Guerreiros Aesir

Capitulo 3: Corredor da morte


Jack Frost

Quando acordamos no dia seguinte, acreditamos que toda aquela história de sermos Aesir foi um sonho fabuloso, mas o fato de nós quatro nos lembrarmos das mesmas coisas, e de conseguirmos amassar levemente o aço de nossas camas com o menor dos esforços, acabou contribuindo para que nos déssemos conta de que não foi sonho.

Mas mesmo assim, Rapunzel, Merida, Soluço e eu fingimos que nada havia acontecido, fingimos que foi realmente só um sonho, e que não tínhamos esses poderes, sequer comentamos sobre o assunto, e novamente, voltamos a fingir que sequer nos conhecíamos.

Fizemos todo o possível para não quebrarmos nada com nossos novos poderes, mas foi bem difícil.

Pelo menos dentro de poucos dias saímos do hospital e voltamos para casa.

Já em casa, minha mãe falou comigo, tentou me convencer a mudar de escola, contudo, disse à ela que não queria. E que embora logo no meu primeiro dia de aula eu corri o risco de perder a vida, aquela escola ainda era a melhor escola da cidade. E ela permitiu que eu ficasse nela.

Hoje de manhã, acordei, e cheguei a andar nas pontas dos pés para não quebrar nada, tentei agir como se estivesse em câmera lenta, porque sei que não sou capaz de controlar a força de meus dedos.

Cheguei a hesitar beijar o rosto de minhas irmãs e minha mãe.

Cheguei também a tomar suco em canudinho para não quebrar o copo. E saí o mais rápido possível.

Na escola, as pessoas me olhavam, reconhecendo um dos meninos do acidente, perdi a conta de quantos alunos, professores e outros funcionários da escola vieram até mim perguntando se estou bem. E respondi à maioria deles.

Na sala de aula, descobri que os meninos que se acidentaram comigo, estudam na mesma sala que eu. Fiquei até desgostoso em saber disso, e pude sentir na hora, que eles também, pois com certeza queríamos nos esquecer das coisas que aconteceram.

Os professores nos perguntaram se estávamos bem, e todos respondemos que sim.

Depois chega a hora do recreio, e na hora do recreio vou no meu armário, contudo, me esqueço de meus poderes, e em um puxão, arranco a porta de metal.

O som do trinco quebrando é alto no corredor, e todos me olham, só param de me olhar quando o mesmo acontece em outros lados do corredor.

E por uma incrível e amaldiçoada coincidência, são os mesmos meninos de antes, a Merida, o Soluço, e a Rapunzel.

Fala sério! Como é possível que ao acaso, nós quatro participemos de um mesmo acidente, sejamos descendentes de nobres Aesir, despertemos poderes juntos, estudemos na mesma sala, e agora nossos armários sejam no mesmo corredor?!

De repente, todos os alunos olham numa certa direção. Aonde surge um homem meio careca, de cabelos brancos, velho, de pele enrugada e mal-humorada, que nos olha com raiva em seus olhos escuros.

Enfim... Por alguma razão que talvez seja a vontade de Deus, nós quatro vamos para a detenção. E por mais uma razão que atribuo à vontade divina, só nós quatro estamos dentro da sala de detenção.

Enfim, o idoso que descubro ser o inspetor da escola grita conosco de pé por termos quebrado nossos armários, enquanto nós quatro ficamos sentados de cabeça baixa na frente dele.

Quando viro meu rosto para o lado, consigo ver que Merida aperta com força a mesa da cadeira dela, e consigo ver seus dedos brancos de unhas rosadas aos poucos afundando na madeira da mesma.

Enfim, acaba que o tempo passa, os outros alunos vão embora, o inspetor e os professores também, e só ficam a gente do lado de dentro da escola, do lado de fora, só alguns guarda costas para proteger a escola até que saímos.

O inspetor colocou um despertador sobre a mesa à nossa frente, disse que quando o aparelho de marcar as horas tocasse, é a hora que poderemos ir embora.

Agora esperamos o tempo passar. Sempre em silêncio. Todos olhando para o despertador a nossa frente. Cansados de ficarmos sem fazer nada. O inspetor nem teve a decência de nos dizer o horário que o despertador tocaria.

