Good Morning Call 2

Relacionamento Abusivo? Vamos Terminar!


POV Rachel

Era chegada a hora. Eu teria que abrir o jogo com ele. Não dá mais para aguentar. Ou ele muda de comportamento, ou precisamos de um tempo um pro outro. O problema é que tenho medo que ele fique agressivo.

Vejo que ele se aproxima do portão da universidade. Está de moto. Falo para Karen não se preocupar comigo e rumo até ele. Gar tira o capacete e assim que me vê, abre um sorriso. Mas não um sorriso como aqueles que ele sempre dava. Um sorriso de cientista louco.

— Até que enfim! Minha Rachel!

— Olha, Gar, vamos com calma... - Eu pedi. - Vamos mesmo conversar sobre isso aqui, em pé, na calçada?

Ele olhou em volta e sugeriu irmos para a hamburgueria que eu já estava. Lá dentro, Karen nos observava numa outra mesa, para assegurar que me daria cobertura caso o negócio piorasse. Mesmo eu dizendo que sei me cuidar, a Abelhinha insistia em me ajudar, tal como a Kory faria.

Fomos para o corredor dos banheiros para não dar bandeira no meio de todo mundo.

— Então, gatinha... Pode começar a falar. - Ele falou, sorrindo de um jeito estranho.

Não tinha quase ninguém no local e fiz questão de falar baixo, já que ele poderia se alterar de repente.

— Então, Gar... Sobre seu novo comportamento... - Pigarreei antes de falar a real. - Não estou aguentando mais. Me sinto presa e isso não é coisa de se sentir em um relacionamento. Quem ama liberta, concorda?

— E deixar você escapar? Deixar alguém te levar embora? Ou pior... me trair? - Ele me olhou, contrariado, como se eu tivesse dito uma atrocidade.

Ah, o machismo. Homem não aguenta ter o ego ferido. Então acho que terei que ser mais dura com ele.

— É o seguinte: Se você não voltar a ser como era antes, eu quero terminar tudo.

Ele ficou em silêncio por um instante, processando o que acabei de dizer. Depois disso, ele fez uma cara tão feia que até mesmo eu me assustei, e olha que não sou medrosa.

— Você PRECISA ficar comigo! Eu te amo! - Ele forçou-me a dar as mãos pra ele, me olhando com aquela cara de súplica, porém, louca.

— Não! Assim eu não quero! - Eu tentava me desvincilhar, mas ele estava muito forte. - Me solta, Garfield!

— Não posso! Você não pode escapar! Não pode me deixar sozinho...

— PARA! Esse não é você! - Eu batia nas mãos dele para ele me soltar, mas sem sucesso. - Eu vou chamar a polícia!

— Você não vai fazer nada. - Ele fechou minha boca com as mãos, parecendo estar possuído e não estar no próprio corpo. Fiquei realmente com medo.

Karen percebeu e foi chamar ajuda. Agradeci em pensamento e me voltei para o momento em que estava. Ele iria tirar minha roupa no meio da lanchonete! Cadê o dono desse lugar?

— Para, eu não quero isso! Eu não quero mais ficar com você desse jeito! - Eu o empurrei e ele não gostou.

Caí no chão e ele ficou a poucos metros de distância da minha boca, acima de mim. Senti a respiração ofegante e o hálito de menta dele perto. Não era uma sensação boa como das outras vezes. Dessa vez, eu não queria. E além do mais, em público! Que vergonha...

Ele apertou meu braço um pouco com força e me contorci de dor. Ele se aproximou mais um pouco e pressionou seus lábios contra o meu, me fazendo derramar lágrimas. Meu coração estava em pedaços. Como meu amado Logan foi fazer isso comigo?

— Você! Fora! - Disse o gerente, finalmente.

Logo depois, chegou a polícia e a Abelhinha e suspirei, aliviada. Eu tava toda descabelada, com metade da minha roupa aberta e a minha vontade era de sumir. Meu batom borrado me fazia lembrar o pesadelo que foi o meu namorado me forçar a beijá-lo.

— O que houve enquanto eu saí, Rae-Rae? - Me abraçou a Abelhinha.

Eu comecei a chorar de soluçar, borrando meu rímel.

— K-Karen... E-Eu fui estuprada... Pelo meu próprio namorado... - Eu dizia entre soluços e ela também começou a derramar lágrimas.

