Guardioes de Deus: a Batalha nos Ceus

Capítulo 7 - A Profecia. Parte II


No último morro em que passaram podiam avistar uma encosta cercada por uma planície enorme, quase idêntica a que cercava o local onde ficava a torre de BES, a diferença era que nesta a vegetação era mais rasteira, à frente da encosta uma lagoa de águas cristalinas repousava.

Ao cruzarem a planície, a encosta se fazia mais sublime que nunca, os sons das águas caindo eram ouvidos a distância. A coloração verde musgo dava um aspecto único ao local. Os pássaros matavam sua sede em pequenas piscinas naturais próximas a lagoa. Gostariam de poder perder um pouco mais de tempo somente apreciando a paisagem ma isto estava fora de cogitação.

Próximo à encosta o som da queda d água era ensurdecedor, e não era uma, mas sim três. A maior delas nascia no cume da encosta dando a impressão que tocava as nuvens, as outras duas menores saíam de cavernas que se formavam quase no meio dessa barreira natural, uma de cada lado da queda central. A beleza de ambas não deixava nada a desejar a maior, as águas se uniam antes de tocar o solo, formando a lagoa.

-Só há uma encosta em todo o reino em que as águas que caem de locais separadas e distantes conseguem se juntar antes de chegar ao solo. Essa deve ser a famosa encosta do \"abraço eterno\", sua história é muito curiosa.

Enquanto falava Cassi não notou que os dois apesar de estarem fascinados pelas cachoeiras, ainda prestavamatenção as suas palavras.

- Essa é uma história bem tradicional de onde venho, e sempre é lembrada. Principalmente quando se fala de amor.

Fez uma pausa para ordenar os pensamentos. Arão vendo que a demora se prolongava muito deu um ‘empurrãozinho’ para que ela começasse.

-Bom para o firmamento é um nome muito sugestivo \"abraço eterno\", mas qual a razão disso?

“ Dizem que a muito tempo atrás no mundo dos homens existia um amor digno de inveja, seus protagonistas foram Isabel e Samuel. Filhos de famílias ricas que mantinham laços extremos de amizade.“

“Os dois brincaram, cresceram e amadureceramsempre um na companhia do outro, a amizade que nutriam quando criança também cresceu e com o tempo passou para afeto mais forte,e a conseqüência mais lógica disto aconteceu, o amor. “

“Tinham sido prometidos um ao outro, a união do casal agradava as famílias. Perto da tão sonhada união, as terras do reino onde viviam foram invadidas por bárbaros. Todos os homens foram convocados para defendê-la, inclusive Samuel.”

“A batalha era muito desigual, os bárbaros eram numerosos, sanguinários e impiedosos. Samuel sabia que as chances de retornar aos braços de sua amada eram mínimas. Sua linda Isabel implorou para que seu amado não fosse. Ela queria fugir com ele.”

“Ao ver que não mudaria a opinião de seu amado, ela entregou-lhe um crucifixo como símbolo de seu amor eterno. Mas ele apenas disse:”

“-A única coisa que podemos fazer é orar e pedir para que nosso amor seja tão forte que nada possa rompê-lo. Quero que saibas que não importa o que aconteça estarás sempre em meu coração.”

“-Não saberei viver sem ti, se eu o perder, minha vida já não terás mais sentido. Quero ir contigo, se tiveres que aceitar a morte que ao menos seja ao teu lado. Disse ela soluçando.”

“-Nossos destinos não estão mais em nossas mãos.“

“-Samuel tomando-a nos braços, limpou suas lágrimas com os dedos eacariciou-lhe os longos cabelos cacheados. Sua face ficara rosada, a linda boca tremia de medo. Seus olhares se cruzaram antes deseus lábios se encontrarem num último beijo.”

“Rezaram na capela ondeele fez um ultimo pedido com muita fé. Se viesse a morrer gostaria que fosse nos braços de sua amada. Ela porém, condenou o destino e jurou naquele lugar que não importava qual fosse o resultado do combate, não iria continuar a viver sem seu grande amor.”

