Good Morning Call 2

Bora Comer? A Terapia de Garfield!


POV Garfield

A clínica de psicologia da Dra. Caroline não era o que eu imaginava. Não parecia um consultório. Parecia uma bonita sala de estar, com flores, incenso, música calma e uma fonte. Você entrava ali e automaticamente se acalmava. Parece que estou em outra dimensão.

— Sente-se, por favor. - Disse a doutora, gentilmente.

Mesmo hesitante e sem saber bem o que fazer, obedeci, sentando-me em um sofá (muito confortável por sinal).

— Então, Garfield... - Ela pigarreou, ajeitando os óculos nos olhos e pegando uma prancheta. Engoli em seco. - Conte-me mais sobre você.

— Bom, meu nome é Garfield Mark Logan, tenho 17 anos e estou no último ano do ensino médio. - Parei por um instante e ela me incentivou a continuar. - Trabalho meio-período em uma cafeteria. Bom, eu já morei com a minha namorada... Bom, agora não mais.

— Não mora mais com ela?

— Não moro mais com ela e nem namoro mais com ela também. - Suspirei, arrasado ao ter que confessar isso.

— Entendi. E você ainda gosta dela, não?

— É... Eu sinto que amo ela pra caramba ainda. Tipo, eu fiz coisas erradas. É claro que ela não vai me perdoar. Não vai querer me ver tão cedo. Eu até entendo... - Suspirei, sentindo um nó crescer em minha garganta, mas continuei, até a voz falhar. - Eu a amo e me arrependo muito do que fiz...

— E o que você fez?

Eu baixei a cabeça, ficando em silêncio por um instante. Ouvia apenas a música calma, a fonte de água correndo, o tic tac do relógio e meu coração que parecia um trem desgovernado. Eu acho que ela achou que eu não falar o que aconteceu. Mas respirei fundo e quando falei, a voz ficou embargada, indicando que eu queria chorar.

— Eu assediei ela. Foi quase um estupro. Por isso eu vim procurar ajuda. Quero consertar o que fiz. Quero entender o que aconteceu comigo... E quero amadurecer. Mesmo que ela não me aceite de volta...

— Bom, o que você fez foi errado sim. Mas vir procurar ajuda foi a melhor escolha! Meus parabéns! - Ela disse, mas eu não me sentia feliz, apesar de que deveria. Foi algo sensato a se fazer.

Ela rabiscou algo na prancheta, enquanto eu fitava o chão.

— Como se sente agora?

— Quebrado, chateado, com medo... - A voz voltou a embargar. - Com vontade de chorar...

— E por que não chora?

— Eu não quero chorar na sua frente, doutora! - Eu me segurei muito para não desabar na frente dela.

— Aqui é um consultório psicológico. O que acontece aqui ninguém saberá. O sigilo faz parte do trabalho de um psicólogo. - Respondeu ela, alegando que eu podia confiar nela.

Ela estendeu para mim uma caixa de lenços, indicando que chorar não tinha problema. Eu dei um sorriso triste e senti as lágrimas quentes escorrendo pelo meu rosto gélido. O dia estava muito frio. E esse frio estava chegando ao meu coração, me deixando terrivelmente mal.

Solucei, funguei, derramei lágrimas mesmo. A doutora não poderia me abraçar, mas só por tamanha empatia, consegui me sentir melhor.

— Sente-se melhor agora?

— É... Me sinto melhor. Me sinto mais forte e confiante, pois a tristeza foi embora! - Funguei, limpando algumas lágrimas que ainda insistiam em cair.

Ela sorriu.

— Que ótimo, Garfield. Vou fazer mais algumas perguntas para saber mais sobre seu recente comportamento e como podemos ajudá-lo...

Eu assenti com a cabeça, pronto para o próximo passo.

No começo, queria que acabasse logo. Mas fiquei pesaroso quando a consulta acabou. Eu voltaria dali uma semana, no mesmo horário.

—---

POV Rachel

A melhor coisa que aconteceu foi a Sra. Gordon deixar eu ficar tomando conta da biblioteca meio-período! Esse cheiro de mofo e de páginas de livro me fazem tão bem. Eu ainda me sentia triste pelo ocorrido, mas estava me distraindo mais agora. Um namorado não significa felicidade necessariamente. Você precisa ser feliz por si só e não colocar a felicidade nas pessoas.

Tara e Karen me encontraram na porta, quando meu expediente acabou.

— Oi, Abelhinha! - Exclamei para Karen, sorridente como sempre. - Ah, oi, Tara...

Ela parecia tão desconfortável quanto eu.

— Oi, Rachel... Olha só, eu me sinto mal pelo que aconteceu com você. Aliás, desculpe ser sempre tão mala com você. - Ela deu um pequeno sorriso.

Eu retribuí o sorriso, estranhando um pouco a atitude dela. Mas assim que nos abraçamos, senti que era de verdade.

— Vamos comer algo? Tô morrendo de fome! - Declarou a Abelhinha e Tara e eu concordamos.

— Eu pago hoje. - Tara disse, indo na frente.

— Eu quero um duplo x-burguer. - Falei. - E refrigerante.

— Credo! Você sabe quanto vai engordar com isso? - Reclamou Tara. Abelhinha abafou o riso.

— Tá, e daí? Hoje é dia de comemoração! - Eu falei. Eu não ligo se ganhar peso. Depois eu elimino.

— É... Tem razão. Acho que é por uma boa causa. - Tara deu o braço a torcer. - Mas se eu ficar inchada, a culpa é sua!

Ela apontou as unhas postiças pra mim, mas estava dando risada.

— Beleza, a culpa é toda minha se você virar um bujão... - Eu revirei os olhos, evitando rir e falhando miseravelmente.

Abelhinha se juntou a nós e começamos a rir e ir conversando até a lanchonete da faculdade. Eu não queria ir de jeito nenhum naquela lanchonete onde tudo aconteceu.

— Um brinde à Rachel! - Karen gritou, erguendo um copo de coca-cola.

— Uhuuuu! - Respondeu Tara e eu em uníssono.

E quando os lanches vieram, eu comi. Comi muito. Eu não andava comendo direito. Ontem eu nem tinha tomado café. De almoço, só comi arroz e salada. De janta ontem, só uma vitamina e barra de cereal. Hoje de manhã, nem café tomei. No almoço, bife com arroz. E agora, sinto que posso comer tudo o que vier pela frente.

— Vai com calma, Rachel... - Dizia a Abelhinha, ao ver que eu estava me passando.

— Relaxa. Eu comi mal esses dias. Preciso me recompor. - Eu dizia, devorando o último pedaço do lanche.

— Ah, sim... Vai recompor uns 100 quilos... - Murmurou Tara, segurando o riso.

— Eu ouvi, hein? - Arqueei a sobrancelha e terminei o refrigerante.

Agora sim, estava satisfeita.

— Pronto... - Solucei. - Opa.

As duas riram e eu fui obrigada a rir também. Sentia que agora não havia espaço para tristeza. E nem pra sobremesa.