Guerreiros Aesir

Capitulo 2: Nós somos o que?!


De repente, eu acordo, meus olhos permanecem fechados, mas lentamente, começo a abri-los, e vejo uma luz branca e forte.

Eu estou morto?!”

Mas aos poucos minha visão se adapta, e percebo que estou olhando para uma lâmpada e um teto branco.

—Jack! – sinto três vozes femininas gritarem meu nome ao mesmo tempo, e sinto três pessoas virem na minha direção.

Vejo minha mãe e minhas irmãs em cima de mim, assustadas.

—Por favor! Por favor se afastem dele! – vejo um homem de jaleco branco aparecer e se colocar entre mim e minha família.

Tento me sentar lentamente, mas ainda sinto um pouco de dor em meu corpo.

—Por favor! Não faça força – diz uma mulher usando roupas de enfermeira, é quando percebo que estou num hospital.

Ela me ajuda a ficar sentado, e percebo que tenho ataduras em meu corpo e que estou usando um aparelho para respirar.

Olho para o lado e vejo os garotos do terraço que caíram comigo, a garota ruiva, a garota loira e o garoto castanho. Estão em condições semelhantes às minhas.

É nesse momento que me lembro que eles também caíram comigo do terraço da escola.

Perto deles estão alguns adultos e poucos jovens, todos com rostos preocupados, e parece que quando me veem acordar, ficam surpresos, e vejo certa esperança crescer no coração deles.

Aos poucos, os outros também acordam, e a reação de todos são semelhantes à reação minha e a de minha mãe.

E da mesma forma, o médico os separa dos pacientes. Vejo um casal de pais saírem.

Consigo ouvir uma das mulheres adultas na sala conversando com o médico, uma mulher alta e de cabelo preto e com os braços cruzados.

—Não tem nenhuma outra sala aonde possa colocar minha filha e a outra menina? Sabe, é que não acho conveniente manter moças e rapazes adolescentes numa mesma sala.

—Lamento senhora, é que as outras salas já tem outros pacientes, e como eles já chegaram juntos de um mesmo acidente, decidimos mantê-los juntos de uma vez.

A mulher se afasta com os braços cruzados e balançando a cabeça enquanto suspira.

De repente o médico se vira na nossa direção e consigo ver uma prancheta em suas mãos.

—Muito bem crianças, como se sentem? – ele pergunta –Podem tirar as máscaras para falar se quiserem, mas deixem ela perto da boca e do nariz.

—Sinto-me como se tivesse despencado de um prédio de cindo andares – diz o garoto de cabelo castanho com uma voz fraca.

O médico ri, e diz: “Soluço, não é assim que te chamam? Não se preocupe, o quadro de vocês não é grave, na verdade é um verdadeiro milagre que com tantos machucados ainda estejam vivos. É muita sorte vocês não terem morrido!”.

..........

—E é muita sorte vocês não terem sido expulsos! – grita uma Valka instável para Melequento e companhia.

Estão nos corredores, a mulher descabelada e com um estresse notável em seu rosto, Stoico estando logo atrás dela, assistindo sua fúria.

—Val! Val! – chama Stoico sussurrando – Fale mais baixo! Estamos num hospital, tem pacientes por todos lados! Já falou o que queria falar – diz já tentando puxar sua esposa de volta para o quarto de hospital.

—Ainda não terminei! – ela diz numa intensidade mais baixa desvencilhando-se do marido.

—E quando digo “expulsos”, não digo só da escola, mas da casa aonde vocês moram!

O grupo juvenil ouve a mulher, estando todos de cabeça baixa.

—Valka! Se acalme! Foi um acidente!

—Claro que foi um acidente! Ele chutou meu filho de um prédio por acidente não foi?! Ele sem querer levantou o pé e atacou meu filho! Como pode ficar tão calmo em uma hora dessas?! O seu sobrinho poderia ter matado nosso filho!

—Meu amor! Já chega! Ele já explicou que não pretendia fazer nosso filho cair de cima do prédio da escola!

—Não importa! – diz e se vira para o grupo de jovens – Escutem aqui! Não quero saber mais de vocês chegando perto do meu filho! Entenderam?!

—Sim... – respondem todos de cabeça e voz baixa.

..........

—Há quanto tempo estamos no hospital?! – pergunta a garota ruiva para o médico que examina o Soluço.

