Guerreiros Aesir

Capítulo 1: Dia de aula


Polo Norte.

O céu está coberto por nuvens brancas e densas, o chão coberto pela neve, e uma nevasca a pleno vapor, levando neve para todos os lugares possíveis.

E no meio do branco do frio e da neve, uma enorme mansão, que cobre hectares de distância e é atingido incessantemente pela neve.

Dentro dela está escuro e silencioso, ninguém fala e nem caminha por nenhum lugar, e todos os objetos dentro da mansão estão parados.

De repente no meio do lugar surge uma luz branca, forte e fria, que brilha em forma de espiral e tem som de sinos. Acabando com todo o silêncio da mansão. Um portal.

E de dentro do portal, sai um homem. Um senhor de idade, de cabelos e barbas brancas, compridas e lisas, olhos azuis e pele clara.

Usa um manto medieval, branco, com um brasão, de mangas longas, e com uma saia que vai até seus tornozelos, chegando a parecer um vestido, usa calças pretas e botas marrons.

Há sangue em sua testa, cabelo, barba e roupas. Dá alguns passos, afastando-se do portal atrás dele, e imediatamente cai de joelhos, e fica de quatro no chão enquanto geme.

O portal desaparece atrás do homem. Imediatamente, luzes se acendem e centenas de criaturas bípedes, grandes, gordas, peludas e de pelos amarronzados e acinzentados correm em sua direção, tentando socorrer o homem.

De suas bocas saem sons indiscerníveis ao ouvido humano, e cercam o idoso que permanece de joelhos e com as mãos no chão.

Os punhos dele estão cerrados, e neles carrega duas espadas de lâmina prateada e punhos dourados e vermelhos. E estas viram luz em suas mãos, que sobem disformes e desaparecem no ar.

E o homem segue de joelhos enquanto as criaturas estranhas seguem a falar coisas indiscerníveis ao mesmo tempo enquanto tentam socorrer o idoso.

O homem se põe de joelhos e grita: “Chega!”.

Sua voz é alta e ecoa no salão, e as criaturas ao seu redor chegam a curvar-se para trás com a intensidade da voz, e imediatamente todas as criaturas se calam.

O idoso se coloca de pé com muita dificuldade enquanto põe a mão sobre uma região de sua barriga, região esta que está ensanguentada e que deixa sua roupa branca enegrecida, e que parece haver algo furando seu corpo, à esquerda de sua barriga, e começa a puxar.

Faz força e geme enquanto sente a extração do estranho objeto de seu corpo, sente seu corpo gelar durante o ato e suar frio também, e seu corpo gritar de dor, enquanto consegue não emitir sons com a boca.

Depois de alguns segundos, num movimento rápido, consegue arrancar o objeto de seu corpo, e geme em fazê-lo, várias gotas de sangue mancham o chão à sua frente, e logo depois respira fundo.

Olha o objeto em sua mão, que parece ser um tipo de ponta, que não que pertencera a nenhum objeto antes de encontrar seu corpo, é todo negro e que tem apenas o intuito de furar uma pessoa.

De repente o objeto se desfaz em areia negra em sua mão e também desaparece no ar.

O idoso de repente cai para frente com um gemido, mas as criaturas ao seu redor o seguram pelos braços.

Os seres peludos que o pegam, começam a carrega-lo, agarrando-o pelos braços, de cabeça baixa e com os pés se arrastando no chão, e todos os outros seres fazem um corredor para deixar o senhor passar.

Levam-no para uma sala, aonde o idoso é costurado e leva injeções.

Ao fim de tudo, fica sentado numa cama de lençol branco, usando uma túnica branca, com a coluna curvada e uma expressão de cansaço no rosto.

Perto dele estão apenas duas das criaturas peludas.

Uma das criaturas diz algo em seu próprio idioma.

—Sim! – responde o idoso – Foi o Breu de novo!

A criatura fala outa vez.

—Não! Eu não o vi!

O mesmo se levanta e começa a caminhar de um lado a outro, com uma expressão de desgosto em sua face.

—Ah! Como fui tolo! Eu devia tê-lo matado quando tive a chance!

Novamente uma das criaturas fala.

—Não! Eu já falei que não podem vir nessas missões comigo! Eu não sei o que fazer caso alguém os vir e eu não estiver por perto! Vocês podem morrer! Ou pior! Ser expostos para o mundo! E eu não sei se tenho recursos para lidar com isso!

Uma das criaturas fala alguma coisa demonstrando preocupação.

—Eu sei que eu preciso de ajuda! Mas quem poderia me ajudar a lutar essa guerra?! Quem?!

..........

—Jack! Acorda! É seu primeiro dia na nova escola – ouço minha mãe dizer enquanto acende a luz do meu quarto.