“Os homens partiram para batalha, o esperado se concretizou e a vitória dos bárbaros foi avassaladora. No campo de batalhamilhares de corposjaziam ao céu aberto. Samuel fora atingido por uma flecha e ao cair ao solo teve seu braço direito decepado por um machado inimigo, não foi morto por que os bárbaros precisavam de escravos para carregarem seus mantimentos. “

“As famílias dos nobres foram dominadas e maioriasacrificadas, outras porém ofereciam algo em troca para continuarem com vida e Isabel foi uma das oferendas ao chefe dos bárbaros. Sua famíliaainda viveria em suas terras, mas estariam sob domínio de seus conquistadores. Isabel tinha duas escolhas: Ou se recusava acasar-se com o chefe dos bárbaros e assistia a morte de seus familiares um a um a sua frente. Ou aceitava tal provação e ainda mantinha viva a esperança de encontrar seu amado. Mesmo com todas as terríveis notícias que recebera ainda tinha a fé de vê-lo novamente, tê-lo em seus braços, por um breve momento que fosse.”

“Chegado o dia da união, quando saia a rua, uma carroçacheia de prisioneiros maltratados e esfomeados passava à sua frente, muitos imploravam a chegada da morte, já que vinham sofrendo a dias as torturas dos bárbaros. “

“ Quando a carroça se aproximou, um braço a agarrou através das grades. Isabel seassustou. Ao olhar para o homem enjaulado que mais parecia um animal, viu que lhe faltava um braço, porém no peito reconheceu o crucifixo que havia dado a seu amado.“

“Ficou aflita e pediu liberdade do prisioneiro ao seu algoz. Apesar de protestar o bárbaro o libertou por saber de quem ela se tornaria esposa. No mesmo instante que sua mão tocou o rosto de Samuel uma espada atravessou o abdômen tirando-lhe a vida em seus braços. A arma era de seu futuro marido, que ria a seu lado.”

“-Não deves se importar com esses vermes. Logo todos encontrarão a paz como este pobre coitado que jaz em tua frente, porcos imundos.Cuspiu no corpo caído.”

“Ela foi rápida, pegou a faca da cinta do bárbaro e se matou. Este ato dela teve conseqüências graves, já quetoda a sua família foi executada depois.”

-Nossa que história triste, mas o que isso tem haver com a encosta?Perguntou Arão.

Cassi fez um sinal para ele ficar quieto e não interromper.

“-No dia do julgamento, a pobre Isabel teve suas ações condenadas, pornão aceitar seu destino como deveria ter sido. O suicídio mesmo que seja por amor é um ato condenável, não cabe à pessoa decidir quando termina sua existência, mesmo que tudo lhe pareça sem sentido. Porém Samuel suplicou misericórdia por sua bela amada. Seu pedido foi ouvido, todavia ela teria que passar por algumas tribulações antes de retornar. Quando isso acontecer finalmente eles ficarão juntos. Dizem que ele ainda a espera dentro desta encosta. A cachoeira maior simboliza o corpo de Isabel, as outras que saem de cada lado são os braços de Samuel e o localonde elas se encontram antes de cair ao chão é o momento em que ele a abraça. Por isso o nome de \"abraço eterno\".

-Puxa que amor hein! Mas é uma história um pouco triste, você não acha Bal.DisseArão

Bal não prestou atenção à perguntae já emendou outra.

-Mas alguém já viu esse tal de Samuel?

–Vocês uns são bobos, é apenas uma história, uma lenda, se é verdade ou nãoeu não sei dizer, mas que dá uma magia toda especial ao lugar isso com certeza dá, a gente o vêcom olhos diferentes.Respondeu Cassi.

-Alguns amores conseguem passar por cima de muitas barreiras e atravessar a eternidade. Olhou para cima e deu um longo suspiro.

-Bom, vamos deixar os amores um pouco de lado agora, afinal não é meu coração que está reclamando, mas sim meu estômago. Reclamou Bal

-Como você é insensível Bal.Criticou a jovem.

-Não sou insensível, sou realista.

–Claro que é, afinal depois de uma história dessas, sóno que você consegue pensar éem comida.

-Vamos nos banhar primeiro, a água parece estar ótima.Convidou Arão. O garoto correu e deu um salto nas águas que formavam a lagoa.

-Não! A água deve estar muito gelada. Além do mais temos que nos concentrar na Cidade Superior.Comentou Cassi.

-Ora vamos, não seja estraga prazer. Continuou Bal.

-Eu vou ter que fazer um esforço imenso e matar minha fomemais tarde, a Cidade Superior pode esperar um pouco. Além do mais nós precisamos também descansar e relaxar de vez em quando.

-Acho que você tem razão.

-Eu sempre tenho razão. Passou falando ao ouvido de Cassi.

-Convencido. Protestou a garota. –Aágua parece estar muito gelada.

-Está nada. Gritou Arão já dentro da lagoa. -Venham rápido.

