Good Morning Call 2

Quem É Você Na Fila Do Pão?


POV Garfield

Depois daquela terapia, que mais parecia conversa de amigos, eu saí bem melhor do consultório. Minha autoconfiança voltou e eu já sabia por onde começar o meu "tratamento". Eu precisaria entender que preciso dar espaço para ela, não posso simplesmente privá-la do que gosta, só PORQUE eu quero que fique comigo. Egoísmo não é legal, não é mesmo.

A doutora disse que não havia um distúrbio grave. Apenas que a minha insegurança desencadeou um lado violento em mim. Mas tinha jeito. Fiquei aliviado ao saber disso.

Eu estava colocando toda a minha felicidade e minha vida naquela garota. Queria cuidar só da vida dela e não estava vivendo a minha. Esse foi meu erro.

Meus pais não souberam do que aconteceu e creio que os dela também não, senão iriam me matar. E com razão. Também iria querer me matar pelo que eu fiz. Mas agora, com a cabeça fria, eu não vou fazer nenhuma besteira. Vou pensar racionalmente. Chega de ser tomado pelas emoções.

O problema é ser 8 ou 80. Se eu sou emoção, sou 100% emotivo. Se sou razão, eu fico até frio e chato. Preciso equilibrar as duas coisas. A doutora assegurou que podia me ajudar. Ela até disse que meditar ajuda. Nunca achei que iria passar por isso, mas não é tão ruim. Eu estava errado, preciso admitir, por mais que doa.

— Tá de bom humor hoje, hein? - Sorriu Gil, limpando uma das mesas da lanchonete.

— É, estou me sentindo melhor. Vacilei com a gata, mas vou correr atrás do prejuízo. - Respondi.

— Se joga, amigo! - Ele soltou um gritinho agudo e eu sorri. Gil era animado pra caramba. Gostava dele.

Continuei focado nas minhas coisas, estudando direito, trabalhando direito e até malhando direito. A Rae precisa desse tempo e eu também. Mesmo que não namoremos agora, tudo bem. Eu preciso amadurecer mesmo. Ela não precisa de um namorado imaturo, pelo menos não agora. Não quero atrapalhar as atividades e sonhos dela. Quero somar na vida dela e não estragar. Vou apoiá-la sempre daqui pra frente. E se namorarmos mais, pelo menos espero ser amigo dela...

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POV Rachel

As notícias correm. Na manhã seguinte, minha mãe ligou umas cinco vezes antes das 08:00 e só fui ver na 5ª ligação.

— Alô, mãe? - Minha voz estava sonolenta e rouca.

— MINHA FILHA! COMO NÃO ME CONTOU O QUE ACONTECEU?

Engoli em seco e meu coração começou a acelerar. Meu estômago começou a se revirar e eu quase me senti mal por ter comido tanto ontem.

— O que aconteceu?

— COMO ASSIM? - Ela estava alterada e ao fundo, podia ouvir meu pai tentando acalmá-la. - Calma nada, Trigger! Como isso foi acontecer, Rachel Roth?

— Meu Deus, mãe, se acalma! Não tô entendendo nada!

— Rachel, você foi assediada pelo Garfield. NÃO DÁ MESMO PRA CONFIAR EM HOMENS MESMO!

Isso, joga na cara mesmo. Assim eu vou me sentir mal de novo. Sinto aquele monte de carne gordurosa e mais um monte de coisa dançando no meu estômago. Estou sentindo certa ânsia, mas acho que não é por ter comido tarde. Acho que isso tem outro nome: Tristeza.

Nunca vi a mamãe tão furiosa. Meu pai, coitado, bem que tentou acalmá-la. Mas a Dona Angela tem meu gênio. Quero dizer, eu tenho o gênio dela.

— Isso já foi resolvido, mãe. Eu terminei com ele. - Falei, como se não fosse nada.

— Só isso não resolve, minha filha! Ele precisa de uma lição! Meu Deus, Trigger, como VOCÊ foi confiar nossa filha àquele garoto?

— Você também concordou! - Ouvi meu pai retrucando.

Respirei fundo. Era isso que eu temia...

— Filha, hoje à tarde, vamos falar com ele.

— Mãe, por favor. Não se altere muito com ele. Tá certo que ele errou, mas está arrependido.

— Homem nenhum faz isso com a minha filhinha! - Meu pai pegou o telefone e falou. Sua voz parecia um trovão.

Pobre Garfield. Tenho medo do que possam fazer a ele.

— Não pode aceitar que isso aconteça, filha! O mundo está cheio de pessoas ruins!