—Na verdade, vocês caíram do prédio ontem de manhã. E só acordaram hoje à tarde.

Ele nos examina, e logo depois sai da sala.

Depois minha mãe e minhas irmãs vem falar comigo, e da mesma forma a menina de cabelo ruivo e encaracolado fala com os pais dela, o Soluço, e a menina cujos pais chamam de Rapunzel também.

Minha família é a primeira a voltar para casa, depois vão todos embora, e deixam nós quatro sozinhos. Passada uma hora depois disso, o médico nos diz que já podemos respirar sem o auxílio de aparelhos, e comenta que estranhamente estamos nos recuperando muito rápido.

Depois disso ficamos todos sozinhos na sala, em silêncio, assistindo à televisão do quarto com as luzes apagadas, e com a luz da televisão nos iluminando a face.

Estranhamente, seguimos sem comentar nada, quando de repente, a menina ruiva acerta um soco na própria mão e diz: “Aqueles idiotas! Eles vão ver só! Na minha primeira chance eu vou acabar com eles!”.

Soluço está com o controle da televisão e deixa ela no mudo, e todos nos voltamos para ela.

—Qual é o ruiva! Deixa isso de lado! A barra já está preta pro lado deles, não temos que fazer mais nada, só nos recuperar, voltar pra escola e fingir que nada aconteceu.

—O que?! Do que está falando garoto! Eu não falei com você! E outra, ninguém me empurra de um prédio e fica por isso mesmo! Tudo isso por causa daquela loira idiota!

—Desculpe... – ouço alguém sussurrar, e percebo que é a Rapunzel.

—Você não! A outra loira!

—Ei... – chamo – Rapunzel não é?! Esse é seu nome não é, menina loira?!

Ela faz que sim com a cabeça com um rosto tímido.

—Você está bem?

Ela parece se surpreender quando eu falo isso, mas logo depois responde: “Estou sim, obrigada...”.

Depois de mais um tempo em silêncio, ela fala: “Me desculpem por puxar vocês quando caí do prédio, eu não pensei em mais nada para me segurar na hora.”.

É possível ouvir culpa em seu tom de voz.

—Tá tudo bem.

—Vocês estão bem? Jack não é?

—Sim.

—Ei! Menina ruiva, seu nome é Merida não é? – pergunta Rapunzel.

—É, é sim.

—Você está bem?

—Estou – diz suspirando e se jogando para trás, deitando na cama, afundando seu corpo no travesseiro branco.

—Desculpe...

—Ah, relaxa, para de se desculpar, a culpa não foi nem um pouco sua!

—Obrigada... E você... Se chama Soluço não é?

—Sim, esse é meu nome. A propósito, desculpe ter caído em cima de você.

—Tudo bem, a culpa não foi sua, você só estava tentando proteger nós duas.

Vejo a ruiva virar o rosto bruscamente neste momento para a loira, mas permanecer em silêncio.

—É... Mas receio ter fracassado nisso – diz colocando a mão atrás da cabeça e baixando a mesma.

—Você está bem?

—Sim, obrigado.

Depois desta conversa entre nós quatro, com todos nós nos certificando se estamos bem ou não, ficamos em silêncio.

Seguimos assistindo, até que acabam as coisas boas que passam na televisão, e decidimos dormir.

..........

Durmo tranquilamente, quando de repente, uma luz branca e forte surge dentro do quarto, e creio ouvir som de sinos.

Aos poucos tento me sentar sobre a cama, tiro meus cabelos cacheados e ruivos de meu rosto, e olho na direção à frente da cama.

Olho para os lados, e vejo os outros pacientes dentro do quarto acordarem também, inclusive, vejo o Soluço colocando os óculos.

Olhamos uma luz fria brilhando em forma de espiral a frente das camas, e os sons de sinos que ouvi antes vieram dessa luz.

—Mas o que é isso?! – pergunta Soluço.

—Eu não sei! – respondo.

—O que é essa coisa?! – Soluço pergunta de novo.

—Eu não sei! – repito, desta vez gritando.

De repente, da espiral sai um senhor de idade, alto, de cabelos e barbas brancas cumpridas. Usa um tipo de sobretudo vermelho, botas marrons e calça preta, usa também um tipo de chapéu russo. Seus braços cruzados e um sorriso largo em seu rosto.

