Guardioes de Deus: a Batalha nos Ceus

Capítulo 14 - A Lua de Sangue, Quinta Noite. PII


-Eu conheço esta música. Comentou Damira. -Eu a adoro chama-se \"Eu sei que vou te amar\". Você teve um trabalhão para arrumar tudo isso.

Arão queria explicar o que estava se passando, mas a cada palavra de Damira ele ficava mais vermelho e encabulado.

-Olha Damira, eu gostaria...

Ele gaguejava muito, as palavras se enrolavam ao sair, ficou mais aliviado, quando ela sentou-se na cama, mudando de assunto.

-O que aconteceu com você hoje? Por que sumiu? Nem se quer foi ao treinamento?

Arão sentou-se ao seu lado. Fez-lhe um pequeno resumo do que se passou na noite anterior e de como foi o seu dia. Contou-lhe que elas corriam grande perigo, que ele havia sido torturado, mas achou melhor não citar o nome de Inimis como seu algoz. Damira ouvia tudo em silêncio, não perguntou nada enquanto o garoto falava. Sua expressão mudava constantemente durante a narrativa, como se vivenciasse com ele cada parte da história. Ficou espantada quando ele citou o nome de Empoly, porém mesmo assim não o interrompeu, quando terminou, ela o questionou.

-Tem certeza que não conseguiu ver quem o torturava? É uma pena, pois se você soubesse poderíamos denunciá-lo a Medar. Ele seria punido.

-O capuz me impedia de ver-lhe a face.

Mentiu Arão, ele gostaria de contar-lhe a verdade, mas tinha receio de que se dissesse o nome de Inimis este seria levado até Medar. O que seria dela, então, quando descobrissem que Inimis o torturara por ir vê-la.

-Ainda está doendo?

Ela tocou-lhe o braço, seu toque era suave. Damira não percebeu, mas Arão sentiu a pele de sua nuca arrepiar-se com seu contato. Se havia dor ela não o incomodava nesse momento.

-Não. Respondeu.

-Eu fiquei preocupada. Senti-me culpada pelo que aconteceu a você.

-Não foi culpa sua. Eu sabia que não deveria ter ido te ver.

Porém, algo ainda o intrigava, enquanto falara com Damira de manhã, Inimis não parecia tê-lo notado. Como ele poderia ter descoberto que Arão fora vê-la, alguém deveria ter contado, mas quem poderia ser? Tinha sido cuidadoso ao ir até o quarto dela.

-Você conversou com alguém depois que deixou Inimis?

-Não.

Arão ficou um pouco desapontado com a resposta, esperava descobrir alguma coisa. Damira percebeu, ficou pensativa para ver se conseguia se lembrar de algo mais.

-Espere! Empoly me parou. Estava um pouco estranho, perguntou quem era a pessoa com quem eu estava conversando.

-Você disse algo a ele?

Ela fez um sinal de negação com a cabeça.

-Só pode ter sido ele. Comentou Arão.

-Está querendo dizer que Empoly o torturou?

Arão foi rápido ao negar, mas sabia que era ele quem deveria tê-lo denunciado.

-Não! Mas tenho certeza que foi ele quem avisou que eu estava indo ao seu quarto.

-Impossível. Damira parecia incrédula. -Empoly jamais faria isso, ele é um conselheiro de Osíris, sempre foi justo e leal ao povo da Cidade Superior.

-Mas eu sou um celestino, lembra-se? Não se esqueça do complô que ele está movendo para tomar o poder.

-Eu ouvi o que você disse, mas acho difícil de acreditar. Você está aqui há pouco tempo, como pode acusar as pessoas assim?

-Isso é verdade, eu o vi tramando com mais duas pessoas. Além do mais não sabemos o que pode acontecer nestes tempos sombrios. Segundo dizem muitos mudarão de lado.

Damira não podia ou não queria acreditar nas palavras de Arão, mas o garoto parecia sincero. Ela estava com raiva. Em seu íntimo o medo e o desespero a dominavam.

\"Tantas mortes...\" Pensou a garota.

Arão a envolveu em seus braços, no início ela relutou, mas depois não ofereceu mais resistência. Correspondeu ao abraço, se sentia segura na presença dele. Poderia passar o resto da noite assim sentindo o calor do corpo dele junto do seu.

-Você e Moira precisam falar com Medar. Vocês necessitam de mais proteção.

-Você não entende o que está ocorrendo.

A garota tremia nos braços dele.

-Medar está fazendo o possível por nós, mas não somos a prioridade do reino.

-Que prioridade pode estar acima de uma vida? Arão perguntou contrariado.

-Vocês serão as futuras deusas, o que pode ser mais importante?

Afastou-a de seu peito para ver seu rosto, lágrimas escorriam-lhe pela face avermelhada.

-Existe algo... Ela praticamente sussurrou as palavras.

Arão se comoveu perante a fragilidade da garota. Apesar do choro, ela também se mostrava forte, pois aceitava seu destino sem reclamar. Ele inclinou a cabeça, aproximou seu rosto do dela. Ela fechou os olhos, apertou mais as mãos nas costas dele. Seus lábios estavam quase se tocando, quando ele sentiu as mãos dela perderem as forças inclinou a cabeça para o lado para evitá-lo.