O abraço dela me reconfortou e eu só queria que Gar saísse dali.

O povo que estava na lanchonete só ficava olhando e comentando entre si. Abaixei a cabeça, estava envergonhada demais para ver alguém.

Antes do Garfield ir embora, um pouco mais calmo e arrependido, eu disse:

— Não te reconheço mais, Logan. - Eu disse, parando um pouco de chorar, limpando o rosto. - Vamos terminar.

Ele arregalou os olhos e assentiu, cabisbaixo. Pegou seu capacete e o colocou, rumando para a moto sem dizer uma só palavra. Fiquei observando quando ele partiu.

Por um lado, estava aliviada que aquele pesadelo tinha acabado. Mas por outro, meu coração estava doído, quebrado por ele ter feito aquilo e por eu ter terminado tudo. Mas eu precisava fazer isso. Preciso de um tempo pra mim.

Vincent me observava, toda fragilizada naquele momento. Não se aproximou. Eu já estava mal demais e com uma baita dor de cabeça.

Ao chegar no meu quarto aquele dia, minha cama nunca pareceu tão boa. Me afundei no travesseiro e chorei, chorei muito. Eu não sou do tipo que chora muito, mas me ajudou a desabafar. Tara, que chegou depois, se deparou comigo daquele jeito.

— Gente... O que aconteceu com ela? - Ouvi ela perguntar para Karen, mas não havia maldade na voz.

— O namorado dela... Digamos que ele a estuprou e agora ela terminou tudo. - Explicou Karen e eu voltei a soluçar, lembrando de tudo. Tinha sido um baita trauma.

— O Gar fez isso? - Tara parecia não acreditar, mas ela parecia preocupada. - O-Olha, Rachel, sinto muito...

— Tudo bem. - Funguei e forcei um sorriso. Bem falso por sinal.

E aí o mais surpreendente aconteceu. A Tara Markov, aquela loira azeda e patricinha me abraçou. E aí eu desabei de novo. Eu tava tão sensível naquele dia que prometi a mim mesma que não choraria mais por ele e nem por homem nenhum. Amanhã eu seria a mesma Roth de sempre.

— Tá tudo bem, vai passar... - Tara ainda disse, batendo de leve nas minhas costas.

Eu assenti, botando tudo pra fora. Karen também abraçou nós duas, formando um abraço coletivo reconfortante. Que sorte de ter alguém nesse momento!

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POV Garfield

Acabou, Logan. Ela não vai mais voltar. Nosso namoro acabou. Não consigo aceitar. Mas ao mesmo tempo, sei que era necessário. Eu não percebia que estava fazendo tanto mal pra ela. Talvez seja melhor assim. É como ela disse: Quem ama, liberta. Não dei liberdade. Eu a prendi como um pássaro numa gaiola. Estou me sentindo cada vez pior a cada momento que passa. A chuva bate no meu capacete, mas não ligo. Meus olhos estão turvos por causa das lágrimas também. Me xinguei de uns vinte xingamentos diferentes. Sei que mereci. Sei que não a mereço. É o fim...

Só que não! Vou mostrar que posso ser melhor do que isso e deixar o que aconteceu no passado! Agora eu vou amadurecer de verdade! Não vou atrás dela por ora, vou dar esse tempo. Vou tentar ser um namorado melhor, ela merece.

Mas por ora, vou deixar a moto em casa e ir beber um pouco. Talvez ajude.

Sentei no bar e tomei uma cerveja atrás da outra, como se fosse água. Me sentia melhor, mas sabia que a ressaca no outro dia viria.

E veio. Ai, como me arrependo do que eu fiz.

Acho que o primeiro passo é ir numa psicóloga. Por mais que eu deteste admitir, aquilo era um problema na minha mente, que movia meu corpo para fazer as coisas. Era algo sem controle. Agora eu quero me acalmar. Não quero mais ser esquentadinho.

Quero ser uma pessoa melhor, não só por ela. Mas por mim mesmo. Não quero dar desgosto para minha família. Eu prometi a mim mesmo que não seria mais como o Logan de antes. Quero ainda cumprir essa promessa, tentando passar uma borracha no que aconteceu no episódio da lanchonete.

Com meu coração em pedaços, eu pego no sono, marejado de lágrimas.