Guardioes de Deus: a Batalha nos Ceus

Capítulo 8 - Na Cidade. Parte I


Na Cidade...

A Cidade se agigantava à medida que a distância ia sendo vencida. A vegetação da planície foi sendo substituída por flores, um mar de flores coloridas, a quantidade era tamanha que não era possível ver o solo. Pássaros voavam alheios à presença dos jovens, saciavam a sede em pequenos riachos que abriam caminhos entre as plantas como veias percorrendo toda sua extensão.

O sol estava alto e forte, insidia sobre uma passarela branca com corrimãos dourados. Ela surgia do meio das flores e ficava suspensa no ar. De suasbordas escorriam águas que caiam nos riachos. A passarela que era escoltada em toda sua extensão por duas fileiras de palmeiras imperiais, levava os visitantes até a entrada da cidade. O caminho era agradável e prazeroso principalmente por que um arco-íris dava boas vindas aos visitantes.

A beleza da Cidade impressionava mesmo do lado de fora. Um portal gigantesco guardava a entrada, e em cada lado seu havia uma pequena torre de tijolos marrons. Pequena perto das outras por que seus tamanhos eram consideráveis.

Não sabiam se era o fim da jornada que durara dias ou encanto que o local exercia sobre eles, mas uma sensação de conforto e bem estar apossou-se de cada um, esse sentimento crescia cada vez mais. De repente não tinham mais cansaço, dores, ou qualquer outro tipo de preocupação. A sensação de paz invadiu-os por completo, cada um a experimentou de um jeito, mas o efeito provocado por ela era o mesmo.

O portão começou a se abrir lentamente o barulho produzido era intenso. Arãoimaginou ser necessário uma centena de pessoas no mínimopara realizar tal proeza. A visão adentro foi algo mágico, tudo parecia mais intenso. Em cada lado portão jaziam estatuas de mármores de pessoas aladas segurando as mãos harpas douradas. O brilho dos instrumentos cegava momentaneamente quem dirigisse a visão para eles.

A Cidade era asseada por construções arquitetônicas deslumbrantes, estruturas que deixariam de boca aberta o mais perfeccionista dos arquitetos do mundo dos homens. Entre elas se destacavam os templos que ficavam cada vez maiores e mais majestosos conforme suas vistas seguiam adiante. Se por fora dos muros a povoação parecia grande por dentro sua imensidão era inacreditável. Era impossível que uma cidade daquele porte coubesse dentro das muralhas que avistaram a momentos atrás.

Um arco enorme parecia desafiar as leis da física humana, formado por feixes de água que se entrelaçavam sem jamais se tocar, ambos saiam de duas estátuas de crianças segurando pequenos jarros com algumas plantas e flores presentes. A beleza não era exclusividade das estatuas, ela se espalhava pelo local de forma aleatória, ficando difícil saber onde fixar o olhar para apreciar a elegância do lugar.

A simplicidade e a complexidade conviviam harmoniosamente. As cores eram, ora brancas, ora mais vivas e intensas, muitos desenhos em relevos desatacavam-se entre as construções,era um lugar cercado por muros, mas onde o que mais se experimentava era o sentimento de liberdade. Tudo contribuía para realçar o mistério queenvolvia toda a Cidade Superior.

Foram \"despertados\", por uma voz.

-Olá irmãos vindos de tão distantes terras, é muito bom tê-los em nosso meio. Espero que gostem da cidade e sintam-se em casa. Afinal irão passar um longo período entre nós.

-Quem disse isso? Cassi olhava assustada para os ladossem encontrar qualquer sinal de vida.

-Parece que vem dali.

Arão apontou para o lado no mesmo instante que respondia a pergunta de Cassi. Sua indicação mostrava uma estátua de uma criança sentada à borda de uma fonte, cuja água jorrava incessantemente. Nela um pequeno arco íris se formava na própria fonte.

Bal se aproximou da estátua olhando-a de modo inquisidor. Bateu com a mão na cabeça da mesma, o que produziu um som seco e curto.

-Tem certeza que foi daqui que veio a voz? Ao menos eu nunca ouvi falar que pedra falasse.Disse Bal. - Será que na Cidade Superior as estátuas ganharam vida?

-Eu tenho certeza que veio daí. Verifique melhor. Insistiu Arão.

-Acho que você teve uma alucinação. Provavelmente foi o sol. Respondeu Bal aproximando mais o rosto da cabeça da estátua.

