Heartless

Parte Final


Quando a memória das pessoas volta, é como se uma bomba tivesse sido jogada no meio de Storybrooke. Várias pessoas se libertando da prisão mental que Regina criou. Era um completo caos, mas eu só conseguia pensar no meu coração. O coração que eu havia enterrado na floresta, a alguns quilômetros do castelo da Rainha Má e quando eu voltei para pegar antes da maldição me alcançar, não estava mais lá. E eu tenho uma boa ideia de quem poderia ter pegado.

Faz alguns minutos que uma nuvem rosa envolveu a cidade e o formigamento familiar da magia percorreu meu corpo, o que havia me colocado um passo à frente e dois atrás. Se a magia realmente voltou, não seria tão fácil recuperar meu coração do Senhor das Trevas. Mas eu nunca fui conhecida por tomar decisões prudentes.

Me teletransportei para a frente da loja do Gold e fiquei um pouco tonta. A magia rugia dentro de mim e eu até poderia ficar instável, mas anos de treinamento não permitiram que isso ocorresse. Eu abri a porta e adentrei na loja.

—Senhor Gold!

—Sabe, a placa na porta diz claramente que a loja está fechada. —Ele falou saindo da sala dos fundos.

—Então você deveria trancar a porta.

—Mesmo com suas memórias de volta, você tem coragem de voltar aqui. —Ele quase sibilou para mim.

—E por que isso? —Rumple me olhava com raiva, e mesmo quando ele não tinha magia em Storybrooke, isso era algo extremamente ruim.

—Saia, antes que eu a faça sair, querida.

—O que eu fiz pra você?

—Não pense que eu não descobriria que foi você que contou a Regina sobre a Belle.

—Quem é Belle?

Alguma coisa se mexeu atrás da cortina dos fundos e eu pude ver uma mulher. Puxei na minha memória e me lembrei onde havia visto ela.

—Ela é a Belle. —Apontei para a mulher. —A sua empregada? O que eu ganharia contando a Regina sobre ela?

Gold me observou por alguns segundos. Parecia ponderar se eu estava dizendo a verdade. A única razão que a Rainha Má teria para fazer algo a Belle seria se essa fosse importante para Rumpelstiltskin.

—Ela não é só sua empregada. —Eu ri. —O que aconteceu?

—Ela me manteve presa no hospício por 28 anos. E antes da maldição me prendeu numa torre —Belle respondeu.

—E me fez acreditar que ela havia sido morta.

Típico da Regina.

—Bem, eu não tive nada a ver com isso, a última vez que vi você na Floresta Encantada, vocês não pareciam estar juntos.

—O que você quer, Victoria? —Gold estava impaciente.

—Meu coração. —Ele me olhou confuso.

—Da última vez que nos vimos você o levou com você, mesmo eu dizendo que era uma péssima ideia.

—Sim, você estava certo, mas eu o perdi, okay? Quando fui buscar antes da maldição, já não estava mais lá, e você, Gold, era o único que sabia que eu não estava com meu coração. Certo?

—Acho que você está perdendo a pessoa mais provável de estar com ele.

—Além de você? —Eu perguntei, sorrindo sarcástica. —Ah, droga. —Eu suspirei. —Regina.

A casa da Regina era exatamente como eu me lembrava. Uma coisa interessante sobre ser quem você era na Floresta Encantada é que quando a maldição nos atingiu não mudou nossa essência. Regina pode ter feito da vida dos heróis uma merda mas eu continuei a ser quase o animal de estimação da Rainha aqui nessa terra. Eu moro na mesma rua que ela, e perdi a conta das vezes que dormi ao lado dela do que na minha própria cama. Alguns hábitos simplesmente não mudam.

Eu tenho a chave da casa dela, apesar de que com magia agora, simples fechaduras não seriam o problema –o que se esconde atrás delas, é outra coisa. A porta se abre, sem mais nem menos. Regina não ter protegido sua casa com magia de sangue me surpreende muito. Ela não é uma mulher descuidada, apesar de que com a volta da magia na cidade ela deve esperar que ninguém seja burro o suficiente para enfrentar a grande Rainha Má. Eu sou burra o suficiente, portanto aqui estou no hall desta luxuosa casa procurando pela mulher mais perigosa que eu já encontrei.