Acordo ainda com sono, olho para ela. Uma mulher alta, de cabelos brancos, olhos azuis e pele clara, com um crucifixo pendurado no pescoço e usando uma camisola longa cor de rosa e de pés descalços.

Ela sai deixando a luz acesa e logo parte para o quarto de minhas irmãs. Para acordá-las também.

Puxo o cobertor de cima de meu corpo e me sento na cama.

Uso uma calça moletom, cinza e leve, uma camisa de mangas curtas e meias.

Esfrego o rosto e olho ao redor de meu quarto. Vejo meu armário, minha estante com livros, gibis, jogos e DVD-s, um crucifixo na parede, um grande espelho na parede, e uma estante ao lado da minha cama.

E em cima da estante, algumas imagens de santinhos e um pequeno conjunto de retratos. Uma foto com meu falecido pai, minha mãe Rubi, minha irmã mais velha Esmeralda e minha irmã caçula Emma, minhas duas irmãs de cabelos brancos, só meu pai não os possuía. Outra só comigo, minha mãe e minhas irmãs, e mais outra, bem grande, só com meu pai, e um laço fúnebre em cima, no canto esquerdo da foto.

Levanto-me, escovo os dentes, tomo banho, e visto o uniforme escolar – Uma camisa branca de botão, uma calça cinza e um sapato preto de meias brancas. Então vou para a cozinha, aonde encontro minhas irmãs e minha mãe, e saúdo elas.

Minha irmã mais velha tem vinte anos, alta, quase da altura de minha mãe, de cabelos brancos, lisos e ondulados, presos num rabo de cavalo e uma camisola azul, também descalça.

E minha irmã caçula tem oito, usa um pijama de calça e camisa com mangas cumpridas, cor de rosa, seus cabelos brancos e olhos azuis, e com um infantil e eterno sorriso no rosto.

Meu nome é Jack Frost, também possuo pele clara, cabelos brancos e olhos azuis, e tenho quinze anos.

Hoje é meu primeiro de aula na minha nova escola, e tenho que acordar cedo para ir à aula.

Mamãe acordou primeiro e preparou nosso café da manhã antes de acordarmos, então, embora não sejamos ricos, encontramos uma mesa farta.

Minha mãe, sempre inexpressiva e carrancuda, se senta na cabeceira da mesa e faz uma oração silenciosa, depois começa a comer, e fazemos o mesmo, em silêncio.

— Jack – ela diz enquanto come, com as costas da mão em cima da boca enquanto mastiga – Quero que busque sua irmã da escolinha hoje, depois você vai me ajudar na cafeteria, e depois também vai buscar sua irmã da aula de balé!

—Ué, mas e a Esmeralda?! Ela não pode ir no carro da senhora e fazer tudo isso?!

—Sim, mas ela está de castigo sem poder usar o carro, esqueceu?! – nessa hora minha irmã olha minha mãe com certo rancor – Segundo, é que ela vai ficar na cafeteria comigo até ir para a aula a noite, e por último, eu estou mandando! Você não tem o que questionar!

—Sim senhora... – respondo baixinho.

Depois de comermos, levanto-me, beijo o rosto de minha mãe, de minha irmã mais velha, e de minha irmã caçula. Pego a bolsa e as chaves e vou em direção à porta.

—Jack! Não quer que eu o deixe na escola? – pergunta minha mãe.

—Não mãe, tudo bem, a senhora também tem que abrir a cafeteria e tudo mais...

Ela sorri para mim, e logo depois abro a porta, saio, e só quando fecho a porta é que nossas vistas se separam.

Saio pelos fundos de casa, pois na frente fica a cafeteria de minha mãe. Passo pelo quintal dos fundos, e por fim, passo pela porta e chego na estrada.

Olho o caminho. Está frio, e há um grande nevoeiro na estrada, que sobe alto e sombrio pelo caminho. Em Pidisworks, sempre fez frio, dificilmente há um dia quente. Mas apesar disso, o sol ainda brilha forte por trás da neblina e das nuvens que o cobrem, por consigo ver uma luz meio forte no caminho.

Ponho a bolsa nas costas e começo a caminhar em direção à minha nova escola. Uma escola aonde consegui bolsa, pois só pessoas riquinhas e muito inteligentes conseguem estudar lá.

..........

“Merida acorda!”, é a primeira coisa que ouço, seguido de um súbito clarão que surge de forma violenta em minha mente, que ainda sentia o prazer do sono.

Sinto-me saltar sobre a cama. Depois ouço passos sobre o chão de madeira vindo na minha direção.

De repente puxam a coberta de mim, me deixando só de pijama, nada mais que uma camisa e uma calça leves.

Me encolho, desconfortável.

