No dia seguinte, Frisk havia acordado cedo e se arrumou para mais um dia de trabalho. Ao terminar, ela foi até a cozinha para tomar café quando viu Asgore arrumando as malas. Por um momento ela havia se esquecido de que estava com visita em casa.

Asgore: Bom dia, Frisk.

Frisk: Bom dia...

Ouvindo a resposta dela, Asgore olhou-a por um momento e a viu agindo normalmente, deixando-o estranho. Pela reação dela, ele esperava que Frisk coincidentemente teve apenas uma boa noite de sono. Logo, ele se aproximou da mesa e se sentou na cadeira, vendo Frisk trazer duas xícaras de café.

Asgore: Dormiu bem?

Frisk: Sim, obrigada. Eu tenho que trabalhar hoje, me desculpe por não poder ficar...

Asgore: Tudo bem, minha jovem. Ainda temos até amanhã para conversarmos sobre seus planos para o futuro.

Falando isso, ele notou que Frisk abaixou a cabeça, colocando sua xícara na mesa e escondendo suas mãos. Frisk imediatamente se lembrou da conversa que ela ouviu dele, falando que faria o possível para voltar à vila amanhã, ele queria leva-lá junto? Ele não havia dito nada. Asgore começou a se sentir preocupado ao ver a reação dela.

Asgore: ... Você está bem?

Frisk: Sim... eu lembrei que hoje tenho um trabalho chato pra fazer...

Asgore: Entendo...

Ali surgiu um silêncio incômodo, Asgore sentiu que deveria persuardí-la naquele momento, mas vendo-a naquele estado o deixou desconfortável. Antes de viajar até a capital, Toriel e Asgore conversaram seriamente e ela insistiu-o para que fosse até a capital, não porque Frisk estava morando sozinha, Toriel confiava demais em sua intuição e pressentiu que algo horrível surgiria se Frisk decidisse não voltar. Apesar disso, sua persuasão foi o fator maior para fazê-lo viajar, fazendo-o prometer que ele voltaria com Frisk. Ele fechou seus punhos, tremendo de medo, enquanto olhava para sua xícara de café e voltou a olhá-la rapidamente para conseguir convencê-la.

Asgore: E... sobre a conversa de ontem... Você pensou em poder tirar um dia de folga?

Frisk: ... Não posso...

Ela ficou relutante a partir dali, recusando qualquer ajuda que vinha dele para sair do trabalho e ir embora. Frisk pensava que não precisava mais disso, que seu propósito real foi embora.

Asgore: Pensei que queria ver seus amigos de novo... Eles sentem sua falta, sabe...

Frisk: Não dá... Não sou mais quem eu sou...

Asgore: O que quer dizer com isso?

Ela estava fazendo o possível para manter sua compostura, mas ela não estava conseguindo lidar mais com isso, saber que não era mais uma guardiã deixava-a pior, ter abandonado seus amigos havia sido um erro.

Frisk: ... Eu não sou mais uma guardiã.

Asgore olhou-a assustado, esperando ouvir isso. Ele deixou que ela falasse, esperando oferecer seu apoio a ela após terminar de desabafar sobre ontem. Frisk não conseguia olhar para ele, ressentida consigo mesma.

Frisk: ... Eu não devia ter ido embora, eu tinha amigos e uma vida feliz ao lado deles, mas eu escolhi vir aqui e agora estou presa... Eu não tenho mais propósito algum a não ser trabalhar aqui.

Asgore: Não diga isso Frisk. Você fez coisas que ninguém faria por nós, sua escolha fez a diferença e todos te agradecem por isso. Você não tem culpa de nada.

Asgore estava tentando ajudar o quanto podia para acalmá-la, vendo que sua determinação estava arruinada. Porém não era suficiente, Frisk estava emocionalmente instável e abalada, duvidando de si mesma.