-Seu amigo tem razão.

Uma cabeça saiu de trás da estátua onde antes parecia não haver nada. O susto que Bal experimentou com a aparição inusitada o fez cair sentado no chão.

-A voz vem da estátua, bem eu não diria exatamente da estátua. Mas respondendo sua pergunta, as estátuas aqui são como em todo o reino elas não tem vida. Pelo menos eu acredito que seja assim, porém já vi tanta coisa que nada me surpreenderia.

-Quem é você?Perguntou Cassi.

-Jovens amigos desculpem meus maus modos e se acabei assustando-os. Meu nome é Abdala. Sou um humilde servo deste magnífico lugar e estou aqui para guiá-los pelas lindas ruas da cidade até o \"Santuário\".

Diante deles estava um anão de cabelos brancos compridos, seus grandes olhos castanhos contrastavam com seu nariz fino e sua boca pequena. Possuía a expressão de uma pessoa que já aparenta certa idade, andava com ajuda de um cajado dourado. Seu sorriso era muito receptivo e seu serexprimia muita vitalidade, carregava uma pequena bolsa em sua cintura e usava um largo chapéu verde.

-Um servo? Quer dizer que existe escravidão na Cidade Superior? Estamos perdidos. Disse Bal se levantado do tombo. -Esse anão não parece ser confiável, posso pressentir isso. Aposto que vai querer nos tornar escravos também, só por que somos celestinos.

-Jovem amigo não é nada disso, você me interpretou mal, sou servo de coração. Eu escolhi isso. Quando estiverem mais acostumados com o local entenderão o que quero dizer. Aqui servir é um prazer. Fico muito feliz e honrado com a posição que ocupo e como queria muito conhecê-los me foi designado à missão de mostrar-lhes o caminho até o Santuário.

-Nos conhecer? Então muitos sabem de nossa vinda? Perguntou Cassi.

-Todos sabem e os esperam, só que a mim coube a honra de poder recepcioná-los.

-Chega de conversa fiada. Disse Bal

-Olha quem fala. Retorquiu Cassi.

-Eu sou Balduíno, essa fera aqui é minha amiga Cassiana e este louco é meu amigo Arão.

-Já que fomos apresentados podemos prosseguir. Disse Abdala.

-Você disse Santuário? O que ele é? Perguntou Arão.

-Calma jovem amigo tudo na sua devida hora. Respondeu Abdala com um sorriso.

Arão já estava se acostumando a não receber respostas, mas sim a mesma explicação de sempre que tudo viria na sua devida hora, percebeu que a paciência seria sua grande virtude.

-Acho melhor irmos indo temos um longo caminhoa percorrer. Comentou Abdala

-Não diga longo caminho você não imagina o quanto já andamos. Resmungou Bal

-Mas existe algo de bom nisso eu serei seu guia. Passaram um tempo em minha companhia.

-Uauu! Pensando bem, olha como somos importantes nos mandaram até um guia. Bal cutucou Arão. -Aqueles estranhos na taberna disseram para termos cuidado com a recepção daqui. Todos nos esperam, vamos ser recebidos como reis. Já estou até vendo, festas, comidas e lindas garotas.

Sorriu Bal diante de seu próprio comentário.

-Puxa! Você não toma jeito. Cassi ficou brava com as palavras do amigo.

-Só quero aproveitar afinal reconheceram minha grandeza.Finalizou Bal com ar zombeteiro.

-Meus jovens amigos, receio que devo adverti-los para não esperarem muito das pessoas da Cidade Superior, pois nem todos compartilham os mesmos sentimentos como vosso servo aqui. Disse com tristeza virando-se para eles.

-Muitos já nos advertiram sobre isso, só não entendo o porquê? Nós viemos para ajudar. Pelo que entendi até agora estamos todos na mesma situação. Se o mal se concretizar todos sofremos. Por que não deixarmos as diferenças de lado e nos unirmos para passar esse período difícil?

A indignação de Arão era visível.

-Antes todos pensassem como você. Entretanto mais uma vez peço vossa calma e um pouco de compreensão. Não passe a carroça à frente dos bois. Se estiverem prontos poderemos começar a jornada.

Iniciaram sua peregrinação pela cidade enquanto uma leve brisa lhes tocava as faces. O barulho das águas da fonte ficava para trás e com ela toda a beleza da entrada, porém isso era apenas o começo das maravilhas que estavam por presenciar.