E de repente, o brilho desaparece atrás dele, e tudo fica em silêncio.

Passamos alguns instantes sem falar, até que de repente, pergunto: “Quem é você?”.

—Deus? – pergunta Rapunzel.

—O que?! Deus?! – critico voltando-me para ela.

—Ah, até que faz sentido – diz Soluço, na mesma hora viro-me para ele – Um senhor de idade, saindo de uma luz branca, e a gente num hospital...

—A gente morreu? – pergunta Rapunzel.

De repente, o homem a nossa frente começa a rir com as mãos na cintura e seu corpo balançando. Sua risada é alta e caricata.

—Não se preocupem crianças, vocês não morreram! E eu não sou Deus – diz o idoso a nossa frente – Meu nome é Norte!

—Norte?! – questiona Jack – Peraí, você saiu de uma luz branca... E... O que é você? Por que está aqui?

—Bem crianças, isso é uma longa explicação, e é justamente por isso que estou aqui.

—Dá pra ir direto ao assunto, senhor estranho e esquisito – diz Soluço.

—Estou aqui porque preciso de ajuda, e acho que ninguém mais pode me ajudar se não vocês... Isto é, se vocês quiserem me ajudar...

—Olha... Isso foi bem direto, mas também não explicou nada pra gente – comenta Soluço.

—Bem! Pois pretendo explicar, mas para isso – ele diz enquanto joga algo no chão, e de repente surge outra vez a luz em forma de espiral, que imagino ser uma espécie de portal – Preciso que me acompanhem.

Nós quatro nos olhamos, sem compreender, é informação demais para lidar com isso de uma só vez.

—E aonde esse portal vai levar a gente? – pergunta Jack.

—Ao Polo Norte – responde o idoso.

—Por que quer nos levar para o Polo Norte?! – questiono.

—Vão entender melhor mais tarde, mas para isso, preciso que venham comigo.

Nós quatro nos olhamos, sem compreender. É difícil apenas e simplesmente dizer para algo tão fantástico.

—Se formos com você, vai nos trazer de volta? – pergunto.

—Com certeza! Juro pela minha alma!

Nós quatro nos olhamos de novo, e aos poucos nos levantamos, e caminhamos a passos curtos e lentos em direção ao portal. Acabamos por precisar segurar nossas roupas, pois sai um vento do portal que as balança, e não vestimos nada por debaixo das roupas de hospital.

O idoso sai da frente do portal, e permite que entremos para o mesmo.

Nós quatro ficamos relutantes em fazê-lo, contudo, não recuamos e passamos pelo portal.

..........

Quando atravessamos o portal, chegamos a um ambiente totalmente diferente ao do hospital.

Aqui as luzes estão acesas, o chão é feito de uma pedra aparentemente antiga, com vários desenhos belos, com colunas de pedra, e apoios de madeira no teto, entre muitas outras coisas estranhas que jamais vi na vida. À nossa direita, um globo terrestre enorme, com várias luzes acesas nele.

Nós quatro saímos do portal olhando para o ambiente com olhares bobos, quando de repente, um grito nos assusta.

Quando nos viramos para quem grita, percebemos que é a Rapunzel que imediatamente se esconde atrás de mim e de Jack, e aponta para uma criatura peluda, bípede e gigantesca em um canto.

—Uou! – Jack diz se afastando assustado.

Quando olhamos, todos nos afastamos, mas olhando nos olhos da criatura, consigo ver certa consciência nos olhos dela.

—Ah! Phil! O que está fazendo aí? Eu mandei que se afastassem para não assustar os garotos! – fala Norte num tom alto de voz.

A criatura some, indo para algum canto deste lugar.

—O que era aquela coisa? – pergunta Merida, histérica.

—Era um yete, não se preocupe, não vão machuca-los, muito pelo contrário, eles estão aqui para nos servirem!

—Nos servirem?! – questiono – Nós quem?

Ele estala os dedos e um yete traz uma cadeira, na qual ele se senta, com o globo atrás dele, com várias luzes, enquanto o mesmo gira. Apoia um pé sobre o joelho.

De repente, outros yetes chegam atrás de nós trazendo mais cadeiras, colocando-as atrás da gente, e saem com o corpo curvado e a cabeça baixa, com certo tipo de reverência.

—Sentem-se! Tudo será explicado.

Nos sentamos.

