Good Morning Call 2

Amor De Diversas Formas?


POV Garfield

Achei que fosse o fim. Mas é só o começo. Achei que ficaria arrasado, mas me sinto em paz. A Rachel é realmente maravilhosa e não me julgou. Ela é a pessoa certa para fazer psicologia, não julga só por um lado da história. Me sinto aliviado, tranquilo, apesar de saber que não a veria por um tempo. Mas não importa. O que importa é que estamos bem.

O doutor disse que em alguns dias, eu poderia ir pra casa. Eu ainda sentia meu corpo doer, mas parecia que meu coração já não estava mais tão apertado. Eu poderia levitar como uma pena.

POV Rachel

Fui mais tranquila para a faculdade. A chuva passou, a pressão no peito passou... Eu derramei algumas lágrimas de emoção, mas fora isso, tudo normal. Super normal ver a Rachel Roth chorar de soluçar, né?

Mal cheguei na faculdade e Karen quase me enforcou, preocupada.

— Rae-Rae... Como ele está?

Será que ela ficou todo aquele tempo me esperando? Na chuva?

— Abelhinha... Ficou me esperando todo esse tempo na chuva?

— Ah, não. Eu acabei de chegar. Mas estava superpreocupada. E como já passa do toque de recolher, eu precisava ver se estava aqui.

— Ih, é verdade. Já é 22:01. Se os seguranças me pegarem, estou morta. - Comentei.

— Bom, foi por uma boa causa, não? - Sorriu sapeca a Abelhinha.

- Foi. E foi ótimo eu ter ido. - Falei enquanto rumávamos para nosso quarto. - Ele está melhor. Mas por ora, decidimos dar um tempo no namoro.

— O quê? - Ela estava indignada. - Quer dizer que ele não te ama mais?

— Não, eu consigo sentir que me ama muito. Mesmo tendo feito aquilo... Mas ele reconheceu que errou e que precisa amadurecer. E se for pensar bem, pelo menos vou conseguir focar no que importa, a faculdade. Não que ele não importa, claro que sim. O que quero dizer é que estávamos focando muito no namoro e isso é o que não estava dando certo.

— Então, deram liberdade um pro outro?

— Uhum.

— Vão seguir seus objetivos mesmo separados?

— É isso aí.

— E não se importa se ele conhecer outra pessoa?

Nessa pergunta, confesso que fiquei sem resposta. Minha voz travou e eu me sentia tonta. Nunca me passou pela cabeça que ele pudesse conhecer outra pessoa. Mas eu tinha acabado de dizer que tudo bem se ficássemos separados. Nada mudaria. Bom, nós amadureceríamos, mas agora, dentro de mim, me sinto insegura?

— Não. Nem um pouco. - Finalmente respondi, tentando parecer o mais natural possível.

Karen me olhou com cara de que não acreditou muito, mas deu risada. Fomos até nosso quarto e o segurança nem nos pegou! E naquela altura, não estava mais chovendo. Parece que quando minha tristeza foi embora, a chuva foi junto.

POV Garfield

Na manhã seguinte, eu senti um pouco de dor de cabeça. O médico disse que seria normal, uma vez que caí com tudo no chão, mesmo de capacete. Flashbacks do dia anterior passavam pela minha cabeça numa velocidade alucinante e fiquei meio tonto e enjoado.

Não queria olhar meu celular e nem as 1000 mensagens que chegaram. Até porquê o doutor disse que não posso olhar para tela nenhuma para não doer os olhos.

Hoje é sábado. Eu trabalharia hoje apenas na parte da manhã, mas estou de atestado. Espero que não passe o dia todo na cama...

Nesse momento, ouço uma voz conhecida. Não, não era a Rachel... Era a mãe dela. E também o pai dela. Engoli em seco, mas esperei para ver o que viria em seguida.

Dona Angela abriu a porta com todo cuidado e ao me ver, lágrimas escorreram de seus olhos abruptamente.

— Garfield! - A voz dela era de agonia, de tristeza e culpa. - Garfield, me perdoa. Me perdoa, por favor!

— Calma, Dona Angela... O que houve?

Ela soluçava tanto que mal conseguia falar. Foi então que o Sr. Trigger entrou na conversa, de cabeça baixa, sem me olhar nos olhos, mas sem chorar também.

— Sentimos muito por tratá-lo mal, Garfield. - Disse ele, sério. - Não fazíamos ideia de que isso iria acontecer...

— Tudo bem, eu mereci. - Respondi, numa boa. - E mais, estou bem melhor.

— Oh, Garfield! Me perdoe, por favor! Estou tão envergonhada que mal consigo olhar pra você, ainda mais nesse estado! Me perdoe, querido! - Dona Angela chorava sem parar e pegava na minha mão.

— Se acalme, querida... - Pedia o Sr. Roth, que a abraçava, para tentar confortá-la.

— Não dá, Trigger... - Fungava ela. - Fizemos uma coisa terrível e agora, o garoto está no hospital. Ouviu bem? HOSPITAL!

Deu pra ver que estava bem arrependida e daquele jeito, até eu estava me sentindo mal.

— Garoto, ouça. - Trigger disse. - Você errou, forçando minha filha a... você sabe. - Pigarreou o homem. - Mas sinto que está arrependido. E eu sei que às vezes fazemos coisas que nem sabemos explicar o porquê. Mas... Nós, como adultos e pais da Rachel, erramos ao julgarmos você só pelos seu ato errado no momento, ao invés de conhecê-lo antes.