Frisk: ... Por que continua acreditando em mim? Eu acreditava que estava fazendo o certo todo esse tempo, mas no final, acabei arruinando tudo.

Tendo dito isso, ela se levantou da mesa e deixou sua xícara na mesa, intocada. Frisk pegou sua bolsa de trabalho do sofá e tirou o emblema da bolsa. Andando até a mesa, Frisk deixou seu emblema em frente à Asgore e saiu dali sem dizer mais nada. Asgore ficou sentado, olhando o emblema que ela havia deixado enquanto ouviu a porta se fechando. Ele pegou o emblema dela e aproximou-o com o seu. Vendo os dois emblemas juntos, ele esperava que algo acontecesse, mas não, eram como dois emblemas comuns se encontrando. Asgore olhou desapontado.

Asgore: ... É como se a esperança tivesse ido embora.

Frisk deixou o prédio e viu uma limusine parada na rua onde ela estava. Olhando surpresa para aquele carro, ela viu o vidro da ultima porta abaixar e seu sócio estava ali, oferecendo uma carona a ela. Apesar da desconfiança, Frisk aceitou a carona gentilmente e ambos foram ao trabalho. Nesse meio tempo, seu sócio ficou conversando sobre a reunião que iria ter esse dia e contou alguns detalhes que iriam ser abordados durante o encontro. Enquanto isso, Frisk estava com a cabeça longe, tristemente, não apenas por ter perdido a viagem, mas por ter perdido seus poderes.

Chegando ao trabalho, eles saíram da limusine e se depararam com vários jornalistas que estavam esperando entrevista-los. Frisk ficou assustada com tantos jornalistas que estavam ali e seu sócio começou a responder as perguntas para eles. Nesse meio tempo, Frisk ficou protegida por dois colegas de trabalho ao entrarem no prédio e ela viu todos os seus colegas preocupados, correndo por vários lados. Ao verem que Frisk havia chegado, um deles foi até ela para conversar.

Frisk: Mas o que aconteceu?

?: Você não sabe? Em que planeta você vive?

Frisk não entendeu a pergunta sarcástica dele e viu-o pegando um jornal. Ele mostrou para ela a primeira manchete do jornal que constava a notícia do terremoto causado por uma explosão no Monte Ebbot na madrugada do mesmo dia. Pelo visto o sonho dela mostrou algo real e Frisk ficou assustada ao perceber isso.

?: Felizmente ninguém se feriu, mas isso é ruim. Todos sabem que aquele monte foi o mesmo de onde os monstros saíram e eles acham que pode ser uma maldição por você ter libertado os monstros.

Frisk: O que? Como eles podem pensar isso?

?: ... Só podemos torcer pro melhor agora.

Após dizer isso, seu colega se virou e deixou Frisk parada, no meio do escritório. Pelo visto não havia mais informações e ela só podia ouvir telefones tocando sem parar pelo escritório inteiro, imaginando o que poderia acontecer dali em diante. Frisk sabia que não podia ficar ali olhando, mas ela se sentia desmotivada.

Enquanto Frisk andava até seu escritório, alguém a puxou pelo punho e Frisk se assustou ao ver quem havia feito isso. Era sua colega de trabalho, Thalita, uma das secretárias da embaixada e amiga dela. Ambas foram até outra sala e Thalita olhou para Frisk, inconformada.

Thalita: O que você está fazendo aqui? Pensei que você tinha ido viajar.

Frisk: Eu não pude, ok?

Thalita: Meus tios moram lá e eu só ouço ligações deles desde madrugada, perguntando onde você está. Eles me disseram que todos os monstros estão aflitos, querendo você de volta.

Frisk: Olha, não é tão simples eu decidir sair, ok? Eu também sou importante aqui.

Thalita: Frisk, coloca isso na sua cabeça logo: eles precisam de você, AGORA. Diga pro seu sócio que você vai sair e me dê um dia de descanso.