Ele pigarreia um pouco enquanto se ajeita na cadeira.

—Primeiro, eu gostaria de fazer uma pergunta à vocês, o que sabem sobre o Feudalismo?

—Foi um tipo de organização social e política na idade média que durou mil anos – responde Jack, imediatamente.

—Muito bem! – responde Norte – E quais eram as classes nesse modelo específico daquela época?

—O clero, a nobreza e os vassalos – responde Merida.

—Certíssimo menina! – comemora Norte – E quais papéis essas pessoas desempenhavam?

—O clero eram os religiosos, que oravam, a nobreza eram os guerreiros, que lutavam, e os servos eram aqueles que trabalhavam – responde Rapunzel, ainda em seu tom de voz baixo e tímido.

—Sim! Mas agora, vamos falar só de um desses grupos, que é no caso, a nobreza. Como ela foi estabelecida?

—Bem, a aristocracia europeia surgiu na luta contra o invasor bárbaro – respondo – Nas vilas e paróquias aonde os líderes comunitários que se destacassem na luta pela defesa, eram premiados pelo povo com terras, animais e moedas, e pela Igreja com títulos de nobreza e unção legitimadora de sua autoridade – enquanto falo, me regozijo, amo história – E essas pessoas se tornaram duques...

—Duques, condes, príncipes e reis – ele fala, me interrompendo – estou orgulhoso, não esperava tanto conhecimento!

—Tá, mas o que isso tem haver com você explicar o porquê de estarmos aqui? – pergunta Merida.

Ele se levanta, e aos poucos começa a caminhar.

—Estão certos, contudo, existe algo que vocês não sabem...

Ficamos atentos, e ele continua:

—Como haviam pessoas naquela época que já nasciam destinadas a lutar, aquelas pessoas acabaram por descobrir, ou desenvolver, não se sabe ao certo, certa capacidades físicas incomuns.

—Como assim incomuns? – pergunta Merida.

—Como por exemplo, serem mais fortes fisicamente, mais rápidos, terem reflexos mais acelerados que os de uma pessoa comum, capacidade de regeneração mais acelerada, entre outras coisinhas...

—Espera... – fala Jack quase rindo em tom de deboche – Está dizendo que os nobres tinham... Poderes?!

—É uma forma melhor de dizer – constata Norte.

—Mas isso... – fala Jack, mas Norte o interrompe.

—E acabou que esses nobres que adquiriram tal poder começaram a se intitular de “Aesir”.

—Tá – comento – os nobres que conseguiram adquirir poderes sobre-humanos começaram a se intitular de “Aesir”, o que a gente tem haver com isso? – pergunto.

—Vocês são descendentes desses nobres – ele fala simplesmente, voltando-se para nós – e os poderes Aesir são passados de pai para filho.

—Espera! – fala Jack novamente em tom de deboche – Está dizendo que nós somos esses “Aesir” também?

—Sim.

—Senhor, não temos esses poderes que o senhor tanto fala – diz Rapunzel, tentando ser compreensiva.

—Não! Espera! – interrompo ela – Mais do que isso! O senhor tem como provar que esses poderes dos quais o senhor fala são reais?! Uma coisa é aquele portal, outra coisa é essa história! Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa – digo – O senhor por acaso é um desses “Aesir”?! Tem como provar?!

—Sim, eu sou um Aesir – ele diz – e embora duvide que acreditem, tenho como provar.

E ele diz, e logo depois, dá um salto. Mas não um salto de alguns centímetros, ele pula mais de dez metros no ar, sem muito esforço, e sua mão encosta no teto.

Eu e os outros abrimos a boca e arregalamos os olhos enquanto olhamos para cima.

Logo depois cai a nossa frente, com os pés no chão, e um sorriso até juvenil demais para alguém da sua idade.

—Isso é o suficiente para tentar provar vocês de alguma coisa?

—Tá bom! – digo ainda expondo meu espanto – acho que falo por todos quando digo que acreditamos no senhor...

Ele ri.

—Mas senhor – diz ainda Rapunzel – Verdade ou não, não possuímos esse poder a qual o senhor se refere.

Ele respira e olha para o globo, de costas para a gente, e com as mãos juntas atrás de seu corpo.