-O que você pensa que está fazendo? Disse desvencilhando-se dos braços dele. Arão ficou confuso com a atitude repentina. -Você não entende? Não posso, nós nunca poderemos...

Virou-se e correu para o corredor batendo a porta bem à frente de Arão. Deixou-o ali parado totalmente sem reação.

Os passos eram apressados, ela corria pelos corredores, as lágrimas escorriam-lhe pela face em maior quantidade. Estava sem rumo, todavia isso pouco importava, só queria se afastar, queria fugir. Sentira-se tão bem, tão segura em seus braços, mas não podia... Seu destino lhe reservava outros caminhos.

Parou encostando-se na parede para tomar fôlego, não sabia dizer por quanto tempo correu, mas não havia sido pouco. Arqueou-se para descansar, o corredor estava vazio, escuro e em completo silêncio até... Um pequeno ruído soou perto de onde se encontrava. Olhou assustada, arrepiou-se toda.

\"Hoje é a quinta noite\" Seus pensamentos a fizeram ter um calafrio.

-Você ouviu? Perguntou Dafne.

-Claro que ouvi. Uma porta se fechou.

Bal se levantou.

- Com certeza Arão já fez o \"trabalho\". Podemos voltar. Não agüento mais este quarto, é horrível. O que a gente não faz pelos amigos.

Dafne o acompanhou.

-O que você quis dizer com \"fez o trabalho\"?

Bal corou um pouco, ficando sem graça.

-Eu quis dizer? Bom... Ele retomou o ar de sério, pigarreou de propósito. -Que ele já deve ter explicado toda a situação para ela.

Dafne parecia desconfiada da resposta dele.

-Apesar de que ele foi muito rápido. Bal passava a mão pelo queixo todo cheio de curiosidade.

Parou na frente da porta, fez sinal para Dafne esperar, queria fazer uma entrada triunfal, já imaginava Arão todo contente, vindo agradecido dar-lhe um abraço pela ajuda que recebera. Abriu a porta de sopetão e gritou.

-Surpresa! E aí, como foi?

A cena que presenciou não era nem de perto a que ele esperava encontrar. A capa branca jogada sobre o violino que flutuava no quarto. Arão estava deitado na cama olhando fixamente para o teto, com ar desanimado, apenas respondeu sem tirar os olhos do teto, sem nenhuma emoção na voz.

-Não foi...

O garoto percorria os corredores solitário, carregava na mão uma pequena pedra. Conseguiu sair de seus aposentos sem ser notado. Quanto a isso ele nunca teve dúvidas, mas havia sido muito mais difícil do que imaginara. Sua ala tinha muitos Dominações guardando o local, ficou convencido de que devia ser a ala mais bem protegida.

\"A quinta noite chegou\". Pensava enquanto se movimentava sozinho pela escuridão.

“O Sonho esta cada diferente, ele é real...”

Desta vez não ignoraria os presságios... Teria que dar um fim em tudo esta noite. Estivera relutante antes...

Finalmente chegara ao corredor desejado, olhou com cuidado não viu nenhum cavaleiro de guarda, aquilo parecia ser mais fácil do que havia pensado, porém a parte mais difícil ainda estava por vir.

Parou rente a porta, tentou ouvir algum som, mas nada, já deveriam estar dormindo. A sorte estava a seu lado. Abriu a porta, entrou em silêncio, como imaginara, no aposento o sono dominava os ocupantes do cômodo. Aproximou-se da cama. Tudo seria muito simples, observava aquele rosto que dormia tranqüilamente.

Teria que ser rápido e eficiente, agir antes que qualquer um acordasse ou seu plano estaria arruinado.

Cassi acordou assustada, uma sensação de medo a invadia, alguma coisa a incomodara durante o sono. Virou-se para o lado onde Kitrina dormia profundamente. Olhou para o espelho, mas ele estava enegrecido, sem qualquer mensagem. O quarto parecia em ordem, porém sentia-se transtornada, pegou seu bastão de energia, alguma coisa estava errada. Levantou-se com cautela, empunhava o bastão com força. Verificava tudo ao seu redor, as cortinas esvoaçavam com o vento, foi até a janela, não havia ninguém. Ao voltar notou a porta levemente aberta. Dirigiu-se a mesma com o bastão postado a frente do corpo. Abriu-a e preparou-se para se deparar com alguém, mas não havia ninguém.

Mesmo assim continuava desconfiada, depois de algum tempo desistiu, deu com os ombros e voltou para dentro. Se alguém estivera ali, foi espantado pelo súbito acordar dela. Ficou mais calma, deitou-se esperando pegar fácil no sono.

Porém, não teria se deitado tão tranqüila se tivesse observado melhor o corredor, de trás de uma coluna dois olhos a observavam, um sorriso brotou maliciosamente no rosto quando vira Cassi entrar no quarto sem desconfiar de nada.

\"Missão cumprida\".

Uma sensação de satisfação o invadiu enquanto ia embora.