-Espere um pouco Abdala, isso aqui é uma cidade, não? Então onde estão as outras pessoas? Perguntou Cassi enquanto caminhavam.

Abdala não respondeu apenas continuou com seus passos, ao dobraram a esquina para chegar a primeira rua o silêncio que havia desapareceu, vários sons vindos de todos os lados surgiram, eram vozes de homens, de mulheres egritos de crianças. O local antes deserto transformou-se num mutirão de pessoasque surgiu num passe de mágica.

Os três ficaram espantados, vendo-os parados Abdala virou-se paraexplicar.

-Normalmente as pessoas não costumam ficar próximas a entrada principal, e a esta hora esse é o local que apresenta a maior aglomeração da cidade, a Rua das Pedras, onde os Serafins realizam todo tipo de comércio, tudo o que procuram pode ser encontra aqui...

Realmente pareciam estar em uma enorme feira ao ar livre. Bal exclamou espantando olhando para as casas que estavam atrás das tendas.

-Olhem são pedras preciosas nas paredes. Ali rubis, diamantes, e tantos outros...

-Como é possível que ninguém tente pegá-las? O que há de errado? São falsas? Perguntou Arão.

-São todos reais, mas o que vocês fariam com elas? Aqui riqueza não conta, para que então guardar ou acumulá-las, o que é belo tem que ser mostrado, e não existe melhor forma do que adorná-lasas casas. Explicou Abdala.

-Entendeu Arão? Aqui os valores são diferentes. Concluiu Cassi. -Bal o que você acha... Bal? Procurou em volta. - Ele sumiu. Não acredito, justo agora que precisamos partir.

-Aposto que foi pegar algumas pedras. Vamos procurá-lo. Arão não via Bal em lugar nenhum. -Por favor, Abdala nos espere aqui. Já voltaremos com ele.

-Vivo ou morto. Acrescentou Cassi furiosa.

-Mas meus jovens amigos esperem...

Saíram um para cada lado e só ouviram Abdala gritar.

-Está bem, ficarei esperando por vocês, só não demorem muito por que já estamos atrasados. Jovens! Balançou a cabeça. -A cidade sempre os priva da razão na primeira vez que vêem visitá-la...

Partiram entre tendas e barracas, muitas delas terminavam em portas ou em mantos que substituíam as mesmas nas casas. A quantidade de pessoas que transitavam no local era imensa.

Arão percorreu várias barracas muitas vezes se espremendo entre as paredes. Uma delas estava vazia.

\"Sorte que ninguém mexe nas coisas senão o vendedor desta estaria perdido\"Pensou.

Notou também que ao contrário das outras, a tenda em que estava acabava em uma parede que não tinha porta ou manto. Não deu muita atenção ao fato e seguiu em frente. Não encontrando nada decidiu voltar. Tinha perdido muito tempo sem resultados positivos,seria melhor encontrar Cassi e ir embora, quem sabeBal já tivesse voltado. Quando regressava notou que a tenda vazia agora possuía uma entrada onde antes era uma parede.

\"Antes não havia entrada e agora há. Será a mesma?\".

A curiosidade foi maior que sua responsabilidade fazendo o garoto se dirigir à entrada.Um manto enrolado até a parte superior exibia uma pequena passagem. Uma névoa impedia a visão do interior.

\"Como pode ser isso?\". Pensou.

Caminhou para dentro no meio da névoa, o manto desenrolou assim que ele passou, seus olhos foram se acostumando com falta de luz do local. Viu uma mulher de idade avançada sentada em uma mesaolhando para um cristal. A mulhersem desviar o olhar do objeto disse:

-Sente-se meu jovem, parece um pouco confuso.Apontou uma cadeira em frente à mesa.

Arão apontou para a parede um pouco desconcertado e até envergonhado por ter entrado sem ser convidado. Se a mulher quisesse poderia expulsá-lo dali, mas esta não parecia ser sua intenção.

-Realmente estou confuso, antes não existia uma entrada ali... Sentou-se em silêncio.

-Sim eu sei todos dizem isso, mas nunca procuram olhar atentamente para as coisas, muitas vezes, elas não são o que aparentam ser. Meu nome é Nesália e pelo que vejo você está perdido.

O garoto não respondeu.

–Veio até mim para encontrar seu caminho. Estou certa?

-Bem, na verdade eu esta... Foi interrompido.

-Estava procurando seu amigo que se perdeu na Rua das Pedras. A primeira vez é sempre assim.