—Vamos Merida! Acorda! – chama uma voz de mulher, num tom que cansa... A mesma me sacode... Minha mãe...

Depois de poucos instantes assim, suspiro e falo: “Mãe!”.

—Vamos! É seu primeiro dia de aula! O café já está pronto!

—Mãe! Dá um tempo! Me espera lá embaixo!

—Como é?! – ela diz num tom de autoridade, e logo em seguida vem com o que eu já esperava.

Um sermão.

Diz que eu tenho que obedecer ela, que não gostou do meu tom de voz, e... Blá, blá, blá!

A verdade é que não presto muita atenção no que ela diz, metade por já desenvolver uma barreira contra isso, ignorando tudo o que ela diz, e metade por já estar exausta de sono, e naturalmente, não estar completamente consciente.

Mas escuto com a mesma cara que sempre fico nessas situações, uma carranca, mas ainda assim, demonstrando alguma atenção, uma atenção mentirosa.

Depois ela sai carrancuda, deixando meu quarto aberto, iluminado, e eu com sono...

Deito-me na minha cama grande – de casal – suspirando, e tentando ver se me recupero do trauma de ser acordada de tal forma, tentando dormir um pouco também... Mas não... Não consigo. E depois de alguns minutos tentando dormir, me levanto reclamando, bufando de raiva e vou direto para o banho.

Passo pelo meu quarto, pelos pôsteres de guerreiros fictícios nas paredes, meus jogos bagunçados e espalhados pelo chão, e estantes com livros e coisas luxuosas, belas e caras.

Passo por uma imagem de Joana d’Ark.

—Bom dia Joana.

Me lavo, tento acordar, depois penteio meus cabelos, e cumpro com a higiene necessária para começar o dia.

Depois desço com o uniforme escolar, uma camisa de botão branca, uma saia cinza abaixo dos joelhos, uma sapatilha preta e meias brancas.

Desço as escadas e chego até a cozinha. Lá encontro meu pai e minha mãe. Sou filha única.

Meu pai está lendo um jornal enquanto toma um café, e minha mãe lendo um livro. Os dois de óculos de leitura.

—Oi pai! – digo animada, abraçando e beijando meu pai.

—Oi querida! – ele diz me abraçando e sorrindo.

—Oi mãe! – digo friamente passando por ela e indo direto para minha cadeira.

Sinto ela me olhar um tanto indignada, mas fica em silêncio.

Coloco meu café da manhã num prato, nosso café da manhã é feito pelos empregados de nossa casa. Mas no momento, não há nenhum aqui.

Começo a comer, e minha mãe reclama, dizendo que é para eu comer mais devagar. E sem opções, obedeço...

—Escute aqui Merida! Por muito pouco você não foi expulsa no ano passado! Não quero saber de brigas entre você e a Astrid de novo, entendeu?!

—Ora, mas mãe, eu não fiz nada de errado! Ela foi quem começou! – digo com um pouco de comida na boca.

Ela vira o rosto e diz: “Ah, que nojo Merida, termine de engolir sua comida, depois fale.”.

Obedeço-a, engulo e depois repito.

—Não importa quem começou! Eu não quero saber de problemas entre você e aquela garota de novo, entendeu?!

Suspiro.

—Entendeu?!

Suspiro novamente, e fico um tempo calada, mas depois respondo: “Entendi...”.

—E quanto aos rapazes?! Você irá vê-los hoje de novo...

Reviro os olhos e minha cabeça acompanha o girar de minhas pupilas: “Ah, mãe! De novo essa história?!”.

—Merida! Os pais deles são nossos sócios! Apenas aprenda a trata-los com gentileza!

Termino de comer e pego minha bolsa do braço da cadeira, beijo meu pai e saio.

Passo por Maudie, nossa governanta, que administra os outros empregados da casa, cumprimento alguns, passo direto por outros, até chegar do lado de fora e chegar na estrada.

Me deparo com a neblina da manhã.

Penso nas palavras de minha mãe e sussurro: “Joana, dai-me forças...”.

Começo a caminhar.

..........

—Soluço! Soluço! Soluço! Soluço! – alguém me chama, pulando na minha cama enquanto tento seguir adormecido.

—Ah, Freya dá um tempo! – grito empurrando minha irmã gêmea.

—Hoje é o primeiro dia de aula! – ela grita – Tem que acordar cedo se não vai se atrasar! – e se joga novamente na minha cama, tentando me acordar.

—Vamos maninho acorda! – grita me puxando, mas me encolho, tentando não sair da cama. Minha irmã sempre foi energética.

—Freya! – chama uma voz adulta e feminina. Logo reconheço ser a voz de minha mãe – Deixe que eu acordo Soluço.

