Guardioes de Deus: a Batalha nos Ceus

Capítulo 4 - A Chegada. Parte I


A Chegada...

Arão abriu os olhos com dificuldade, seu corpo repousava sobre um sofá muito confortável. À sua frente esparramado em um tapete marrom, um cachorro o vigiava alegremente abanando-lhe o rabo. Devido a sua enorme quantidade de pelos ficava impossível ver seus olhos.

A cabeça ainda doía e isso ficou mais evidente quando tentou se levantar. Não se recordava de nada, sua memória se apagará completamente. Tentava em vão recuperar alguma lembrança, mas a única coisa que conseguia era aumentar a sua dor.

Uma sensação de paz e bem estar o envolveu, junto com ela um sorriso brotou-lhe no rosto. Não existiam mais problemas ou preocupações.

O local em que se encontrava era rústico, limpo e bem organizado, seu interior lembrava muito uma cabana abrigando vários móveis. Haviam duas cadeiras de bambus sem pés presas ao teto por cordas. Uma janela logo a frente deixava entrar os raios do sol, por onde também um beija-flor acabara de entrar. Sobre a lareira ao lado repousava um pequeno vaso cheio de flores coloridas. E ao centro da sala uma mesa abrigava livros e papiros, no meio deles um prato com enfeites de bronze contrastava com o visual dos papeis.

Caminhou pelo recinto com o cachorro como companhia, sem querer esbarrou em um pedestal que continha um vela cheia de desenhos. Graças a sua agilidade o destino da vela não foi o chão.

’’Que objeto estranho. Sera algo mistico?“ .Pensou.

No lugar da porta havia um tapete preso a parede, com ambas as mãos puxou o tecidopara o lado, a claridade o cegou momentaneamente. A dor penetrou-lhe a cabeça, imagens desgovernadas começaram a chegar-lhe a mente. Um acidente, médicos, policias, um corpo sob um lençol e por fim a escuridão...

]Quando seus olhos se acostumaram com a claridade exterior, ele quase perdeu o fôlego.

-UUUUAAAAAAA, que beleza ... Que lugar é esse?

As palavras saíram atropeladas, caminhou mais alguns passos com o cachorro pulando em sua perna.

Seu raio de visão contemplava um longo e vasto campo coberto por flores, com algumas árvores perdidas no meio daquele mar colorido. Atras da cabana alguns morros formavam uma barreira natural, todos cobertos por uma vegetação verde e o maior deles possuia uma cachoeira. Quando as cadeias elevadas chegavam ao final, o mar tomava conta da paisagem.

Olhando para o chão viu que estava sobre uma passarela feita de bambus e cordas. Abaixo dela um lago de águas cristalinas com o fundo visivel abrigava muitos peixes que nadavam por toda extensão do mesmo.

A vista era linda, entretanto algo a tornava especial, não muito distante, um morro estava suspenso no ar como se fosse uma estalactite. Em sua parte superior existiam muitas árvores, podia se ver de longe pequenas manchas que pareciam ser pássaros se movimentando entre as árvores, de sua base escorria uma imensa cachoeira caindo no solo, onde se formava um rio quecruzava toda extensão do campo florido.

Esfregou as mãos nos olhos. Seria isto um sonho do qual ele acordaria a qualquer momento? Mas tudo parecia tão real. Notou uma pequena movimentação ao longo do campo que antes lhe passara desapercebido, um grande rebanho de animais passeava, entre eles, várias raças se misturavam e conviviam tranqüilamente, não havia cerca que os impedisse de ir a qualquer lugar, estavam simplesmente livres.

Sentiu uma mão tocar em seu ombro no mesmo instante que uma voz chegou aos seus ouvidos.

-Lindo não?

O susto não passou desapercebido ao homem de estatura mediana, com um vasta cabeleira grisalha e grandes olhos claros que acabara de parar ao seu lado. Suas vestimentas eramuma simples calça azul surrada e uma camisa branca toda suja de terra.

-Desculpe não pretendia assustá-lo.

-Quem é o senhor? Que lugar espetacular é este? O que eu estou fazendo aqui? Não consigo me lembrar de nada, somente de um estranho acidente...

