Hey, Jude

"A vida é uma caixinha de surpresas"


CAPÍTULO TRÊS - "A VIDA É UMA CAIXINHA DE SURPRESAS"

"Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.

Farei que amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.

Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

Porém, pera cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa
Aqui falta saber, engenho e arte".

Ao meu amigo, vento. Leve, o amor! Te amo!"

(Luís Vaz de Camões)

27 de abril de 2010,

Algumas coisas mudaram desde aquele acontecimento. Jane foi para o internato, pois se tornou muito agressiva e depressiva por causa da bebida. Minha mãe ficou desesperada ao ver ela desmaiada no banheiro por vomitar muito sangue. Após sair do coma alcoólico ela foi internada, mas na maioria das vezes parece que não tem vida por sempre estar dopada.

Eu fiquei mas desinibida com o tempo, mas ainda estava em dúvida sobre a minha opção sexual. Era 8 ou 80, para mim não existia bissexualismo. Sempre vai haver um que você goste mais, isto é fato.

Agora estou indo para o Texas com a minha família e o Sam. Ele está mais afastado de mim, mas minha mãe insistiu para que fosse conosco. Chegando no aeroporto, encontrei um homem segurando uma placa com o nosso nome. Minha mãe foi correndo abraçá-lo ao perceber quem era.

- Como você está grande, James. - comentou, deixando-me boquiaberta.

Ele havia mudado muito, sua aparência mudou de "bonitinha" para Deus grego em apenas dois anos. Sabia que ele não era homossexual por saber de suas inúmeras pretendentes, deixando-me contente. Olhei para o lado e percebi que Sam estava com um semblante triste. Isto fez com que eu me sentisse arrasada, mas nada poderia estragar o meu dia.

Sentei-me no jardim após chegar na casa deles. O local era enorme, tinha uma piscina e a casa parecia uma mansão. Estava escurecendo e o pôr do sol estava acontecendo, fazendo-me pensar em uma cenário perfeito para um romance. Logo, alguém se aproximou e se posicionou do meu lado.

- Oi, Jude. - uma voz grossa ressonou no ambiente.

- Oi, James. - respondi ao lhe abraçar.

Sua mão foi para a minha cintura, deixando-me arrepiada. Ele pôs a mão em meu rosto, fazendo com que eu virasse o rosto para vê-lo. Estávamos próximos um do outro e seus olhos não deixavam com que eu me concentrasse. "Isto é errado, vocês são primos." Pensei ao me afastar dele.

- Estava sentindo muito a sua falta. - comentou com a sua voz beirando ao sensual por estar rouca.

"Eu também! Por que não me beija logo?" Pensei por meros segundos.

- Para que mentir tanto? - perguntei aos risos.

- Não estou mentindo, eu sinto a sua falta. - finalizou antes de aproximar.

Segurou minha face com as suas mãos para que eu não escapasse. Seu rosto estava a centímetros do meu. Já dava para sentir o toque de seus lábios, mas isso não ocorreu. Alguém estava atrás de nós e segurava o James pela gola. Surpreendi-me ao notar que Nilda era a culpada. Minha tia olhava de modo acusador para nós, fiquei arrependida neste momento.

Ao deitar na cama, desejei que aquilo não tivesse ocorrido. Temi pelo futuro do meu primo e pelo nosso quase beijo. Senti algo crescer em meu peito, era dor. Tive vontade de chorar, mas eu não me permitia soltá-las. Levantei ao ouvir batidas na porta e desabei ao ver Sam do outro lado.

- Como estais se sentindo? - comentou ao acariciar meu cabelo.

Sorri ao notar que o meu velho amigo, havia voltado. Com as antigas manias que eu tanto adorava. Parecia que nada mais me preocupava naquele momento, só a presença dele. Fiquei calma ao repousar em seu colo. Muitos não sabiam, mas ele sempre cantava uma música para me animar.

Hey, Jude, don't make it bad,
Take a sad song and make it better.
Remember to let her into your heart,
Then you can start to make it better.

Hey, Jude, não fique mal,

Escolha uma música triste e melhora-a.

Lembre-se de deixá-la entrar em seu coração,

Então você pode começar a melhorar.



- Desculpe-me, se eu lhe magoei algum dia. - disse ao lembrar do olhar mortífero que ele me dirigiu no dia da festa.

Ele não disse nada, apenas afagou meu cabelo e beijou minha testa. Meus lábios se curvaram em um sorriso por saber que essa era a sua forma de perdão. Eu o conhecia tão bem, que nada mais me surpreendia. Adormeci ao saber que estava perdoada.

[...]

- Acorde, minha filha, acorde. - disse minha progenitora ao me chacoalhar inteira. - Venha se despedir de seu primo.

Levantei de modo apressado e segui em direção a porta. Nilda estava chorando ao vê-lo entrar no ônibus. Acenei para ele ao perceber que o ônibus já estava partindo, sendo correspondida por ele.

- É tudo culpa sua, Jude! - exclamou minha tia ao apontar de modo acusador para mim.

Estava confusa. O que eu teria feito de errado? Todos estavam ao nosso redor ao ouvir o berro de Nilda, mas eu não me intimidei com a sua acusação.

- Tentou seduzir meu filho, mas eu não permiti. Não é? - iniciou - O que não sabes é que agora ele está a salvo de suas garras, Jude. Eu o mandei para um convento de padres.

- Não foi de toda minha culpa, Nilda. - declarei aos berros - Ele quis tanto quanto eu. - finalizei, chateada por todas as acusações que ela fazia sobre mim.

- Por favor, Ana. Afaste a sua filha de mim, senão não me responsabilizarei pelos meus atos. - antes mesmo de terminar a frase, minha mãe me levou para o quarto.

Ela não falou nada sobre aquela discussão, mas eu vi o seu semblante decepcionado ao olhar para mim. Samuel entrou logo em seguida, mostrando-se irritado. Senti a cama abaixando ao notar que ele se sentou ao meu lado.

- Isto é verdade, Jude? - perguntou de maneira fria.

- Sobre o quê? - rebati por estar confusa.

- Não enrole. É sobre você e o James. - comentou.

- Eu e ele quase nos beijamos ontem, Rainbow. - declarei, tentando finalizar a conversa.

Ele parou de falar e me olhou de maneira rude. Suas mãos foram de encontro ao meu corpo e posicionou a minha cabeça em seu colo. Tentou omitir sua preocupação com um sorriso, mas eu sabia que algo estava lhe afligindo. Ele estava muito estranho de um ano para cá e algum dia eu ia saber a verdade.

Adormeci, pensando em tudo o que mudou. Poderia viver um romance, mas o sacerdócio e minha tia me impediram. Almejei que ele não fosse o meu único amor, pois neste momento percebi o quanto eu gostava de homens.