Minha consanguínea obedece e sai correndo do quarto, só volta para puxar o braço de minha mãe, pular e beijar sua bochecha.

Minha mãe, Valka, alta, de cabelos castanhos compridos, e já se vestindo para começar o dia vem até mim. Embora permaneça deitado e de olhos fechados, ouço seus passos na minha direção.

Sinto ela deitar em minha cama e dizer.

—Soluço! Hora de acordar... – diz com seu amor materno exposto em seu tom de voz.

Olho para ela de relance, formando um sorriso, e lentamente me sento na cama enquanto pego meu óculos e os coloco em meu rosto.

—Oi mãe. Bom dia.

Ela me dá a benção dela e logo depois se levanta dizendo: “Apesar dessas agitação desnecessária, sua irmã está certa, você vai se atrasar se não se levantar logo.”.

Diz e logo depois sai.

Enquanto desce as escadas ouço ela falar: “Vamos Soluço! Seu pai e seus irmãos já estão lá em baixo!”.

Suspiro e olho ao redor de meu quarto. Vejo estantes com livros, jogos, DVDs, bonecos de ficção científica, e outras bugigangas que só eu sei apreciar, pelo menos do meu lado do quarto, do lado da minha irmã vejo coisas de natureza... não definida. Roupas femininas bagunçadas, livros de teor violento, músicas de jovens sucessos e... Coisas bastante desconexas. E na divisa de nossos quartos, coisas de natureza religiosa, crucifixo, Bíblia, uma imagem de São Olavo...

Me levanto, tomo banho e visto meu uniforme escolar.

Desço as escadas, e encontro meu pai, Stoico, de cabelo e barba ruiva, estatura vasta parecendo muito mais um urso do que um homem comum, usando óculos enquanto lê um livro sobre a mesa de jantar, sentado na cabeceira da mesa.

Minha mãe, sentada na à direita dele, perto da cabeceira, e meus irmãos à esquerda dele, mas uma cadeira depois, o meu lugar na mesa.

Nolan, meu irmão mais velho, de vinte anos, alto, branco, de cabelos castanhos e olhos verdes, muitos dizem que ele se parece comigo. É em momentos como este, em que o vejo brigar com minha irmã gêmea por um pedaço de pão, que questiono essa afirmação.

E por fim, minha irmã gêmea, que puxou os cabelos ruivos de meu pai, e tem olhos verdes como os meus, apesar disso, é comum que digam que também somos parecidos. Vejo ela dar um peteleco no meu irmão para tentar arrancar o pão da mão dele, mas falha.

Chego na bagunça da mesa de jantar pegando uma faca e usando-a para cortar o pão pelo qual eles disputam ao meio.

—Tcharam! Problema resolvido.

Vejo minha mãe olhar sorridente para mim, achando graça da minha atitude.

Logo depois sento-me ao lado de meu pai e peço sua bênção, e assim o faz.

—E como foi a noite do senhor pai? – pergunto.

—Foi boa filho... – ele comenta sem qualquer empolgação, sequer tira os olhos do livro para me olhar.

—Aí pai! Eu sonhei que vencia o campeonato essa noite! – comenta meu irmão para meu pai. Nolan é jogador.

Meu pai olha para meu irmão empolgado e diz: “Ah filho! Assim espero! Não se esqueça de dar tudo de si!”.

—Ah, pode deixar!

—Aí pai! Eu também sonhei que eu vencia o campeonato da escola!

—Eu espero que os sonhos de vocês se realizem!

Meu pai e meus irmãos riem juntos, enquanto minha mãe e eu ficamos como estranhos no meio deles.

Dá pra notar meu pai tem uma relação de pai e filho melhor com meus irmãos do que comigo.

Depois das risadas, minha mãe dá um tapa de leve no antebraço do meu pai, o mesmo olha para ela, e minha mãe gesticula com o olhar para mim.

—Ah! – diz meu pai, finalmente compreendo que ele não estava me dando atenção nenhuma – E você meu filho, com o que sonhou?

—Eu?!... Eu não sonhei com nada tão interessante pai...

Digo, e logo meu pai volta para o livro dele, e ficamos em silêncio.

Termino rapidamente de almoçar, e logo depois me levanto da cadeira e pego minha bolsa.

—Filho?! Já vai?! – pergunta minha mãe.

—Sim... – digo.

—Espere seu pai! Ele deixa você e sua irmã na escola... – diz minha mãe.

—Não mãe... Obrigado, mas... Eu quero caminhar um pouco...

—Não esqueça de dizer “oi” ao seu primo e aos amigos dele – diz meu pai – ele vive dizendo que você vive evitando eles... Não quero mais saber disso!

—Sim... Pai... – digo, e logo depois saio.