As perguntas não paravam de sair, ele não conseguia organizá-las em sua mente. O jovem estava muito confuso...

-Parece assustado e cheio de dúvidas, não o culpo, é compreensível, mas logo irá se acostumar e mais rápido do que imagina. Meu nome é Kamis.

Mesmo sem memória, não soube como mas um nome lhe veio a mente.

-O meu é Arão.

Estendeu a mão para cumprimentá-lo, entretanto para seu espanto o homem abraçou-o.

-Isto sim é um bom cumprimento, aprenda isso meu jovem. Deu-lhe um largo sorriso.

Arão ficou um pouco emcabulado com o cumprimento mas não reclamou.

-Agora o porquê de você estar aqui é um assunto para mais tarde. Quanto a sua outra pergunta, que lugar é este? Bem, eu não quero assustá-lo.

Ficou pensativo por alguns instantes.

- Diria que ele leva muitas denominações: Éden, paraíso, firmamento... eu poderia citar muitos outros, mas pela cara que você acaba de fazer acho que já compreendeu tudo.

-Como assim? Não estou entendendo, e não sei se quero entender. Quer dizer que eu estou no firmamento?

O homem fez um sinal de positivo com a cabeça.

-Isto quer dizer que eu morri. Estou morto.

-Não fique assustado, você fala da morte como se ela fosse o fim, mas ela é apenas uma passagem.

Kamis ficou em silêncio, algo em Arão dizia que não conseguiria extrair nada mais daquele homem, a não ser que ele assim o desejasse. Decidiu tentar de outra forma sanar suas dúvidas.

-Não posso estar onde você afirma, pois se estou mesmo no firmamento... Arão tentava organizar seus pensamentos. - Por que estou com fome?

O homem sorriu-lhe e tirou uma maçã do bolso.

-Pegue experimente essa fruta.

Arão estava realmente faminto, devorou a fruta em instantes. Ao acabar somente um pensamento lhe ocorreu.

Que delicia, acho que nunca experimentei nada tão doce“.

Kamis não disse nada, apenas observou o jovem. Retirou outra maçã e lhe entregou.

-Agora prove esta.

O jovem obedeceu.

-E aí como estava?

-Olha está boa, mas não dá para comparar com primeira que estava muito melhor...

-O que estou querendo lhe mostrar, é que as coisas aqui são muito parecidas como no mundo dos homens contendo apenas pequenas diferenças.

-Quer dizer que há fome aqui?

-É claro que existe, vou lhe dar um exemplo, se você não estivesse com fome, o prazer ao saborear esta fruta não seria o mesmo. Qual é um dos maiores prazeres dos homens?Kamis perguntou sem dar chance para Arão responder. - Comer! O prazer da comida sendo mastigado, seu sabor na boca, hhuumm, é uma das melhores coisas que existe. E se é tão bom por que iriam nos privar disso?

-Mas existem milhões de pessoas que passam fome. Aqui também existe isso? Questionou Arão.

-Essa é a diferença do firmamento com o mundo dos homens. As pessoas ficam com fome no firmamento? A resposta é sim! Mas sempre há comida, por que somos irmãos ecooperamos entre nós para sanar todas as necessidades de cada um. Aqui nínguém morre de fome.

Kamis olhou para Arão que parecia não acreditar em suas palavras.

-E quanto ao trabalho ? As pessoas trabalham no firmamento, isto nos enobrece. Pois passar a eternidade sem fazer nada enjoa, se é que você me entende.Kamis deu uma piscada amigável para Arão.

–Todos fazem o que gostam e isto sim é o mais importante. Se sentem cansaço param e descansam, não hácobrança. Você não imagina o prazer que é descansar depois de trabalhar horas a fio.O homem suspirou fundo.

- Por que está me olhando com esta cara de espanto? Por acaso achou que o firmamento é um lugar onde anjos cantam o dia todo e nós ficamos só apreciando em eterna reflexão? Da mesma forma como no mundo dos homens estamos aqui para aprender. Aprender a amar e servir.

-Você está querendo me dizer...