-Vamos Cassi. Bal pegou-a pelos braços e atirou-a nas águas.

-Não!!! Me solte...

Mas já era tarde,seu corpocaiu na lagoa.

-Tá vendo como ela só precisava de um empurrãozinho.Completou Bal.

Nadaram até que a fome tornou-se insuportável, Cassi não agüentava mais ouvir Bal reclamar, foram para a beira da lagoa onde começaram a se organizar para passar a noite e fazer a refeição. Arrumaram todas as coisas, a tarde estava terminando, os raios do sol iam se escondendo no horizonte, sua coloração mudara para um tom avermelhado.

Fizeram um círculo no chão tirando toda a mata que existia. Vários gravetos foram juntados até formarem um pequeno amontoado, a fogueira estava pronta. Encheram uma vasilha com água e levaram-na ao fogo para cozinhar alguns legumes. O vento soprava mais frio com a chegada do final da tarde. Cassi cuidava da refeição, enquanto Arão se incumbia de manter o fogo vivo, já Bal arrumava as bagagens que tinham trazido, não era muita coisa, mas alguém tinha que acomodá-las em algum canto.

As imagens passadas não saiam das mentes dos jovens. Ainda se perguntavam se tudo não tinha sido um sonho. Todavia o pergaminho entregue por BES antes de perecer, a salvo com Arão, não deixava dúvidas, tudo era real. Suas inscrições sagradas eram muito sinistras, revelando um futuro sombrio. Arão mudou de assunto perguntando sobre a Cidade Superior, a partir daí a conversa se tornou mais alegre e descontraída.

-Me disseram que é a mais bela de todas, cheia de monumentos e templos grandiosos cultuado aos deuses, nenhuma outracidade dizem ter a sua beleza. Proclamou Bal. -Não vejo a hora de chegarmos até a grandiosa, o reduto dos sábios e anjos.

Olhou para os amigos e prosseguiu.

-Nunca tivemos uma oportunidade comoesta, gostaria que a situação fosse diferente, que não houvesse esse rancor entre os dois povos. Mas independente disso,todos que colocaram seus pés ládizem que ela é fantástica. Com flores presentes em sua arquitetura dando vida às construções. Nenhuma beleza pode ser comparada a Cidade Superior. Majestosa por si só como deve ser.

Os pensamentos de Bal foram cortados pelas palavras de Cassi.

-Eu só quero tornar-me uma guardiã e honrar novamente minha família.

As palavras da jovem possuíam um rancor evidente.

Os dois ficaram quietos até que Bal cochichou para Arão.

-Elasempre muda de humor tão rápido assim? A minutos atrás estava toda sorridente.

- Mulheres... Comentou Arão disfarçando, sabia o porquê da mudança de comportamento de Cassi quando se referia à família. Um novo silêncio se instaurou no grupo até que...

-Vocês dois venham cá um pouco. Chamou-lhes

-Espero que seja algo que demande minha atenção, pois estava no meio de uma corrente de pensamentos muito importante. Bal olhou com desaprovação para Cassi, entretanto fez o comentário mais para atormentar Cassi.

-Sim, o que foi?Perguntou Arão.

-Olhem!!!Apontou para a vasilha com a água.

- Sim, é uma vasilha.E daí?Perguntou Bal. Vendo o rosto impaciente da garota ele prosseguiu. - O que tem a vasilha? Não há nada aí, além de água e legumes.

-Espere! Você não está sentindo? QuestionouArão.

Foi quando Bal notou que a água começou a se mexer dentro da vasilha. O chão começara a tremer, leves pancadas que iam aumentando num ritmo crescente já eram percebidas pelos três amigos.

-No Horizonte! Vejam! Cassi apontou para o outro lado do pôr do sol onde uma grande nuvem de poeira subia.

-Mas o que poderá ser aquilo? Perguntou Arão.

-Chega de surpresas, não sei se agüento tanta emoção num só dia.Reclamou Bal

A nuvem foi ampliando seu tamanho, os tremores no chão também, ambos vinham em direção a eles. Bal observou mais atentamente a poeira que se aproximava.

-Não acredito! Não pode ser!!! Os anciãos da vila sempre me falaram sobre eles. Disse com entusiasmo.

-Eles quem? Perguntou Arão

-Unicórnios! Um estouro de unicórnios! Eles sempre correm ao final da tarde para o pôr do sol...

-O quê??? Indagou Arão com surpresa.