Até que de repente, como um milagre dos céus o despertador toca.

Na mesma hora nos levantamos ao mesmo tempo, pegando nossas bolsas, desligando seu toque libertador, e logo depois saindo da sala.

As luzes do corredor estão apagadas, mas ainda é possível ver a luz do sol entrando por algumas janelas.

Caminhamos juntos e em silêncio pelo corredor escuro, quando de repente, algo estranho acontece à nossa frente.

..........

Rapunzel

Paramos quando olhamos a coisa estranha na nossa frente. Uma espiral negra que gira lentamente, bem no meio do corredor.

De repente, dela sai uma forma humanoide. Não posso chamar de humana, justamente porque não parece ser humano.

Ela não tem pele, mas parece ser feito de barro preto, parecendo ser mais um ser de areia negra, com forma que lembra a de um ser humano, e o que devia ser seu rosto não é nada mais do que um rosto feito dessa mesma matéria. Em seus membros, braços e pernas, parecem haver fitas, ou laços negros que balançam sem parar, e seus olhos são de cor amarelada, não suas pupilas, até porque não as tem, mas seus olhos inteiros, a parte aonde deviam haver pupilas e a parte aonde devia ser branca.

Olhamos para essa coisa em silêncio, e consigo sentir uma onda de medo e arrepio passando por nós.

—Vocês são guerreiros Aesir?! – pergunta a forma humanoide, sua voz grossa e perturbadora.

—Ah, qual é! – diz Merida – Fala sério! Dá um tempo! A gente já falou para o Norte que a gente não quer ter nada haver com isso! Essa guerra dos Aesir não é da nossa conta!

—Juntem-se a nós nessa guerra! – diz o humanoide, como se ignorasse tudo o que a ruiva disse.

—Desculpa, mas você não ouviu o que ela disse? – pergunta Soluço dando um passo na direção dele – Não temos nada a ver com isso! E não queremos ter nada a ver com isso! Então vai embora, volta pro abismo de onde você veio e deixa a gente em paz!

A criatura fica um tempo em silêncio, logo depois fala: “Devo constatar então que não pretendem assumir posição nenhuma nesta guerra?”.

—É isso aí! – fala Jack.

Ele ergue os braços para os lados e para cima, e algo negro sai de trás dele, enquanto ele fala: “Guerreiros que não assumem lados em crises não tem honra. Crianças, vocês não motivos para existir neste mundo, o coração de vocês não tem razões para seguir batendo. Permitam-me tirar-lhes a vida.”.

Na mesma hora sinto um frio na barriga e um tremor em meu corpo, olho para os lados, e vejo que os outros garotos também se sentem assim.

De repente, a escuridão de trás da criatura vem como uma onda na nossa direção.

Soluço, Merida e Jack conseguem se mexer e fugir, correndo para os lados, mas eu não, eu paraliso, e sou a única que é atacada pela escuridão.

A primeira vista só sinto meus pés saírem do chão e meu corpo voar para trás. Não sei dizer quantos metros eu voo, mas depois sinto-me atingir alguma coisa, e ouvir um barulho oco e metálico, logo depois caio no chão, gemendo.

É quando começo a sentir as dores. Meu corpo inteiro dói. Tento me ajoelhar, em meio aos traumas físicos de meu corpo, e mesmo com meus novos poderes, minha nova força, minha nova resistência, tenho dificuldades em fazê-lo.

Olho minhas mãos trêmulas com minha visão embaçada, e vejo sangue nas minhas mãos, e em meus antebraços, e pedaços da minha roupa rasgada. Demoro a perceber que o sangue é meu, e mais ainda a acreditar.

Olho o lugar aonde eu estava antes, e percebo que voei mais de quinze metros, e atingi alguns armários escolares.

Vejo a minha frente, a forma escura e malvada, andando na minha direção.

Meus olhos começam a se encher de lágrimas, e começo a tremer, mas não consigo fazer nada se não ficar parada no mesmo lugar, olhando-o de baixo.

