Good Morning Call 2

Amar Dói? Não Quero Perder Esse Sentimento!


POV Rachel

Eu havia acabado meu expediente na biblioteca e rumei para o centro de convivência. Estava sozinha naquele momento, porém com a cabeça a mil. Estava preocupada com o que iria acontecer com o Garfield. Meus pais pareciam alterados. Bom, eles tinham seus motivos. Mas eu já disse que está tudo bem.

Olhei para meu braço que Gar tinha apertado aquele dia. Não tinha mais marca nenhuma. Mas meu coração continua marcado e dói muito.

Estava numa mesa, ouvindo música com meus fones de ouvido, quando Vic e Dick se aproximaram e sentaram na mesma mesa.

— Rae? Podemos conversar? - Ouvi Vic dizer, bem na hora que desliguei a música.

— Claro, sobre o que?

— O Garfield. - Respondeu Dick e meu estômago embrulhou de novo. Já tô de saco cheio dessa sensação.

— O que tem ele? - Tentei não parecer surpresa.

— Ele apanhou dos seus pais esta tarde. - Respondeu Vic. Coloquei as mãos no rosto. Então meu pressentimento estava certo de novo. - Mas se acalma, ele tá legal. Só sangrou um pouquinho.

— Meu pai lutava boxe. Podia ter quebrado todos os dentes dele...

— O Garfield resistiu. - Dick continuou. - Ele está aguentando firme esses dias. Está disposto a mudar.

Cruzei os braços e revirei os olhos.

— Mudar, né. Sei.

— É sério. Ele garantiu que iria compensá-la por aquele incidente infeliz. - Victor disse e eu dei de ombros.

— Tanto faz, por ora não quero vê-lo. - Mas meu coração estava tão doído que eu apenas queria que parassem de falar naquilo.

— Você quem sabe. Bom, só quisemos te dizer sobre isso. - Dick disse.

— Se cuida, maninha. - Vic e Dick saíram de perto de mim.

Eu cobri os olhos com as mãos, suspirando fundo. Como pude ser tão fria perante à essa situação? Eu não sabia como ser madura neste caso. Tudo era muito novo pra mim. Eu precisava confessar que estava com medo. Talvez garotas não amadureçam mais cedo que os garotos. Me sinto uma boba agora. Sei que a culpa foi dele, então porque me sinto tão mal?

Depois de mais uma noite de sono (meio conturbada, mas ainda consegui dormir), eu acordei com a corda toda. Foquei bastante nos estudos e hoje recebemos nosso primeiro trabalho em grupo. Escolhi Karen, Joel e Mayra. Nosso tema era um pouco complexo, por isso hoje irei ver um livro sobre ele na biblioteca.

— Que bom ver que está bem, Rae-Rae! - Sorriu sinceramente a Abelhinha.

Não pude deixar de retribuir.

— É, estou melhorando. - Respondi. - Agora estou focando mais na aula.

— E temos um trabalho pra mês que vem! E o Joel e a Mayra parecem gente boa! - Karen comentou e concordei.

— É. Mayra é muito inteligente e muito tagarela. Joel é calado mas parece bonzinho...

— Vamos fazer muitas amizades! - Ela enganchou no meu braço e rumamos para o refeitório. Já era aula do almoço.

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POV Garfield

Comi no refeitório na escola. Não estava com fome, mas precisava comer, senão ficaria doente. Meu rosto ainda doía. Meu nariz tinha um curativo. Meu rosto estava roxo e minha boca estava toda cortada.

Foi um saco ter que explicar pra todo mundo o que tinha acontecido. Claro que eu não falei que apanhei dos sogros. Falei que apanhei de um garoto maior. Só Gil sabia a verdade.

O resto do dia passou se arrastando.

Hoje eu tinha o dia de folga. Se fosse em dias comuns, adoraria sair com a Rae. Mas não hoje... Nem ouso me aproximar dela novamente, pelo menos por enquanto...

No fim da tarde, resolvi andar de moto. Dessa vez eu tenho uma. Coloquei o capacete e saí. Estava de jaqueta de couro, calças jeans rasgadas e um coturno. Estava um pouco frio naquele dia.

Uma chuva começou do nada e eu mal conseguia ver a estrada. Diminuí a velocidade e tentei prestar atenção. Mas com mil pensamentos, era meio difícil me concentrar...

Do outro lado da rua, eu vi a Rae com um guarda-chuva. Eu acho que ela estava voltando para a faculdade. Como queria dar uma carona. Mas meu corpo travava quando pensava em me aproximar. Era vergonha, era medo dos pais dela.

Estava tão preso em pensamentos que acabei capotando a moto... Caí com tudo no chão. Não lembro de muita coisa. Só lembro que muitas pessoas vieram ao meu redor, lembro da água escorrendo da minha roupa e de que desmaiei.

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POV Rachel

Eu tinha ido visitar a mamãe, só porquê praticamente me obrigou a ir. Ela falou do que fizeram a Garfield e fiquei com pena dele. Sei que fizeram pra me defender, mas poxa... Eu sei me defender sozinha.

Chegando na faculdade, todo mundo praticamente estava olhando pra mim. Eu odiava ser o centro das atenções. Aquilo não está me cheirando bem. Ainda mais que subitamente uma dor de cabeça começou. Isso costuma ser mal sinal.

Kory veio me abraçar na frente da faculdade, chorando e fungando.

— Coitada da minha amiga... Tantos acontecimentos em tão pouco tempo... - Ela falava entre soluços.

— Do que está falando, Kory? - Perguntei em voz baixa, após ela se afastar.

Ela mal conseguia dizer nada, então Dick e Victor tomaram a frente.

Victor estava se esforçando para não chorar e estava de cabeça baixa. Dick se aproximou até me olhar nos olhos. Sua expressão era muito séria e eu estava com medo do que viria a seguir. Só pode ter sido meu pressentimento.

— É o Garfield... - Pigarreou o de cabelo espetado. - Ele sofreu um acidente de moto.

Senti o chão abaixo de mim desaparecer e tudo não passar de zumbidos. Tudo começou a ficar turvo e me senti tonta. Cambaleei pro lado e Vic me segurou. Meus olhos arderam como se tivesse cortado cebola. Fiquei toda trêmula e minha voz parecia ter sumido.

— O... O... Gar?

Os três assentiram.

Logo, vi Karen e Tara se aproximarem. Estavam com as mesmas expressões.

— A gente soube o que aconteceu... Sinto muito, amiga... - Karen me abraçou, mas eu tava tão chocada que nem chorar não conseguia.

Tara me olhou com uma expressão de choro e remorso.

— Sinto muito por isso, Rachel... Mas o Gar é forte e teimoso. Não será dessa vez que ele irá...

Agora derramei uma pequena lágrima.

— Irá o que? - Estimulei a continuar, apesar de saber a resposta.

Ela fungou, sem dizer nada.

— Ele vai sair dessa. - Vic disse e nós fizemos uma roda de oração.

Eu estava decidida. Mesmo se meus pais não quisessem que eu fosse vê-lo, era um caso a parte. Meu coração está doendo tanto que eu acho que estou respirando por milagre. Culpa, tristeza, insegurança... Estou com tantos sentimentos que nem me reconheço mais. Eu sempre tentei reprimir tudo. Mas depois que conheci essa galera e conheci aquele bobão... Nunca mais fui a mesma. Mas não me arrependo.

Estou correndo até o hospital. A chuva voltou, dessa vez mais fina. Ela se mistura com meu choro que lentamente vinha caindo. Agora está caindo a ficha. Mas estou com um medo terrível de perder a pessoa que amo. Perder o amor da minha vida...