Quando saio pelo portão de casa. Vejo a neblina e começo a caminhar dentro dela.

..........

Termino de escovar meu cabelo e coloco minha escova com cabo cor de rosa sobre a estante da minha mesa de maquiagem.

Me olho no espelho oval a minha frente, vejo minha pele clara, meus olhos verdes e meus cabelos lisos e loiros. Já estou vestida com meu uniforme escolar.

Fico alguns instantes inexpressiva, olhando meu reflexo.

Uma sensação ruim toma conta de meu rosto, e um peso começa a surgir em minha face.

Meu quarto, cheio de pinturas pré-rafaelitas, – pinturas estas que eu mesma pintei – bonecas das mais variadas matérias – pano, plástico, porcelana – com minha cama, livros e várias outras coisas de natureza feminina, permanece em total silêncio.

De repente, ouço minha porta se abrir bruscamente.

—Rapunzel!

Me assusto, saltando sobre o banquinho e viro meu rosto em direção a porta à minha direita.

Vejo meu pai com um rosto aflito, e logo respondo com um pedido de desculpas expresso em meu rosto.

—Vamos filha, está na hora do café da manhã.

—Já vou papai.

Ele sai, e logo depois me levanto, pego minha bolsa e desço as escadas de meu quarto.

Quando estamos à mesa, comemos todos em silêncio. O único som audível é o dos talheres batendo nos pratos.

Depois de alguns minutos assim, terminamos de comer e nos levantamos da mesa.

—Vamos filha, seu pai e eu a deixaremos na escola.

—Obrigada papai, obrigada mamãe.

Saímos.

Seguimos caminho em um carro silencioso.

Dentro de poucos minutos chegamos na escola.

—Tenha um bom dia na escola filha – diz meu pai.

—Vá com Deus filha – diz minha mãe.

—Obrigada – digo, e depois saio em silêncio do carro.

..........

Chego na escola. Paro na frente do portão e respiro fundo. Pelos meus dois lados passam pessoas com uniformes escolares, conversando umas com as outras.

A escola é maior do que qualquer outra em que já estudei.

O campo é vasto, têm várias quadras para as mais variadas atividades, e tem um prédio alto de cinco andares.

É feito de pedras cinzas e brancas, e colorido com algumas árvores e arbustos esverdeados.

—Calma Jack... – sussurro para mim mesmo, e logo depois, começo a caminhar para dentro da área da escola.

Procuro e encontro minha sala. Entro, escolho uma cadeira, e fico sentado em silêncio enquanto a maioria das pessoas ao meu redor conversam umas com as outras.

A aula começa, surge um professor que fala quem ele é, qual é a matéria dele, dá as boas-vindas, e logo depois começa a explicar uma matéria extremamente complicada, mas que faço um esforço para tentar entender.

A aula dele termina, e outros professores entram e começam a dar as aulas de suas respectivas matérias. Aos poucos fico cansado de ouvir tantas pessoas falarem sobre coisas que não conheço ainda.

Mas de repente, um sino toca, e sinaliza um intervalo.

Saímos da sala, e sigo a maioria dos alunos para tentar saber aonde devo ir agora.

Caminhamos por corredores brancos com armários e plantas nas paredes. E chegamos a uma cantina aonde pegamos bandejas e logo depois pegamos comida para colocar sobre ela. Depois saímos para um lugar a céu aberto, aonde está cheio de mesas e bancos para os alunos.

Caminho olhando para todos os lados, procurando algum lugar para sentar, mas não encontro nenhum.

Chega um momento que paro na frente das mesas, e vejo todas elas cheias de alunos que conversam entre si, e sequer dão atenção para um aluno de pé.

A verdade, é que sou bem solitário, e é em momentos como esse que sinto muito mais solidão, então busco sentar num canto, aonde como toda minha comida, e depois devolvo a bandeja para a cantina, mas o intervalo não termina, então procuro algum lugar aonde possa ficar afastado de todos.

Vejo que em cima do prédio da escola existe um lugar com grades, deve ser um lugar com grades por ser um lugar acessível.

Entro no prédio e caminho pelos corredores brancos procurando por uma escada. Quando encontro, começo a subir por elas, busco por mais degraus quando chego ao fim de uma das escadas.

E por fim, depois de muito caminhar, consigo encontrar o terraço do prédio. Fica atrás de uma porta de metal.

Aqui é silencioso, só ouço o som do vento, e vejo acima, no céu, o branco das nuvens. Aqui é bem pacífico.

Caminho até a beira do terraço para olhar a escola de cima, mas ao me apoiar em uma grade, percebo certa ferrugem e fragilidade nelas, chego a balança-las e ouvir o som de algo trincando, é quando decido me manter afastado delas.

