na menina que tinha me beijado no toalete. "Será que eu ia encontrá-la novamente?" Pensei ao tentar descobrir seu eu era gay ou não.

Pensava no futuro e em como seria irônico se descobrissem que eu era homossexual. Seria conhecida como a lésbica, amiga do gay mais desejado pelas crianças. Parei de dançar ao notar uma silhueta aos beijos com um homem, estavam na parede perto do toalete masculino. Em poucos segundos a imagem que vivi a dois anos atrás voltou a rondar na minha mente. Aproximei dos dois rapidamente e sorri ao notar que meu amigo era um dos homens.

Esperei ele terminar o contato para lhe chamar. Seu rosto se virou de forma rápida ao reconhecer a voz de seu "chamante". Seu olhar demonstrava algo como "Não é o que você está pensando", mas seu pedido foi em vão. Puxei-o pela gola, após pedir desculpar ao homem que estava do seu lado.

— Não precisa me explicar nada, Sam. Eu só quero ir para a casa. — disse por notar que ele estava desesperado.

Entramos no carro, mas o silêncio ainda continuava. Observei que suas íris iam em minha direção a todo momento, isto mostrava o quanto estava ansioso para me contar algo.

— Pode falar, Rainbow. — comecei.

— Então você viu? — sabia que sua pequena frase, demonstrava o quanto estava nervoso.

— Vi o bastante para provar que eu sempre estive certa em relação a sua opção sexual. — meu tom de voz estava sério ao respondê-lo.

— Eu não sou gay, Jude. — sua fala indicava o quanto estava irritado.

— É? Então me diz, o que foi toda aquela animação ao beijar um homem?

— Beijar homens não significa que eu não seja heterossexual. — iniciou — Eu prefiro muito mais as pessoas do sexo oposto. Está bem? — completou, demonstrando o quanto estava desanimado com está situação.

— Então por que você dispensa todas aquelas meninas que gostam de ti? — perguntei em perplexidade.

— Porque elas não são o meu tipo. — comentou, fazendo-me lembrar do menino loiro do shopping. — Mas um dia eu irei provar a você o quanto eu gosto de mulheres.

Eu me calei e comecei a chorar em seu ombro. Era irônico o modo como eu sempre acabava sendo amparada pelo Sam no final do dia. Ele me afagou de modo acalentador e logo as minhas lágrimas se cessaram.

— O que houve, little princess? — comentou ao notar que eu tinha me acalmado.

— Eu beijei uma mulher, Sam... — confessei ao olhar em seus olhos, eles não me faziam mentir.

— Não faz mal experimentar coisas novas. — disse, tentando me animar.

— Mas o pior é que eu gostei de beijá-la. — declarei aos prantos.

Ele não falou mais nada ao ouvir minha última declaração. Seu rosto estava virado para a janela, de um modo pensativo. O carro parou, mas ele não me abraçou como de costume. Isto me magoou, ele estava agindo estranho comigo.

Estava na sala vendo TV quando minha irmã entrou. Bêbada novamente e isto me fez ficar entristecida. Ela assumiu ser bissexual, mas sempre teve o seu amigo como único amor. Mudou no dia em que viu seu amado morrer em uma rixa de gangue. Desde aquele dia ela jurou nunca mais fumar, mas este vício foi substituído pela da bebida.

— Por favor, pare com isto! — exclamei ao tocar em seu ombro — Isto não o ressuscitará, Jane. — completei ao ver que ela não parava de beber.

— Você me enoja, Jude. — iniciou de maneira seca ao me olhar — Sempre se considerando a certa, mas eu sei que você é tão problemática quanto eu. — finalizou ao me puxar ao subir as escadas, parou quando chegou no meu quarto após abrir a porta do mesmo.

— Mas eu sei que me afogando nas bebidas não os soluciona. — comentei aos berros.

— Vai dormir e me deixe em paz, por favor. — declarou ao tragar mais um gole. Seu rosto estavam com linhas pretas por estar chorando e isso fez com que eu não quisesse abandoná-la.

— Deixe-me ajuda-la, Jane, por favor. — declarei ao lhe abraçar.

— Já que não ouve as minhas ordens, darei a você um motivo para se afastar de mim. — disse após me jogar na cama.

Eu não fugi quando percebi que ela estava me beijando. Seus lábios tocavam o meu de forma rude. Passava as mãos em meu corpo de forma possessa. Sua língua penetrou os meus lábios de forma grossa e neste momento soube a sua verdadeira intenção. Queria que ela parasse, mas meu medo só a encorajava. Olhou-me de forma assustadora ao tocar em meus seios, mas felizmente desmaiou antes que pudesse tirar minhas roupas.

Fiquei triste pela minha irmã, mas eu não a culpava. Ela era apenas uma vítima do sistema com a qual não podemos fugir. Perdeu o homem que ama da forma mais rude possível e assim como todos, as consequências para a mesma foram terríveis. Dormi, desejando que está fase terminasse rapidamente.