Glory and Gore

We let our battles choose us.


Cato tinha se transformado em um homem novo com a chegada da primavera.

Esse homem novo, no entanto, era um ainda pior.

Esse homem novo treinava todo dia até a exaustão desenhar suas linhas pelo seu corpo. Mas ele também não suportava a ideia de se lembrar do porquê estava treinando. Logo, quase todo dia, ele era encontrado lutando muito intensamente contra o desespero com o qual seu corpo precisava esquecer o porquê de seu esgotamento.

E aí, Clove tinha jogado fora todo o álcool da casa.

Esse homem novo, também, não suportava a Clove. Porque ela era uma vadia, ela tinha decidido que iria virar amiguinha de Gaia. À troco de quê, ele não sabia. Quase todo dia ele encontrava as duas na Academia mexendo com aquelas facas idiotas, até conversando às vezes.

Ele costumava sussurrar “Clove, eu juro que vou te matar”. Ela costumava sorrir.

Era o dia de uma reunião na Academia. Ele encontrou Clove lá como a perfeita traidorazinha que era, conversando com o Wade. Ele passou direto. Porque ele não falava com ela em público e porque como ele podia, quando ela agia daquele jeito?

— Bom dia. Eu não quero enrolar com isso – Brutus começou a falar, sentado na ponta na mesa. Do seu lado direito, estava Enobaria. A mesa estava preenchida com os dez Vitoriosos que o Distrito 2 tinha no momento, rostos inexpressivos fitando Brutus com nada além de tédio. Ele era um dos únicos que ainda tinha alguma faísca de apreciação verdadeira pelos Jogos. – A situação é muito estranha. Eu decidi que a gente tem que fazer uma votação. Para ver quem vai voltar.

Foi o que Brutus cuspiu, de repente. Eles todos precisaram de algum tempo para compreender suas palavras. No fim, era melhor que depender da sorte. Mas ainda era ruim. Afinal, não haviam sido aquelas mesmas pessoas que haviam colocado cada um deles em suas primeiras arenas?

Clove, pouco discretamente, soltou uma risadinha. Cato foi o primeiro a se virar pra encará-la. Ele se lembrou do que Lyme havia comentado sobre ela. Se lembrou da mão dela entrelaçada com a de Naevio. Se lembrou de sua irmã o contando cheia de olhos brilhantes o que Clove havia a ensinado.

— O que você acha que a gente devia fazer, então? – Cato a confrontou, esperando colocá-la em alguma situação constrangedora. Ele viu a mágoa que ele estava sentindo ser refletida com perfeição pelos olhos dela por alguns segundos de silêncio pesado. Mesmo os Vitoriosos do 2 compreendiam a cisão esquisita que estava (ou que deveria estar) acontecendo entre eles.

— Nada. Eu acho que essa é a ideia certa. Não fica com raiva, Cato, eu tenho certeza que tudo vai se resolver – foi a resposta que ele recebeu. Aquela voz macia dela, como se nada nunca saísse do seu controle, aquela aparente suavidade com a qual ela provocava as pessoas, tudo fazia os olhos de todos os Vitoriosos brilharem de orgulho. Tudo que ela representava em Panem fazia os olhos de todos os Vitoriosos brilharem de orgulho.

Cato bufou e se espalhou mais na cadeira, querendo se afastar dela. Isso era o que ele vinha tentando fazer desde sempre. Alguns suspiros foram ouvidos e uns poucos sorrisos apareceram ao redor da mesa. Clove tinha marcado mais um ponto.

— Tem muita gente aqui que poderia usar uma segunda oportunidade de honrar o distrito – Enobaria falou muito baixo, como sempre, com toda sua calma calculada e fria.

— Vai uma dessas crianças aí. Eles vivem na televisão com o pessoal de lá, eles têm mais chance de ganhar – Leonis Elestren declarou, grunhindo. Ele era o mais velho dos Vitoriosos vivos. Ele devia ter algo em torno de setenta anos e o tipo de rigidez que só era encontrada em generais.

Para entender as entrelinhas na sua declaração, uma contextualização é necessária; Wade havia ganhado a sexagésima nona edição dos Jogos. Houve uma pausa na maré de vitória Depois disso, só havia Cato e Clove, o time dos sonhos, aqueles do bicampeonato e das carreiras brilhantes na Capital.