E assim fico. Desfrutando da minha triste solidão.

..........

Fico sentado com minha bandeja a minha frente, enquanto leio um livro e como ao mesmo tempo, mas perto de mim, só tem outros nerds, que agem com indiferença uns para com os outros e sequer se olham.

Viro o rosto para o lado, e percebo, numa mesa ao longe, pessoas que não queria ver nunca mais.

Meu primo, a quem chamo de Melequento, os amigos dele, gêmeos, Cabeça-Dura e Cabeça-Quente, Perna de Peixe, um nerdzinho que vive fazendo a tarefa dos outros só para que gostem dele, Heather, e... Uma antiga paixão minha... Astrid...

Respiro fundo enquanto olho para o grupo depravado de amigos. Minha irmã pelo menos não está com eles... E sim jogando em alguma quadra com as amigas dela.

Olho com tristeza nos olhos, Melequento e Astrid se beijarem boca repetidas vezes.

Logo depois vejo meu primo olhar na minha direção, tento acenar e sorrir, trata-los com gentileza que nem mandou meu pai.

Mas ao invés do meu primo me responder com gentileza também, ele aponta para mim, fazendo os outros amigos dele rirem de mim junto dele.

Quando vejo Astrid rir, me levanto, pego meu livro, minha bandeja e começo a caminhar para longe, tentando fugir da humilhação que é estar perto deles.

Jogo minha comida no lixo, deixo minha bandeja para as cozinheiras da escola lavarem e busco o lugar mais distante possível.

Chego à constatação de que esse lugar é o terraço da escola.

Vou atrás das escadas, e começo a subi-las.

Dentro de poucos minutos, estou chegando ao terraço.

Abro a porta, e de repente, para minha surpresa, já há alguém por aqui.

Um menino de cabelo branco, tem aparentemente minha idade, está no canto à minha esquerda, de pé, sem fazer nada.

Ele se assusta quando abro a porta, e olha na minha direção. Nos encaramos por alguns segundos, olhando na cara um do outro, sem falar nada.

Mas depois de um tempo, caminho para o terraço, fecho a porta atrás de mim, e caminho para frente, até chegar na grade e poder olhar todos de cima.

Fingimos que não estamos na presença um do outro, e ficamos em silêncio, sem sequer nos olhar.

..........

Como minha comida à minha maneira, acelerada, como minha mãe diria “como se a comida fosse fugir do meu prato”, ou melhor, bandeja.

Como sozinha numa mesa, não costumo me dar bem com outros alunos da minha escola.

À minha frente estão o rapazes dos quais minha mãe falou, os três juntos, cercados de amigos. E à minha esquerda, está um outro grupinho de amigos que me dá nos nervos.

Pra ser sincera, não necessariamente o grupo, mas uma das integrantes. Integrante esta que sinto vir na minha direção. Uma ruiva que modifica o uniforme dela só para demonstrar que ela é uma patricinha...

Astrid...

—Oi Merida! Há quanto tempo! – ela diz com um sorriso falso na cara, tentando me irritar.

—Oi Astrid! – digo tentando dar um sorriso verdadeiro, mas fracasso miseravelmente.

—Como foram suas férias?! Passou elas na lama ou na cama?

Logo demonstro minha carranca para ela. E de imediato, ela responde com escárnio em seus olhos.

—Vamos! Não fique assim... Aposto que seus amigos devem ter gostado muito de ficar com você na lama o dia inteiro, mas lembre-se, o chiqueiro é o chiqueiro, a escola é a escola – diz enquanto tira um pedaço de comida do lado da minha boca.

Numa reação quase instintiva e que só percebo um segundo depois, bato em sua mão rapidamente enquanto recuo meu rosto, mantendo a carranca.

Ela me olha com o mesmo tom de escárnio nos olhos, enquanto eu a olho carrancuda.

—O que vai fazer?! Me bater?! Tome cuidado... Ainda se lembra do que o diretor disse no semestre passado não lembra?! Que da próxima vez que fizesse uma zona na escola seria expulsa...

Ficamos alguns minutos em silêncio, ela me olhando com tom de zombaria, eu olhando ela demonstrando meu desgosto em tê-la por perto.

De repente, ela vira o rosto e diz: “Vá em frente... Me bate.”.

Depois de mais alguns instantes sem sequer me mexer, sendo provocada pela Astrid, reajo.

Bato com força na mesa enquanto me levanto e levo a bandeja.

Ela se assusta a princípio, tanto que se joga para trás sobre o banco, mas não cai.

Caminho na direção da cantina, jogo a bandeja cheia no balcão na frente das cozinheiras, sujando tudo e logo depois sigo caminho.

—Merida! Merida! – me chamam as cozinheiras, mas as ignoro.