—Pelo visto você foi a única que não fugiu de mim. Responda-me, isso foi porque você é a única corajosa dentre eles e decidiu me enfrentar, ou foi porque você congelou e não conseguiu fugir como os outros?

Ele para e me olha em silêncio por um instante.

E ficamos assim por um segundo. Ele de pé, alto, me olhando com imponência a poucos centímetros de mim, e eu, de joelhos, sangrando, trêmula, e chorando.

—Acho que foi a segunda opção – ele constata.

De repente, ele estica a mão para o lado e para baixo, e de repente, uma areia negra começa a surgir em sua mão e rodopiar no formato de um cilindro fino e longo. E quando o cilindro para de rodopiar e as partículas de escuridão desaparece, vejo uma espada surgir em sua mão.

Gemo de medo ao vê-la, mas permaneço inerte.

—Por favor... – sussurro, mas sei que falo alto o suficiente para ele me ouvir, embora sequer reaja.

—Vocês decidiram viver sem honra ao decidirem ser guerreiros isentos dessa guerra. Pelo menos na hora da morte, morram com honra! – ele diz enquanto usa a ponta da espada para me pegar no queixo, e agir como se sua lâmina fosse capaz de me acariciar o rosto.

E fico assim, de joelhos, meus braços pesados e caídos, e minha cabeça erguida na direção de meu assassino, e eu sem sequer poder me mover. E a criatura de pé, me olhando de cima e com um sorriso no rosto.

..........

Merida

Vejo aquela coisa estranha acariciar Rapunzel como se ela fosse sua filha. Ela permanece assustada, sem se mexer.

Me escondo atrás de uma parede, olho para o outro lado do corredor, e vejo os rapazes também escondidos.

Essa coisa, seja lá o que ela realmente for, com certeza sabe que estamos aqui, e quando disse aquilo sobre vivermos sem honra, e morrermos sem honra, sabia que estávamos escutando.

Não podemos fugir, não podemos deixar aquela menina morrer...

Quando vejo a criatura erguer a espada para matá-la, antes que eu perceba, parto em defesa dela.

Sequer penso no que vou fazer, apenas salto, gritando, dando uma voadora na direção dele.

Meus poderes Aesir me permitem saltar de longe na direção dele, e seguir em alta velocidade.

Por um segundo, acredito que vou acertá-lo, contudo, ele me avista no último segundo, e consegue desviar.

Meu pé acerta os armários, amassando-os, mas sinto-me ser segurada pela roupa e atirada contra o chão com força.

Mas imediatamente me levanto, e tento lutar contra ele.

Dou socos, mas só acerto o vento, e a criatura consegue desviar facilmente.

E quando menos espero, ele me ataca com a espada.

Quanto sinto a lâmina em minha carne, arregalo os olhos, assustada, e quando vejo sangue espirrar, fico amedrontada de verdade, como jamais fiquei antes.

Olho para baixo, e vejo sangue em meu uniforme branco. Gelo assim que percebo essas coisas.

“O que é isso?” “Sangue?” – penso – “Está doendo”.

Ele cortou minha barriga, de um lado a outro, e vejo muito sangue sair dela.

Olho para ele assustada, e vejo uma grande insensibilidade em seu rosto.

—Desculpe, acertei fundo demais, acho que acertei sua espinha.

Depois, aos poucos me encolho, colocando as mãos na barriga, enquanto lentamente me ajoelho, amedrontada e assustada, e respirando de maneira ofegante.

..........

Soluço

Sinto um arrepio dos pés à cabeça ao ver o que ele faz com a menina ruiva. O chão ao redor delas está todo sujo de sangue, e as duas estão indefesas.

A Merida tentou ajudar a Rapunzel, eu seria o pior dos covardes se não tentasse ajuda-las, agora que provavelmente estão mais indefesas do que jamais estiveram.

Mas uma coisa é certa, não ataca-lo de perto, se eu fizer isso ele vai me cortar também.

Olho à minha esquerda, na parede, e vejo um cano cujo material parece ser resistente o bastante para ser arremessado de longe.