Damira ainda se encontrava parada no corredor, não ousava se mexer, sua respiração estava mais ofegante. Havia mais alguém no corredor além dela. Tomou coragem, não se permitiria esperar para ver quem era, correu na direção oposta. O medo a invadira.

Quem quer que fosse vinha atrás dela. Moveu-se o mais rápido que pode, quando sentiu suas forças se exaurindo parou para descansar. Entrou em um pequeno salão, postou-se atrás da estátua de uma mulher, esperou o tempo passar. Os sons cessaram, mas mesmo assim ela não ousava sair. Tinha medo do que podia ocorrer nesta que era a última noite da Lua de Sangue.

Ouviu o som de respiração vindo logo atrás dela. Quase desmaiou de susto quando sentiu algo pousar em seu ombro. Ela virou-se estremecida, ficou paralisada com aquela forma que a observava das sombras. Mas logo reconheceu quem era.

-É você! Levou as mãos ao peito. Me deu um susto tremendo. -O que você está fazendo aqui? Perguntou aliviada, talvez seu medo fosse sem fundamento.

Duas mãos a seguraram pelos ombros. A voz saiu mais como um sussurro excitado bem diferente do normal, quase irreconhecível.

-Eu poderia te fazer a mesma pergunta. Tive um sonho... Fez um momento de silêncio. -Preciso ir...

As mãos a soltaram, sumiram na escuridão assim como a pessoa que estava ao seu lado.

Damira achou estranho o que acabara de acontecer, ao mesmo tempo ficara aliviada. Saiu do local onde estava, precisava retornar aos seus aposentos antes que Moira acordasse. Se desse por falta dela, poderia chamar alguém. Andou pelo salão, quando estava para sair, um ruído veio do outro lado, a porta se abriu vagarosamente, duas luzes se acenderam. Damira não teve dúvida, correu fechando a porta atrás de si.

Parou no meio do corredor esperando, tinha certeza que algo surgiria para pegá-la. Mas nada aconteceu. De repente uma mão puxou-a para o lado contra a parede enquanto outra tapava-lhe a boca.

-Xiiu! Ouviu a voz sussurrar atrás de si. A mão saiu de sua boca.

-Amagus! Exclamou ela.

-O que você está fazendo aqui? Seu lugar é junto de Medar.

-Eu sei. Sussurrou ele.

-Medar pressentiu que algo de ruim fosse acontecer. Pediu-me para verificar se estava tudo bem. Acho que ele tinha razão.

Amagus apontou para a porta que agora se encontrava aberta. Damira estremeceu toda, mas não viu nada no corredor. Amagus a colocou atrás de si, para protegê-la. Tirou da cintura o punhal que continha o fogo negro em seus entalhes, a mesma arma que outrora tirara a vida de uma das candidatas.

-Pra que essa arma? Perguntou a garota.

-Nós íamos mostrá-la na união das quatro grandes comunidades, pois alguns ainda não estão crentes que o mal está presente. Isto é uma prova irrefutável. Esperava que nunca mais alguém fosse usar esta arma, mas pelo visto ela terá mais um último confronto a participar. Silêncio ele está aqui.

-Onde? Não vejo nada.

O corredor permanecia vazio. Uma gota de líquido caiu sobre a ombreira de Amagus provocando um pequeno estalido. Ambos olharam para o teto opaco, onde a escuridão parecia se mover. O homem só teve tempo de empurrar Damira com força, fazendo a garota cair para trás. Tudo isso momentos antes das duas luzes se acenderam no teto e cair como um raio sobre ele.

Damira levantou assustada via Amagus se debatendo contra a escuridão as luzes acendiam e apagavam. O corpo do homem foi atirado com muita força, vindo parar aos seus pés. Ele estava todo dilacerado, Damira ainda o ajudou a se levantar, mas ele a empurrou outra vez.

-Vamos fuja daqui, encontre Medar, diga-lhe o que aconteceu.

-Não! Damira não conseguia conter as lágrimas.

-Vá. Ordenou ele.

-Ou ambos morreremos.

Ela correu, Amagus virou-se empunhou o punhal mais uma vez. Não se entregaria sem lutar, todos os seus descendentes foram grandes guerreiros, a essência deles fluía nele.

\"Sou um guerreiro criado na Cidade Superior, não vou me dar por vencido. Só espero ter forças para detê-lo o tempo suficiente para ela fugir\".

As luzes avançaram sobre ele, não conseguira desferir um golpe sequer, sua garganta fora retalhada com maior facilidade, seu corpo caiu com ímpeto, jazia ao solo o guerreiro sem vida.

Damira ouvira o grito de Amagus, o silêncio que se seguiu depois a deixou apreensiva, não se atrevia a parar, precisava fugir para se salvar.

Virou o corredor abriu um pequeno sorriso, ao avistar dois guardas. Um deles a segurou. Ela tremia demais, não conseguia falar apenas apontava para a dobra do corredor.

Os Dominações fizeram o mesmo que Amagus, colocaram-na para trás de si, apontaram suas lanças para frente e aguardaram... Damira olhava atenta, esperava a qualquer momento as luzes aparecerem, mas desta vez elas não surgiram.