No dia anterior, na capital, Frisk estava dormindo em seu quarto quando ouviu seu despertador tocar. O relógio apitava ao mostrar que eram seis da manhã. Frisk se virou até seu despertador e desligou o alarme.

Frisk: “Mais um dia de trabalho...”

Ela apenas ouvia um grande silêncio dentro de casa, enquanto ouvia alguns carros passando pela rua. Ela estava sozinha naquele apartamento e não ligava de morar só. Ela tinha se mudado de seus tios faz um mês quando eles decidiram se mudar novamente. Dessa vez, eles viram que Frisk podia cuidar de si mesma e a partir daquele momento, ela era independente.

Após usar o banheiro, ela foi até seu armário para escolher o que vestir quando ela reveu suas roupas antigas que já não cabiam nela mais. De fato, ela estava com dezoito anos e já tinha crescido bastante. Porém, ela se lembrou de quanta saudade que ela tinha de falar com eles. Ela se perguntava como estavam todos e como suas vidas têm andado esse tempo todo. Depois de tanto viajar para fora, Frisk não manteve mais contato com eles, porém, com a inauguração da faculdade, era a chance perfeita para vê-los novamente e de saber como eles estavam.

Frisk se sentiu determinada e estava ansiosa para ser liberada do trabalho duro que iria lhe render frutos. Ela mal podia imaginar a reação deles de vê-la crescida e de poder contar tudo o que passou na capital e na embaixada. Por mais que as coisas estivessem indo bem, ela era chamada a todo o momento para ir a uma reunião ou resolver uma pendência e por isso não teve tempo de conversar com eles.

Na hora do almoço, ela estava no refeitório almoçando quando um homem com roupas sociais se aproximou dela para cumprimenta-la, era o sócio que ela havia contratado para ajuda-la.

Sócio: Olá Frisk, como vão os negócios?

Frisk: Olá, a construção da faculdade ficou pronta e está tudo pronto para a inauguração, só preciso fazer algumas coisas antes de terminar por hoje.

Ela estava tão esperançosa de conseguir terminar seu trabalho que mal notou a reação do seu sócio, ele parecia estar tramando algo.

Sócio: Certo, mas... Eu recebi um pedido de ultima hora para que alguém vá a uma reunião com o ministério. A diretora não pode ir amanhã... então poderia ir até lá?

Frisk: Mas... E a viagem de inauguração? Era pra eu estar lá!

Sócio: Alguém irá no seu lugar e garanto que é um ótimo substituto.

Frisk: ... Ok.

Sócio: É isso aí, conto com você.

Ele colocou a mão sob o ombro dela e saiu dali, deixando Frisk sentada em sua mesa, atônita. A viagem era amanhã e Frisk não podia acreditar nisso, mais uma vez ela teve seu plano tomado por outro compromisso. Não era a primeira vez que ele fazia isso e ela estava desconfiando dele mais a cada dia, mas ela não conseguia argumentar contra ele. Não era a mesma coisa que argumentar com alguém do mesmo nível que o dela, ele tinha grande influência na embaixada e isso a deixava na base do pedestal, sem poder para falar.

Ao chegar à noite, Frisk terminou seu trabalho e voltou para casa pensando em como seu plano havia sido arruinado. Ela não queria culpar seu sócio por isso, mas ela já teve várias oportunidades nas quais ela não pôde ir por causa de uma reunião ou outra, ditas pelo próprio sócio. Quando ela se aproximou do apartamento onde estava, ela viu alguém sentado perto do seu apartamento. Ele a olhou serenamente e Frisk reconheceu aquele sorriso e seu rosto, surpresa. Asgore estava do lado de fora e ela estava emocionada de vê-lo, correndo até ele e o abraçando.

Frisk: Pai! ... O que está fazendo aqui?

Asgore: Vim visitar você, minha jovem! Todos estão com saudades de você.