Olho para a criatura estranha, e vejo que nela não existe qualquer empatia ao olhar duas meninas sofrendo por causa dele. Ele não irá hesitar em mata-las. Preciso fazer alguma coisa, e rápido.

Puxo o cano da parede, e o quebro fazendo uma ponta, começa a sair algum tipo de gás dele.

Embora essa coisa provavelmente não seja humana, não gosto da ideia de matar algo vivo, mas eu não poderia conviver comigo sabendo que duas meninas morreram e eu não fiz nada para tentar impedir. Isto é, se eu sair vivo dessa para conviver comigo mesmo.

Olho Jack, que permanece imóvel.

Caminho para o meio do corredor, e aponto o cano que uso como lança na direção dele.

Ele me olha, e se vira na minha direção.

E atiro o cano, que vai numa velocidade que eu não acreditaria se não visse. Meu braço lançando algo em tal velocidade...

Contudo, não é o suficiente, a criatura consegue desviar e segurar o cano pontudo.

Sinto um gelo subir dos meus pés à minha cabeça, e de repente, antes que eu perceba, ele atira a lança na minha direção.

Nem sequer consigo tirar os pés do chão para correr. A imagem dele e das meninas se afastam com rapidez de mim, e percebo que estou voando para trás.

Quando atinjo a parede atrás de mim, ouço barulhos altos, acredito que seja de uma lança quebrando concreto.

Só depois é que me dou conta do que aconteceu.

A criatura me acertou com a lança, e furou minha barriga, bem do lado da minha espinha. A lança me trouxe até a parede, e mesmo depois de eu atingir alguma coisa, a lança não parou de voar, e atravessou não só meu corpo, como também atravessou a parede atrás de mim.

Caio de joelhos, sem ar, e coloco as mãos sobre o buraco em meu corpo.

Gemo, e olho a criatura longe de mim, minha visão está embaçada, mas não deve ser só porque meu óculos caiu de meu rosto. Sinto um arrepio de morte subir meu corpo, sinto frio... Sinto medo...

..........

Jack Frost

Olho Soluço cair de joelhos, empoeirado com a destruição da parede atrás dele, ainda ouço o cano que essa criatura usou como lança destruir coisas do lado de fora do prédio escolar. Vejo também a fumaça subir do lado de fora.

O Soluço, a Merida, e a Rapunzel nocauteadas... Mesmo com os poderes Aesir. Isso é mais do que suficiente para que eu perceba que não temos chance nenhuma contra esse cara.

Bate um certo arrependimento por não ter aceitado a proposta do Norte agora.

Quando volto o olhar para a criatura negra de olhos amarelos. Ele está bem perto de mim, seu rosto a alguns centímetros do meu, com uma expressão sádica e sorridente.

Sequer tenho tempo de reagir, pois imediatamente, sou agarrado por um tipo de mão gigante feita de escuridão, e atirado para todos os lados.

Sinto meu corpo acertar um monte de coisas enquanto sou segurado pela mão gigante dele.

Não consigo perceber aonde vou, mas sinto a dor, os destroços voando, e o sangue escorrendo de minha cabeça.

Até que por fim, ele me larga, me atirando em uma específica direção.

Meu corpo já está tão dolorido que não consigo sentir mais dores, embora me dê conta de que acertei e a amassei mais um conjunto de armários.

Demoro para iluminar a cabeça. Estou tonto, e mal me dou conta de onde estou. Só percebo quando vejo que estou perto de Merida e Rapunzel.

Olho para frente, e vejo um corpo sendo atirado na nossa direção.

É o corpo de Soluço. Que nos acerta em cheio.

Depois de tirar Soluço de cima de mim, vejo a criatura andando na nossa direção, num corredor totalmente destruído, as lâmpadas quebradas e soltando faísca, os armários amassados, as paredes destruídas, o chão com as cerâmicas quebradas e soltas.

De repente, ele estende os braços para os lados e para cima de novo. E de repente uma outra onde daquela escuridão vem na nossa direção, gigante e poderosa.

Sequer temos para onde fugir, e somos acertados por ela.

Uma enorme poeira surge, e por um segundo, sequer parece ser o corredor da minha nova escola.