— Antes, sabemos que era um garoto que gostava de ficar com várias. - Agora a Dona Angela estava mais calma. - Mas percebemos que mudou seu comportamento quando morou com nossa filha... Cresceu como pessoa, mudou para melhor... Por isso, aquele comportamento é até compreensível, pois todos cometemos deslizes...

— Não estamos dizendo que o que você fez foi correto. - Afirmou o Sr. Trigger. - Mas nós agimos como crianças, batendo em você, julgando você.

— Mas... eu mereci. Sério, está tudo bem agora.

Os dois se entreolharam, mas depois sorriram.

— Vi que você não guarda rancor. É um bom rapaz. - O pai da Rachel me deu um soquinho de leve (dessa vez) no ombro.

— A Rachel tem sorte de tê-lo encontrado. - A mãe dela me abraçou. - Me diga, querido, já falou com ela?

— Sim, falei sim. - Respondi. - Ela veio ontem à noite aqui. Conversamos bastante e... não estamos prontos para namorarmos de novo.

Os dois se entreolharam de novo e eu comecei a ficar nervoso de repente.

— Como assim? Depois do que fez, não a ama mais? - O Sr. Roth ergueu uma sobrancelha. - Não estou dizendo que é obrigado a amá-la, mas...

— Não, não é nada disso. - Cortei a fala do mais velho. - Eu sinto dentro do meu ser que ela é muito importante pra mim ainda. Ela me ajudou tantas vezes. Eu sou quem sou hoje graças a ela. Sinto falta dela. Mas... nós dois achamos que precisamos focar em outras coisas, além de namorar. Quando ambos amadurecermos, poderemos voltar. - Eu parei e sequei uma lágrima solitária. - E... Com todo respeito, Sr. e Sra. Roth... Ela é a garota mais incrível que já conheci. E eu a amo.

A mãe dela começou a chorar, mas dessa vez, de emoção. O pai dela assentia, em sinal de aprovação.

— Você cresceu muito, mocinho. - Ela apalpou o topo na minha cabeça, como um cachorrinho. - E tenho certeza que ela se importa muito com você também.

— Sinto isso também. Mas por ora, vamos dar esse tempo, essa liberdade. Quem ama liberta e não prende. Eu me apaixonei pela filha de vocês pelo jeito autêntico e sincero de ser. - Fiquei um pouco envergonhado em estar falando isso em voz alta, mas que se dane. Era de verdade. - Obrigado por me deixarem namorá-la até aqui.

— De nada, filho. - Sacou a intimidade do pai dela? - Talvez você seja o único digno de namorá-la, só pelas coisas bonitas que disse. Eu achei que você era um daqueles que só queria o corpo dela nu, mas...

— TRIGGER! - A mãe dela chamou a atenção do marido e eu corei abruptamente.

— D-De forma nenhuma, senhor! E-Eu a respeito muito, muito mesmo! - Reverenciei repetidas vezes, mesmo com dificuldade e um pouco de dor ainda.

Ele sorriu e eu vi que era apenas uma brincadeira.

— Mas eu vi que me enganei. Não me arrependi de tê-la deixado ao seu lado. Confiei em você e... Se não fosse esta experiência, talvez ficassem limitados e com medo de fazer a coisa certa, com medo de estragar o namoro. Mas notei que, com esta distância, estão mais próximos ainda, não apenas como um casal. Mas como grandes amigos.

— Eu também sinto isso. Uma grande ligação. Bom, a filha de vocês me salvou. Ela é um anjo... - Eu ia dizendo.

— Nossa Rachel é muito especial mesmo. - Dizia a Dona Angela, toda orgulhosa. - E percebo que essa experiência os fez crescerem e amadurecem. Todos fazemos coisas erradas mas a coisa mais ética a se fazer, é nunca culpá-los por seus atos de momento. Afinal, comportamento não é característica. É algo momentâneo.

Eu olhei para a mãe dela, surpreso por tanta coisa bonita que disse.

— Que foi? Fui psicóloga há algum tempo. Sei que não podemos julgar as pessoas e precisamos saber os dois lados da história, além de conhecer o que a pessoa está passando.

— Exatamente... Comecei a fazer terapia e já notei resultado. - Comentei.

— Você admitiu que precisava de ajuda e começou a se ajudar. Muito bem, querido, muito bem. - Dona Angela estava com muito orgulho de mim. Me via como um filho agora, eu acho.

— É... Eu fiz algo terrível, mas graças a isso, entendi várias coisas. Cresci como pessoa. Amadureci. - Parei por um instante. - E percebi que o amor é muito mais que o amor de namorados. É um sentimento incrível que podemos sentir de diversas formas por pessoas diferentes.

— Que bonito! - Comentou a Sra. Roth.

— Esse garoto é dos bons! - Riu o Sr. Roth.

— Assim como aprendi a amar meus segundos pais. - Eu murmurei, derramando uma lágrima.

Enquanto eles me abraçavam, trazendo uma sensação de paz e tranquilidade, calor no coração e uma imensa calma, alguém abriu a porta e todos nos viramos para ver quem era.

Meu coração bateu forte quando a viu. Rachel Roth, a própria.

— Eu também te amo de diversas maneiras, Garfield.