Ela convidou-o para entrar na sua casa e Asgore recolheu sua mala, andando até dentro de seu apartamento. Frisk foi para a cozinha e vendo que Asgore havia vindo visita-la, ela estava assutada e ao mesmo tempo emocionada de vê-lo. Enquanto isso, Asgore olhou ao redor e viu uma decoração simples pela casa, havia uma sala, quarto, cozinha e banheiro. Encantado com a simplicidade, ele se sentiu numa poltrona e deixou suas malas do lado, olhando para Frisk enquanto ela estava na cozinha preparando um chá.

Asgore: E como foi o trabalho hoje?

Frisk: Cansativo, hoje preparei os documentos para a inauguração da faculdade amanhã.

Asgore: E você vai na inauguração?

Frisk: ... Não. Eu vou ter uma reunião com o ministério amanhã e por isso mandaram um substituto.

Asgore: ... Entendo, é uma pena.

Após isso, houve um silêncio ponderado e Frisk terminou de fazer o chá, entregando uma xícara até Asgore. Frisk se sentou na sua mesa com seu chá e ambos começaram a beber pacificamente. Asgore foi ali à busca de notícias e ele queria saber como ela estava, e vendo que seu trabalho continuava existindo, ele queria saber se ela queria voltar para casa, agora que mora sozinha.

Asgore: ... E você pretende fazer uma faculdade?

Frisk: Eu não decidi ainda.

Asgore: Bem... Imagino que a faculdade dos monstros devem deixar humanos estudarem lá... Então, se você quiser estudar do nosso lado, seria ótimo.

Frisk: ... Eu não sei se eu deveria sair daqui.

Ela não queria olhar para ele, algo dentro dela a incomodava muito por ouvir o que ele dizia, mas ela não podia negar seu desejo de voltar para casa e ver todos os seus amigos outra vez. Asgore decidiu ser mais relutante.

Asgore: Entendo... Mesmo que goste do seu trabalho, você pensou em se dar um tempo? Seu sócio pode arranjar um substituto para você, não?

Frisk: ... Sim, mas... Me substituir em um trabalho importante não é a mesma coisa... Eu sempre sou chamada para fazer trabalhos importantes.

Asgore: E você pensou em chamar alguém para que você o treine?

Frisk: Isso vai levar muito tempo. Além do mais, é provável que meu sócio não vá gostar.

Asgore: Você já é maior de idade agora... Você pode decidir isso sozinha e ele não pode te prender aqui para sempre. E se precisar, saiba que posso te ajudar nisso.

Frisk: Eu sei...

Novamente surgiu um silêncio perturbador. Por mais que ele quisesse convencê-la a voltar, Asgore não queria pressioná-la, esperando que ela decidisse por si só. Ele pensou que ela queria saber sobre seus amigos então Asgore mudou de assunto.

Asgore: ... Sua mãe está bem, cuidando bem da escola dela e dos alunos. Me admiro vendo ela tão feliz com seu trabalho. De vez em quando eu passo lá para cuidar do jardim da escola e Undyne também passa por lá para cuidar das crianças. Elas adoram Undyne. E Papyrus, Sans e Alphys estão bem... Trabalhando, como sempre...

Frisk: Que bom...

Asgore: ... Você sente saudades deles?

Ao ouvir a pergunta, ela exibiu um sorriso tímido, sentindo um pouco de culpa por não poder vê-los.

Frisk: Sim, mas eu não tive tempo de conversar com eles... Imagino que já se esqueceram de mim.

Asgore: ... Por que diz isso? Você nos libertou, lógico que nunca iríamos esquecer você.

Ela não respondeu-o, olhando para sua xícara vazia. Asgore somente se perguntava no que ela estava pensando. Seja lá o que fosse, Asgore tinha que ajuda-la a sair dessa. De repente, ele viu Frisk se levantar e ela olhou para ele.

Frisk: Precisa de mais alguma coisa? Eu não tenho um quarto sobrando e nem outra cama, então...

Asgore: Não se preocupe Frisk, eu posso ficar no sofá.

Frisk: Certo... eu vou pro meu quarto, boa noite.