A implicação ficou no ar.

Todos os olhos se viraram pra eles. Muito rapidamente, eles desviaram o olhar um do outro, para que ninguém pudesse sequer imaginar que eles ainda se viam mais do que deveriam naqueles tempos. Enobaria, com seus dentes pontudos, os concedeu um dos seus famosos sorrisos porque sabia um pouquinho mais.

— Eu não tenho muita certeza sobre essas maiores chances, não, Leonis – ela sibilou. Cato se sentiu enrijecer, mas Clove meramente deu de ombros, sorrindo provocativamente. Até mesmo o respeito que ela costumava dispensar aos Vitoriosos era fingimento. No momento que Clove havia voltado dos Jogos, ela havia virado sua própria autoridade máxima. Pelo menos em casa. E por conta disso, alguns dos moradores do 2, aqueles à quem Clove sequer fingia respeitar, não compravam sua narrativa de Princesa da Capital.

Leonis bufou com desdém e sacudiu a cabeça. “Respeito nenhum”, ele rosnou, olhando para Clove como se ela fosse a maior desgraça de Panem. Lyme, do seu lado, permaneceu impassível, olhos grudados em Clove o tempo todo. Um leve movimento na sua testa franzida chamou a atenção de Cato. Naqueles dias, todo mundo estava prestando atenção demais em Clove.

— Não, até que eu tenho, na verdade. Eu quero honrar meu distrito de novo. É só que eu estou cansada, eu acabei de voltar. E minha vida aqui fora está indo muito bem, então. – Clove falou casualmente, dando de ombros como se não pudesse fazer nada sobre o fato de que não iria para a Arena porque simplesmente estava decidindo isso.

— Então o quê? Você não vai se voluntariar? – Wade perguntou, se curvando na mesa, deixando claro para todo mundo o tanto de atenção que ele dispensava a qualquer baboseira vaga que saía da boca de Clove.

— Isso obviamente não é uma decisão que é ela que vai tomar, Wade, mesmo que ela não tenha reparado ainda – Cato decidiu se intrometer, mal se ouvindo falar. Wade então estava super disposto a ir pra arena com a Clove, que nem ela havia previsto. Que ridículo. – Fica na sua.

Clove mal conseguiu prender seu riso de escárnio.

— Calem a boca – Brutus grunhiu, uma perfeita lembrança dos dias de treinamento. – Vocês pirralhos esqueceram tudo sobre educação? Ninguém pediu a opinião de nenhum de vocês. Se vocês até hoje não aprenderam como se comportar numa situação dessa, vocês não merecem estar aqui.

Outra perfeita lembrança dos dias de treinamento para eles foi se verem na situação de abaixarem a cabeça imediatamente após a fala dura de Brutus, quase deixando um “sim, senhor” escapar porque. Hábitos. (Clove escondeu um sorriso enquanto abaixava o rosto).

— Sejam educados – o homem disse, para meramente reafirmar seu ponto, seus olhos ainda queimando a pele deles. – Perdão pela interrupção. Eu decidi que seria apropriado estender a votação por alguns dias, como uma forma de garantir que os votos vão ser bem pensados. Então eu vou deixar essa caixa aqui. Em uma semana, espero encontrar os dez votos, cada um dizendo o candidato masculino e feminino de escolha. Quem for escolhido obviamente vai se submeter a uma programação de treino especial aqui na Academia.

Como ninguém mais expressou nenhuma reação – lê-se como ele não ouviu nenhum grito de comemoração—, Brutus continuou falando:

— O distrito nunca venceu um Massacre. Vamos tirar a coroa do Abernathy. Reunião encerrada.

Um momento tenso se prolongou quando ninguém fez menção de sair. Todos os olhos se mediram, absorveram quaisquer aspectos que poderiam sugerir maior aptidão a uma volta à arena. Todos também estavam muito afundados em um processo de contrabalanceamento; quem seria escolhido seria quem realmente tinha mais chance de honrar o distrito ou seria quem era menos querido?