-Sim, eu também já ouvi falar deles, são como lendas contadas de geração há geração, poucos são os que tem o privilégio de vê-los. Os que conseguiram tal façanha deixam em suas narrativas momentos tão gloriosos, que mesmo os adultos mais ranzinzas ficam fascinados.\"Não cavalgam no chão, mas sim em nuvens\". Essas foram as palavras de Gideão uns dos poucos da minha cidade que já os viu. Comentou Cassi.

-Eles nunca ficam no mesmo local, passeiam por todo o reino, dois dias é o máximo que eles param em algum lugar, por isso são muito difíceis de se encontrar.

-Vamos, vamos...Arão pegou Bal e Cassi pelo braço, seguindo com eles em direção a nuvem que se erguia.

-Está maluco!Queixou-se Bal desvencilhando-se de Arão. -Vamos ser pisoteados! Se você não notou é um estouro. Olhem como vem feito loucos em nossa direção. Acho que você não está batendo bem, né?

-Nunca estive mais lúcido, como Cassimesmo disse são poucos os que tem o privilégio de vê-los, imaginem então o privilégio que nós teremos.

-Do que você está falando Arão? Perguntou Bal tendo certeza de que não ia gostar da resposta.

-O que você tem em mente? Cassi disse a frase ao mesmo tempo que Bal pronunciava a dele e ambos olhavam para Arão estupefados.

-Seremos mais ousados que todos, vamos montá-los, tenho certeza que nos divertiremos muito, e não creio que nos farão mal algum. Argumentou Arão.

-Alôôô! Tem alguém ai? Bal bateu com a mão na cabeça de Arão. -Acho que você se esqueceu do que aconteceu na torre de BES, podemos acabar nos dando mal nessa sua brincadeira, eu não vou.

Olhou para Cassi buscando apoio.

-Não sinto maldade nesses animais, muito pelo contrário sinto uma forte energia positiva emanada deles. Concluiu a garota ajudando Arão a convencer Bal.

-Sente? Você sempre sente. Estou vendo toda essa energia, estão com tanta dela, que vão depositar tudo em cima de nóscom seus cascos.

-Oras, até minutos atrás você estava todo empolgado falando deles Bal. O que foi que aconteceu com todo aquele entusiasmo?

-Arão aquilo foi antes de você nos colocar no caminho do estouro. Estou gostando de apreciá-los, mas a uma distância segura.

-Relaxe meu amigo, essas criaturas são magníficas, com uma beleza dessas é inconcebível, que possam machucar alguém.

Arão partiu na direção dos animais que aproximavam-se em grande velocidade.

-Diga isso a eles, não a mim.

-Vamos aproveitar o momento. Quais foram as palavras que você me disse momentos atrás... me lembrei:“Nós precisamos também descansar e relaxar de vez em quando” .

Ela deu um tapinha no ombro de Bal e seguiu Arão. O garoto foi ficando para trás.

-Você chama isto de relaxar? Vocês são malucos, isso é o quesão, eu não, não vou de jeito nenhum, podem ir, loucos, depois não digam que não avisei...

Uma rajada de vento lhe bateu as costas, arrepiando os cabelos na nuca. Bal olhou para os lados e viu-se sozinho.

-Bom pensando bem, acho que montar um pouquinho não é uma má idéia.

Saiu em disparada atrás de seus amigos.

– Ei! Esperem por mim.

-Ora, ora, veja quem veio para a festa, o que deu no senhor para mudar de idéia tão rápido, se sentiu muito solitário? Ou será que ficou com medo? Zombou Cassi.

-Medo??? Eu??? O grande Balduíno não tem medo de um bando de cavalos com chifres. Aliás como eu poderia abandonar meus queridos amigos na hora da diversão, com certeza irão precisar de mim...

-Preparem-se, aí vêm eles. Com um gesto Arão apontou para o bando.

Meu Deus, o que estou fazendo aqui ”. Os pensamentos de Bal o deixava paralisado.

-Vejam só o que vou fazer.

Correu ao encontro dos unicórnios, desviou-se do primeiro, fez o mesmo com o seguinte que avançava, neste momento ele o viu, Arão avistou um unicórnio diferente de todos os demais. Todos tinham os pêlos brancos, este porém, tinha pêlos prateados, agarrou-se a crina do animal e com um salto, caiu em cima de sua anca. Não houve resistência alguma, pelo contrário o unicórnio ajudou-o a se equilibrar. O garoto foi-se embora com o bando que começava a passar pela lagoa.