Após dizer isso, ela levou as xícaras até a cozinha e foi para seu quarto ficar por lá. Frisk fechou sua porta depois de entrar no seu quarto, sentou-se em sua cama e ficou pensando no que aconteceu. Hoje foi um dia e tanto, mesmo não podendo ir à inauguração, Asgore apareceu na capital para vê-la. Por mais que ela quisesse sair do seu trabalho, ela sentia insegurança de deixá-lo e isso a atormentava. Todos os seus colegas contavam com ela e Frisk se sentia cada vez mais pressionada por todos eles, e ao mesmo tempo, ela se sentia aflita por não conseguir mais ver seus amigos.

Ela logo olhou para uma caixa que estava no alto do armário e se lembrou que seu emblema estava lá, guardado. Ela realmente tinha saudades dos tempos antigos e por um momento, ela desejou que algo acontecesse para que ela voltasse a lutar ao lado de seus amigos que nem antigamente. Logo, ela viu o que havia pensado e ela balançou a cabeça. Ela sabia que desejar coisas como essa não era uma boa ideia, ainda mais que ela não sabia que tipo de maldade poderia surgir. Depois disso, Frisk vestiu seu pijama e foi dormir.

Dentro de seu sonho, ela se viu andando na vila onde ela estava e viu os monstros e humanos se dando bem entre si, conversando e rindo até a noite surgir. Frisk continuou andando tranquilamente quando sentiu um tremor sob seus pés até se tornar um terremoto. Ela caiu e se segurou no chão, assustada. Repentinamente, ela ouviu um barulho estrondoso do alto e viu o monte Ebbot expelindo cinzas pelo céu. Frisk olhou atônita para o monte, o monte havia virado um vulcão, entrando em atividade. Frisk apenas ouvia gritos e viu uma correria pela cidade. De repente, as cinzas invadiram a cidade, se espalhandopela cidade até alcançar Frisk, ela tampou seus olhos para se proteger. Quando ela abriu-os, o cenário havia desaparecido e ela viu de longe alguém a olhando com um sorriso maligno, desaparecendo na escuridão. Aquele olhar ficou preso em sua mente de tal forma que a fez acordar assustada.

Ainda era de noite quando Frisk se levantou da cama, tensa com o que havia acabado de sonhar. Ela sabia que era impossível que o monte Ebbot tivesse virado um vulcão, isso seria algum tipo de visão? Frisk começou a se sentir inquieta e então, decidiu sair do quarto e ir até a cozinha pegar um copo d’água. Enquanto andava, ela ouviu Asgore falando pelo celular, ele parecia muito preocupado.

Asgore: ... E vocês estão bem? ... Ninguém se machucou?...

Ela andou silenciosamente até a cozinha e encheu um copo com água enquanto ouvia Asgore falando.

Asgore: ... Frisk? Sim... Ela está bem... Eu farei o possível para voltar amanhã, não se preocupe... Boa noite, Tori.

Ele desligou o celular e parecia muito nervoso, suando frio e colocando sua mão atrás de sua cabeça. Ele foi até a cozinha quando viu Frisk segurando um copo de água, ele se assustou ao vê-la ali.

Frisk: ... O que aconteceu?

Asgore: Não... Não foi nada Frisk, está tudo bem... Tori me ligou perguntando como estão as coisas, e...

Ela não parecia convencida pelas palavras dele, ela viu a cara de horror dele enquanto falava pelo telefone, mas ela não sabia o que dizer naquele momento, seu sonho ainda estava penetrado em sua mente. Asgore olhou para ela e decidiu mudar de assunto.

Asgore: ... E você? Teve um pesadelo?

Frisk: ... Bem, eu...

Ela não parava de mexer no copo, inquieta. Seu sonho realmente a intrigava e ela temia que isso poderia ser real, pois seu sonho pareceu e muito. Ela olhou para Asgore, preocupada com o que estava sentindo.