Eles eram do 2, então a única dedução seria a de que o tributo escolhido seria realmente o mais capaz, o mais forte, quem voltaria com a coroa. Mas quando Cato passou seus olhos por seus heróis de cabeça baixa, suspirando enquanto se levantavam, ele não tinha muita certeza disso.

Com uma decepção infantil, ele assistiu Lyme sair da sala sem sequer o dispensar um olhar. Ele não tinha muita certeza de pra onde aquela rebelião ia com aquela história do Massacre. A surpresa do presidente tinha atingido todas suas fontes. Como medida de segurança, ele foi instruído a ficar o mais longe possível de qualquer manifestação de rebelião. Como antigamente, ele devia estar focado em satisfazer os desejos da Capital, em se tornar o tributo perfeito mais uma vez. Para matar quem quer que ele tivesse que matar para alegrar aquelas aberrações e terminar de humilhar o resto do país. Ele ainda era um brinquedo; nada adiantava, as coisas nunca iam parar de gravitar ao redor da Capital e seus desejos.

E ele odiava isso.

Quando Wade voltou a os alcançar na saída, Cato sentiu uma onda de raiva se chocar contra cada uma das paredes do seu ser, agitando, contaminando tudo. De dentes cerrados e olhos que escondiam um demônio, ele assistiu Wade empurrar Clove em uma tentativa de brincadeira.

Cato sentiu sua respiração ficar mais audível, seus punhos se fecharem.

A presença de seu colega Vitorioso depois daquele acontecimento o envenenava. A voz dele ia e voltava na sua mente, o tempo todo bajulando Clove, o tempo todo sendo ridículo.

— A gente devia treinar um dia desse, praticar nossa dinâmica e tudo.

Clove nunca havia dito pra Wade que estava cogitando voltar pros Jogos com ele e, mesmo assim, ele supunha coisas. Ele tinha alguma ideia do quão fácil era convencer Clove a considerar de verdade a ideia de voltar pra arena se ele meramente fizesse aquilo parecer um desafio? Ele tinha ideia de que todo mundo precisava ficar calado e fingir que a possibilidade dela ir pro Massacre era nula ou então a mão dela se ergueria na hora do voluntariado?

E, no fim das contas, ela podia muito bem acabar morta por causa do Wade.

A pontinha da agulha de algum sentimento – traição porque talvez Clove estivesse mesmo considerando a ideia por trás de seus teatrinhos, ciúmes porque não era mais ele que podia se dar ao luxo de induzir suas ideias arriscadas, descrença com a burrice de Wade que era muito grande – cutucou Cato.

Empatando o caminho dos outros parando exatamente em suas frentes, Cato bateu suas mãos contra o peito de Wade. Com a surpresa, ele recuou dois passos.

— Fica na sua.

No Distrito 2, aquele tipo de interação era muito comum. Eles eram os guerreiros da nação, no fim, e o que era feito de um guerreiro sem guerras?

Eles criavam as deles, então.

Muito rapidamente, os dois se atracaram no chão, perto da porta da Academia. Enquanto sangue escorria da boca de Wade e Cato quebrava seu nariz pela quarta vez, Clove empurrou a bochecha com a língua e se recostou contra a parede da Academia. Seus olhos fitaram intensamente dois alunos que passavam perto da saída e testemunharam a coisa. Sem dizer uma palavra, sua expressão deixou os meninos saberem que eles provavelmente iam sair mais feridos do que quem estava envolvido na briga se deixassem alguma palavra escapar.

Clove afinal nunca havia sido do tipo que separava brigas. Pra quê? Se alguma coisa precisava ser resolvida, não era ela que ia ficar no caminho. Ainda mais porque ela nem entendia bem o porquê daquela em particular ter começado.

“Fica na sua”? Wade nem falando com o Cato estava. Toda sua indesejada atenção estava dedicada a ela, então a única conclusão era a de que Cato tinha ficado louco de vez. Uma faiscazinha, pequena que fosse, de fascínio borrou sua visão, estreitou e desfocou seu olhar.

Quase sem fôlego, ela assistiu Cato deslocar a mandíbula de Wade. Sangue foi espirrado do mesmo jeito que havia sido esguichado da boca da menina do 6 da sua edição.

