Haviam duas portas. Uma de um lado e a outra no lado oposto. Homem com barba mas sem cabelo disse que cada uma dava acesso a um cano. Um cano levava a parte seca da gruta, onde provavelmente o açucareiro estaria, e o outro levava à parte inundada. Nós abrimos a porta. A única coisa que ela revelou foi um cano azul que descia na escuridão. Como um poço de elevador, só que ao invés de fios, tinha um cano. Eu desci primeiro, o homem foi depois, depois foi Emily, Hugo e a mulher. Fui descendo normalmente, até que cheguei ao final do cano. Ele simplesmente deixava de existir quando ainda faltava uns bons metros pra chegar ao chão da gruta.

“O que faço agora?” Perguntei.

“Você pula!”, Respondeu o homem. “Odeio ter que ficar respondendo para retardados!”

De novo, preferia mergulhar minha cabeça em um balde de água fervente a obedecê-lo, mas não tive escolha. Pulei, e quando cheguei ao chão, saí para que o homem não caísse em cima de mim quando pulasse também. Dei uma boa olhada no local. Era uma sala bem pequena, que parecia mais uma praia em declive, que descia até chegar ao mar. Tinha toda sorte de coisas ali, e na parede tinham três lâmpadas pálidas que iluminavam o local: na primeira estava um “C”, na outra um “S”, e a última estava queimada, mas era óbvio que tinha outro “C”.

Quando todos desceram, o homem com barba mas sem cabelo começou a cavar o chão.

“Vocês, pirralhos, não cavem”, disse, “porque se acharem o açucareiro, vão escondê-lo de mim.”

"Nós podemos tirar os capacetes agora", eu respondi, tirando o meu. Todos me olharam de um jeito esquisito. Suspirei e expliquei a eles: "O fungo letal tem duas fases: a primeira, que é a qual onde ele fica embaixo da terra, não oferece perigo a ninguém. A segunda, onde ele aparece e sai da terra, essa sim é a perigosa. Portanto, como não vemos cogumelo nenhum, conclui-se que ele está embaixo da terra e, portanto, não oferece perigo algum."

A mulher logo começou a cavar também.

“Esse apito está me incomodando”, disse, e jogou o apito na areia. ”Sei que vocês não são idiotas de tentarem soprar nesse apito, porque, óbvio, nós ouviríamos.”

“É”, concordou o homem. “Vocês não devem ser tão idiotas assim. O apito está me incomodando também”, disse, e jogou o apito no mesmo lugar que a mulher.

Todos tiraram os capacetes depois da minha explicação cansativa sobre o fungo.

Nós ficamos juntos, espremidos num canto da caverna, enquanto aquelas pessoas abomináveis buscavam o maldito açucareiro. Senti que Emily ia chorar, então eu simplesmente abri os braços para abraçá-la.

Ela se aninhou no meu peito enquanto chorava, escondida do homem e da mulher que nos fizeram prisioneiros. Eu passei a mão nos cabelos loiros.

“Vai ficar tudo bem”, eu sussurrei. Nunca notei tanta ternura na minha voz quando falava com ela. “Eu sei que vai”, eu disse, muito embora não soubesse de nada.

Hugo ainda estava calado, mas viu algo na areia que foi útil. Ele apontou para uma garrafa de sonífero extra-forte sem gosto. Como eu disse, tudo que caía nas águas do Arroio Enamorado chegavam aqui, e é óbvio que sonífero é algo que uma base de operações guarda em seus confins. Alguém deve ter jogado pela janela, antes de mim, antes de Lemony. Pensar que talvez o meu ato de jogar a chave de fenda pela janela deu a idéia de jogar o açucareiro pela mesma a Lemony quando o incêndio começou fez com que a minha raiva dele desaparecesse. Como se não só eu aprendesse com ele, mas ele também aprendesse comigo.

Emily parou de chorar, olhou para a garrafa que Hugo mostrara e teve uma idéia pela qual sou agradecido até hoje. Ela primeiro foi, muito silenciosa, até a garrafa de sonífero. Pegou-a e abriu a tampa. Depois, foi mais silenciosa ainda e derramou uma quantidade considerável de sonífero nos apitos. Foi genial: os vilões colocariam o apito na boca para assoprá-los e dormiriam. Mas até uma criança de cinco anos sabe esse pouco de sonífero não é suficiente para fazer uma pessoa dormir, então Emily teve o bom-senso de guardar a garrafa de sonífero fechada dentro do traje de mergulho. Se eles não dormissem, pelo menos ficariam sonolentos o bastante para ficarem lerdos em uma perseguição.

“O Açucareiro!”, disse o homem. “Finalmente, eu o achei!”