Pode ver a expressão de espanto estampada no rosto de Arão.

-Como adivinhei? Bom eu sei de muitas coisas, e o que não sei, vejo através dos sinais. Não fique assustado, muita gente se perde na primeira vez que vem a Rua das Pedras, é muita confusão para pouco espaço lá fora.

-Agora compreendi. Você é realmente muito observadora e eu pensei que você podia adivinhar as coisas.Observou Arão menos impressionado.

-É, muitas coisas são dedutíveis, outras não, é só termos um pouco mais de atenção e tudo se revela a nossa frente. Infelizmente poucos se tocam disso. De me sua mão por um momento.

O garoto hesitou.

-Vamos não fique assim, procure relaxar, não vou lhe fazer nenhum mal e nem lhe cobrar por meus serviços, apenas gosto do que faço e tenho prazer nisso. Quero somente entender você melhor. Posso?

-Mas acabou de me dizer que apenas deduzia os fatos. Aposto que vai me pedir para falar muitas coisas e tentar \"encaixar\" tudo em suas deduções, assim me fazendo acreditar que adivinhou meu futuro. Não é isso?

-Você é um jovem bem desconfiado hein? Isso até que é bom. Nós somos diferentes, eu já fui alguém, hoje sou uma simples celestina vinda da comunidade do norte.

Nesália ficou um segundo em silêncio para organizar seus pensamentos.

-Na minha vida passada era uma charlatona que costumava enganar as pessoas lendo lhes a sorte, através de cartas e jogos... fazia realmente o que você disse, enganava-as dizendo o precisavam ouvir e ganhava bem com isso. Ai você deve estar se perguntando: Como alguém como eu veio parar no firmamento enganando as pessoas? Bom chegou uma época da minha vida em que cansei de tantas mentiras, acabei me arrependendo e como existe o dom do perdão, cá estou. Mas uma coisa você deve saber, todos possuímos dons que nos são dados, uns diferentes dos outros, isto é a beleza de cada um, o que nos faz sermos especiais. Por isso os conservamos de uma vida a outra.

Sobre a mesa a mulher observava ao centro uma bola transparente com uma névoa ao seu redor que formava um anel, a frente da mesma haviam três buracos, dois deles preenchidos por pequenas chamas, enquanto o buraco central se encontravavazio.

-O que significa est... A pergunta foi novamente interrompida.

-A bola e as chamas? São as Três Visões...

Respirou fundo antes de prosseguir.

-A bolaajuda a enxergar além do conhecimento dos sábios.

-Quer dizer que vai ver meu futuro? Arão perguntou de forma cínica.

-Você pega as coisas rapidamente meu jovem, De me sua mão um pouco.

Como a resistência do garoto persistia, ela pegou a força. Arão pode sentir a suavidade da pele da mulher e uma energia atravessar-lhe o corpo.

-Os sábios não gostam de adivinhações, preferem deduzir tudo o que há por vir através de sentimentos e conhecimentos,interpretando-os a seu modo. Mas ai eu pergunto: Suas conclusões são sempre corretas?

Inquiriu Nesália despreocupada.

- Eu apenas vejo... Sem me preocupar como elas são ou o porquê delas acontecerem. Épocas de mau agouro essas! O ar está pesado, você consegue senti-o?

A mulher deu mais uma respirada profunda. Arão fez o mesmo, mas não notou nada de diferente.

-Acredito que muito breve o mal que se esconde revelará sua face. Guarde bem estas palavras que vou lhe dizer: ‘Quando o dia se perder naescuridão a Cidade Superior viverá seus piores tempos ’. Eu tentei avisá-los, mas ninguém me deu ouvidos. Eu fui completamente ignorada.

Parou um instante perdida em seus próprios pensamentos.

-E o que vai acontecer? Questionou Arão.

-Deixe isso para depois, o mal atrai o mal. Vejamos que fardo você carrega, sua mão é macia comtraços muito incomuns. Eu até arriscaria dizer que jamaisencontrarei outrosassim, mas seu caminho segue por...

Suas sobrancelhas se arquearam exibindo leves traços de preocupação em sua face. A tensão percorreu o ar enquanto a voz da mulher sumiu por um breve momento.

-O que você está vendo?

Com um gesto seco a mulher pediu silêncio a Arão.

–Bem, já acabei.

-E???

-E nada... Não vejo muita coisa de interessante no seu futuro.

Calou-se sem mudar sua expressão.