—A verdade é que... Com a morte do Feudalismo, o fim da nobreza, e a criação de armas que facilitam um pouco o esforço do homem ao lutar, embora ainda precisem de certo preparo físico, e do próprio esquecimento do mundo a respeito dos Aesir, os próprios Aesir se esquecendo de quem são. Acabou fazendo com que o poder deles adormecesse dentro deles – ele se vira para nós sorridente e segue – Vocês descendem nobres do passado, guerreiros Aesir, pessoas que mantiveram a moral delas apesar de todas as atribulações no decorrer da história e da vida delas, tanto que vocês todos mantém as riquezas e tradições religiosas de seus antepassados, pelas coisas caras e outras de natureza religiosa na casa de vocês...

—Espera... – diz Merida – Você invadiu nossas casas?!

O idoso a nossa frente fica um momento em silêncio, e logo depois faz um gesto de cabeça, indicando que sim, mas que ao mesmo tempo reconhece que foi errado.

—Ninguém soube que estive lá, e eu também não fiz nada na casa de vocês, não se preocupem.

—Espera aí, eu não sou rico! – fala Jack.

—Mas possui tradições religiosas em sua casa, e vem cá, não conhece nenhum membro de sua família que seja rico? – questiona Norte.

Depois de ficar um tempo em silêncio, Jack responde: “Meu pai era...”.

Estranhamos quando ele diz isso. Ele não é rico, mas o pai dele era?! O que isso significa?

—Mas voltando... – segue Norte – Os poderes adormecidos dos Aesir podem ser acordados, embora muitos Aesir possam nascer, viver até a mais tenra idade e morrer sem jamais despertá-los, mas é comum que de vez em quando algumas pessoas passem por situações que façam esses poderes despertarem. Situações de estresse e desespero, como por exemplo... Cair de um prédio escolar.

Os outros e eu ficamos em silêncio quando escutamos isso, nossos olhos arregalados.

—Espera... – digo – Está nos dizemos que despertamos esses poderes Aesir?

—O médico disse que vocês estão se recuperando muito rápido não disse? Faz parte dos poderes Aesir ter uma recuperação acelerada.

Ficamos mais um segundo em silêncio. Nos olhamos, e de repente, Merida dá um salto enquanto ri.

E ela vai até o teto com esse salto, imediatamente salta Jack, também rindo, depois eu, e por último Rapunzel. Todos nós dando risadas.

E nós quatro alcançamos o teto com nossos saltos.

Tenho a impressão de ouvir Norte rindo.

Só que tem um problema, não conseguimos nos equilibrar na hora de cair do salto. E começamos a gritar, contudo, sentimos braços fortes envolvendo cada um de nós, e quando nos damos conta, estamos no chão, sendo segurados por Norte debaixo de seus braços.

Ele nos coloca no chão e volta a nos explicar:

—Hoje, com a destruição da nobreza, a única coisa que restou aos Aesir foi se esconderem do mundo e lutarem contra si mesmos. Este lugar aonde estão, é um Quartel General de uma antiga ordem composta por Guerreiros Aesir, e que tem a obrigação de deter outros Aesir que possuem más intenções junto de seus poderes – aponta para o Globo Terrestre gigante com várias luzes – Cada luz naquele globo é um Aesir que tem seus poderes dispertados – Se olharem na região do Polo Norte, verão que tem cinco luzes, somos nós... Eu fui o último que restou da ordem, meus companheiros pereceram nesta guerra, e agora eu preciso de ajuda.

—Que tipo de ajuda?! – questiona Merida.

Norte abre a boca para responder, mas antes que ele responda um barulho estranho e uma escuridão começa a surgir de um lado do Globo.

Norte fala algo em um tom russo, que infelizmente não entendo, mas imagino que esteja mal dizendo algo.

—Preciso sair agora! Não demoro, não saiam daqui!

Pega alguma coisa e a atira no chão, e de repente, surge o mesmo portal de antes.

Olho para as criaturas peludas que aos poucos surgem na nossa direção.

—Perái, Norte! Não vai nos deixar aqui sozinhos, vai?!

Ele não responde a minha pergunta, e entra no portal.

—Mas eu não vou ficar aqui mesmo! – grito correndo na direção do portal.

..........

Quando Soluço corre para o portal, Jack e Merida vão logo atrás e também passam por ele. As criaturas peludas ao redor, olham assustadas. Ainda tenho medo delas, não quero ficar aqui.