Aí as coisas mudaram.

Finalmente, uma implicação moral extremamente indesejada se esgueirou em sua cabeça; as chances eram de que Cato ia matar o Wade. E, uma vez que ele descesse aquela ladeira, talvez fosse difícil trazê-lo para racionalidade de novo, se fosse necessário. Cato que tinha o papel de consertar ela, não o contrário; ela não sabia como fazer isso.

— Eu vou chamar um Pacificador – ela decretou em um tom infantil, se não cantarolado. Eles continuaram, sem sequer a escutarem. Tudo era um pacote repugnante de sangue e grunhidos. A selvageria despropositada na cena, a raiva canalizada em ossos quebrados e golpes injustos, tudo tinha vindo direto de um pesadelo. Clove, que havia crescido no meio do horror, pensou que precisava de mais para se encolher.

Foi o ridículo da situação começando a se infiltrar em sua mente que a motivou a agir. Ali estava ela, a mesma que era com catorze anos, não só assistindo como também encobrindo as brigas de Cato. Contra o Wade.

Foda-se essa porra, então.

Porque ela era uma Vitoriosa, Clove tinha muito poder em suas mãos no Distrito 2. Que fique registrado que ela na maioria das vezes usava esse poder para motivos escusos. Duas cabeças mais altos e dois anos mais novos que ela, Clove voltou para fora da Academia liderando os mesmos dois meninos que tiveram a infelicidade de passar na hora que a briga havia começado.

— Separem eles – a garota ordenou, no seu mesmo tom altivo e suave de sempre. Como se obedecessem à realeza, os alunos bravamente partiram pra cima da massa humana e se postaram na tarefa de tentar separar dois Vitoriosos, cada um com uma lista de assassinatos em que mais de dez nomes constavam. Clove nunca havia dito que era boa em prezar pela segurança de ninguém.

As implicações daquela briga começaram a tecer suas teias em sua cabeça. Calculadamente, ela observou tudo, empurrando a bochecha com a língua. Uns cinco minutos de gritos de esforço emitidos pelos alunos se arrastaram até ela decidir falar algo.

— Cato! – era sua versão de um tom horrorizado. Desapontado. – Para com isso! O que você está fazendo? Para.

Ela não estava horrorizada, nem desapontada, muito menos desacostumada com aquele tipo de coisa, mas ela estava sempre pronta para um teatro (isso era um teatro, certo?). Se aproximando dele, que havia sido meramente jogado na terra longe de Wade por um dos alunos em um golpe desesperado, Clove se abaixou.

— Para com isso – o tom certo de vulnerabilidade estava em sua fala. Cato, com sua jaqueta rasgada e seu rosto sangrento, a fitou. – Para. Vamos pra casa.

Seus olhos, antes suavizados por alguns segundos, voltaram a cintilar com raiva (?) quando ele se levantou e saiu andando para a Patrus na frente dela. Sem suas habituais últimas encaradas para indicar que tudo estava longe de acabar, ou suas ameaças berradas, a coisa toda pareceu estranha a Clove, que não soube bem como agir por uns segundos. Ela fez menção de segui-lo antes de voltar para a massa transfigurada de sangue que era Wade.

— Vai pra enfermaria – ela falou em um tom vazio. Clove não franziu o nariz nem pareceu muito repugnada, mas aquele brilho de acusação em seus olhos era inconfundível até mesmo para a visão borrada de Wade. – Levem ele – ela ordenou para os desafortunados alunos antes de se afastar pelo mesmo caminho que Cato tinha seguido.

Os alunos a obedeceram. Mais tarde, quando os meninos rememoravam os acontecimentos – os olhos frios de Clove encarando a coisa toda, a raiva assassina de Cato, o rosto transfigurado de Wade, a casualidade absurda com a qual aquela situação de selvageria foi tratada –, foi com pouca surpresa que sentiram arrepios subirem por suas costas. Cabe comentar que aquela foi primeira vez que eles se deram conta de que havia algo muito errado com o lugar que eles chamavam de casa.

Cabe comentar também que Clove, poucos segundos depois da saída deles, podia ser encontrada apoiada precariamente contra uma árvore vomitando tudo que havia em seu estômago.