-Parece divertido acho que vou experimentar. Gritou Cassi partindo em seguida. Em manobra idêntica a de Arão, ela subiu sobre a anca de um deles.-Vamos Bal! é uma sensação maravilhosa.

-Não acredito no que vou fazer, acho que também estou ficando louco, mas o que deu em mim?

Olhou para os lados.-Posso até estar perdendo o juízo, mas não vou ficar aqui sozinho...

Subiu em uma pedra enquanto eles passavam, tomou coragem e pulou sobre o primeiro que atravessou sua frente. O único problema foi que caiu ao contrário no animal, sua barriga estava encostada na anca do mesmo, enquanto suas pernas ficaram voltadas para a cabeça do unicórnio, este ia lhe acertando a face com o rabo. Ele gritava com a intenção do animal parar, porém a cada grito que dava incitava mais ainda a corrida do unicórnio.

-Caramba, eu sabia que não tinha vocação para esportes radicais, em minha outra vida sempre preferi aproveitá-los atrás da telinha do meu querido computador.

Os Unicórnios mudaram seu percurso estavam se distanciando da encosta. Arão quase nem sentia as passadasleves e rápidas deles. Compreendeu as palavras que Cassi proferiu: “Não cavalgam no chão, mas sim em nuvens”.Arão e Cassi estavam se divertindo muito, enquanto Bal com seus gritos histéricos não via a hora que aquilo acabasse.

-Isso é fantástico. Gritou Cassi

-Vamos mais rápido. Arão incitava o animal

-Mãããeeee...Para, para... Berrava Bal

O bando fez novamente uma curva,retornavam para a encosta, seguindo em direção a lagoa,muitos pararam bruscamente indo saciar sua sede nas águas cristalinas. Arão e Cassi fizeram uma parada perfeita e desceram dos animais como se já montassem à muito tempo, logo atrás veio Bal, porém como estava de costas não viu seu unicórnio parar. Ele não teve onde se agarrar e foi atirado dentro da lagoa. Os outros dois caíram na gargalhada enquanto o garoto saia todo encharcado reclamando.

A visão de todos os unicórniosparados tomando água na lagoa, eramuito linda.

-São todos mansos. Comentou Cassi passando as mãos em alguns deles que nem se importavam com suas presenças,ao contrário pareciam gostar muito delas. -Eles devem sempre parar à tarde para tomar água. Acho que vão passar à noite aqui conosco, pois a encosta os protegera do vento. Acredito que no começo eles ficaram um pouco afoitos coma nossapresença por isso passaram correndo a primeira vez.

-Como são belos, seus pêlos parecem tapetes, tamanha a maciez. Arão alisava o unicórnio.

-São muito levados, isso sim.Falou Bal espirrando logo em seguida.

A noite foi calma e tranqüila, jantaram os legumes e as sobras foram atiradasaos animais que comeram de bom grado, ao final da refeição se deliciaram com algumas frutas que Cassi tinha trazido. Ao irem dormir, puderam observar que os unicórnios já estavam deitados descansando ao redor da lagoa. Muitos repousavam aos seus lados, os três se sentiram como parte do bando.

Acordaram na manhã seguinte, os unicórnios já pastavam nas planícies. Tomaram um belo café da manhã,arrumaram as todas as coisas arrumadas e estavam prontos para partir.

-Espero um dia voltar aqui.Comentou Arão.

-Tomara que seja mais calmo que ontem. Disse Bal se espreguiçando.

-Bom, vamos indo que está um dia lindo e se caminharmos rápido talvez possamos chegar na Cidade Superior amanhã. É uma pena que os unicórnios estejam nas planícies, adoraria me despedir deles. Comentou Cassi.

Começaram a andar para longe da encosta. Os unicórnios se aproximaram formando um círculo ao redor dos três, que continuavam a caminhar. O animal prateado saiu do círculo e se aproximou de Arão. O garoto passou a mão em sua crina, o animal mexeu a cabeça como se fizessesinal para que ele subisse.

-Oi amigo, não posso brincar agora, tenho que ir para Cidade Superior, foi muito divertido ontem. Quem sabe numa próxima oportunidade...

Arão continuava acariciando o animal. Foi para o lado,o unicórnio o acompanhou. Mais uma vez mexeu a cabeça. Outra vez e a cena tornou-se a repetir.

-Tá vendo você o deixou mal acostumado, eu disse que era má idéia andar neles.Ele gostou tanto da brincadeira de ontem que quer novamente e não temos tempo para isso.