Sem dizer mais nada, Thalita saiu da sala irritada e no fundo, Frisk ouviu-a xingando alguém, ela esperava que Frisk tomasse alguma atitude a partir dali. Frisk sabia que a essa altura, não era apenas seus amigos que queriam vê-la, mas todos os monstros. Mesmo assim, ela só podia pensar no quão inútil ela se sentia ao imaginar no que os monstros pensariam se soubessem a verdade, que perdeu seus poderes para sempre. Saindo da sala sem motivação alguma, ela se lembrou que havia uma reunião com o ministério foi andando até a sala quando ela viu seu sócio conversando com várias pessoas perto da sala de reunião. Ela foi até outro corredor e por sorte, o sócio dela não a viu quando eles começaram a falar sobre outra coisa.

Ministro: ... Você tem planos para continuar na embaixada junto com a garota?

Sócio: Certamente. Estou ciente que ela deve ir para a faculdade em breve, eu irei despachá-la logo para fazer um intercâmbio e ela pode deixar a embaixada comigo.

Ministro: Tem certeza de que ela não irá desconfiar disso?

Sócio: Não senhor, ela confia em mim. A política precisa de homens influentes e cá estou eu, fazendo minha parte.

Ministro: Certo, mais tarde conversamos sobre isso.

Frisk ouviu toda a conversa e imediatamente foi até o banheiro mais próximo para não descobrirem que ela esteve ouvindo tudo. Ela sabia que tinha algo errado nisso e estava certa em ter desconfiado dele. Ela foi usada esse tempo todo para que ele ganhasse influência e entrasse na política. Ela sentiu tanta raiva por ter sido enganada que ela decidiu demití-lo, mas ela não podia fazer isso sem provas. Frisk respirou fundo, olhou-se no espelho e se perguntou o que deveria fazer para sair dessa situação. Pensando bem, ela não precisava disso, ela não queria incriminá-lo. Frisk sabia que era melhor estar ao lado das pessoas com quem ela podia contar ao invés de viver uma mentira, afinal, tudo isso foi por mérito dela.

Ela saiu do banheiro e foi até a sala de reunião, onde o ministro e seus assistentes estavam reunidos. Frisk se surpreendeu ao ver que seu sócio também estava ali, ela achava que ele foi fazer outro trabalho. Ela fechou a porta e se sentou no canto da mesa, podendo ver todos. O ministro foi o primeiro a falar.

Ministro: Sinto-lhe dizer que o que estou trazendo não são boas notícias, senhorita. A mídia está repercurtindo esse incidente dizendo ser uma maldição. E sabemos o quanto você têm se dedicado a esse trabalho. Peço que considere bem o que estamos propondo, para não causarmos o risco de criar uma nova oposição, decidimos mudar os planos.

Ao falar isso, ele pegou sua pasta de arquivos e tirou dela um documento assinado pelo presidente, constando que seja suspenso temporariamente os direitos fornecidos aos monstros e que eles sejam novamente isolados do restante dos humanos até que se faça novamente uma perícia sobre esse caso, que afirma ser urgente. Frisk não estava acreditando no que estava lendo, depois de tudo que ela fez, eles continuavam tratando os monstros dessa forma? Ela bateu o documento na mesa e se levantou, inconformada.

Frisk: Não é justo! Isso não é culpa deles! Por que estão fazendo isso?

Ministro: Não podemos simplesmente fingir que nada aconteceu, eles só estão entre nós faz três anos e apesar de ser um bom tempo, não é o suficiente para saber se eles são seguros.

Frisk: Isso já foi provado. Eu não vou aceitar isso, não quero negar os direitos deles dessa forma.

Sócio: Tem certeza que não há outro meio de resolvermos isso sem que haja desfavorecimento de uma das partes?

Ministro: Podemos marcar uma reunião sobre isso mais tarde, mas não podemos deixar em aberto o assunto do incidente, se vocês possuem alguma ideia do que deve ser feito...