[...]

Na sua casa, Clove empurrou com brutalidade suas pernas para os lados e ficou parada no meio delas. Ela agarrou seu rosto com uma mão, o virando de um lado para o outro.

— Que estrago – ela sussurrou. Cato sabia bem demais que tinha provocação ali. Ela pendeu a cabeça pro lado, ainda analisando tudo, ou fingindo analisar, com seus mesmos olhos frios de sempre.

Ele continuou em silêncio, correndo os olhos pelo rosto rígido dela. Clove começou a trabalhar.

— Que porra foi aquela? – sua pergunta tinha ares de praticidade, era algo que ela ordenava saber.

Cato se atreveu a olhar pra baixo, deixando seu queixo se encostar em seu peito, do mesmo jeito que sempre tinha feito na Academia. Clove enrijeceu ainda mais.

— Sério, Cato? O quê, você não sabe? – com mais força do que era necessário, Clove apertou um pedaço de algodão embebido em antisséptico contra um corte em sua bochecha. – Por que porra você me fez ficar ali que nem uma idiota vendo você brigar com o Wade? Você ficou louco? Sabia que você podia ter matado ele, seu filho da puta?

A cada palavra emitida, Clove pressionava o algodão contra um ponto dolorido. Se recusando a se mover com a dor que ela estava causando, Cato assistiu seus dentes cerrados, sua respiração pesada. Então, quando ele focou em seus olhos levemente estreitos, eles denunciaram as lágrimas de raiva – ele só podia supor que era raiva – nos cantos.

Se ele tinha alguma resposta malcriada para as interrogações exigentes dela, elas morreram em sua língua. Cato nem sabia mais o que devia falar. Clove estava... desapontada? Como, se ela nem esperava nada bom dele? Horrorizada? Como, se ela conseguia ser pior que ele? Com raiva? Como, se aquele tipo de comportamento era o que havia a atraído a ele?

— Você colocou um prêmio pela sua cabeça, seu fodido. O Wade vai botar seu nome naquela porra pra ir contra alguém que nem a Enobaria.

Ou vai colocar o seu pra ir contra alguém que nem ele, Cato pensou, se contentando a olhar pra ela. Como sempre, porque seus olhos com certeza estariam “mostrando coisas e ela não precisava da pena dele”, o seu mero ato de fitá-la a enfureceu ainda mais. Foi a vez de Clove bater as mãos no peito de alguém. Ignorando a dor de sua força surpreendente, Cato deixou ela esmurrar a parede dos dois lados da cabeça dele.

— Por que porra você fez aquilo, Hadley? – ela berrou contra seu rosto exatamente como eles faziam com eles na Academia, o olhar brilhando com uma raiva primitiva, seu rosto delicado todo vermelho.

— Eu não sei – seu tom foi baixo, contido, carregando todas as esperanças de que fosse ser capaz de acalmar Clove.

Todas as esperanças foram derrubadas na sarjeta quando Clove desceu a mão na cara dele. O estalo do tapa ecoou pela casa.

De olhos irados e respiração arfante, Cato travou a mandíbula e tentou se desconcentrar daquela ardência, se lembrando de que devia merecer aquilo. Os olhos dela pareciam gelo, seu rosto parecia pedra, o olhando de cima com desgosto.

— Você terminou de assinar seu suicídio de novo. Se você é um covarde desse, então eu não vou ter problema cortando sua garganta na arena para a qual você acabou de me candidatar para voltar.

As palavras de Clove eram mais eficazes em fabricar punhos que cortavam sua respiração de uma forma mil vezes mais brusca do que ele pensava ser possível. Enjoado e levemente tonto com todas as milhares de implicações perturbadoras na fala dela, Cato só pôde assistir enquanto ela batia a porta de sua casa sufocando o que ele pôde entender como um soluço.

Porque Cato não fazia ideia do que fazer, ele passou o resto do dia sentado no mesmo lugar, a parte consciente de sua mente vazia, as mesmas palavras ecoando de novo e de novo na sua cabeça.

Então eu não vou ter problema cortando sua garganta na arena para a qual você acabou de me candidatar para voltar.