Não achei que seria apropriado para minha segurança ressaltar que ele nem chegaria ali se não fosse por mim. Ele tirou o açucareiro do buraco que ficara cavando. Pegou o apito e o levou a boca, como planejado. Soprou, e depois disse:

“Águias! Levem-nos para cima! Ou melhor, levem a mim e a mulher com cabelo mas sem barba para cima. Os pirralhos vocês podem deixar no cano, já que eles gostam tanto de escalar”, e riu. “Que a tortura comece! Aposto que seus braços vão ficar moles depois de subir tantos metros. Vamos rápido! Aposto que os ‘Baudepirralhos’ já devem estar bem perto daqui. Detesto admitir, mas eles são espertos, e já devem ter descoberto a localização do açucareiro.”

“O fato de eles serem esperto só os torna mais irritantes”, disse a mulher.

As águias fizeram o que o homem mandou, o que foi melhor para o nosso plano: enquanto nós escalávamos, o sonífero fazia seu efeito.

Começamos nossa difícil escalada para a Aquáticos Anwhistle. Que raiva! Queria esperar só mais um pouco, para poder encontrar os Baudelaire, e dizer a eles tudo o que sei sobre C.S.C. Acho que assim a vida deles seria mais fácil.

Eu fui o primeiro que cheguei lá em cima, pois estava com uma quantidade de adrenalina alta no sangue. Sentia aquele frio esquisito na barriga. Vi o homem meio sonolento, piscava os olhos cada vez mais demoradamente. Como eu, quando dirigi a noite toda para sair do sertão. Acertei um soco em cheio na cara dele, e ele desmaiou.

“O que você pensa que está fazendo?”, disse a mulher. Xinguei baixo. Uma falha no plano: a mulher tinha um apito, mas nunca assoprava nele. Quem sempre fazia isso era o homem.

Rapidamente, agarrei o apito que estava pendurado no pescoço do homem.

“Águia!”, Eu disse. “Segure a mulher pelos braços, e voe bem alto!”, e assoprei aquele apito pela primeira vez. A águia me obedeceu, e como estava segurando a mulher pelos braços, ela não conseguia fazer nada. Mas eu sabia que ela não ficaria assim por muito tempo.

Hugo e Emily conseguiram escalar.

“Como vamos sair daqui?”, Perguntou Hugo. Agora, que o homem estava desacordado por causa do soco e a mulher estava tão longe que não podia nem ouvi-lo, ele tinha perdido o medo.

“Primeiro”, eu disse. “Emily, derrame o frasco inteiro de sonífero na boca do homem com barba mas sem cabelo”, ela me obedeceu. Depois, eu fui até o homem e tirei o açucareiro de suas mãos imundas. “Uma coisa que ele disse é verdade: os Baudelaire são espertos. Acho que o Queequeg já está na Gruta Gorgônea. Temos de ir até lá, para avisar ao capitão Andarré e aos Baudelaire que achamos o açucareiro. Depois, saímos daqui no Queequeg, o submarino”.

“Então vamos”, disse Emily.

Nós fomos para a outra porta, cujo cano levava à parte inundada da gruta. Nós colocamos os capacetes de mergulho e descemos pelo cano azul, que agora parecia mais azul ainda. Não notamos, mas tinha escurecido.

Caímos na água; eu ainda tinha o açucareiro nas mãos. Depois ficamos às cegas procurando o Queequeg. Eu o encontrei primeiro, e fiquei esperando que meus amigos também o fizessem. Senti quatro mão no meu ombro, duas em cada um. Eram eles. Então, eu bati três vezes na escotilha. Capitão Andarré abriu, e nós entramos, fechando-a logo atrás de nós para que o submarino não inundasse.

“Já voltaram, Violet, Klaus, Sunny e Fiona? Positivo? Acharam o açucareiro? Positivo?”, Reconheci a voz e o estilo de falar inconfundível do capitão Andarré. Nós tiramos nossos capacetes. “Gregory Snicket! Positivo! Não pode ser! Quer dizer, pode sim ,por isso falei ‘positivo’. Positivo! Hugo Rukbik? É você? Positivo? Meu Deus! É Emily! Positivo! Já vi todos vocês quando eram bem pequenos, e agora já são homens e mulheres! Dois homens e uma mulher, positivo!”

“Que bom revê-lo, capitão Andarré!”, Eu disse. “Positivo!”, Eu sabia que ele gostava das pessoas que falavam do mesmo jeito que ele. “Temos algo urgente para contar aos Baudelaire. Eles estão?”

“Infelizmente não”, disse Phil. Eu o conhecia porque meu tutor já me levara para conhecer a Serraria Alto-Astral e eu fiz amizade com ele lá. “Eles saíram na missão nobre de tentar encontrar o açucareiro.”

“Então eles vão perder tempo”, disse Emily, como tristeza.

“O que quer dizer com isso?” Perguntou Phil.

Então, eu mostrei o açucareiro a eles. Eles sustentaram uma expressão de surpresa e felicidade no rosto, mas eu soube na hora que, como os Baudelaire não estavam no Queequeg, o nosso plano perfeito sofreria mudanças drásticas.