Sinto muita dor. Mal sinto meu corpo direito, e também não consigo me mexer, percebo que minha visão está embaçada quando vejo que a fumaça se dissipa, e uma forma humanoide escura vem andando na nossa direção.

É quando percebo que estou morrendo...

Nessa hora, sinto uma lágrima escorrer de meu olho. Pelo menos em breve reencontrarei meu pai... Isto é, se eu for para onde ele está... Mas queria pelo menos me despedir da minha mãe e das minhas irmãs...

À medida que minha visão vai se embaçando mais, as coisas também vão ficando escuras.

Vejo a imagem turva a minha frente levantar o braço que segurava a espada, e que suspeito que ainda deve segurar.

Mas de repente, vejo um clarão surgir de trás dele. Pisco os olhos. A escuridão parece sumir depois de levar algum tipo de golpe. Fecho os olhos novamente. Vejo roupas brancas.

Fecho os olhos definitivamente desta vez, mas ainda ouço o som de uma trompa.

..........

Merida

Acordo sobressaltada e assustada.

Esperava acordar ensanguentada, em meio a destroços, e ferida, mas não, acordo seca numa cama. Usando ataduras e uma roupa branca, um tipo de camisola.

Olho ao redor e vejo colunas de madeira entalhadas, olho para o teto e vejo vigas igualmente entalhadas. Luzes brancas no teto e chão de pedra com desenhos bonitos.

Olho para o lado, e vejo outras camas, aonde se encontram Jack, Soluço e Rapunzel, todos tomando soro, e quando vejo perto da minha cama, vejo que também estou tomando soro.

Perto de mim está um dos yets, que me olha com o que parece ser um sorriso.

Na hora, me sobressalto, tentando me afastar, mas depois aceito que ele me toque, quando noto que ele só quer que eu me acalme.

Olho minha barriga por debaixo de minhas roupas de paciente, e percebo que também estou coberta no lugar do corte.

Olho à minha esquerda e vejo Norte, estático, sentado sobre uma cadeira, nos olhando com seus olhos azuis.

Na mesma hora me sobressalto.

Olho à minha direita, e percebo que os outros garotos também acordam.

—Norte... – começo a falar quando todos ficamos completamente conscientes, mas ele levanta a palma da mão e começa a caminhar entre as camas.

Olha cada um de nós, aparentemente checando nossos sinais vitais e nossas reações ao soro. Logo depois tira o soro de cada um de nós.

E ficamos em silêncio.

Sinto certa vergonha vindo de nós quatro. Ele pediu nossa ajuda, nos avisou que não lutar nessa guerra não iria nos deixar protegidos, mas mesmo assim, nós não escutamos, e ele apareceu para nos salvar.

—O que era aquela coisa? – pergunta Jack.

—Existe um Aesir que com certeza é o meu maior inimigo atualmente, – ele fala enquanto coloca uma xícara de café para ele, de costas para nós, à nossa esquerda – normalmente os Aesir nascem com a capacidade de manipular um elemento, ou a variação de um elemento, e se você quiser pode ser capaz de manipular os outros com treinamento, como é o meu caso – vira-se para nós com a xícara de café saindo fumaça – Mas ele nasceu com a capacidade de manipular areia negra, e treinou por não sei quanto tempo só para aperfeiçoar esse poder. E chegou a um nível tão alto que se tornou capaz de criar vida com seu poder... O nome dele é Breu, e aquilo que vocês viram, é um dos peões dele.

—Espera – fala Soluço – Está dizendo que aquela coisa que quase nos matou, era só um peão?!

—Sim.

Sinto um gelo de medo nos cobrir quando ouvimos ele dizer isso.

—Obrigada por nos salvar – diz Rapunzel.

E todos agradecemos também.

—Você sabia que isso ia acontecer? – pergunto.

—Sim, eu sabia que em algum momento apareceriam inimigos meus e os chamariam para fazer parte do exército deles... Olhei vocês algumas vezes, preocupado se iriam ficar do lado deles ou se iam continuar isentos, e eu sabia o que aconteceria se vocês ficassem isentos... Mas só consegui aparecer naquela momento... Me perdoem...