— Não preciso que me diga isso, mãe! Não sou criança. - Respondi, aumentando um pouco o tom de voz.

— Eu sei! - Respondeu ela. - Mas precisa ficar longe dos homens daqui pra frente!

— Aliás, como ficou sabendo do que aconteceu se eu nem disse nada?

— As notícias correm, minha filha. A mãe da Kory me encontrou no mercado e acabou falando.

Tal mãe, tal filha. Mas eu não podia culpar a mãe da Kory por isso... Uma hora ou outra, iam descobrir. Só tô com medo do que possa acontecer ao Gar agora.

Depois que desliguei o celular, me senti um pouco mal. Tara e Karen estavam dormindo ainda mas eu estava bem acorda agora. Fiquei um pouco irritada com eles, mas era compreensível. Eu odiaria saber que minha filha foi assediada. Acho que é só minha TPM.

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POV Garfield

Meu expediente enfim acabou e eu estava com um sorrisão no rosto. Iria para casa terminar meus afazeres de escola e praticar meditação. Confesso que sou bem esquentadinho às vezes.

Ao sair da lanchonete, me deparei com Angela e Trigger Roth, os pais da Rachel. Engoli em seco e senti um buraco abaixo de mim.

— AÍ ESTÁ VOCÊ! - Dona Angela já foi falando, toda alterada, me apontando o dedo.

— Seu vagabundo! Tem orgulho do que fez? - O pai dela também estava furioso. Pudera, ele tem razão de estar assim.

— E-Eu s-sinceramente sinto muito, sr. e sra. Roth...

A mãe dela me deu o maior tabefe na cara. Doeu mais no coração do que na cara.

— Como pudemos confiar nossa filha a um... cara como você? CANALHA! - Dona Angela tinha lágrimas nos olhos e me senti cada vez pior.

— Sabe o quanto nossa filha sofreu? Acha que ela é qualquer uma que você pode usar e jogar fora? Não pode só ficar passando a mão quando bem entender! - O Sr. Roth ia dizendo e eu ia ficando com mais vergonha a cada segundo.

— Sinceramente, Garfield... Confiamos em você. E olha o que aconteceu... - Ela soluçou, mas com raiva. - Isso que dá confiar nos garotos de hoje em dia! Vou proibi-la de ver você por um tempo! Você é mesmo um imaturo e galinha!

Ela cuspiu no chão, o que indicava que me repudiava e odiava mais que tudo no momento.

— Realmente, sinto muito... Eu me odeio por isso também. Não vai mais acontecer. - Eu disse, com a voz embargada e achando que ia chorar. - Eu tô muito arrependido. Terminamos o namoro e vou dar espaço pra ela...

Mas nem pude terminar de falar direito, pois o pai dela me deu um socão de esquerda que foi bonito de ver. Podia ter quebrado todos os meus dentes. Novamente, doeu mais no coração do que fisicamente.

— DESGRAÇADO! - Vociferou o Sr. Roth, furioso. - Não ouse chegar perto da nossa família de novo!

— Aliás, você nem é tudo aquilo, né? - Dona Angela agora me olhava com desdém. - Quem é você na fila do pão?

— Eu poderia muito bem dar outro soco... Mas vou te poupar por ora. - O rosto do pai dela era de ódio. Dona Angela tentava acalmá-lo, mas estava tão furiosa quanto ele.

Eu estava tão assustado que minha voz travou. Não conseguia falar nada. Me sentia pior a cada segundo. Estava arfando e tentando processar o que havia acabo de acontecer. Minha boca e nariz estavam sangrando e meu rosto estava todo roxo do tapa. Eu mereci. Fui um grande idiota.

Os dois foram embora e ainda para não perder tudo, o pai dela ainda me xingou de um nome feio e mostrou o dedo do meio. A mãe dela fez uma cara feia e mostrou a língua. Nunca vi dois adultos tão furiosos, eu acho.

Comecei a chorar. Chorando e sangrando, eu parecia um grande patético. O Gil viu tudo e começou a gritar desesperado.

— Meu Deus, você tá horrível! - Disse ele.

— Eu mereci, Gil. Fui um canalha e machuquei a Rae fisicamente e emocionalmente. - Sorri meio torto, fungando e chorando.

O sangue escorria e pingava no chão.

Gil me abraçou, na tentativa de me consolar. Funcionou. Eu chorei e solucei até me acalmar. O sangue que caiu na minha roupa não me importava mais.

Mais importante era o sangue que estava no meu coração e no da Rae (eu sei que ele é feito de sangue, mas vocês entenderam, né?).