Corro também na direção do portal, e o atravesso.

Por um segundo, pensei que o portal se fecharia antes de eu conseguir passar.

Quando chego do outro lado, encontro um caos.

Vejo pessoas correndo por todos os lados falando coisas num idioma que não compreendo. Estamos em outro país.

Os garotos da minha escola estão encolhidos num canto, e vejo Norte usando roupas diferente das que usava antes, lutando contra quatro homens sozinho, mas não é uma luta comum, eles estão lutando com espadas medievais, disparando raios através dela, mas não só raios, fogo, gelo e areia, em proporções absurdas demais para imaginar, destruindo paredes, postes de luz e coisas de patrimônio público.

—O que estão fazendo aqui? – pergunta gritando, e logo depois golpeia um homem com sua espada, e este sai voando para longe – Eu mandei ficarem lá!

Nenhum de nós responde nada.

Vemos Norte lutar contra um deles, trocam golpes rápidos de espada, contudo, o idoso acaba por conseguir furar a cabeça de um deles com a ponta da espada, fecho os olhos assustada quando ele parece cair morto no chão.

—Tirem as pessoas daqui! – grita Norte para a gente.

Ouço uma menininha gritar alguma coisa em seu idioma, no alto de um prédio em chamas, e embaixo, no meio da rua, uma mulher gritando outra coisa no mesmo idioma enquanto olha chorando para a menina.

Vejo Jack pular na direção da menina e agarrar ela, tirando-a do incêndio, só que de repente, um dos homens contra quem Norte luta surge do nada perto de Jack, tira a menina de seus braços e golpeia o rosto do grisalho, fazendo-o voar rapidamente em direção ao chão, acertar o para-brisa de um carro vermelho, rachando-o e disparando seu alarme, e logo depois cair no chão, ferido.

—Jack! – ouço tanto eu quanto os outros garotos da minha turma gritarem.

—Norte! – chama o grisalho, chamando a atenção do idoso enquanto se levanta atordoado, e aponta para o alto do prédio em chamas – A menina!

O homem que agarrou a menina segura a mesma pelo pescoço, enquanto ela se debate com os pés do longe do chão. E aponta sua espada para a mesma, e ouço-o chamar o nome “Norte”.

O idoso ataca novamente outro homem na cabeça com sua espada já suja de sangue, e olha o homem com a menina.

O homem sorri para ele enquanto mantém a menina na mesma situação.

Mas de repente, Norte golpeia o ar com a espada, e quando me dou conta, a mão que o homem usa para segurar a menina, se separa de seu corpo, soltando a refém. O malfeitor começa a gritar de dor.

Norte põe o primeiro pé sobre o prédio antes que a criança chegue ao chão e a segura no braço. E imediatamente, golpeia o nada com sua espada na direção do inimigo, e o homem sobre o prédio voa na direção do chão, e acerta o último homem contra quem Norte lutava, e uma poeira alta surge no chão, no lugar aonde estavam, junto de um barulho alto de destruição.

Depois de um tempo, vejo Norte cair no chão segurando a menina, caindo na frente da mulher que gritava no chão, que provavelmente é a mãe dela, e entrega a menina em seus braços.

A mulher sai correndo com a criança no colo.

Aos poucos, as pessoas percebem que o caos acaba, e começam a vir na nossa direção, em meio aos destroços, e nos olham assustadas.

—E agora Norte? O que fazemos? – pergunto.

—Se acalmem – ele responde, e logo tira algo de sua roupa, parece ser uma trompa pequena, e a assopra, fazendo um som alto.

De repente, da trompa saem luzes azuis em forma de pássaros que cantam, elas se multiplicam e começam a girar em nossa volta, de forma que as coisas ao nosso redor fiquem cobertas por luzes azuis. Depois de um tempo assim, de repente, a luz se desfaz, e quando olhamos, as pessoas parecem estar paralisadas, pois permanecem de pé, e não há expressão em seus rostos.

—O que você fez? – pergunta Merida – O que é essa trompa?

—Não se preocupem – diz Norte, caminhando em uma determinada direção – Eles vão ficar bem, é uma trompa mágica, ela serve para apagar a memória das pessoas, mais especificamente aquelas que não são Aesir, e aquelas que não despertaram seus poderes. Não vão se lembrar de nada do que aconteceu.

—Tá, mas... – comenta Jack – E se alguém tiver filmado alguma coisa?

