Good Morning Call 2

Partiu Amadurecer? A Senhora Misteriosa!


POV Rachel

Minha cabeça latejou muito naquela noite. Meus olhos estavam inchados de tanto chorar. Meu rímel, todo borrado. Eu fiquei toda descabelada de coração partido. Nem queria acreditar que aquilo realmente aconteceu - e ainda por cima em público.

Karen e Tara (sim, ela mesma) me consolaram e até me senti melhor, me senti acolhida. Eu nem sei como consegui pegar no sono com tanta dor de cabeça e no coração.

Na manhã seguinte, eu acordei triste. Não namorava mais com o Garfield e nem ao menos queria vê-lo tão cedo.

As garotas notaram que eu não estava de bom humor e não questionaram. Me deram um certo espaço. Eu precisava de tempo para digerir tudo o que aconteceu recentemente. Vai doer muito ainda, mas vou esquecer. Vou esquecer do Logan.

Tomei um café da manhã, que eu deveria dizer que foi SÓ o café mesmo. Estava sem fome. Como poderia comer se meu estômago está embrulhado? Karen estava muito preocupada. Me ofereceu seus muffins que comprou em uma das lanchonetes, mas recusei gentilmente, dizendo que estava sem fome.

— Rae-Rae, você precisa comer. - Dizia ela. - Não pode ficar sem comer ou vai ficar doente.

— Vou ficar bem. - Sorri amarelo. - Só estou sem fome no momento.

Ela assentiu com a cabeça e continuou comendo em silêncio. Me senti bem por não estar sozinha, mesmo que ficássemos em silêncio. Nossas almas continuavam conversando. Eu sabia que ela poderia me entender. Segurei meu copo de café com as duas mãos, sentindo o calor deste se expandir para todo o meu corpo. Fitei o restante de café que ainda sobrou e suspirei, chateada. A fumaça que saía daquele café me lembrava dos cafés que fazia para mim e Garfield quando morávamos juntos. Mas acabou.

Senti o choro chegando e minha garganta formando um nó. Mas engoli, pois não podia chorar, não ali.

Em breve, todos saberão que sou a garota que foi estuprada (ou quase) pelo namorado na lanchonete. Eu acho que por ora, só o Vicent, a Tara, a Kory, o Dick e o Victor que sabem. E claro, a Abelhinha. Mas não vou levar por surpresa se me olharem torto daqui pra frente. Apesar de eu não ter culpa de nada.

Gostaria de ocupar a minha cabeça com algo. Pode ser hobby ou trabalho. Eu saí daquele emprego, o mesmo do Garfield. Sinto falta de ser independente financeiramente (apesar de ser o meu pai que paga a faculdade).

Hoje, depois do almoço, me isolei como antigamente na biblioteca. Peguei vários livros sobre psicologia e sentei-me em uma das mesas para ler.

A bibliotecária, uma senhora de uns 70 anos ficava me observando. Isso eu podia sentir. Ela tinha um sorriso bondoso e cabelos loiros bem claros, quase brancos. Seus olhos de safira eram profundos e gentis, como se dessem conforto mesmo sem dizer nada.

Naquele dia, eu estava lendo sobre fim de relacionamento, o que ocorre na mente e etc. Senti alguém se aproximar. Quando abaixei o livro, me dei de cara com a velhinha bondosa. Tá, não é tão velhinha. Mas poderia ser minha avó. Soube que ela tem dez netos.

— Olá, Rachel. - Sua voz era um tanto rouca. Me lembrei da minha voz no passado, era mais rouca que agora.

— Olá, Sra. Gordon.

— Está lendo sobre relacionamentos?

Eu corei e fechei o livro, afastando um pouco da vista dela.

— É... Digamos que sim.

Ela sorriu e eu me senti melhor. Sentia que podia confiar nela.

— Está com algum problema, não é, querida? - Ela puxou uma cadeira e sentou ao meu lado.

Senti meu estômago se revirar e engoli em seco. Como ela poderia saber?

— Bom, é... Não é nada... - Murmurei, mas ela ouviu.

— Conte-me, querida. Vai se sentir melhor.

Senti que ela queria mesmo saber, então contei tudo. Sobre Garfield, o quase estupro, tudo. Me senti bem melhor, mas o choro invadiu meu rosto de novo. Eu podia ouvir meus soluços ecoando pela biblioteca, que no momento só tinha eu e a Sra. Gordon.

— Ah, querida... Isso vai passar... - Ela me abraçou e me surpreendi. - Estou aqui pro que precisar. Para desabafar e para lhe confortar.

— Obrigada... - Falei entre soluços e fungando um pouco. Quando nos separamos, vi que o olhar dela era muito empático.

— Você tem poderes paranormais, não é? - Ela indagou de repente, me fazendo quase perder o ar.

— É... Como a senhora sabe?

— Porque eu também tenho esse dom. Ou maldição, como queira. - Ela riu.

Me surpreendi pelo que aquela senhora estava me contando. Mas fiquei feliz por não estar sozinha nessa.

— Não gostaria de tomar conta da biblioteca junto comigo? Podemos ajeitar horários para você cuidar daqui durante a tarde, ou à noite...

— Tá brincando? Eu adoraria!

— E com certeza, seria paga por isso...

— Paga por ficar tomando conta dos livros, coisas que amo? Isso é perfeito!

Eu tava mesmo animada. Percebi isso e baixei a bola.

— É bom vê-la feliz de novo, Rachel.

— É... Imaginei que isso demoraria a acontecer de novo. - Confessei, tirando uma mecha de cabelo do olho.

Ela falou com o reitor da universidade, que me pagariam $50 dólares para ficar na biblioteca. Eu não podia estar mais feliz. Nem me lembrei do Gar e do ocorrido.

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POV Garfield

Malhei um pouco na academia, pois isso me fazia esquecer dos problemas. Beber não vai resolver nada, sem contar que me deu uma ressaca brava hoje de manhã. Malhei para suar a camisa (literalmente) e liberar o hormônio do bem-estar.

Ainda estou triste com o que aconteceu, me sentindo cada vez pior pela Rae, mas sei que posso melhorar!

Hoje no trabalho, eu hesitei em falar com uma pessoa, mas precisava me ajudar. Precisava admitir que agi errado.

Na tela na minha frente, letras formavam a palavra: Psicóloga. Eu nunca pensei que precisaria disso, mas eu sei que tô precisando de uma terapia para entender o que está acontecendo.

Caroline Bridght - Psicóloga

Fone: (xx) xxxxxxx

Com o coração na mão e suando frio, mesmo no meio do trabalho, eu criei coragem e liguei para a tal psicóloga, muito bem falada pelas redes sociais. Ninguém precisava saber que eu faria terapia, até porque ainda hoje é algo que tem muito preconceito.

— Alô? - A voz de uma garota atendeu o telefone.

Era hora da verdade.

— Alô. Eu gostaria de marcar uma consulta, se possível, o mais breve possível.

Ela assentiu e voltou a falar:

— Nome e telefone de contato?

Falei meu nome e meu telefone e escuto ela assentir novamente.

— Muito bem, Garfield. Você tem sorte. Tenho um horário para amanhã às 17:00.

— Certo, obrigado, doutora. - Sorri.

Eu sabia que não seria barato, mas juntei dinheiro suficiente no último mês. Bem, desde que parei de morar com a Rachel.

Desliguei o celular e não conseguia parar de sorrir. Parecia um idiota. O povo todo me olhava com cara de que eu era maluco. Talvez fosse mesmo.

Finalmente eu iria me endireitar. Era o pontapé inicial para o amadurecimento.