Frisk: Eu sonhei... Que houve um terremoto na vila... E eu vi um vulcão entrando em erupção, as cinzas voaram pelo céu e se espalharam pela vila... Faz muito tempo que não sonho coisas assim.

Asgore a olhou perplexo, ele não podia mais esconder o temor em seu rosto. Frisk percebeu que certamente algo havia acontecido. Ele abaixou a cabeça, arrependido de ter escondido o que havia acontecido, enquanto ela o olhou, assustada.

Frisk: ... Isso... Realmente aconteceu?

Asgore: ... Me desculpe Frisk, não quero que se sinta obrigada a voltar. Eu sei que foi uma notícia alarmante, mas sugiro que vá descansar, amanhã veremos isso melhor.

Frisk: ... Certo... Eu vou voltar a dormir.

Asgore: Descanse bem.

Asgore deu um sorriso exaustivo enquanto Frisk foi até seu quarto. Nesse tempo, Frisk começou a se desesperar, se perguntando se todos estavam bem. Ela nunca havia se sentindo tão dividida quanto agora, internamente ela sabia que tinha que voltar não só para ver seus amigos, mas ela estava pressentindo que o mal havia mesmo retornado.

Frisk: “Mãe, Sans, Papyrus, Undyne, Alphys, Mettaton... Será que estão todos bem?”

Os pensamentos do trabalho foram afugentados e ela não parava de pensar neles, se penguntando se algo havia acontecido. Ao chegar em seu quarto e fechar a porta, Frisk imediatamente olhou novamente para aquela caixa em cima do armário e sem pensar duas vezes, ela pegou e abriu-a. Ela viu o emblema ali, intacto igual antes. Vendo aquele emblema, ela se lembrou de quando ela era guardiã e de como ela tinha determinação para deter o mal. Junto com seus amigos, ela encontrou forças para extinguir as trevas do subsolo e libertar os monstros. Quando Frisk pegou o emblema, ela admirou-o por alguns segundos e então, ela fechou os olhos, se concentrando em sua força de vontade. Ela desejou sentir sua essência novamente, a determinação. Logo, ela ergueu o emblema ao alto e falou em voz alta.

Frisk: Poder da luz, me guie!

O emblema brilhou apenas por poucos segundos, a energia que se concentrava no emblema se dissipou rapidamente e ele se apagou, não fazendo ela se transformar. Vendo isso, Frisk ficou perplexa, sem entender o que havia acontecido.

Frisk: Mas... O que houve? Por que não consigo me transformar mais...?

Com o emblema em sua mão, Frisk se sentou na sua cama e começou a se questionar, tensa. Ela havia se esquecido de quem era? Havia perdido a determinação e seu laço de amizade com eles? Imediatamente Frisk pensou nos momentos bons em que esteve ao lado de seus amigos. Mesmo após ter tomado sua decisão de sair da vila, eles a apoiaram. Não havia mais nada na sua mente a não ser isso, era essa a resposta que ela encontrou. Frisk olhou para seus pés, desconsolada e desmotivada.

Frisk: Foi porque eu os deixei... não é?

Ela começou a se culpar novamente por ter deixado seus amigos, deixando seu emblema cair. Frisk deitou e se encolheu na sua cama, frustrada. As coisas mudaram e ela não estava pronta para voltar a lutar contra as trevas. Aliás, sem seus poderes, ela ainda estava destinada a lutar contra o mal? E se for verdade... Eles iam querer voltar a ajuda-la? Ou ela teria que se virar para lutar sozinha se eles não quiserem? Sua determinação caiu naquele instante e ela não sabia mais o que fazer.

Asgore estava do outro lado da porta e ouviu tudo. Ao ouvir o que Frisk tinha dito, ele ficou aflito, ela não conseguia mais se transformar e isso era um grande problema. Ele saiu da porta do quarto e foi até a sala. Dentro do seu bolso estava o seu emblema guardado, Asgore pegou-o dentro do bolso e olhou-o, percebendo que o amuleto estava fosco. Ele suspirou e guardou-o de volta, indo dormir no sofá, melancolicamente.