Selkie conta a apresentação...

Não sei o que houve. Mas eu não conseguia tirar os olhos daquela sofisticada senhora de cabelos compridos. A única coisa que passou pela minha cabeça foi: será que vou chegar à idade dela com a aparência que ela tem?

Só poderia ser a princesa Hinoka, com tanta elegância! Não me aguentei e perguntei se poderia nos ajudar. Procurei ser muito educada do jeito que papai me ensinou, afinal ela era da realeza!

—Mas, por favor, pense com muito carinho! Papai não gosta de dizer. É que... Ninguém quer ajudar nós, Kitsunes. O pessoal tem medo. E quem não tem, quer nos matar para pegar as nossas peles! Papai me disse que damos excelentes tapetes... – Não consegui deixar de falar isso, saiu sem querer, às vezes sai, o que eu posso fazer? E papai quase me pegou no flagra!

Não, ela não era a princesa Hinoka. Mas nos deu três barras de ouro.

Ai, isso foi demais! Vi que até papai ficou feliz: fazia muito tempo mesmo que alguém não nos dava três barras; quando muito, davam uma.

—E então? Em que podemos ajuda-la? Agora me sinto na obrigação, madame! – Papai tentou fazer o tipo clássico, mas esse não era o gênero dele, fazer o que... – Ei, espere, eu acho que sei quem você é...

Ela ficou esperando ele falar!

—É claro que eu sei! Você é uma princesa!

—Oh. Por favor, eu... – ela teve medo, pude sentir seu cheiro – Eu gostaria que não comentassem isso. Peço-lhes.

—Mas é claro que não! – Papai continuava fazendo a propaganda – Aqui no grupo tudo o que se conta fica aqui e somente aqui! Não importa de onde você vem ou quem você é. O importante é que possamos nos ajudar mutuamente. Você já conheceu a minha filha, Selkie, a nossa recepcionista. E eu sou o Kaden, o famoso líder dos Kitsunes, viu? Ser importante não é sinônimo de não ter problemas!

—Ah, muito obrigada, meninos. – ela sorriu, fechando os olhos – Bem que eu estava certa quando vi a placa lá fora!

E ela nos contou como chegou até nós. Que não sabia exatamente o que a tinha feito parar ali.

—Ah, é assim mesmo que acontece! – Meu pai confirmou – Você não será nem a primeira e nem a última!

—Ufa, que bom.

—Aí, daqui a pouco a nossa reunião irá começar e você nos contará o que a incomoda.

—Como?

—Assim, não se sinta obrigada. – papai sorria sempre, precisava – você fica na roda, ouve todo mundo, se apresenta e ai... Você fala quando quiser.

—Combinado.

É acho que o meu pai ganhou uma linda seguidora.

Será que também daria uma boa mãe? Eu tinha de me esforçar para isso, ela era perfeita! Muito diferente das namoradas que o meu pai arranjou por aí depois que mamãe nos deixou... O que acontece é que ele é bonzinho. Muito bonzinho.

E a gente que mulher não gostamos de bonzinhos.

Mas ele é o meu pai! E merece a melhor!

***

Camilla conta como foi...

—Bom, o meu nome é Camilla. E eu me sinto excluída porque... – todos tinham começado assim e eu precisava falar algo naquela roda – Perdi alguém importante há tempos. E ela se chamava Elise... – As lágrimas saíram de meus olhos, borrando a linda maquiagem que tinham feito no salão.

A pessoa, ou melhor, a raposa que estava ao meu lado apertou minha mão com uma firmeza compreensiva.

E eu me senti tão bem depois.

Ninguém falou nada durante o meu momento. Todos me respeitaram, esperando o tempo que fosse até que eu me recuperasse.

Era uma roda bem heterogênea: tinha alguns humanos, outros eram lobisomens; mas a maioria era Kitsunes se sentido excluídos por serem o que eram. E tinha também uma feiticeira jovem estranha que se apresentou depois de mim.

—O meu nome é Rajhat. Eu me sinto excluída por ser uma bruxa e amar uma mulher que não me ama.

Apertaram a mão dela com a mesma firmeza que apertaram a minha. Mas ao contrário de mim, ela não chorou. Só parecia angustiada.

Achei bom conhecer todas aquelas... Pessoas...? Do reino de Roshido.

Depois me disseram que era importante que eu frequentasse o grupo toda a semana.

—Sabe, Camilla, eu já vi gente que estava igual a você melhorar muito. Mas não pode abandonar! – Kaden me olhava com seu rosto de espertinho. Parecia uma criança grande e valente.

—Oh, ou será que você gostou muito do dinheiro que eu dei a vocês, coração? – Outro erro grave meu.

—Pai! – Sim, foi exatamente o que as duas prevemos. – EI, não brinque assim com ele, Camilla! – a garota me falou entre os dentes. – Os homens não entendem as mulheres!

—Toma. – ele me devolveu as barras de ouro muito bravo. – A gente precisa de ajuda, mas não somos mendigos!

—Não, não foi nada disso, Kaden! - tentei consertar – Foi só uma brincadeira. Eu não vim parar aqui à toa, não percebe?

Recomecei a chorar. Mas dessa vez tive vergonha porque a Silkie viu.

—Pai, viu o que você fez? – A menina me defendia. Que figurinha.

—Eu não fiz nada. Quem fez foi ela!

—Mas aí você... – ele saiu correndo – Deixa. Ele ficou nervoso, mas daqui a pouco fica calmo de novo. É assim mesmo.

Sacudi a cabeça, triste.

—Foi bom conhecer todo mundo hoje, menina. Só espero que isso se resolva semana que vem.

E saí deixando as barras que dei a eles lá.