—A trompa também cuida disso, ela apagará o vídeo, e acontecerá como se jamais alguém tivesse filmado, até mesmo se um satélite filmou ou fotografou alguma coisa do espaço, esses dados serão apagados, e as pessoas que olharam através desses meios também se esquecerão. Como acham que conseguimos nos esconder do mundo?

—Tá, mas... E a cidade? – pergunto – eles vão enxergar alguns destroços.

Ele aponta para um torre.

—Aquela torre é uma Yggdrasill, um artefato criado para proteger aqueles que não sabem dos Aesir das batalhas dos Aesir.

De repente, os destroços ao nosso redor começam a virar um tipo de purpurina azul e brilhante subindo no ar, e vão na direção das coisas destruídas, os incêndios se apagam, o que está destruído começa a se reconstruir, e o que está sujo por causa da batalha começa a se limpar.

—Existe uma Yggdrasill em todos lugares do mundo, todas com a mesma finalidade, de reconstruir o que foi destruído por uma batalha Aesir.

Os outros e eu ficamos admirando o trabalho da torre, até que Norte nos chama a atenção e diz: “Vamos! Nem a Yggdrasill e nem a trompa Brisingamen irão dar um jeito neles, me ajudem com os corpos!”.

Norte já carregava um deles, mortos.

A princípio, todos nós ficamos relutantes em tocar naquilo que demoramos para acreditar que eram cadáveres, isso porque eles não tinham muita aparência de gente morta. Norte nos explica que os Aesir não apodrecem e nem fedem depois da morte, e que isso nos ajudaria com o trabalho de tocar nos mortos.

Enfim, Norte abre outro portal, para onde carregamos cadáveres de Aesir, e voltamos para o lugar de onde saímos.

Os Yets cuidam dos corpos, limpam, costuram, vestes para um funeral, e logo depois, Norte abre um portal para onde nos leva para um grande rio gelado, aonde venta forte, e também aonde percebemos que conquistamos uma resistência maior ao frio, não necessariamente, nos tornamos imunes ao frio extremo, mas nos tornamos resistentes à ele.

No rio há uma embarcação, colocamos os corpos na embarcação, e depois empurramos o navio.

Norte faz um discurso em voz alta, falando seu desejo de que Deus tenha piedade por suas almas por causa de seus pecados, e salve outros da nossa raça deste cruel destino.

Uma espada surge em sua mão, ele aponta a lâmina para o navio, e de sua arma surge um fogo que alcança e consome o navio. Depois baixa a cabeça e faz o sinal da cruz.

Fazemos o mesmo, mas estranhamos ao ver o navio queimando em chamas com corpos dentro.

Ficamos olhando até ver o navio afundar na água.

Norte comenta que sepultou seus companheiros da mesma forma, e que o navio se reconstruirá para futuros funerais.

Depois do funeral, voltamos para o Quartel General.

—Então... – ele diz olhando para gente, com a mão na cabeça e um olhar um seguro.

—Eu ia dizendo que precisava de ajuda...

—Norte – interrompe Soluço – Eu acho que falo por todos que depois de vermos tudo isso, nós não queremos nos envolver nessa Guerra dos Aesir...

O idoso a nossa frente fica em silêncio, e olha para cada um de nós, e nossos olhares confirmam o que Soluço diz.

Norte suspira alto e diz: “Tudo bem então... Não posso obriga-los... Mas só afirmo que não lutarem nessa guerra não irá protege-los...”.

Ele pega o que percebo ser um globo de neve e o atira contra o chão, o portal surge, e passamos por ele sem mais maravilhas.

Estamos de volta ao quarto de hospital, aonde olhamos pessoas parecidas conosco dormindo em nossa cama.

Antes de nos perguntarmos o que seria aquilo, Norte pega algo de uma estante, e quando ele pega essa coisa, nossas imagens desaparecem, e na mesma hora diz: “Não se preocupem, ninguém percebeu nada.”.

Nós cinco nos olhamos, e sentimos certa decepção vinda de Norte.

—Foi muito bom conhece-los – ele diz.

Logo depois abre outro portal, e nos deixa sozinhos, mas não antes de dizer adeus.

Nós quatro no olhamos, depois vamos para nossas camas, e embora não conversemos sobre o ocorrido, demoramos a dormir.