—Regina?

—No escritório. —Ela me respondeu. Eu conseguia sentir o sorriso no rosto dela. Arrogante.

Ela estava bebendo uma taça de cidra que ela mesma faz com as maçãs do quintal dela, encostada na mesa, o móvel que presenciou muitas noites que nós duas compartilhamos.

—Cedo para uma bebida, não acha?

—Nunca é cedo para uma bebida, principalmente em um dia como hoje. Devemos celebrar.

—O que você tem para celebrar?

Ela finalmente olhou para os meus olhos. Com um sorriso de lado e cínica ela falou:

—Nada de “Minha Rainha”? Ou “Vossa Majestade”?

—Você não é mais minha rainha. Na verdade, não é rainha de ninguém aqui em Storybrooke.

—Talvez não oficialmente. Mas pelo menos ainda sou a prefeita, e talvez você me devesse mostrar um pouco mais de respeito, Victoria.

—Eu não devo nada à você, Regina. —Eu quase rosnei. Talvez o apelido de animal de estimação tenha um fundo de verdade. —Eu não devo nada, desde que você me traiu.

—Qual é a acusação da vez? —Ela riu.

—Meu coração. —Assim que eu falei o sorriso dela sumiu. Não esperava pegar ela desprevenida, mas sua expressão mostra que ela não esperava que eu voltasse para buscar o que é meu. —Você o tem, e eu o quero de volta.

—Eu não tenho.

—Não, não, não, Regina. Eu conheço esse olhar no seu rosto. Você está com ele, e vai me devolver agora.

Ela me deu um breve sorriso, talvez surpresa que eu liguei os pontos até ela. Caminhou até sua mesa e abriu uma gaveta com uma das chaves daquele molho enorme que ela tem da cidade inteira, ou pelo menos do que é mais importante. Tirou de lá de dentro uma caixa que eu conhecia tão bem quanto ela. Era exatamente igual aos que ela mantinha os outros corações que tem. Isso me deu uma pontada de tristeza, o que é completamente ridículo dado que ela roubou o meu coração para eu estar tão afetada com o fato de onde ela guarda o que é meu. Regina abriu a caixa e tirou o órgão pulsante de dentro dela, e observou por um momento antes de atirar ele para mim. Consigo pegar no ar e me questiono se doeria se ele caísse no chão. Honestamente não quero descobrir.

—É só isso que você quer? —A olho confusa. —Então você não veio me matar?

—Quem seria burro o suficiente para tentar isso, Regina? Você já era poderosa sem sua magia, mas agora? —Parei por um instante ponderando qual era a melhor palavra para a descrever. —Você está praticamente inalcançável. E —Eu suspirei —eu nunca faria nada de ruim a você.

Ela me observou por alguns segundos. Eu podia sentir ela me analisando, tentando saber se o que eu estava falando era verdade, se depois de mais de 30 anos ao lado dela, eu ainda seria capaz de traí-la ou se eu estava dizendo a verdade. Ela nunca me entendeu de verdade, sempre se contentando com o fato de que nem mesmo eu, com toda a magia que tenho, conseguiria virar as costas para ela. Todos esses anos de promessas, cada palavra que eu disse com amor e fervor, nada disso foi o suficiente para fazê-la acreditar genuinamente que sempre eu estaria ao lado dela.

—Você me ama. —Ela parecia surpresa. —É por isso que não veio aqui para me matar. Metade da cidade está marchando na minha direção com tochas e forquilhas e você está aqui, na minha frente, com esses olhos de cachorrinho abandonado que ainda ama sua dona.

Eu engasguei. Regina, a prefeita, nunca se dirigiu dessa forma à mim, a Rainha Má, no entanto… Já fazia anos, e honestamente, eu não esperava que ela falasse novamente assim comigo.

—Não me deixa surpresa, no entanto. —Ela continuou a falar, contradizendo sua expressão anterior. —Nunca foi necessário te controlar, você sempre esteve aos meus pés.

—Esse foi o problema que agora me faz ir embora, Vossa Majestade. —Olhei uma última vez para ela, antes de ir embora, guardando a imagem da Rainha Má com um sorriso cínico, o mesmo que ela sempre me deu na Floresta Encantada. —Você precisou roubar algo que eu já havia dado à você de bom grado.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.