POV Rachel

Depois de um tempo hesitando, resolvi atender. Dê no que der.

— Alô? - Tentei parecer casual.

— Oi, minha filha. - Falou minha mãe, do outro lado da linha. - Como está indo?

— Bem, eu acho, e vocês?

— Tudo bem, mas estamos com saudades. - Ela disse e eu deixei um sorriso escapar.

— Também estou. E olha que eu saí há poucas horas daí. - Respondi, sentindo meu peito apertar de saudades.

— E como é o apartamento? É grande? Depois manda foto. Eu e seu pai estamos loucos para visitá-la! - Falou minha mãe, toda empolgada.

Engoli em seco. Ela não podia vir aqui e ver que moro com um cara, que ainda por cima é desleixado e mulherengo.

— Depois eu mando. - Falei, tentando me manter calma. - Aconteceu uma coisa...

A voz dela sumiu de repente.

— O que houve? - Agora voltou com preocupação.

— Bom... É que a síndica vendeu o apartamento para duas pessoas. - Soltei a real, esperando que ela fosse dar um berro.

— COMO ASSIM? Por que não falou nada? Por que não voltou para cá? - Ela realmente deu um berro. Sabia.

— Calma, sei me virar. Já estou morando aqui. Tá tudo sob controle. - Tentei acalmá-la.

— Mas e a outra pessoa?

Engoli em seco novamente. O que eu falo agora?

— É outra garota. Ela é meio estranha, mas pelo menos, podemos dividir as tarefas e também o preço do aluguel se aquela síndica espertinha vier cobrar. - Falei, aliviada por ter inventado algo. - Afinal, a garota também foi vítima do golpe.

— Entendo. - Falou minha mãe. - Quero conhecê-la.

Pigarreei, querendo mudar de assunto.

— Logo, eu que vou visitar vocês. - Eu disse.

— Que ótimo, querida.

Logo, aquele enjoado do Logan começou a berrar e eu, comecei a me desesperar.

— Ô, QUEEEEL!

"Filho de uma égua..." - Pensava, brava.

— Querida, quem está aí?

— Só o chato do meu vizinho.

— Ele está no seu apartamento? Parece tão perto. - Continuou minha mãe. - Estão namorando?

Senti meu rosto ruborizar.

— NÃO! - Respondi rapidamente, com raiva. - Ele é a última pessoa com quem eu namoraria. É só um chato que vive entrando sem permissão aqui na minha casa.

— Toma cuidado, filha. Sabe como são os homens.

— É, eu sei. Vou desligar agora. Se cuide, te amo. Beijos, tchau.

Enfim, consegui desconversar um pouco. Agora faltava acertar as coisas com o Garfidiota.

Abri a porta do meu quarto, com cara de poucos amigos. Acho que isso ele já notou, que eu não estava para brincadeiras.

— O que estava fazendo? - Ele indagou, mas eu não estava com a mínima paciência. Quase que ele estragou tudo!

— Nada que te interesse. - Falei com indiferença e ele arregalou os olhos, porém sorriu.

— Nossa, que grossa. - Disse ele, rindo e me irritando mais. - Você estava falando com seu namorado?

Meu sangue estava subindo e estava fervendo! Juro que ainda mato esse cara!

— Era com minha mãe, seu idiota! - Berrei.

— Ah, claro. Pode me apresentar ela um dia? Deve ser encantadora, como você. - Senti muita ironia no que ele disse. - E é óbvio que não podia ser namorado, quem iria querer te namorar?

— Pela última vez... Pare enquanto ainda estou calma! - Pedi, quase gritando novamente.

Logan deu de ombros.

— Tudo bem, preciso dormir mesmo. Arruma tudo aí, tá?

— Como assim? Não sou sua empregada! - É sério, esse cara é impossível.

— Tá bom, "Quel". - Ele piscou, insistindo em me chamar daquele apelido estranho. - Boa noite.

— Má noite, Garfidiota. - Soei na casa.

— Nossa. - Comentou ele. - Pode ser mais carinhosa, por favor?

— Não. - Falei, seca.

— Claro, demônios não têm coração. Havia esquecido. - Ele disse, sorrindo e se aproximando de mim.

— Sai de perto! - Me esquivei.

— Relaxa, eu não quero fazer nada com você. Apenas quero sentir a textura do seu cabelo.

Textura do meu cabelo? Ele tá louco?

— Não encosta em mim, não! - Ordenei, fazendo pose de durona. - Vai se arrepender se tentar.

Garfield deu de ombros e entrou no quarto, fechando a porta. Como ele pode ser tão chato? E o que eu falo pra minha mãe caso ela me visite? Essas coisas estão me esquentando a cabeça e eu não quero mesmo perder as estribeiras.

Vou dormir, pois já é tarde. Amanhã tem aula e para a minha sorte, o Logan estuda na mesma escola. Sorte que sou um ano mais velha. Estou terminando os estudos. Já ele, está no 2º ano e duvido que estude. Só pensa em ser popular e descolado.

POV Garfield

Essa Rachel mexe comigo de um jeito estranho. Não sei explicar. Não sei se é atração, prazer por irritá-la ou tudo junto. Quanto mais ela se faz de difícil, mas eu quero tocar nela. Mas por que eu faria isso? Ela é apenas uma feiticeira louca e esquisita. Eu nunca poderia gostar nem namorar uma pessoa como ela.

Capoto na cama após colocar meu short para dormir, sem camiseta e logo pego no sono.

Eu tenho a impressão que durante a noite, sonhei com alguém. O rosto estava borrado mas era uma garota. Ela sorria para mim e eu sorria para ela. Parecia que eu gostava muito dela. Devo dizer que nunca me apaixonei antes, pois o meu negócio não é namorar. Mas aquela garota parecia ser diferente, especial para mim. E eu nem ao menos sei quem é... Mas parece um pouco familiar.

POV Rachel

No dia seguinte, tinha sol. Ótimo, iria à escola com um dia bonito pelo menos. Aquele preguiçoso deve estar dormindo ainda. Me aprontei, colocando uma calça jeans preta rasgada, uma camiseta preta com uma caveira e uma bota baixa. Coloquei também um bracelete que minha mãe me deu no Natal passado.

Fiz tudo isso e aquela ameba nem se mexeu. Suspirei e fui tomar meu café.

Comi um pouco de cereal, pensando em como estava faminta. Apesar da noite passada eu ter tomado aquela sopa deliciosa e consistente, esta manhã eu estava mesmo com fome.

Fui ao banheiro escovar meus dentes, até que o encontro lá, escovando os dentes também. Pelo menos, ele já estava de pé.

— Bom dia. - Ele disse, com um sorriso.

Eu não sorri mas respondi:

— Bom dia.

— O que tem pro café?

— Eu só comi cereal. Deve ter sobrado um pouco ainda.

— Ótimo, estou com uma fome. - Comentou ele, batendo na própria barriga.

— Isso eu faço ideia.

Logo, ao sairmos, tranquei a porta. Também disse para não ficarmos juntos na escola e não contarmos para ninguém sobre o que aconteceu, do golpe e tudo mais. Voltamos a ser completos estranhos e além de tudo, nos desprezando.