Sigo caminhando, meu coração se ardendo em chamas e meu rosto transbordando de raiva, enquanto bufo pelas narinas sem parar.

Preciso me acalmar, não devo ter problemas com a Astrid, e não quero nem ser expulsa e nem ter que lidar com minha mãe.

Só preciso ficar um momento sozinha.

Vou em direção ao terraço, aonde posso ficar sozinha e longe daquela garota estúpida!

Subo as escadas batendo o pé com força. Abro a porta com violência e a fecho com mais violência ainda, enquanto sigo batendo o pé.

De repente me dou conta de que já tem gente aqui no terraço, dois rapazes, um de cabelo branco e outro de cabelo castanho, que ficam assustados quando chego. O garoto de cabelo branco no canto esquerdo do terraço, e o garoto de cabelo castanho em frente a porta, perto da grade.

Vou para o lado direito do terraço, para longe dos dois.

Encosto-me também na grade e tento esfriar a cabeça.

..........

Como sozinha, e encolhida.

De repente, ouço pessoas olhando na minha direção e falando algumas coisas.

Consigo fazer muito bem um olhar de perdida, e fingir que não escuto, mas ouço muito bem o que falam de mim:

“Não é aquela menina estranha?!”

“Quem? A Merida de novo?!”

“Não aquela outra menina estranha, ali!”

Nesse momento olho diretamente para quem fala, e percebo que é uma menina loira com um grupo de amigos, acho que o nome dela é Astrid...

De repente, os olhos dela encontram os meus, e imediatamente os desvio novamente.

Sinto ela vir na minha direção.

Me levanto, e tento fugir dela, caminhando na direção contrária à ela, tentando ir para longe, contudo, ela me segura pelo braço e me faz olhar para ela.

—Oi! – ela diz – Prazer! Meu nome é Astrid, qual é o seu?

—Meu nome é Rapunzel – digo meio que sussurrando, tentando me afastar dela, e fazer com que ela me solte.

Quando me afasto, demonstrando certa insegurança, olho em seus olhos, e percebo que ela parece gostar desta minha atitude.

Tento me afastar dela, mas ela de repente segura uma mecha de cabelo minha.

—Que cabelo bonito você tem!

—E daí?! Você também é loira!

Digo caminhando novamente para trás, tentando fazer ela me soltar... Não gosto que as pessoas me toquem...

Mas ela não solta meu cabelo, e quando dou por mim, acabo estapeando a mão dela.

Na mesma hora tento fugir, mas desta vez ela me segura com força em meu braço e fala: “Você acha que só porque viu a Merida bater na minha mão você pode fazer o mesmo?!”.

—Por favor me solte... – digo tentando me afastar mais ainda dela, só que ela me puxa de volta, sinto que vou chorar.

—Senão o que?! Hein?! O que vai fazer?!

Quando dou por mim, um som de peles se chocando surge do nada, enquanto me desvencilho dela e a bandeja cai no chão.

Astrid cambaleia para trás com os olhos fechados, um tanto atordoada, e com uma marca de mão avermelhada em sua bochecha.

Também cambaleio para trás, de olhos fechados, recolhendo meus braço de volta para mim. Meu coração acelerado, e com sensações ruins em meu corpo.

Quando abro os olhos, vejo uma Astrid de olhos arregalados, pondo a mão no rosto, incrédula, e atrás dela, todos os seus amigos se levantando com uma sombra no rosto, me olhando com carranca.

Sinto medo ao ver isso.

Os amigos dela começam a vir na minha direção enquanto a Astrid me olha com ódio nos olhos.

A princípio, gelo de medo, mas logo depois, tenho forças e começo a correr.

..........

Está silencioso aqui em cima, à minha esquerda estão o garoto de cabelo castanho e a garota ruiva, olhamos para baixo em silêncio, sem olharmos uns para os outros.

Mas de repente, outra pessoa chega no terraço, uma menina de cabelos longos, loira, branca e de olhos verdes, suada e gemendo de cansaço.

Tenta fechar a porta e trancá-la, mas de repente, ela começa a fazer força para fechar a porta, parece que está fugindo de alguém.

Tenta trancar a porta com todas as forças, mas alguém do outro lado empurra a porta com tanta força que faz a porta de metal bater e ela saltar para trás assustada.

E das escadas saem vários jovens em grupo, duas meninas loiras, dois meninos loiros, e um garoto e uma garota de cabelos escuros.

À frente deles vai uma garota loira, com o cabelo preso numa trança, se aproximando com imponência da outra menina loira, que apareceu primeiro aqui em cima. O resto do grupo vai logo atrás dela.

