Heartless

Parte Um


O som dos cascos do cavalo batendo no chão continuamente me relaxou pelas últimas horas, mas nada supera a dor satisfatória de finalmente descer do meu querido corcel. Meu destino era o castelo de Rumpelstiltskin que agora se eleva em toda sua magnitude à minha frente. Deixei meu cavalo a alguns metros antes de entrar na propriedade do mago, e então me aventuro pelas terras que conhecia bem.

Rumple já sabia que eu estava ali assim que coloquei meus pés no castelo, talvez soubesse que eu estava indo ao encontro dele há quilômetros de distância. Não me pegou de surpresa quando a voz dele ecoou pela sala.

—Você me surpreende cada vez mais, Victoria.

—Não surpreendo, Rumple. Isso é uma das únicas coisas que eu tenho certeza. —Me aproximo da cadeira que ele estava sentado. —Eu preciso de volta.

—Certamente não tem como me surpreender com isso, queridinha.

—Já passou o perigo, e o lugar mais seguro não é mais com você.

—E também não é nas mãos d…

Uma garota abre a porta e entra no cômodo quase sem perceber que estávamos lá. Quase.

—Quem é essa? Sua nova aprendiz?

—Deixe—nos, Belle. —Ele levanta e gesticula exageradamente para ela. Quando ela vai embora pedindo desculpas ele se vira para mim com um pouco de desgosto no rosto.

—Não é uma aprendiz, então.

—Uma criada.

—Bem, o castelo realmente está mais limpo do que nunca. E eu sei que meu coração não ficará mais seguro no meu peito perto da Rainha do que aqui, mas é o melhor. E eu não te devo mais nada, aquele foi nosso último acordo. —Graças aos céus.

Rumpelstiltskin riu como se não acreditasse no que eu disse, mas com um movimento da mão uma pequena caixa estava na mão dele com mágica. Estendi minha mão para pegar, porém ele teletransporta para o outro lado da mesa, fora do meu alcance.

—Você voltará a mim quando quiser fazer acordos de novo, querida, e eu estarei esperando ansiosamente.

Então ele coloca a caixa com meu coração na mesa, e me dá um daqueles sorrisos que eu faria de tudo para tirar da cara dele. Eu pego e me sinto quase como revitalizada, mesmo ainda fora do meu peito. Os batimentos são reconfortantes.

—Sempre bom fazer acordos com você, Rumple.

—Até a próxima, queridinha. —Sua risada ecooa pelo castelo enquanto eu saio desse lugar maldito.

Não vai haver uma próxima vez.

Quando vejo que estou há uma distância segura tanto de Rumpelstiltskin quanto da Rainha Má eu paro na estrada para que meu cavalo descanse por alguns minutos e para que eu possa finalmente ver o que estava fora de mim por tanto tempo. O coração vermelho e preto brilha de forma linda antes de eu colocar no meu peito. Fico sem ar por segundos e quando sinto ele batendo dentro do meu peito quase choro. Todas as emoções parecem mais acentuadas agora que voltei a ter meu coração comigo, mas não posso tê-lo comigo assim. O que Regina faz com o caçador é horrível, e mesmo que eu tenha jurado lealdade a ela, temo que algum dia ela tente tirar meu coração para me controlar. Se isso acontecer, a raiva dela quando descobrir que eu estava a um passo na frente dela é insignificante perto do que ela poderia fazer me comandando.

Passo cerca de 15 minutos me permitindo sentir antes de tirar novamente meu coração do meu peito. A dor é excruciante, mas, novamente, insignificante comparado ao que aconteceria se caísse nas mãos da Regina. Me levanto do tronco que havia me sentado e desamarro meu cavalo da árvore fora da estrada. Faço carinho nele e volto a cavalgar. Devo chegar ainda hoje ao castelo.

Graças aos céus a rainha não estava em nenhum lugar quando cheguei ao pôr do sol. Deve estar pelo reino aterrorizando mais uma vila à procura da Branca de Neve. Me limpo no meu quarto e visto um vestido leve, algo que pode talvez deixar ela satisfeita o suficiente para não me punir por ter ficado o dia inteiro fora.

Passa-se mais duas horas até que Regina chegue. Ela entra furiosa no quarto dela, onde eu estava esperando em sua cama.

—Minha rainha! Como foi sua busca hoje?

—Onde você estava? —Agora sua raiva se volta para mim. Ótimo.

—Vossa majestade havia me permitido viajar até Rumpelstiltskin hoje.

—O que exatamente você queria com aquele duende demoníaco, Victoria?

—Queria uma coisa minha de volta. —Falo enquanto me viro de costas para pegar dois cordões na cama —É a única coisa que eu tenho dos meus pais agora. Eu havia pago um favor com eles tempos atrás quando fiz um acordo com ele.

—E como você pegou de volta? —Ela me olha um pouco desconfiada.

—Fiz outro acordo. Agora devo um favor para ele.

Ela suspira aborrecida e se senta na penteadeira. Definitivamente era um problema sua serva dever um favor ao tão poderoso Rumpelstiltskin, ainda mais quando sua serva é uma antiga aprendiz dele. Regina ainda espera o dia em que eu vou fugir dela e voltar para a asa dele, mas é provavelmente a última coisa que eu faria estando completamente sã. Toda vez que saio do castelo tenho certeza que a mão dela coça para arrancar meu coração e me fazer voltar, mas ela ainda não fez isso, o que é ótimo, visto que meu coração não esteve no meu peito nos últimos anos.

Me aproximo com passos leves dela, e ajoelho no chão ao lado da cadeira que ela está sentada.

—Então, minha rainha, o que quer fazer comigo essa noite? —Pergunto olhando para ela.

—Estou certa de que posso pensar em alguma coisa. —Sua mão encontra meu pescoço e aperta levemente.