—E nossos ferimentos? – digo, colocando a mão na barriga – Você cuidou deles? Ele disse que tinha acertado minha espinha... E senti uma dor insuportável.

—Vocês são Aesir, vocês se curam por conta própria. O que fiz foi apenas tentar mantê-los vivos para terminarem de se curar, e tiveram sorte, poderiam ter morrido, os ferimentos eram graves...

Tento colocar o pé no chão e caminhar, e embora sinta certa dificuldade ao fazê-lo a princípio, consigo ficar de pé, e caminhar para mais perto do Norte. Vejo também os outros virem para mais perto dele atrás de mim.

—E agora? – pergunto – O que faremos? Com certeza virão outros Aesir que tentarão nos chamar para lutar ao lado deles. E acho que se dissermos não, o mesmo vai acontecer conosco novamente.

Percebo agora que ele é a melhor opção, foi o mais misericordioso para conosco.

—Fica por conta de vocês. Vocês podem voltar para casa e tentar lidar com tais poderes, ou... Podem me ajudar nessa guerra, e eu irei treiná-los e ajuda-los a controlar seus poderes.

Nós quatro nos olhamos, e respondo: “Acho que a segunda opção é melhor.”.

—Ótimo! – ele diz com um sorriso no rosto – Mas primeiro, tenho algumas coisas para oferecer à vocês.

Ele me oferece um copo de água, e eu o pego, mas quando o faço, o copo se quebra em minha mão, e a água cai aos meus pés junto de cacos de vidro.

Me afasto, tentando fugir da água. Olho minha mão, e vejo se tem sangue nela, mas não tem.

—Ainda não conseguem controlar os poderes de vocês nem para fazerem as menores coisas – ele se vira e me entrega uma corrente – Coloque-a no seu pulso – obedeço, e logo depois me oferece outro copo de água, pego, e percebo que consigo apanha-lo sem quebra-lo, e sorrio diante disso.

—O que é essa pulseira? – pergunto.

—Ela é feita de um metal especial, que sela nossos poderes, caso queira fazer seus poderes funcionarem novamente é só tirar a corrente – ele se vira e pega mais três correntinhas – tomem, uma para cada uma de vocês.

Todos pegamos uma corrente.

Ele ainda nos oferece um globo de neve para cada um de nós, e diz que serve para irmos de um lugar a outro. Diz que já estão programados para virem aqui, e para voltar de onde viemos, e que é só atirarmos no chão para abrir o portal, mas caso a gente queira ir para outro lugar, é só falarmos perto do globo.

Nos entrega também uma Brisingamen, caso futuramente nos envolvamos em situações que precisemos apagar a mente das pessoas a nossa volta.

—Vocês terão duas horas de treinamento, venham aqui amanhã a noite. E peguem mais isso – ele diz nos mostrando uma pequena escultura de se colocar sobre uma estante – Não necessariamente é, mas considerem isso uma pequena Yggdrasill, quando precisarem sair de algum lugar para virem aqui ou fazerem outra coisa que tenha a ver com alguma atividade Aesir, é só colocarem ela no lugar aonde querem, soprar a Brisingamen e saírem, que as pessoas irão ver as coisas como se vocês estivessem presentes ali.

Passamos um tempo recapitulando as coisas que ele disse, e depois ele diz que precisamos ir embora, pois já é tarde e nossas famílias estão um pouco preocupadas conosco.

De repente um yet trás nossas roupas dobradas em suas mãos peludas.

—Espera, costurou nossas roupas? – pergunta Rapunzel sorridente, olhando os remendos das roupas.

—Os yets costuraram! Agora se vistam e vão para casa. Venham aqui amanhã a noite

Ele nos aponta um lugar para onde podemos entrar e nos trocar.

Aos poucos todos saímos, primeiro vai Jack, depois Rapunzel, depois Soluço, e por último vou eu.

Atiro o globo no chão, e antes de entrar no portal, olho para Norte, e digo-lhe: “Obrigada...”.

Depois saio, vou para casa. E apareço na porta da mesma, aproveito e assopro a Brisingamen, e vejo o show acontecer.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.