-Quieto Bal. Ordenou Cassi. Outro unicórnio se aproximou de Cassi e abaixou a cabeça à frente dela. -Acho que eles estão querendo que subamos. Vão nos levar até a Cidade Superior, não são umas gracinhas.

A garota subiu na anca do animal. Arão já estava em cima do seu.

-De jeito nenhum, me recuso a ir.Proclamou Bal cruzando os braços. Um unicórnio chegou por trás e com a cabeça cutucou seu braço assustando o garoto. -Hei meu chapa vai mais devagar aí, eu não vou subir em você.

-Tudo bem, pode ficar e ir à pé, nós iremos na frente e quando chegarmos, avisaremos que você vai se atrasar. Cassi se divertia com a situação. –Tchauzinho.

Bal foi ficando para trás com seu animal.

-Olha só como ela é comigo. Dizia ele para o unicórnio como se ele compreendesse.-Não senhor, não vou mesmo, prefiro ir a pé. Olhou para o animal.

-Não me leve a mal, não é nada pessoal, mas não levo jeito com animais. Na minha casaem outra vida, a gata da minha tia vivia me arranhando, eu a odiava, simplesmente não servíamos para conviver sobre o mesmo teto.

Novamente um vento soprou forte, olhou em volta e só o unicórnio lhe fazia companhia.

-Eué que não vou ficar aqui sozinho não.

Começou a correr em direção a seus companheiros que já estavam longe. O unicórnio corria atrás dele.

-Sai, sai, vai embora.

Dizia Bal e parava. O animal também parava, ele voltava a correr e o animal o acompanhava. Sem Bal tomar conhecimento o unicórnio colocou a cabeça entre suas pernas e com um golpe rápido o lançou para o alto. O garoto caiu em cima da anca do animal, só que mais uma vezao contrário. De novo seu rosto ia sendo chicoteado pelo rabo do unicórnio.

Os gritos incessantes de medo de Bal pedindo para que o animal parasse tinham efeito contrário, incitavam-no a ir mais rápido. Logo os dois passaram como um raio por Cassi e Arão.

-Socorro me tirem desse bicho doido, ele ficou maluco... Gritava Bal.

Mas osdois não conseguiram ouvir seus apelos.

-Nossa antes com medo e agora já está se dando tão bem com ele. E ainda para se exibir monta o animal de costas.Comentou Cassi.

-Realmente não sei se existe encarnação pra bichos, mas se existir esse unicórnio deve ter sido a gata da minha tia.Protestou Bal.

Arão e Cassi trataram de apertar o ritmo de seus unicórnios por que Bal e seu animal estavam se afastando.

O dia estava passando rápido, viram que a distância que percorreram com os unicórnios era muito grande, talvez levassem mais de dois dias de caminhada para fazer todo o percurso até a Cidade Superior a pé. Quando avistaram no horizonte os primeiros sinais da cidade os unicórnios pararam.

-Acho que a partir daqui teremos que ir à pé o resto do caminho. Disse Cassi abraçando seu unicórnio. -Obrigado amigos,vocês são maravilhosos.

- Foi muito bom mesmo. Completou Arão passando a mão na cabeça do animal.

Bal virou as costas para o seu unicórnio. Este porém com o chifre deu-lhe um cutucão de leve no traseiro.

-Hei, cuidado com isso. Haaa eu sabia quevocê era a gata da minha tia agora não tenho mais dúvidas.

O unicórnio deu um passo à frente.

-Oohhh! Vá com calma amigo, alguém pode se machucar com isso.

-Bal pare de ser maldoso, ele só está querendo agradar. Disse Cassi.

-Era isso que minha tia dizia quando a gata dela me arranhava. Jeito estranho esse de agradar você não acha?

O unicórnio se aproximou mais e com um movimento rápido, passou sua cabeça no rosto de Bal num gesto de carinho, isso pegou o jovem desprevenido. Logo em seguidafoi-se juntar aos outros.

-AAAAhhhh! Exclamou Bal limpando o rosto com a mão, virou-se para o lado e sem que ninguém visse esboçou um pequeno sorriso.

-Adeus amigos e obrigado, vocês nos ajudaram muito. Finalizou Cassi

Os unicórnios se viraram e foram embora com a mesma rapidez que tinham chegado, passados alguns minutos já não viam mais sinais do bando. Os três continuaram sua caminhada em direção ao horizonte que se tornava aos pouco avermelhado.