-O que estou querendo dizer, éque como os homens, nós temos fome, sono, cansaço, alegrias e até tristezas, por exemplo quando um amigo parte, sentimos sua falta, mas depois quando ele retorna, a alegria não seria tão plena se não sentíssemos sua falta.

-Mas eu pensei que...A perguntafoi cortada pela continuidade da explicação de Kamis

-Vai dizer quevocê acha que não temos o direito de nos apaixonarmos?Perguntou o homem.

-Não eu apenas...

-Que somente os homens teriam a maior dádiva que existe, o amor. Somos iguais aos homens, porém nossas consciências estão num plano superior, não temos inveja, ciúmes ou maldade... E é por isso que este lugar é chamado de paraíso é tudo o que de bom existe no mundo dos homens, sem os males que os afligem. E mais algumas pitadas de como poderei dizer, \"magia\" para completar.Riu apontando para o morro suspenso. - A magia sempre existiu em todos os mundos é que os homens deixaram de acreditar nela.

-Eu ainda não acredito no que estou vendo.

-É natural que estejas confuso, leva-se um tempo para aceitar a verdade, mas não se preocupe muitos passam por isso. É o que ocorre quando não se está preparado. Em breve você lembrará de tudo.

A expressão de Kamis mudou, ficou em silêncio observando o rebanho que se movia. Arão não perguntou mais nada, mesmo por que Kamis parecia já ter encerrado a conversa. Um breve tumulto se formou entre os animais, muitos correram de medo em várias direções. No espaço aberto, um leão matara uma pequena zebra. Ela caiu morta, o leão se aproximou e com a cabeça mexeu no pequeno corpo caído, por fim deu um rugido alto e saiu deixando o corpo sem vida estendido no chão.

Kamis deu um longo suspiro.

-Nossa!!!!Arão espantou-se. -Está certo que não me lembro de muita coisa, mas uma cena assim, aposto que nunca presenciei. A lei da sobrevivência.

A satisfação estampou seu rosto. Olhou novamente para Kamis este entretanto fazia um sinal de desaprovação.

-Lei da sobrevivência você diz. Fechou os olhos e moveu a face para baixo. -O que acabamos de presenciar foi pura crueldade.

-Mas os animais só matam outros quando estão com fome, quando necessitam de alimentos, não existe crueldade nisso, é coisa da natureza. Respondeu Arão. - E se aqui as coisas são iguais ao do mundo dos homens...

-Você não achou estranho que o predador simplesmente foi embora e não tocou no animal morto.

Com a expressão séria, deu as costas a Arão e foi embora.

-Mas como isto é possível, você acabou de me dizer que no firmamento as coisas são diferentes, que não existem esses sentimentos...

Arão falou mais alto, pois Kamis jáestava um pouco distante. Ele virou-se novamente para o jovem.

-Este é o problema, antes não existiam, mas agora.... O equilíbrio foi quebrado, logo seremos iguais ou até piores ao mundo a que você pertencia. Não quero assustá-lo com minhas previsões, procure descansar e aproveitar sua estadia aqui, afinal ela será muito breve. Suas respostas lhes serão dadas na hora certa.

-Espere! Espere...

Mas o homem já estava fora de seu alcance. Arão continuou parado por um longo periodo, absorto em seus pensamentos. Teve como companhia o cachorro com quem brincou um poucoantes de entrar na morada e deitar-se. Tinha tantas perguntas e nenhuma resposta. A noite conversaria com Kamis, exigiria dele algum esclarecimento, esse pensamento o tranqüilizou, nem chegou a perceber quando adormeceu.

Quando acordou, os raios do sol já não entravam mais pela janela. Muitas velas espalhadas faziam a iluminação do local. A decoração do ambiente mudará, havia muitos vasos com flores na sala, alguns continham violetas, outros rosas e todos estavam presos por correntes ao teto. Muitas folhagens se espalhavam agrupadas as paredes tornando o ambientemais colorido.

Suas pernas estavam apoiadas sobre algumas almofadas. Uma sensação boa tomava conta de seu corpo e vinha de seus pés. Em frente a eles estava uma mulher ajoelhada com uma toalha nos ombros, ao seu lado repousava uma vasilha com água que exalava um aroma refrescante. Suas mãos realizam movimentos rápidos e firmes massageando os pés de Arão.