-Só isso? Acabou assim? Sem nada de especial...

Arão ficou um tempo quieto, parado, sabia que a mulher o estava estudando. De repente perguntou.

-Para que servem os três buracos na mesa? E por que só dois estão com chamas?

-Vou-lhe mostrar as Três Visões.

Seu rosto se descontraiu um pouco, a tensão desapareceu.

-Dizem que o fogo purifica a alma e na escuridão serve como guia. A intenção dessas chamas é orientar. A última chama é a mais especial de todas, apesar de você não vê-la, ela está aí e só se faz visível se realmente for necessário. \"A terceira visão\", só aparece em ocasiões especiais. Por isso meu jovem nem sonhe em vê-la. Vamos a primeira visão. Tire uma carta.

Disse a mulher estendendo-lhe um baralho. Arão obedeceu.

-Mas a carta está em branco? O que isso significa?

-Coloque a carta sobre a primeira chama.

O fogo queimou a carta somente em alguns lugares específicos, formando assim um símbolo estranho.

-hhhuuummm interessante. Sussurrou a mulher. -Agora olhe para a bola.

A névoa da esferase agitou formando algumas imagens.

-Vejo água, muita água. Parece ser um oceano com algo emergindo dele. Ouço vozes gritando, mas não consigo distinguir o que dizem. Sinto um forte poder se estendendo por um grande período.

-Ótimo meu jovem.

-O que significa este símbolo estranho?

-Ainda não. Continuemos coma segunda visão depois lhe explico sobre ele. Pegue outra carta.

Arão obedeceu, apanhou a segunda carta que também estava em branco, colocou-a na segunda chama e novamente o mesmo símbolo se formou. A mulher o olhou com curiosidade.

-Mas... Arão não conseguiu terminar seu protesto.

-Depois meu jovem, olhe para a bola agora. O que você vê?

-Vejo terras, muitas terras, como se estivesse em um deserto. Existem muitas pessoas vagando por ele com os rostos escondidos por máscaras. Mesmo consigo sentir o medo que as habita.

-Muito bem acho que termina...

-Olhe!!

Arão apontou o local onde estava a terceira chama, interrompendo as palavras da mulher.

-A terceira visão! Não pode ser!

A mulher estava assustada.

-A chama apareceu, isto quer dizer que tenho direito a mais uma carta?

A expressão de preocupação retornou aos traços do rosto da mulher. Sua mão coçava o queixo. Acabeça abaixada evitava o olhar do garoto.

Como isto é possível “.Pensava.

-Tire a última carta.Sua voz soou trêmula.

Arão colocou a carta sobre a terceira chama. Ela se queimou como as outras, Nesália fechou os olhos se concentrando.

-O que você vê? Perguntou a velha ansiosa.

Arão olhou para a esfera.

-Vejo nuvens...

–Hã, compreendo... Continue...

-Vejo...

Sua concentração foi cortada ao ouvir o nome de Bal sendo gritado, era uma voz familiar. Cassi chamava por seu amigo na rua. O fogo se extinguiu rapidamente assim que o garoto deu um pulo da cadeira e fechou a mão guardando a carta. Nesália abriu os olhosencarando-o severamente.

-Preciso ir vê-la. É minha amiga chamando pelo Balduíno que se perdeu. Ela deve estar muito preocupada.

O olhar da mulher se tornou triste.

-Vá meu jovem. Você é um rapazinho muito bom e espero que continue sempre assim. Nunca desista. Não deixe que os problemas que encontrarna Cidade Superior o desviem de seu caminho, pois este será apenas o início de sua jornada.

-Você está assim por que não viu a última carta. Eu já volto, aliás como a senhora mesmo disse isto são apenas suposições que talvez por sorte ou coincidência venham algum dia a acontecer. Você não tem o poder de prever o futuro só tenta fazer adivinhações. Mas eu prometo voltar para lhe mostrar o resultado da última carta.

-Eu não preciso ver a última carta para saber que é igual as outras.

Arão abriu a mão e lá estava novamente o mesmo símbolo queimado na carta.

-Mas como a senhora soube? Ouviu mais uma vez o nome de Bal ser chamado.

-Vá Arão! E que Deus o acompanhe. Disse a mulher.

Arão saiu atrás de Cassi com as cartas na mão, guardou-as consigo no mesmo instante que a mulher dizia baixinho para si mesma:

-Não gostaria de estar no seu lugar meu jovem.