A primeira menina se afasta encolhida e com medo nos olhos, como um cãozinho assustado e a outra menina continua andando sem parar, até fazer a menina assustada tombar de costas contra a parede.

—Astrid, por favor... – ela diz assustada, mas não pode terminar a frase, pois imediatamente, a garota que ela chamou de “Astrid” lhe acerta um tapa na face.

Na mesma hora a primeira menina geme de dor e susto e logo fica agachada, novamente encolhida.

Na mesma hora me sobressalto, e os outros, a menina ruiva e o garoto castanho fazem o mesmo.

Quem é essa garota que agride a outra assim?!

—Isso, Rapunzel é só a ponta de um iceberg, mas serve pra você aprender o que acontece com quem me dá um tapa!

—Deixa ela! – grita a menina ruiva, que se coloca entre as duas na velocidade de um raio.

—Merida?! Sai da frente! Isso não é da sua conta!

—Se envolve você, sempre é da minha conta! Não acha covardia você atacar em grupo de seis uma só menina?!

—Se esse é o problema então tudo bem! Eu cuido dela sozinha! – diz Astrid arregaçando as mangas.

—Por que não se mete com alguém do seu tamanho?! – diz a ruiva agarrando a loira pela gola.

—O que pretende fazer Merida?! Me bater?! – pergunta Astrid com tom de escárnio.

—E se for?! Que se dane se vou ser expulsa! Não posso ficar só vendo você atacar uma menina indefesa e sair impune!

—Eu não faria isso se fosse você – diz a loira.

—Ah é?! Por quê?!

De repente, a garota ruiva é empurrada com força, e seu corpo voa para a grade, a mesma que se solta das coisas que a prendem e cai do prédio.

Foi o garoto de cabelo preto que empurrou ela.

A ruiva se levanta como se o empurrão não fosse nada.

E parece que ninguém se dá conta da grade ter caído, só eu.

—Melequento?! Ah! É claro! Não poderia ficar sem se intrometer não é?! Eu já devia esperar que a Astrid é covarde demais para me enfrentar cara a cara!

O garoto robusto começa a caminhar na direção da garota ruiva com uma carranca no rosto. A menina de cabelo cacheado nem por um segundo demonstra intimidação.

Mas antes que qualquer coisa aconteça, o garoto de cabelo castanho surge entre a ruiva e o garoto que se aproximava dela, e começam a discutir.

—Qual é Melequento?! O que é isso?! Bateria mesmo numa menina?! Não é muita covardia da sua parte?!

—Ela ameaçou minha namorada!

—Isso não é motivo!

Enquanto os dois discutem, caminho para me aproximar da garota loira que permanece agachada no chão.

A coluna dela está curvada, sua mão esquerda toca o chão, enquanto sua mão direita se encontra sobre sua boca. Vejo um olhar assustado em sua face, e também a vejo tremer.

Estendo minha mão para ajudá-la a se levantar, contudo, ela recusa minha mão, e se apoia na grade para tentar se levantar, mas se contenta em ficar sentada no lugar aonde a alguns segundos havia uma grade, ela parece também não perceber que a grade caiu.

Ficamos da seguinte forma, eu à direita da menina loira, e a ruiva à esquerda dela, e o garoto de cabelo castanho na frente da garota loira sentada discutindo com outro garoto.

E volto meu olhar para a discussão dos dois garotos.

—Eu vou ter que contar para os seus pais sobre isso?!

—-Dá um tempo! Vai mesmo fazer isso?! Se acha que o que eu estou fazendo é errado então me falar que a gente resolve depois da aula.

—Eu não vou brigar com você Melequento!

—Claro que não! Não seria uma briga, seria um massacre!

—Tem razão! Você até poderia levar a melhor! Mas não se esqueça, você e sua família dependem do meu pai! Então por que o plebeu não cala boquinha, abaixa a cabeça e respeita filho do chefe?! Que nem seu pai faz com o meu?!

Por um segundo, consigo notar certa indignação por parte do garoto mais alto. E quando menos percebo, cego pela raiva, o garoto que chama de Melequento acaba chutando o outro garoto com força.

O menino de cabelo castanho voa na direção da menina loira que está sentada num lugar aonde não existe grade de proteção.

Aparentemente o chute foi bem forte, digo isso porque mesmo depois de se encontrar com a menina, o garoto de cabelo castanho não consegue deter o corpo dele, e a menina loira e o garoto castanho acabam virando para o outro lado.

Não só isso, para tentar não cair, a loira segura no meu braço e no braço da ruiva, mas a verdade é que não conseguimos deter a queda dela e do garoto.

Nossos corpos se encontram com outras grades, mas ambas também se soltam e não podemos fazer mais nada para permanecer em cima do terraço, e nós quatro caímos de cima do prédio.