Ela sorriu-lhe, deixando-o sem jeito.

-Como estais?

Não obtendo resposta a mulher prosseguiu.

-É sua primeira noite aqui certo? Espero que esteja sendo agradável.

Mais uma vez esboçou-lhe um sorriso.

-Desculpe-me por não estar presente a tarde para recebê-lo, mas tinha alguns afazeres para terminar.

O garoto queria se levantar, entretanto sentia-se tão relaxado quedesejava continuar assim por muito tempo. Ela o tocou com delicadeza.

-Não! Apenas relaxe. Você não sabia que os anfitriões devem receber seus hóspedes da melhor maneira possível? É um costume que temos de que quando alguém chega em sua casa os pés do visitante devem ser lavados pelo anfitrião em sinal de amizade e respeito.

-Dormi muito bem, sinto-me revigorado, somente minha cabeça ainda está um pouco pesada.Respondeu-lhe o garoto.

-Isso é normal, o começo é sempre mais difícil, porém não deixa de ser agradável. Leva-se um tempo até se entrar em sintonia com este maravilhoso mundo. Não fique sem jeito pelo que estou fazendo.

Olhou para os pés do garoto.

-Como disse, isso é um costume e para mim um enorme prazer.

-Você é muito boa nisso. Sinto meu corpo todo relaxado.

-Antes de continuarmos nossa conversa é melhor que eu me apresente. Meu nome é Velana.

-O meu é Arão.

-Mas como ia dizendo os pés são os nossos pontosde apoio.Examinando-os podemos descobrir quais partes do corpo estão fora de equilíbrio. Cada ponto dos pés correspondem a uma determinada parte do corpo. Assim uma massagem no ponto certo é um tratamento muito eficiente para corrigir certos desequilíbrios. Os pés carregam a energia do corpo todo e sua purificação é feita através da lavagem com água.

-Você realmente gosta de pés?Perguntou meio sem jeitocom intenção de continuar a conversa.

-Sim, acho-os fascinantes, é a primeira parte do corpo que costumo olhar quando conheço alguém. Fico muito desapontada quando as pessoas vem me ver com sandálias fechadas, elas nos privam a visão de seus pés. Sorriu encabulada.-Os seus são muito bonitos.

-Obrigado, nunca me preocupei muito com eles, mas ouvindo você falar assim, a partir de agora, darei mais atenção a meus pés .

Arão sorriu, a mulher lhe transmitia paz e tranqüilidade.

-Então isso quer dizer que meu corpo esta descrito neles?

-Sim! E não é só nos pés, mas nas mãos e iris também, aliás o corpo de um modo geral, nos revela muito do que somos, ele é uma máquina formidável, cada parte tem sua particularidade, podemos até querer nos escondermos, mas se soubermos ler a linguagem corporal, conheceremos muito das pessoas mesmo que elas não falem nada a seu respeito.

-Você sabe tudo isso? Perguntou espantado.

-É como uma ciência, tudo está intimamente ligado. Disse sorrindo ao garoto - Aposto que nunca imaginou que seu corpo pudesse ser tão maravilhoso, pois ele o é, e se prestar atenção, ele dirá tudo o que precisa saber.

-Já vi que tenho muito a aprender.

-Sim! Tem! Quando as pessoas morrem no mundo dos homens suas almas deixam o corpo fisíco, entretanto ao chegarem aqui elas tomam o mesmo formato do corpo que fora abandonado. Com todos os seus orgãos e funções fisiologicas.

-Mas por que?

-Tudo para uma melhor aceitação. A única diferença é que não temos doenças ou qualquer outro mal que aflija o corpo como no mundo dos Homens. E não é o que todos querem? Viver sempre com saúde?

-Então quer dizer que tenho sangue correndo em minhas veias?

-Não, o corpo no firmamento é composto de \'\'essência\'\' apesar da coloração avermelhada quando algo acontece o que se esvai de nosso corpo é a “essência da alma“.

O garoto se divertia com a conversa descontraída, ficou impressionado com a mulher de aparência simples e acolhedora, mas dona de um vasto conhecimento.