O sol já se punha em Boston. Hora de Emma voltar para casa. Sozinha. Era seu 28º aniversario e não tinha ninguem com quem dividir a comemoração. Não que houvesse uma comemoração planejada... Correu os dedos pelos longos cabelos loiros, sentindo as leves ondulações, tentando espantar o cansaço do trabalho. Entrou no prédio, cumprimentou o porteiro, e tomou o elevador até seu andar. As portas se abriram revelando o corredor de sempre. Caminhou até a porta e notou que alguém tivera o trabalho de subir até lá para lhe deixar um envelope. Recolheu-o e entrou.

O apartamento ficou fechado o dia todo, estava escuro e abafado. Acendeu as luzes a abriu as janelas pelo caminho até a cozinha, o ar que vinha de fora não estava muito melhor. Deixou o envelope em cima do balcão e foi preparar o jantar. Pizza congelada de novo. Serviu o prato e levou ao micro-ondas, alguns minutos bastariam... Virou-se para o balcão e encarou o envelope branco de novo. Não reconheceu o endereço de origem, melhor abrir logo.

O papel tinha o timbre de uma prefeitura mas a carta era escrita a mão. As letras finas e bem desenhadas lamentavam informar o falecimento de seus pais, anexo, a escritura de uma fazenda. Emma puxou uma cadeira e sentou-se. Crescera num orfanato e nunca tivera qualquer informação sobre seus pais até aquele momento. Esfregou os olhos. O bip do micro-ondas forçou o desvio de sua atenção. Deixou a carta sobre o balcão novamente e foi buscar o jantar.

Encarava a escritura enquanto comia. Tinha concluído seu último trabalho, e não havia garantia de um próximo. Avaliar a fazenda com certeza não era uma má ideia, por pior que fosse, o terreno deveria render algum dinheiro. Terminou de comer, lavou a louça, e foi procurar um mapa. A tal cidade, Storybrooke, ficava a algumas horas de distancia. Juntou alguns pertences numa mala e estava pronta. Partiria amanhã.

***

No dia seguinte, Emma entrou em seu fusca amarelo, mapa em mãos, jogou a mala no banco de trás, e seguiu caminho para a cidade desconhecida. Observou a estrada se arborizando, o ar ficando mais limpo, e os sons de Boston cada vez mais distantes. Em poucas horas cruzou a placa "Bem-vindo a Storybrooke".

Diminuiu a velocidade, observando o lugar, procurando alguma sinalização da fazenda... As ruas não eram asfaltadas, eram calçadas, dando um ar rústico charmoso ao ambiente. Não havia prédios ou lojas se destacando, nem outro carro a vista. Algumas casas tinham quintais enormes, com galinhas, vacas, flores... outras não tinham quintal mas eram grandes. O estilo das construções não era urbano mas tinha certa sofisticação, o cuidado com os detalhes era visível, nas janelas, nos beirais... A cidade parecia um cenário de filme, limpa e organizada; como se cada construção, cada arvore, cada rua tivesse sido cuidadosamente planejada.

Um garoto descia rua na direção oposta; pele clara, cabelo preto curto, bem penteado para o lado. Trajava botas de couro, calça jeans, cinto combinando, e camisa xadrez vermelho com preto. Emma parou o carro para pedir informação.

–Hey, kid! - Ela acenou pela janela aberta do fusca.

O garoto estranhou o carro desconhecido e deu um passo para trás na calçada.

–Pois não? - Ele abaixou um pouco para olhar dentro do veículo.

–Eu estou procurando a fazenda... - Ela procurou a escritura para conferir o nome. - "Encantada". Por acaso você sabe onde fica?

–Sim, é... segue reto, segunda entrada a esquerda, tem uma placa... - ele apontou. - Mas não tem ninguém lá, os donos faleceram recentemente.

–É exatamente por isso que estou aqui. Obrigada, kid.

Emma arrancou com o carro na direção indicada. Pelo retrovisor ela pode ver o garoto sacar um celular do bolso, mas não se importou. A fazenda estava logo ali. Fez a curva e atravessou uma pequena ponte sobre um riacho, até a estrada de terra.

Parou o carro perto da casa de madeira e desceu. A fazenda era cercada e parecia maior que as outras da cidade. Além da casa, tinha celeiro, curral, um laguinho...

–Com licença...

Uma voz interrompeu. Emma se virou e viu uma moça incrivelmente elegante, montada num cavalo marrom. A pele tão clara quanto a do garoto de antes, o cabelo igualmente preto, na altura do ombro, liso com as pontas voltadas para fora. Botas de cano, calça jeans, cinto de couro, camisa azul escuro com as mangas dobradas até o meio do braço, e óculos escuro.

–Essa propriedade está sob os cuidados da prefeitura. Posso saber o que deseja? - A moça continuou.

–Sim... - Emma respondeu tateando os bolços em busca da carta com a escritura. - Eu vim por causa disso. - E mostrou o documento.

A mulher se inclinou, levantando os óculos para olhar o papel, e então desceu do cavalo.

–Você é a herdeira dos Charming? Veio reclamar a terra?

–Sim, sou Emma Swan. - E estendeu a mão.

–Regina Mills, - ela se apresentou e apertou a mão da loira. - prefeita de Storybrooke. É bom ver que veio cuidar da fazenda, o mato já estava começando a tomar conta... Os animais foram recolhidos mas pode ir busca-los assim que se acomodar...

–Na verdade, - Emma interrompeu. - não tenho intenção de ficar com a fazenda. Vim avaliar a terra e pretendo vendê-la, a prefeitura tem interesse...?

Houve uma pausa. O desapontamento era visível no rosto da prefeita.

–Entendo... É realmente uma pena, a produção dessa fazenda era muito importante para a economia da cidade... Bom, permita-me lhe mostrar a casa, acredito que queira descansar da viagem... - Ela sorriu.

–Sim, eu gostaria...

–A chave está lá na prefeitura, não é longe. - Regina subiu de volta no cavalo. - Me acompanha? - E estendeu o braço para Emma.

O gesto a pegou de surpresa, Emma nunca tinha montado um cavalo antes mas sentiu que seria indelicado recusar. Regina parecia tão gentil, e tinha um largo sorriso no rosto. Emma deu a mão e deixou que a prefeita a ajudasse a subir.

–Primeira vez? - Regina perguntou recolocando os óculos.

–É... não tem muitos desse onde eu moro... onde eu seguro?

Regina olhou para trás com um sorriso superior e puxou um braço de Emma em volta de sua cintura.

–Pode segurar em mim. - Ela assistiu a loira ficar visivelmente sem graça. - Não se preocupe, eu vou devagar.