Frisk olhou atentamente para o documento e notou as assinaturas. Ela viu que a data do documento assinado pelo presidente foi no mesmo dia. Frisk sabia que para conseguir uma autorização do presidente, era necessário marcar uma reunião. Obter uma assinatura no mesmo dia era impossível por causa de sua agenda lotada. Frisk apenas queria fazer um questionamento sobre isso.

Frisk: ... Desde quando vocês estavam planejando isso?

Ministro: ... O que está dizendo?

Frisk: Essa assinatura é mesmo do presidente? Vocês devem ter demorado pra conseguir a assinatura dele.

Ministro: Isso foi questão de urgência! O presidente esteve ciente do que aconteceu hoje mesmo.

Frisk: E ele concordou com isso? Eu não acredito mais em vocês.

Um alvoçoro começou na sala, o ministro estava ficando impaciente com a fala desafiadora dela e o sócio se levantou, tentando acalmar a situação.

Sócio: Por favor, se acalmem! E você está exagerando, Frisk!

Frisk: E você planejou me tirar da embaixada para que eu a deixasse com você, não é?

Sócio: ...O que? Eu nunca disse isso, Frisk! Você confia em mim, não?

Antes que o alvoroço ficasse ainda maior por causa dela, alguém ligou uma gravação de áudio e todos ficaram em silêncio. Ela reproduziu exatamente a conversa que o sócio e o ministro tiveram antes de começar a reunião. Ambos ficaram horrorizados ao ouvirem a gravação e ao mesmo tempo, eles viram seguranças entrando na sala. Frisk não sabia como alguém conseguiu aquela gravação e nem imaginava que aquilo podia acontecer. Naquele momento, alguém se levantou da mesa e esperou terminar a gravação para desligar. O ministro ficou irado com essa pessoa e antes que ele avançasse contra ele, que levava sua gravação, os seguranças o impediram. Mais dois guardas estavam andando até o sócio dela quando ele olhou para Frisk uma ultima vez, desesperado, antes de ser levado.

Sócio: Você não está entendendo, eu estou pensando no seu futuro! Eu te ajudei a chegar até aqui, não foi?

Frisk: Está demitido.

Após isso, os seguranças o levaram embora e ele decidiu se omitir, irado por ter sido descoberto. Ele e o ministro saíram da sala de reunião acompanhados.

Ministro: Eu preciso de um advogado...

Frisk mal podia acreditar que no que havia acontecido, agora que o sócio se foi, ela se sentiu mais livre para decidir o que fazer da sua vida. A pessoa na qual gravou a conversa deles se aproximou dela para conversar, era um dos assistentes do ministro.

Assistente: Você tem todo o meu respeito, Frisk. Ninguém nunca se atreveu a correr atrás em favor dos monstros igual você. Sinceramente, todos os meus colegas de trabalho falavam mal de você e eu não conseguia aceitar isso calado.

Frisk não tinha palavras para expressar a gratidão que sentia por essa pessoa, sem olhá-la.

Frisk: Eu não sei como agradecer...

Assistente: Bem, você tem que voltar lá. Você é a esperança deles, certo?

Ouvindo isso, ela não podia negar seu desejo ardente de voltar para a vila e reencontrar seus amigos. Não havia mais nada a fazer na embaixada, todos os monstros precisavam dela agora. Frisk olhou para o assistente e apertou sua mão.

Frisk: Eu tenho que ir, obrigada por tudo.

Dizendo isso, ela saiu da sala de reunião, pegou sua bolsa em seu escritório e saiu da embaixada correndo para voltar para casa. Frisk podia sentir dentro de seu peito, uma nova luz surgir dentro dela. Ela sentiu sua determinação crescer novamente. A mesma determinação foi sentida de longe pelo seu emblema, em cima da mesa, dentro de casa, o coração vermelho piscou uma luz fatigante.